No
preâmbulo da entrevista, que o leitor
encontrará no livro “Entre Irmãos de
Outras Terras”, psicografado por
Francisco Cândido Xavier e Waldo
Vieira (FEB, julho de 1966), André
Luiz escreveu: “Presente Gabriel
Delanne, um dos mais destacados
continuadores de Allan Kardec, em
nossa reunião desta noite, formulamos
respeitosamente para ele as questões
que passamos a enumerar...”
Foram, no total, 20 questões. A
primeira tratou do trabalho que
Delanne desenvolvia naquela
oportunidade: “Caro amigo, estimamos
colocar-nos na posição de nossos
irmãos, ainda encarnados, para
endereçar-lhe algumas perguntas de
suma importância para eles que militam
no plano físico. Prossegue em sua ação
espírita de outro tempo, não obstante
residindo agora além da Terra?”
Delanne respondeu: ‘Sim, tanto quanto
possível, dentro das minhas reduzidas
possibilidades”.
As
19 questões seguintes trataram do
Espiritismo e da expansão da Doutrina
Espírita na França e na Europa,
assuntos que, passados mais de 41
anos, resolvemos submeter à apreciação
do estimado confrade Divaldo P. Franco
(foto), cujo papel no
ressuscitamento do Espiritismo na
Europa é de todos conhecido.
Reproduzimos aqui as 19 questões tais
como se encontram na obra citada, às
quais Divaldo acrescentou o
complemento ou o comentário que lhe
pareceu necessário:
André Luiz:
Que nos diz acerca do Espiritismo, na
França?
Gabriel Delanne:
Não nos é lícito dizer haja alcançado
o nível ideal...
Divaldo P. Franco: Após o retumbante
êxito do Congresso Mundial de
Espiritismo, que teve lugar em Paris
no período de 2 a 5 de outubro de
2004, por ocasião do bicentenário de
nascimento de Allan Kardec, o
Espiritismo ensaiou na França um passo
mais audacioso. Nada obstante,
conforme assevera o nobre espírito
Gabriel Delanne, ainda não alcançou o
nível ideal…
André:
Em se tratando do berço de Allan
Kardec, ser-nos-á permitido indagar a
razão disso?
Delanne:
Não podemos esquecer que a França nos
últimos vinte lustros sofreu a carga
de três grandes guerras que lhe
impuseram sofrimentos e provas
terríveis.
Divaldo: Na atualidade, as injunções
difíceis que vive a Europa têm
dificultado a expansão da Doutrina
Espírita, não apenas na França, mas
também em diversas outras nações, que
se encontram comprometidas com o
materialismo no seu tríplice aspecto:
científico, filosófico e dialético.
Apesar disso, verdadeiros missionários
que se encontram reencarnados na
França e nos demais países estão
desenvolvendo, com esforços hercúleos,
os programas de divulgação da Doutrina
Espírita, com vistas ao futuro melhor
da humanidade.
André:
Considera que isso tenha atrasado a
marcha do Espiritismo?
Delanne:
De modo algum. Legiões de companheiros
da obra de Allan Kardec reencarnaram,
não só na França, mas igualmente em
outros países, notadamente no Brasil,
para a sustentação do edifício
kardequiano.
Divaldo: Desde a criação do CEI –
Conselho Espírita Internacional – que
as atividades doutrinárias vêm
recebendo melhores cuidados, ensejando
a realização de Congressos, de
Encontros e de Seminários,
especialmente na França e noutros
países da Europa. Igualmente merece
consideração o esforço desenvolvido
pelos devotados companheiros que
ressuscitaram a Unión Spirite
Française et Francophone, que vem
desenvolvendo um papel relevante na
estruturação do Espiritismo no
abençoado país de nascimento de Allan
Kardec.
André:
Acredita que a Europa retomará a
direção do movimento espírita?
Delanne:
Antes de tudo, devemos considerar que
a Europa assemelha-se, atualmente, a
vasto campo de guerra ideológica, que
está muito longe de terminar...
Divaldo: Em face das dificuldades
referidas, não creio na possibilidade
momentânea de a Europa, pelo menos por
enquanto, assumir esta alta e
significativa responsabilidade, que se
encontra delegada ao Brasil.
André:
Admite que os princípios espíritas
estão caminhando lentamente no mundo?
Delanne:
Não penso assim... As atividades
espíritas contam pouco mais de um
século, e um século é período
demasiado curto em assuntos do
espírito.
Divaldo: Neste momento, no qual
comemoramos o Sesquicentenário de
lançamento de O Livro dos Espíritos,
em Paris, no dia 18 de abril de 1857,
o movimento espírita europeu já é uma
realidade bem diversa daqueles dias em
que a excepcional entrevista foi
realizada pelo querido mentor André
Luiz, em razão das muitas instituições
que surgiram em quase todo o
continente europeu e vêm crescendo
expressivamente.
André:
Muitos amigos na Terra são de parecer
que os Mensageiros da Espiritualidade
Superior deveriam patrocinar mais
amplas manifestações da mediunidade de
efeitos físicos para benefício dos
homens, como sejam materializações e
vozes diretas. Que pensa a respeito?
Delanne:
Creio que a mediunidade de efeitos
físicos serve à convicção mas não
adianta ao serviço indispensável da
renovação espiritual. Os Espíritos
Superiores agem acertadamente em lhe
podando os surtos e as motivações,
para que os homens, nossos irmãos,
despertem à luz da Doutrina Espírita,
entregando a consciência ao esforço do
aprimoramento moral.
Divaldo: A humanidade vivencia
períodos específicos para o seu
desenvolvimento intelecto-moral. As
materializações e outros fenômenos de
grande porte foram canalizados em
momento adequado, no passado, havendo
conseguido o mister para o qual foram
realizados. Neste momento, os efeitos
dos ensinamentos morais do Espiritismo
são mais importantes do que as
manifestações retumbantes,
considerando os sofrimentos que se
abatem sobre as criaturas,
necessitadas mais de diretrizes morais
para o seu desenvolvimento espiritual
do que de demonstrações da
imortalidade, já amplamente confirmada
por muitos cientistas e milhões de
outros indivíduos lúcidos.
André:
Conquanto tenha essa opinião, julga
que o Espiritismo precisa atender ao
incremento e melhoria da mediunidade?
Delanne:
Não teríamos o Evangelho sem
Jesus-Cristo e não teríamos
Jesus-Cristo sem o socorro aos
sofredores pelos processos mediúnicos
que lhe caracterizaram a presença na
Terra.
Divaldo: A mediunidade aplicada ao
serviço do bem, consolando e
conduzindo as mentes e os sentimentos
humanos na direção do amor, conforme o
viveram Jesus e os Seus primeiros
discípulos, é o objetivo do
Espiritismo neste momento de aflições
generalizadas que dominam as pessoas
individualmente e as massas
coletivamente.
André:
A Ciência terrestre de hoje se mostra
ávida de contacto com outros mundos e,
por isso, não seria interessante que
os Espíritos fizessem por vários
médiuns descrições da vida em outros
planetas.
Delanne:
Isso é útil, desde que o problema seja
apreciado nas dimensões justas.
Espíritos comunicantes podem descrever
para os homens cidades prodigiosas e
avançados sistemas sociais em planos
de matéria que não aquela no estado em
que é conhecida, medida e pesada na
estância terrena. O homem físico,
ainda mesmo de posse de mais avançada
instrumentação, apenas vê ínfima parte
do Universo.
Divaldo: Mesmo que os Espíritos nobres
apresentassem as mais expressivas
informações em torno da vida em outros
mundos, a questão ficaria sempre em
aberto, aguardando a confirmação dos
estudiosos em torno da magna questão e
das suas demonstrações de laboratório.
Ademais, isto poderia desviar os
espíritas do essencial objetivo da sua
transformação moral, para cuidarem de
informações e descobertas que ao ser
humano encarnado, e somente a ele,
compete realizar.
André:
A que atribuirmos semelhante
restrição?
Delanne:
À estrutura do olho humano, formado
para suportar apenas determinada quota
de observação da vida em si.
Divaldo: A dúvida sistemática sempre
disposta a opor barreiras a tudo
quanto não pode ser demonstrado de
maneira insofismável, através dos
padrões conhecidos e aceitos, criaria
grandes embaraços à divulgação das
informações espirituais, caso não
tentasse levá-las ao ridículo…
André:
Para que região devemos, nós, a seu
ver, conduzir a pesquisa científica na
Terra, de vez que a conquista da
paisagem material de outros planetas
não adiantará muito ao progresso moral
das criaturas?
Delanne:
Devemos estimular os estudos em torno
da matéria e da reencarnação, analisar
o reino maravilhoso da mente e situar
no exercício da mediunidade as obras
da fraternidade, da orientação, do
consolo e do alívio às múltiplas
enfermidades das criaturas
terrestres...
Divaldo: Considerando-se a situação
deplorável em que se debate o ser
humano atual rico de ciência e de
tecnologia, mas vazio dos sentimentos
elevados de amor, vitimado pela
violência de todo porte e pelos
tormentos da emoção, as pesquisas
científicas na Terra, iluminadas pelo
Espiritismo, devem ser canalizadas,
neste momento, para a dignificação
desse indivíduo e da sua transformação
moral para melhor. Com os equipamentos
do amor e da autoconsciência, ele será
iluminado e pacificado, avançando no
rumo da plenitude, sem conflitos
internos nem alucinações de dominação
do seu próximo e do mundo.
André:
Que mais?
Delanne:
Velar pelas atividades que possam, na
realidade, melhorar a individualidade
por dentro...
Divaldo: A solução de qualquer
problema humano encontra-se ínsita no
próprio ser humano. Trabalhar em favor
do autodescobrimento, conforme a
resposta que os Espíritos venerandos
deram a Kardec, e que se encontra na
questão 919 de O Livro dos
Espíritos, é a mais compatível com
a necessidade da sua evolução.
André:
Onde os percalços maiores para a
expansão da Doutrina Espírita?
Delanne:
Em nossa opinião, os maiores embaraços
para o Espiritismo procedem da atuação
daqueles que reencarnam, prometendo
servi-lo, seja através da mediunidade
direta ou da mediunidade indireta, no
campo da inspiração e da inteligência,
e se transviam nas seduções da esfera
física, convertendo-se em médiuns
autênticos das regiões inferiores, de
vez que não negam as verdades do
Espiritismo, mas estão prontos a
ridicularizá-las, através de escritos
sarcásticos ou da arte histriônica,
junto dos quais encontramos as
demonstrações fenomênicas
improdutivas, as histórias
fantásticas, o anedotário deprimente e
os filmes de terror...
Divaldo: Ademais desses médiuns que
voluntariamente se deixam dominar
pelas interferências da Entidades
perversas, também encontramos
aqueloutros que prometem servir ao
Espiritismo, porém deste se servem, a
fim de projetar a imagem,
acreditando-se missionários e
apóstolos da Nova Era, sem a superação
das próprias imperfeições, sempre
hábeis na crítica aos seus
companheiros, enquanto, fátuos, seguem
descuidados da vigilância em torno das
necessidades espirituais de que são
portadores.
André:
Como vê semelhantes deformações?
Delanne:
Os milhões de Espíritos inferiores que
cercam a Humanidade possuem seus
médiuns. Impossível negar isso.
Divaldo: Acreditando-se poderosos,
esses Espíritos infelizes utilizam-se
das imperfeições que tipificam as
criaturas humanas, interferindo na sua
conduta moral, ampliando-lhes a
sensibilidade perturbadora e
desenvolvendo-lhes os sentimentos
mesquinhos, que lhes estimulam
posturas e opiniões esdrúxulas, a
desserviço do ideal espírita. Ademais,
essas entidades acreditando-se
inimigas de Jesus-Cristo, ante a
impossibilidade de obstar-lhe o
sublime ministério, voltam-se contra
aqueles que se encontram em atividade
e que pretendem servi-lo, gerando
situações desagradáveis.
André:
De que modo vencer no labirinto
gigantesco em que opera a influência
das sombras?
Delanne:
Educando...
Divaldo: O próprio Mestre Jesus
deu-nos a receita sublime:
Necessário que morra o homem velho, a
fim de que nasça o homem novo. E
isto somente é possível pela
educação, mas não a educação que se
adquire através dos livros, mas aquela
de natureza moral, a que tem a ver
com a transformação interior para
melhor, conforme os comentários do
egrégio Codificador à questão 685-a,
inserta em O Livro dos Espíritos.
André:
Como?
Delanne:
Explicando-se, tanto nos sistemas
religiosos do Ocidente, quanto nos do
Oriente, que a pessoa humana em
qualquer lugar e em qualquer tempo
somente possui o que ela fez de si
própria...
Divaldo: Autor do próprio destino, o
Espírito é aquilo que de si mesmo faz.
Desse modo, permitindo que o
pensamento espírita lhe comande a
existência, torna-se dócil ao comando
do seu Guia espiritual, aplicando todo
o esforço para ser sempre melhor e
mais digno.
André:
Exprimindo-se desse modo, refere-se à
necessidade da divulgação da Doutrina
Espírita?
Delanne:
Sim.
Divaldo: O Espiritismo é o mais
avançado sistema educacional de que se
tem notícia. Os seus conteúdos têm
resistido a todas as mudanças
culturais e tecnológicas que vêm
atravessando os últimos 15 decênios,
estando à frente das mais avançadas
conquistas contemporâneas, porque tem
a ver com todos os ramos das
ciências, porquanto lhes estuda as
causas, enquanto que estas estudam os
seus efeitos.
André:
Mas, segundo o seu conceito, a
divulgação terá de efetuar-se de
pessoa a pessoa. Teremos entendido
certo?
Delanne:
Sim, de pessoa a pessoa, de
consciência a consciência. A verdade a
ninguém atinge através da compulsão. A
verdade para a alma é semelhante à
alfabetização para o cérebro. Um sábio
por mais sábio não consegue aprender a
ler por nós.
Divaldo: A conquista da iluminação
interior é impostergável, a fim de que
todo aquele que pretende trabalhar em
favor do esclarecimento do seu próximo
encontre-se amparado pela própria
sabedoria. Por isso é que o
Espiritismo não impõe os seus
postulados, expondo-os a quem deseje a
aquisição da felicidade.
André:
Não considerará, porém, que esse
processo é moroso demais para a
Humanidade?
Delanne:
Uma obra-prima de arte exige, por
vezes, existências e existências para
o artista que persegue a condição do
gênio. Como acreditar que o
esclarecimento ou o aprimoramento do
espírito imortal se faça tão-só por
afirmações labiais de alguns dias?
Divaldo: Devemos ter em mente que o
importante não é o tempo aplicado
nessa realização superior, mas os
efeitos permanentes que advirão do seu
logro. Iniciá-lo agora, a fim de que
seja concluído no momento próprio, é o
dever consciente de todos nós que
almejamos a paz interior e a conquista
do Reino dos Céus.
André:
Que advertência nos dá para a vitória
de nosso esforço modesto na seara
espírita?
Delanne:
Compreender que esperança é sinônimo
de paciência, estudando e servindo
sempre, na certeza de que, se a
eternidade é a nossa divina herança,
cada dia é um tesouro de recursos
infinitos que não podemos desprezar.
Divaldo: O trabalho incessante em
torno da própria transformação moral é
dever de imediata aplicação, de modo
que o nosso próximo, observando o
nosso esforço, sinta-se estimulado a
trabalhar-se igualmente, constatando a
excelência das propostas espíritas
encarregadas da libertação espiritual
dos indivíduos. |