Ricardo Baesso
de Oliveira:
“Falta-nos
ousadia na
defesa de
questões
primordiais”
O médico mineiro
Ricardo Baesso
de Oliveira, 49
anos, aborda o
Espiritismo com
muita
naturalidade. A
maneira sutil e
prática de falar
sobre a Doutrina
Espírita revela
a vivência de
uma pessoa
nascida e criada
entre espíritas,
onde tudo o que
diz respeito ao
Espiritismo e à
codificação
kardequiana é
considerado
comum a todos,
principalmente a
ele, filho de
uma terceira
geração de
adeptos à
Doutrina
codificada por
Allan Kardec.
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Reumatologista,
Ricardo Baesso
reside em Juiz
de Fora (MG),
onde, depois de
já ter ocupado
diversas funções
nos centros
espíritas, atua
hoje como
diretor social
do Instituto de
Difusão Espírita
de Juiz de Fora,
entidade da qual
é membro desde a
sua fundação, há
13 anos. Para
ele, a Doutrina
Espírita pode
ser considerada
uma síntese de
princípios
universais que
envolvem o
homem, a vida e
o próprio
universo. Em
sua estrutura
fundamental, a
doutrina
apresenta a
idéia da
responsabilidade
pessoal,
mostrando que
cada um é
responsável por
suas conquistas
e fracassos. “O
motor gerador
dessas
conquistas é a
vontade. A
disciplina e
trabalho
interior de
aperfeiçoamento
são os
elementos-chave
nesse
desenvolvimento”,
enfatiza o
confrade, que
nos concedeu a
entrevista que
se segue.
O Consolador:
Onde você
nasceu?
–
Nasci em Astolfo
Dutra, Minas
Gerais, e
atualmente moro
em Juiz de Fora.
O Consolador:
Qual a sua
formação?
–
Médico, com
especialização
em Reumatologia.
O Consolador:
Quais os cargos
ou funções que
você já exerceu
no movimento
espírita?
–
Sócio fundador e
Diretor em áreas
diversas no
Instituto de
Difusão Espírita
de Juiz de Fora
desde a sua
fundação há 13
anos. Também sou
expositor em
centros
espíritas da
cidade.
O Consolador:
Qual o cargo ou
função exercido
neste momento?
–
Diretor social
da instituição
citada.
O Consolador:
É verdade que
você nasceu em
uma família
espírita?
–
Sim, pertenço a
uma família de
espíritas. Estou
na terceira
geração,
portanto sou
filho e neto de
espíritas de
ambos os lados
(pai e mãe).
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo –
científico,
filosófico e
religioso – qual
é o que mais o
atrai?
–
Sempre foi o
científico, mas
agora que me
aproximo dos 50
anos de idade, o
aspecto moral
tem despertado
mais intimamente
meu interesse.
O Consolador:
Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
–
Além da
codificação,
sinto admiração
especial por
Ernesto Bozzano
e André Luiz.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
considera de
leitura
indispensável
aos confrades
iniciantes?
–
Além da
codificação, a
coleção Nosso
Lar, de André
Luiz.
O Consolador:
Se você fosse
passar alguns
anos num lugar
remoto, com
acesso restrito
às atividades e
trabalhos
espíritas, que
livros
pertinentes à
Doutrina
Espírita, você
levaria?
–
Os mesmos: os
livros da
codificação e a
coleção Nosso
Lar.
O Consolador:
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para
você, o
Espiritismo é
uma religião?
–
Religião é
proposta de
ligação a Deus.
O Espiritismo
nos leva a isso.
O Consolador:
Outro tema que
suscita
geralmente
debates
acalorados, diz
respeito à obra
publicada na
França por J. B.
Roustaing. Qual
é sua apreciação
dessa obra?
–
Nunca a li, por
falta de
interesse.
O Consolador:
O terceiro
assunto em que a
prática espírita
às vezes diverge
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond. Embora
saibamos que em
geral a opção já
definida no País
seja tão-somente
a imposição das
mãos tal como
recomenda J.
Herculano Pires,
qual é sua
opinião a
respeito?
–
Em nossos
trabalhos
espíritas
recomendamos a
imposição das
mãos. Mas não
fazemos disso
"cavalo de
batalha". Acho
que há coisas
mais importantes
para serem
discutidas. Se
nos preocuparmos
excessivamente
com questões
formais,
perderemos
oportunidades de
valorizarmos o
que realmente é
importante, a
transformação
moral.
O Consolador:
Como você vê a
discussão em
torno do aborto?
No seu modo de
ver as coisas,
os espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida
como tem feito a
Igreja?
–
Sim, falta-nos
ousadia na
defesa de
questões
primordiais. A
Igreja não
possui
argumentos tão
fortes como nós
em defesa da
vida.
O Consolador:
A eutanásia,
como sabemos, é
uma prática que
não tem o apoio
da Doutrina
Espírita. Kardec
e outros
autores, como
Joanna de
Ângelis, já se
posicionaram
sobre esse tema.
Surgiu, no
entanto,
ultimamente a
idéia de
ortotanásia,
defendida até
mesmo por
médicos
espíritas. Qual
a sua opinião a
respeito?
–
Há situações em
que a única
opção é essa,
poupando o
enfermo de
sofrimentos
gratuitos e
permitindo uma
desencarnação
digna.
O Consolador:
O movimento
espírita em
nosso país lhe
agrada ou falta
algo nele que
favoreça uma
melhor
divulgação da
Doutrina?
–
Falta ao nosso
movimento
espírita mais
caridade de uns
para com outros.
Necessitamos de
menos crítica
contundente e
mais
consideração
pelo trabalho
alheio. As
lideranças
deveriam ouvir
mais atentamente
as considerações
dos tarefeiros
modestos e
promover um
movimento mais
próximo da
realidade de
nosso povo.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
em todo o país e
como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
–
Propor, de forma
mais dinâmica,
soluções para o
problema que
passem pela
educação e a
moralização de
todos, em todos
os níveis.
O Consolador:
A preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
provas e
expiações,
passando
plenamente à
condição de um
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra “amor”
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
–
Penso que o
processo de
transformação já
está em curso e
se dará tão
rapidamente
quanto mais
vigoroso for o
nosso esforço no
combate às
imperfeições
morais.
O Consolador:
Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
Brasil e no
mundo?
–
Priorizar o
atendimento às
classes mais
simples, por
meio de uma
educação
centrada nos
princípios
espíritas.
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