1. No homem
existe algo mais que matéria e
princípio vital. O homem pensa e
tem consciência plena de sua
existência; relaciona idéias,
estabelece conceitos, elabora juízos,
constrói raciocínios, tira
conclusões e, servindo-se do
instrumento maravilhoso da
linguagem, comunica tudo isto aos
seus semelhantes.
2.
"Cogito, ergo sum",
escreveu Descartes ("Penso,
logo existo"). Eis o que
Descartes quis dizer: - Penso;
ora, a matéria por si mesma não
pensa; logo, existe em mim, além
do corpo material, algo mais, que
é o agente do meu pensamento, em
virtude do qual, portanto, existo
como ser inteligente. Esse é um
raciocínio perfeitamente lógico
e conforme à mais pura razão
humana. Deveria bastar para que
nenhuma dúvida existisse no homem
a respeito de que nele vive um Espírito,
isto é, um ser imaterial, porém
real, independente do corpo e a
ele sobrevivente.
3. Outras
faculdades existem ainda no homem,
que nada têm a ver com a matéria,
e que são funções de uma consciência
individual superior, sobrelevando
sobre todas o senso moral. Há,
contudo, indivíduos descrentes
que vivem na negação ou apenas
em dúvida, pois no fundo do seu
ser hão de ter a mesma aspiração,
natural, de toda criatura: não
morrer. Deus, então, em sua
infinita bondade e amor, como
Divina Providência que é,
concedeu ao homem, com as
manifestações espíritas, a
prova de que nele vive um Espírito
e que esse Espírito sobrevive à
morte.
Manifestações
espíritas
4. Manifestações
de Espíritos ocorreram em todos
os tempos, desde a mais remota
antigüidade. A sua verdadeira
causa só era conhecida dos
iniciados. Os profetas serviam de
intermediários entre os Espíritos
e os homens e muitas coisas
anunciavam como expressões da
vontade de Deus. Uma das coisas
anunciadas foi que viria o tempo
em que essa faculdade de
intermediação se generalizaria,
dando lugar a manifestações que
ocorreriam por toda a parte, a
sacudir as consciências e os corações
dos homens, despertando-os para a
realidade do mundo espiritual. Foi
o profeta Joel o intermediário
dessa predição.
5. A história
do Moderno Espiritualismo –
denominação pela qual o
Espiritismo foi inicialmente
conhecido na América do Norte -
começou por fatos dessa natureza,
ocorridos em Hydesville a partir
de 1848, sendo médiuns duas
adolescentes da família Fox, as
jovens Kate e Margareth Fox.
Os "apports"
6. Os fenômenos
físicos se apresentam sob as mais
variadas formas. A força que
serve para produzi-los presta-se a
todas as combinações. Ela
penetra todos os corpos, atravessa
todos os obstáculos, transpõe
todas as distâncias. Sob a ação
de uma vontade poderosa, consegue
decompor e recompor a matéria
compacta. É o que demonstram os
fenômenos de "apports",
ou transportes de flores, frutos e
outros objetos através de
paredes, em aposentos fechados. Zöllner,
o astrônomo alemão, verificou a
penetração da matéria por uma
outra matéria. Com o auxílio da
força psíquica, as entidades a
que são devidas as manifestações
chegam a imitar os mais estranhos
ruídos. (N.R.: Ao traduzir um
dos clássicos do Espiritismo
sobre o fenômeno de transporte,
escrito por Ernesto Bozzano,
Francisco Klörs Werneck diz que
dois termos técnicos se aplicam
ao assunto: apport e
asport. Apport quando
o objeto é levado de fora para
dentro. Asport quando
levado de dentro para fora, de tal
modo que o vocábulo trazimento não
tem razão de ser. Transporte
é, assim, o termo já
consagrado e abarca ambos os
casos.)
7. Em memorável
sessão realizada em 16 de
dezembro de 1868, em Londres, o médium
Home, em transe mediúnico, foi
levantado e projetado da parte de
fora de uma janela e, suspenso no
ar, entrou por uma outra janela.
Os "raps"
8. Os "raps"
são fenômenos que consistem em
efeitos físicos diversos, como ruídos,
estalidos, pancadas e imitação
de passos, produzidos em portas,
paredes, móveis e assoalhos, tudo
isso sem causa física conhecida.
A simples produção desses
efeitos físicos nada provaria
quanto à existência dos Espíritos,
porquanto poderiam ser produzidos
por forças outras, naturais e
desconhecidas, mas a esses fatos
singulares se revelou associada
uma inteligência capaz de dirigir
a ação e que, quando provocada,
deu provas iniludíveis de ser o
Espírito de um morto a verdadeira
causa do fenômeno. No caso da família
Fox, o Espírito produtor dos fenômenos
revelou ter sido um mascate que se
chamara Charles Rosma em sua última
encarnação.
9. Hoje a
sobrevivência da alma humana
encontra-se perfeitamente
demonstrada por fatos que têm
sido investigados com todo o rigor
científico por numerosos e
eminentes sábios deste e do século
passado. A tal ponto chegou o
resultado dessas experimentações,
que Alfred Russel Wallace, um dos
mais eminentes investigadores dos
fatos espíritas, fez esta
afirmativa categórica: "O
Espiritismo está tão bem
demonstrado como a lei da gravitação".
Allan Kardec e
as mesas girantes
10. As mesas
girantes foram também chamadas de
mesas falantes, porque,
valendo-se das pancadas que nelas
soavam, podiam responder
inteligentemente às perguntas das
pessoas presentes às sessões.
Foi exatamente esse caráter
inteligente assumido pelo fenômeno
que levou o professor Hippolyte Léon
Denizard Rivail a interessar-se e,
logo depois, dedicar-se
profundamente ao seu estudo, bem
como ao dos demais fenômenos espíritas,
deduzindo deles todas as conseqüências
filosóficas, morais e religiosas
que eles comportam, com o auxílio
dos próprios Espíritos. Os
ensinos por ele reunidos e
ordenados constituíram o admirável
corpo da Doutrina Espírita
enfeixado em "O Livro dos Espíritos",
livro a que se seguiram outras
obras, como "O Livro dos Médiuns",
cuja segunda parte - Das Manifestações
Espíritas - é totalmente
dedicada ao estudo dessas
manifestações.
11. É "O
Livro dos Médiuns" a
primeira obra de Kardec que se
deve consultar sobre o tema
mediunidade, visto que, como obra
geral, nenhuma outra existe que a
supere, vindo logo depois o livro
"No Invisível", de Léon
Denis.
12.
Seguem-se-lhes numerosas obras,
quer gerais, tratando de toda a
fenomenologia espírita, quer
particulares, ou seja, que tratam
de determinados fenômenos. Sob
este último aspecto, vale citar,
a título de exemplos, os livros
de William Crookes ("Fatos
Espíritas"), Friedrich Zöllner
("Provas Científicas da
Sobrevivência"), Arthur
Findlay ("No Limiar do Etéreo"),
Oliver Lodge ("Raymond"),
Ernesto Bozzano ("Fenômenos
de Transporte") e Gabriel
Delanne ("O Fenômeno Espírita"),
dentre muitos outros.