As palavras que servem de
título a esta matéria são de
Carlos Augusto de São José,
confrade ora radicado na
Capital do Paraná. Estudioso
do Espiritismo há 40 anos,
Carlos Augusto tem proferido
palestras em toda a região do
Norte do Paraná e também em
outros Estados. Em entrevista
concedida ao programa
Reflexão Espírita, que é
apresentado aos sábados pela
TV Antares de Londrina, o
confrade examinou o tema "O
Passe", em uma interessante
entrevista que é reproduzida a
seguir, na íntegra. |
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– O passe é uma
criação espírita?
Carlos Augusto – Em
absoluto. Ele está na história
da humanidade desde a mais
remota antiguidade. No início
do século passado, arqueólogos
ingleses, escavando lá no
norte do Egito, encontraram
nas ruínas dos templos de Ísis
e Osíris restos de paredes com
pictografias mostrando
sacerdotes aplicando a
magnetização - que é o nosso
passe -, em que se vê,
nitidamente, pessoas
adoentadas deitadas
sobre camas de
pedras e a aplicação dessas
forças que |
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saíam em forma de raios.
Hipócrates, já há 5 séculos
antes do Cristo, admitia como
uma coisa natural a cura pela
imposição das mãos, ele que
foi e é, ainda, considerado o
Pai da Medicina.
Posteriormente, o Cristo
sacramentou a realidade das
curas através da imposição das
mãos, quando ele restituiu a
luz aos cegos em Jericó, lá na
Galiléia. Depois ele curou a
filha de Jairo, que era um dos
principais da sinagoga de
Cafarnaum, e, no inesquecível
Sermão do Monte, após
concluí-lo com inefável
beleza, um leproso recorre-se
a ele implorando sua piedade
e, da mesma forma, pela
imposição de mãos,
Jesus lhe
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restitui a saúde.
Posteriormente, encontramos em
Atos dos Apóstolos,
escrito por Lucas, Pedro
procedendo da mesma forma,
curando pela imposição de
mãos, restituindo os plenos
movimentos daquele coxo diante
da porta formosa do Templo de
Salomão, em Jerusalém. O
próprio apóstolo Paulo falou,
na sua segunda carta aos
Coríntios, a respeito dos dons
espirituais, entre eles o de
curar pela imposição de mãos.
Ele, enquanto Saulo, depois
que ficou cego na estrada de
Damasco, entrou na cidade por
solicitação do próprio Cristo
e ficou hospedado no hotel de
Judas. Ananias o socorreu -
está explícito nos Atos dos
Apóstolos - com um passe,
ou seja, com imposição de
mãos, retirando as escamas
fluídicas dos olhos de Saulo,
que então passou a enxergar de
novo. |
– Então, o
passe seria uma transfusão de
energias em que a mão é utilizada
como instrumento de transmissão?
Carlos Augusto
– Perfeito! O passe é um processo
mecânico de transfusão de energia
fisiopsíquica, ou seja, é uma
transfusão de forças que possui
teor eletromagnético e que
precisa, obviamente, nessa
mecanicidade de transferência
dessas forças, daqueles
dispositivos ligados a outros
fatores, mais de ordem espiritual,
para que se abram os condutos do
amor em quem aplica, e para que
quem necessita possa receber com
certa eficiência.
– Existe
prova dessa energia em nós?
Carlos Augusto
– Existe. Já há muitos séculos
esse processo vem sendo pesquisado
desde os tempos de Franz Anton
Mesmer,
que foi um famoso
médico alemão que se formou
na Áustria e viveu na França, e
que lançou o Tratado do Magnetismo
Animal em 1779, onde ele mostrava
a eficiência desse magnetismo em
nós. Essas pesquisas continuaram
depois com o médico, também
famoso, James Braid, o inglês, e
isso, hoje, a gente vê francamente
aplicado nos fenômenos de
telepatia, de hipnose, que
dependem exatamente desse processo
de transmissão do pensamento, que
é, substancialmente, semimaterial.
Não é mais aquela coisa abstrata,
que até então se supunha. Isso foi
provado no início da década de 50,
nos Estados Unidos, com as
pesquisas do professor Jules
Eisenbud, da Universidade do
Colorado, quando ele conseguiu
fotografar o pensamento do
carroceiro grego, naturalizado
americano, Ted Serios. Essa
experiência está numa obra que ele
escreveu: No Mundo de Ted
Serios – The World of Ted Serios
– que foi best-seller na época,
com o respaldo de cerca de 30
pesquisadores da mais alta
idoneidade científica. Então, ele
conseguiu com essas experiências
mostrar que efetivamente o
pensamento é força e que é uma
força que pode se irradiar. Nós
temos os elétrons do coração, do
encéfalo, onde, através das
pulsações eletromagnéticas, os
médicos conseguem saber se há, ou
não, algum tipo de doença que
precisa ser debelada pelo remédio.
Mas, se não fossem essas cargas
eletromagnéticas existentes nos
organismos, esses fenômenos do
elétron não seriam possíveis de
serem detectados com as contrações
musculares do coração ou com as
manifestações dos movimentos dos
neurônios cerebrais. Um outro
fenômeno que claramente prova a
existência dessa energia em nós é
quando a gente coloca a mão numa
antena de televisão e
imediatamente obtém uma melhora na
imagem; quando você pega um rádio
de pilha cansada e você coloca a
mão, o volume aumenta
automaticamente... É a prova cabal
dessa energia em nós.
– O passe
sempre traz resultados positivos?
Essa transmissão de energia, ou
transfusão de energia, sempre dá
certo, ou existe algum tipo de
contra-indicação?
Carlos Augusto
– É necessário que haja aquelas
condições básicas. Do ponto de
vista do passista, é
importante que ele não beba, que
ele não fume, que ele não jogue,
que ele não viva debaixo de
descontroles emocionais. Ele
precisa ter algum conhecimento da
técnica do passe. Ele precisa ter
equilíbrio espiritual, e, acima de
tudo, uma vontade muito grande de
servir pelas vias do amor. O
necessitado, por sua vez,
precisa estar mentalmente
receptivo para que ele possa abrir
os fulcros cerebrais por onde
essas energias naturalmente
penetram.
– Por exemplo,
aquele que está recebendo o passe,
sabendo que há uma transfusão de
energia, não ficaria sugestionado
a acreditar que "aquilo lá" faz
bem e isto acabaria tendo algum
tipo de efeito sobre ele?
Carlos Augusto
– A sugestão, de alguma forma, é
um processo de crença. Não deixa
de ser uma forma de fé. É
importante, mas não é tudo. Haja
vista o fato de que a água, para
chegar à torneira, precisa do
cano, mas, se a válvula estiver
fechada, essa água não chega ao
copo. A eletricidade, para chegar
à lâmpada, precisa do fio, mas, se
o fio estiver quebrado, a lâmpada
não se acende. Da mesma forma, o
papel fotográfico, que pode ser da
melhor qualidade, mas, se ele não
estiver quimicamente impregnado
com a substância desejada, os
flashes de luz que passam a
imagem não serão recepcionados,
conseqüentemente, você não obtém o
fenômeno da foto. Assim também, o
passe precisa ter esse estado de
convicção, que é um processo
físico, praticamente, da mesma
forma que em Medicina: o médico
socorre o doente, descobre a
doença, administra o remédio, no
entanto, é preciso que o doente
abra a boca para tomar o remédio
que lhe foi receitado, caso
contrário, nada feito.
– Qualquer
pessoa pode tomar passe?
Carlos Augusto
– Sim. Não há nenhuma exigência
formal, não há nenhum
pré-requisito. O importante apenas
é que haja uma predisposição
psíquica, ou seja, que a pessoa
esteja com a mente positivada.
– Isto vai
facilitar essa transmissão de
energia, vai trazer resultados
mais benéficos para a pessoa?
Carlos Augusto
– Com certeza, porque, quando ela
ativa a mente no Bem, quando ela
se põe predisposta
psiquicamente, criando a
tensão favorável que é exigível
neste caso, ela abre os fulcros
cerebrais, ela ativa os neurônios
desta região específica do cérebro
por onde essas energias, que são
passadas pelo passista, penetram
com mais facilidade, atingindo,
assim, o objetivo, e permitindo
que se obtenham os resultados com
a eficiência desejada.
– Quem não
está tão predisposto a receber o
passe pode, mesmo assim, obter
algum tipo de benefício dessa
energia que lhe é dada?
Carlos Augusto
– Se a pessoa não estiver
predisposta psiquicamente, do
ponto de vista mental, ou seja,
positivada interiormente, ela
certamente vai rechaçar
mecanicamente no campo mental o
processo de ingresso dessas
energias. Ela não vai
recepcioná-las. E essas energias
precisam ser recepcionadas para
atingirem o objetivo, indo até
onde está o órgão adoentado.
– Existe uma
ação espiritual no passe? Os
Espíritos auxiliam de alguma forma
essa transfusão, essa transmissão
de energia?
Carlos Augusto – Com
certeza! Existe uma
diferença entre o
magnetizador |
comum (como se concebe
normalmente, que usa apenas a
sua própria técnica pessoal e
as suas energias físicas) e o
do passe onde, diferentemente,
além das energias do médium
passista, existem as energias
dos benfeitores espirituais
que estão ali assessorando o
processo. E nós também sabemos
que eles retiram da natureza
próxima as substâncias
medicamentosas de
que se valem para
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ministrar o passe
com mais
eficiência ainda, como já é do
conhecimento, tal como consta
na literatura espírita. |
– Quer dizer
que o passe tem um efeito
terapêutico e pode ter mesmo um
efeito de cura em alguns casos?
Carlos Augusto
– Naturalmente ele é dado como um
bem. Ele funciona como elemento de
pacificação da alma, de
tranqüilização nervosa, mas ele
tem o poder de curar, ele pode ir
mais à frente, dependendo,
obviamente, dos méritos da pessoa
que busca a intimidade de uma
cabine para receber os passes.
– Por que as
religiões mais tradicionais não
utilizavam o passe?
Carlos Augusto
– Na verdade, as religiões
tradicionais se utilizavam do
passe também, mas sob outros nomes
e através de outras formas. A
gente vê o Johrei na Seicho-No-Ie;
os hindus energizando os corpos
através do prana; na Igreja
Católica, a água benta, que é um
processo de fluidificação da água,
que é também magnetização. Também
na Igreja Católica, o padre,
quando ministra o sacramento da
hóstia, ele embala esta hóstia com
magnetismo; o pastor, na Igreja
Protestante, quando ele toca a
cabeça do crente e ora, ele está,
com imposição de mãos, aplicando
esse passe. E essa é uma prática
antiga. Nós encontramos registros
lá em Números de Moisés,
quando eles tratam da purificação
da água através da magnetização.
– Então, há
vários exemplos na literatura, em
várias religiões, mas o nome não é
esse; porém, o efeito prático
dessa transmissão de energia seria
o mesmo?
Carlos Augusto
– Exatamente. Os mecanismos são os
mesmos, os nomes e as formas é que
se diferenciam um pouco. É como o
carro. Você tem de muitas marcas,
mas todos eles atingem o objetivo
que é o de chegar ao destino que o
motorista pretende alcançar.
– Como é que
a gente poderia encarar a idéia do
passe cobrado? Por que o passe,
nos Centros Espíritas, é
ministrado gratuitamente? Qualquer
pessoa que procurar um Centro
Espírita para ouvir uma palestra,
ouvir os ensinamentos de Jesus,
tem a possibilidade de depois, ao
final da reunião, receber o passe.
Existem locais que cobram por
isso?
Carlos Augusto
– Existem essas práticas em alguns
núcleos da Europa, em especial na
Inglaterra, o que eu considero um
absurdo, porque o passe é uma
dádiva divina, é um bem que a
Espiritualidade nos concede e ele
tem que ser dado essencialmente
com amor... e quem ama não cobra!
Quando cobram, estão violentando
um princípio básico, elementar,
das noções evangélicas trazidas
pelo Cristo, que é o de dar de
graça aquilo que de graça nós
recebemos. Além do mais, levanta
suspeita, porque nós nunca
saberemos se a pessoa está
aplicando passe para ser útil ou
para auferir vantagens. Isto,
então, obviamente vai deixar a
pessoa debaixo de um estado de
indecisão que pode prejudicar a
ministração dele. E a gente
entende que, acima de tudo, o
passe tem que ser dado de graça,
porque ele é essencialmente uma
manifestação de amor.
– Que tipo
de idéias, de pensamentos, uma
pessoa que entra numa cabine de
passe, para receber essa
transmissão de energia, deve
cultivar para que o passe faça, de
fato, o efeito mais eficiente?
Carlos Augusto
– Ela precisa positivar a mente
pensando no Bem. E, ao longo da
vida, também não só pensar, mas
agir no Bem: um sorriso, um abraço
amigo, uma manifestação afetuosa
de carinho. E hoje nós vemos tanta
fome no mundo. Recentemente a ONU
nos falou, através de seus
boletins, tão acreditados no
mundo, que há cerca de 1 bilhão de
pessoas que se alimentam
precariamente; o Unicef, que é uma
divisão da ONU, nos informa que
todas as noites aproximadamente
400 milhões de crianças vão para a
cama sem comer. Então, essa é uma
oportunidade excepcional que só
merece nossa capacidade de agir,
ajudando os outros. Eu costumo
dizer que quando nós nos lembramos
dos outros, Deus não nos esquece.
– Então,
você quer dizer que cultivar esses
pensamentos e poder praticar a
caridade é um caminho?