AIGLON
FASOLO
aiglon@nemora.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
Sobre
as pesquisas psíquicas
na
ex-União Soviética
(8ª parte)
Bulgária -
Os Institutos de Sugestologia e
Parapsicologia de Sofia e Petrich
possuem uns trinta cientistas que
estudaram capacidades psíquicas
fenomenais empregando o
equipamento mais moderno e mais
sofisticado. O seu porta-voz
principal é o Dr. Georgi Lozanov,
diretor dos dois Institutos. O Dr.
Lozanov, médico e psicoterapeuta
há dezesseis anos e praticante de
Ioga há vinte e cinco, é o
pioneiro da parapsicologia na
Bulgária. Médico célebre,
granjeou fama não só na
Bulgária mas em todo o bloco de
países comunistas pelos seus
descobrimentos no campo dos
poderes supranormais da mente. As
suas palavras são acatadíssimas
na Bulgária.
Um dos objetos
de estudo dele é Vanga Dimitrova,
a vidente cega da Bulgária. Vanga,
que vive perto da fronteira grega,
na cidadezinha de Petrich, é uma
grande médium, que se situa no
mesmo plano de Gerard Croiset de
Utrecht, na Holanda, e de Jeane
Dixon, de Washington. Como eles,
é famosa em sua parte do mundo, e
multidões de pessoas lhe procuram
a ajuda. Vanga descobre pessoas
desaparecidas, ajuda a resolver
crimes, diagnostica moléstias e
lê o passado. Mas o seu maior dom
é a profecia. Essa mulher cega,
de meia-idade, prediz o futuro com
assombrosa precisão. E vive num
país suficientemente' sábio para
poder apreciá-la.
A Bulgária
teve seis mil anos para aprender a
sabedoria. Situada na Península
Balcânica, pouco maior que o
Estado de Pernambuco, divisa com a
Romênia, a Grécia e a Turquia.
Depois de conhecer a sua Idade de
Ouro no século XIII, caiu nas
mãos dos sultões turcos. Os
seiscentos anos de brutal domínio
otomano foram finalmente
encerrados com a ajuda da Rússia
czarista há menos de um século.
Vieram depois as selvagens,
confusas e famosas intrigas
balcânicas, que inspiraram uma
era de filmes de espionagem e, na
vida real, trouxeram o caos e
inversões em todas as frentes. Os
comunistas conquistaram o poder em
1944. No período de estabilidade
política que se seguiu,
eliminou-se a pobreza realmente
aflitiva, extinguiu-se o
analfabetismo. Existem agora
dúzias de universidades,
faculdades, hospitais e institutos
médicos. Hoje em dia, os oito
milhões de habitantes da
Bulgária estão provavelmente em
melhor situação do que os
habitantes de muitas partes da
ex-União Soviética, embora sejam
mais pobres do que as populações
de outros países próximos.
A história da
pasmosa profetisa Vanga e do
próprio psi na Bulgária começou
na capital, Sofia, cidade que tem
cinco mil anos, mas não dá a
impressão de mocidade nem de
velhice. Sofia apenas é – como
a natureza. O seu povo fala
naturalmente de coisas naturais,
como a capacidade psíquica, com
uma facilidade inconsciente que
não encontramos em outros
lugares. Depois de captar o
sentimento nacional, que lembra a
nota viva e harmoniosa de um vaso
grego, não é surpresa de que
viva na minúscula Bulgária a
primeira profetisa do mundo
moderno sustentada pelo governo,
Vanga Dimitrova. E não surpreende
que os búlgaros tenham encetado
as suas pesquisas psíquicas
científicas mais suavemente do
que qualquer outro povo.
– Vanga
Dimitrova nunca foi uma estranha
em minha vida. Embora eu nunca a
tivesse conhecido pessoalmente,
ela conhecia a minha vida melhor
do que eu mesma.
A autora desse
comentário concordara em contar a
parte que Vanga representara em
sua vida, em falar sobre a visão
do futuro, desenrolada como uma
tapeçaria, como se os fios da sua
vida tivessem sido tecidos antes
do seu nascimento.
– Como eu
lhes disse, nunca a conheci. Meu
pai foi procurá-la quando eu
tinha doze anos.
A mulher que se
achava diante de nós teria trinta
e poucos. Possuía maneiras
distintas e um bom emprego
oficial. De pernas finas, cabelos
castanhos avermelhados, olhos
cinzentos, animava-se ao
conversar. Depois que a conhecemos
melhor notamos que; em momentos de
distração, quando ficava
sentada, esperando, num vestíbulo
ou num café, o seu olhar
pensativo lembrava o de uma
estátua que fitasse os olhos em
alguma lagoa de águas paradas.
– Meu pai era
médico e materialista convicto.
Foi procurar Vanga por simples
curiosidade. Queria ver como
procedia a mulher em relação às
pessoas que a buscavam, se era uma
impostora consciente ou
inconsciente.
"Naquele
tempo, Vanga já vivia na aldeia
de Petrich, onde ainda vive.
Conversava com as pessoas em sua
casa, uma casa de camponeses,
pequenina e rústica. Ela hoje
não vive no luxo, mas está muito
melhor do que estava. Quando meu
pai chegou havia, como sempre,
muita gente no pátio esperando
ser admitida à sua presença. Ela
assomou à porta e chamou meu pai
pelo seu apelido carinhoso, nunca
usado fora da família. Disse que
o receberia primeiro porque ele
era a única pessoa no pátio que
não acreditava nela". Depois
que ele entrou, Vanga narrou-lhe
uma série de coisas sobre o
passado dele. Meu pai foi casado
três vezes. Ela descreveu os
casamentos corretamente,
contou-lhe pormenores,
particularidades, coisinhas que
só ele sabia, pois não as
revelara sequer às últimas
esposas.
"A seguir,
começou a falar sobre o futuro.
Meu pai, predisse ela, morreria
dali a catorze anos, em 1958, de
câncer. Vanga falou também a
respeito de meu irmão mais moço
e a meu respeito. De todos os
filhos, éramos os prediletos de
papai. Vanga disse que eu faria um
casamento feliz, mas que meu
marido morreria de repente, pouco
depois. Eu ficaria viúva com um
bebê para criar. Disse que eu
tornaria a casar, mas faria um
casamento desastroso. O destino de
meu irmão seria pior ainda. Ele
morreria num estranho acidente aos
vinte e poucos anos.
"A
experiência de Petrich abalou
profundamente meu pai. Vanga
descrevera com muita clareza e com
fartura de pormenores cenas
íntimas do seu passado. O que ela
predissera para ele e o resto da
família não eram de molde a
entusiasmar-nos".
"Meu pobre
pai voltou para casa terrivelmente
transtornado. Precisava falar com
alguém sobre isso e, assim,
confiou em minha madrasta.
Contou-lhe tudo, fazendo-a
prometer que nunca repetiria uma
palavra a ninguém. Mas as
senhoras sabem como são as
mulheres. Não demorou muito que
ela me contasse toda a história.
Talvez achasse que também
precisava confiar em
alguém".
"Muitos
anos depois, meu pai chegou à
conclusão de que tinha uma
úlcera. Sendo médico, não
deveria ter falhado assim no
diagnóstico, mas talvez a sua
vontade de acreditar que não
sofria de uma coisa pior fosse
tão grande que o diagnóstico lhe
saiu errado. Sofreu duas
operações. Na segunda, os
médicos limitaram-se a olhar e
tornaram a costurá-lo. Morreu de
câncer. . . em 1958, na data
predita por Vanga.
"Eu me
casei. Um bom casamento, um
casamento feliz. Senti-me ainda
mais feliz quando nasceu meu
primeiro filho. Depois, alguns
meses mais tarde, inesperadamente,
repentinamente, meu marido morreu
ainda muito moço. Casei pela
segunda vez e o segundo casamento
foi um desastre. Agora estou
divorciada. Há poucos anos, meu
irmão correu para pegar um bonde.
Saltou. . . mas alguma coisa não
deu certa. Ele perdeu o
equilíbrio, caiu e morreu".
"Tudo
aconteceu. Tudo o que Vanga disse
que nos aconteceria aconteceu.
Posso assegurar-lhes que ela
estava certa. Mas não posso
dizer-lhes porquê. Eu era uma
criança, tinha doze anos quando
meu pai foi procurá-la. Toda a
minha vida se desenrolou diante
dela, para que ela a visse. Por
quê? Seria um plano, o destino,
alguma coisa relacionada com a
reencarnação? Por que Vanga
pôde ver isso? Por quê?".
Sentia-se a
intensidade da pergunta. Sabíamos
que ela não esperava que
tivéssemos a resposta, mas
tínhamos a impressão de que
continuaria perguntando "Por
quê?" Talvez, algum dia, em
algum lugar, encontrasse uma
resposta.
– Não sei se
acreditam em Deus, – continuou
ela. – Não acredito nos rituais
da igreja, nem nos dogmas, nem na
espécie de imagem que eles pintam
das coisas. Mas sei que há alguma
coisa. Quando a vida vai bem,
digo: "Obrigada, meu
Deus"; e quando vai mal,
peço:
"Ajuda-me,
ajuda-me". Mas ainda não sei
o que possibilitou a Vanga ver a
minha vida.
"Foi
provavelmente por ter falado
primeiro com meu pai que ela se
mostrou tão exata em suas
predições sobre a minha
família. Ela é sempre melhor no
começo do dia. Essas coisas
cobram os seus tributos. Além
disso, está freqüentemente
doente. Pobre Vanga. Não lhe
quero mal, apesar de tudo. Ela
deve levar uma vida muito
triste."
Vanga Dimitrova
é uma camponesa de quase
cinqüenta anos, que vive com a
irmã em Petrich, numa região
montanhosa da fronteira entre a
Bulgária, a Iugoslávia e a
Grécia. Está longe de qualquer
espécie de corrente de atividade
ou influência mas, como vidente,
tem o seu próprio gênero de
corrente de influência. A vida de
Vanga misturou-se inevitavelmente
às dores, prazeres e
experiências dos milhares de
seres que recorreram a ela em
último recurso e às guerras,
revoluções e infortúnios da sua
terra.
Os cientistas
que trabalharam com Vanga dizem-na
"uma mulher
respeitável". Ela é mais
que uma "feiticeira do
campo". É uma das maiores
médiuns vivas de hoje.
– Ela, não
raro, fica muito triste com as
coisas que prevê, – contou-nos
um dos cientistas. – O seu dom
psíquico a faz infeliz. Mas, por
outro lado, não pode viver sem
ele. Não pode parar. é o modus
operandi da sua personalidade.
O saber que
ajudou alguém, que não é apenas
uma cega inútil que se aquece ao
Sol enquanto todo o mundo
trabalha, parece sustentá-la
contra a sobrecarga de
"visões" infelizes –
morte, doença, assassínio, lares
desfeitos, carreiras malogradas
– que se relacionam com as
pessoas que lhe passam pela sala
de estar.
Vanga provavelmente não sabe
que as predições que fez para o
pai da nossa amiga se realizaram.
Provavelmente nem mesmo se lembra
do médico cético e das cenas da
sua vida, passada e futura, que
entreviu por alguns minutos. Mas,
infelizmente para Vanga, algumas
das suas profecias mais
dramáticas e trágicas
relacionavam-se com criaturas
muito chegadas. (Continua
no próximo número.)