Temos visto
bons expositores da doutrina
abordarem o tema afirmando ser o
sanitarista Oswaldo Cruz o
instrutor desencarnado, e outras,
Carlos Chagas. Nada temos contra a
comparação biográfica visando
identificação de personalidades,
como as faz o nosso prezado
Hermínio Miranda em alguns de
seus trabalhos como: "Hahnemann,
O Apóstolo da Medicina
Espiritual", "Eu sou
Camille Desmoulins" e
"As Marcas do Cristo".
Acreditamos, entretanto, que a
afirmativa gratuita, feita de
oitiva e supostamente atribuída a
um médium ou a um espírito,
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depõe contra a seriedade que
devemos ter para com o
conteúdo do Espiritismo. |
Fizemos, então,
uma pesquisa rápida, consultando
algumas enciclopédias e artigos
biográficos que tratassem de
dados pessoais dos dois
cientistas. Fizemos algumas
perguntas ao casal Wladimir Lobato
Paraense e Lygia dos Reis Corrêa,
da Fundação Oswaldo Cruz, que
tiveram contato pessoal com alguns
dos familiares dos pesquisadores,
e a quem agradecemos de antemão
pelos préstimos. Pesquisamos também
os livros "Nosso Lar" e
"No Mundo Maior", de
onde retiramos alguns dados da
encarnação pregressa de André
Luiz. Obtivemos, então, as
seguintes informações que
passamos a analisar.
2. "Causa
Mortis"
A "causa-mortis"
de André Luiz é descrita pelo médico
espiritual Henrique de Luna. Ele
teria desencarnado no hospital, após
"duas cirurgias graves devido
a oclusão intestinal" que,
por sua vez, derivava de
"elementos cancerosos".
Luna cita ainda sífilis, o
comprometimento de rins e fígado
e do aparelho gástrico. (Nosso
Lar, p.32, 33, 41). A biografia de
Cruz fala em "crises renais
complicadas por problemas respiratórios"
e as de Chagas citam "ataque
cardíaco" e "morreu de
infarto sobre a mesa de escritório,
trabalhando".
3. Genitor
Do pai de André
Luiz, sabemos que ficou "12
anos numa zona de trevas compactas
do umbral" e que era
comerciante. André dá-lhe o nome
Laerte em seus escritos (Nosso
Lar, p. 91 e 190 a 194). Como a
narrativa se dá no ano de 1939,
se o dado se referir a todo o período
post-mortem do genitor de André
Luiz, inferimos como ano possível
da desencarnação o ano de 1927.
O pai de Cruz
chamava-se Bento, era médico e
desencarnara em 1892, ou seja, 35
anos antes da data estimada para
Laerte. O pai de Chagas chamava-se
José Justiniano, era fazendeiro e
plantador de café e desencarnou
em 1901 ou 1902, ou seja, cerca de
25 anos antes da data estimada por
nós para Laerte.
4. Irmãos
A mãe de André
Luiz fala em três irmãs do autor
espiritual. Duas que ela chamou de
Clara e Priscila e que estavam
presas à região do umbral, e uma
outra, chamada de Luísa, que
havia desencarnado quando André
Luiz era pequenino e auxiliava a mãe
em suas atividades. É possível
que ele tivesse mais irmãos, não
citados naquela oportunidade
(Nosso Lar, p. 92).
Oswaldo Cruz
era primogênito e possuía mais
cinco irmãs. Chagas possuía
cinco irmãos, Maria Rita (que era
meia-irmã, filha do primeiro
casamento do pai), Carlos, José
(que desencarnou com menos de
quatro anos de idade), Marieta e
Serafim.
5. Filhos
Ao revisitar
sua casa, André Luiz encontra a
filha mais velha casada (primogênita)
e uma outra filha mais jovem
conversando sobre "seu único
filho varão" que estaria
"por aí, fazendo
loucuras" (Nosso Lar, p. 272
e 273). Ao se referir à sua família
o instrutor fala em "uma
esposa e três filhos" (Nosso
Lar, p.275).
Cruz teve seis
filhos. Um deles, Bento,
seguiu-lhe a carreira e chegou a
trabalhar com ele. Chagas teve
dois filhos legítimos, Evandro e
Carlos, que lhe seguiram a
carreira e diplomaram-se antes da
sua desencarnação. (Evandro em
1926 e Carlos em 1931).
6. Vocação
para Medicina
André Luiz
atribui sua carreira ao avô, que
lhe deixara uma quantia
significativa para fazer o curso.
"Em muitas ocasiões
manifestei o desejo que ele se
consagrasse à medicina" (No
Mundo Maior, p. 234). O biógrafo
de Cruz atribui o interesse pela
medicina ao pai de Oswaldo, Bento.
O biógrafo de Chagas (que é o próprio
filho, Carlos) atribui a vocação
à influência do tio de seu pai,
Calito, que formou-se em medicina
na corte e organizou uma casa de
saúde em Oliveira - MG.
7. Época da
Desencarnação
André Luiz não
nos dá uma data para a sua
desencarnação, mas é possível
inferi-la com precisão de cerca
de um ano, a partir dos seguintes
trechos de seus escritos: André
Luiz permanece "mais de oito
anos consecutivos" nas
esferas inferiores, após sua
desencarnação (Nosso Lar, p.
47). Em recuperação, na colônia,
cita um episódio ocorrido em
agosto de 1939 (Nosso Lar, p. 132)
e ele não havia ficado ainda por
um ano na colônia espiritual
(Nosso Lar, p.253). Temos então
como época possível de sua
desencarnação o ano de 1930
(1939 - 8 - 1), com uma faixa de
erro de dois anos, ou seja, entre
1929 e 1931. Oswaldo Cruz
desencarnou em 11 de fevereiro de
1917, aos 44 anos. Carlos Chagas
desencarnou um 8 de novembro de
1934, aos 55 anos.
8. Algumas
Conclusões
Apesar de
termos feito inferências que
alguns leitores podem não
considerar como exatas (o período
da desencarnação do pai de André
Luiz e do próprio André Luiz),
os dados biográficos são muito
discrepantes. Será possível que
o autor espiritual tivesse
alterado fatos de sua vida como o
número, sexo e destino dos
filhos, profissão paterna, seu
período de permanência nas regiões
inferiores, sexo dos irmãos e
doenças que levaram à desencarnação,
para preservar oculta sua
identidade? Teria o autor
espiritual tecido tantos comentários
sobre ficções? Consideramos
pouco provável.
Cabe-nos adotar
a posição rigorosa do
Codificador do Espiritismo,
rejeitando dez verdades para não
aceitar uma mentira.
Referências
bibliográficas:
ANDRÉ
LUIZ. Nosso Lar.(23ª ed.)
Rio de Janeiro: FEB, 1981.
Psicografado por Francisco Cândido
Xavier. Primeira edição em 1944.
____________ No Mundo Maior.
(9ª ed.) Rio de Janeiro: FEB,
1981. Psicografado por Francisco Cândido
Xavier. Primeira edição em 1947.
CHAGAS FILHO, Carlos. Cenas da
vida de Carlos Chagas. Ciência
e Cultura.
SBPC, v. 31, suplemento.
Enciclopédia Internacional do
Mirador.
VERÍSSIMO, Suzana. Carlos Chagas:
história sem fim. Superinteressante.
Abril Cultural, mai 1991.
ZANCHETTI, Maria Inês. Oswaldo
Cruz: tudo pela saúde.
Superinteressante. São Paulo.
Abril Cultural, mar 1991.
Publicado no Boletim AECX Notícias
de Outubro de 1996.