ARTHUR
BERNARDES DE OLIVEIRA
tucabernardes@gmail.com
Guarani, Minas Gerais
(Brasil)
Encontro com a fé
Luiz Alberto Py, médico,
especializado em
Psiquiatria, como o pai,
e, posteriormente,
psicanalista, teve uma
carreira de muito
sucesso. Sucesso que lhe
possibilitou ganhar
muito dinheiro em pouco
tempo.
De repente, sem que
pudesse esperar por
isso, começou a
questionar sua vida,
sobretudo no tocante à
escolha de sua vitoriosa
carreira. Tinha dúvidas
se a opção pela
Psiquiatria e, depois,
pela Psicanálise,
tivesse ocorrido por
influência da profissão
do pai ou por vocação
verdadeira. Desde
criança, ele se
imaginava escritor.
Sonhara com isso.
Escrever seria o seu
sonho maior!
Fechou o consultório e
foi para os Estados
Unidos, a fim de se
submeter a análise com
um dos maiores
psicanalistas do mundo.
Afinal, ganhara muito
dinheiro e poderia
dar-se a esse luxo. Ao
fim de alguns anos nos
Estados Unidos, chegou à
conclusão de que, de
fato, psicanálise era a
sua praia, o seu
negócio, a sua vocação.
E voltou ao trabalho.
Mas a vocação do
escritor gritava lá
dentro. A solução foi
conciliar uma vocação
com a outra. E além de
atender com proficiência
aos que batiam às portas
do consultório, começou
a escrever livros e
crônicas, abordando
sempre os mistérios da
alma humana, consolando
uns e levantando outros.
Dr. Luiz Alberto era
materialista e ateu.
Nunca precisara de Deus
para reequilibrar seus
clientes. Sua ciência
lhe bastava. Até que,
um dia, o sofrimento
bateu forte à sua porta.
Três filhos sofreram,
juntos, acidente de
carro. Um dos três, o de
dezoito anos, ficou
longos dias entre a vida
e a morte. Os colegas
médicos que dele
tratavam,
permanentemente, no
centro de tratamento
intensivo, já não
acreditavam na
recuperação. E o jovem
começou a ter reações
nervosas, estranhas,
violentas, tais que os
médicos foram obrigados
a amarrá-lo no leito.
Dr. Luiz Alberto estava
arrasado. Ofereceu-se
para ficar ao lado do
filho, desamarrado, e
passava as noites com
ele.
Não se sabe quem sofria
mais: se o filho que
estava a se despedir da
vida, se o pai que se
sentia inútil, incapaz,
diante do filho que
estava morrendo.
Depois de uma dessas
noites em que o
desespero atinge o grau
maior, Dr. Py,
arrasado, chegou em
casa e atirou-se na
cama. De repente, sentiu
necessidade de orar. Não
se lembrava qual fora a
última vez, na infância
distante, em que buscara
aquele Deus em quem não
acreditava mais. Nem
sabe por quê, de
repente, teve vontade de
orar. Talvez a prece
fosse o último recurso,
a única saída. Para
salvar o filho ou
salvar-se a si próprio
de amargura tão grande.
E começou a conversar
com Deus. Ofereceu sua
vida em troca da vida do
filho. Ele já tinha
vivido cinqüenta anos e
da vida colhera tudo o
que ela oferece de mais
belo e de mais nobre.
Mas o filho, não. Estava
a morrer sem a menor
chance de conhecer
aquilo que o pai
conhecera; sem desfrutar
daquilo que o pai
desfrutara. As lágrimas
desciam, lavando-lhe o
rosto. Estava
definitivamente
arrasado! Atirou-se à
cama e dormiu o mais
intenso sono de sua
vida.
Quando acordou, sentiu
que era outro. Com ele
acordara também uma
esperança nova: sentiu
que o filho não
morreria. Correu ao
hospital! O filho
começara a reagir; era a
cura que chegava
devagar; a vida que
ressurgia de novo!