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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo
Ano 1 - N° 23 - 21 de Setembro de 2007

 

O cavalinho insatisfeito

Apesar de morar numa linda cocheira cheia de conforto, o cavalinho estava sempre insatisfeito.

Tinha um grande campo verde para cavalgar e brincar com seus amigos, onde não lhe faltava erva tenra e macia para sua alimentação e água pura e límpida para beber num regato próximo.

E   quando   a  noite  chegava,  recolhia-se  à

cocheira, onde um monte de capim novo e  seco lhe servia de leito, enquanto pela janela aberta podia ver as estrelas brilhando no céu, lá longe.

João, um servidor amigo, banhava-o regularmente, escovando seu pelo com cuidado e deixando-o brilhante e sedoso.

Ainda assim, não estava contente e passava o tempo a reclamar da vida.

Reclamava de ter que levantar cedo, da grama que não estava bem verde e macia, da água que alguém turvara, do colchão de capim duro.

Quando o empregado vinha banhá-lo, reclamava que a água estava muito fria, e a escova, muito dura, o machucava.

Certo dia, quando João chegou sorridente para tratá-lo, encontrou-o ainda com humor pior do que nos outros dias. Sem querer, o empregado descuidou-se e o balde com água caiu sobre a pata do cavalo.

Imediatamente, o animal reagiu, irritado, dando um coice no coitado do servidor, dizendo com maus modos:

— Desastrado!

Caindo de mau-jeito, o rapaz não conseguiu se levantar, gritando por socorro.

Quando vieram acudi-lo, vendo-o no chão, indagaram:

— O que houve, João?

Gostando realmente do cavalinho e não desejando que fosse punido, respondeu:

— Não foi nada. Caí e machuquei a perna.

Levado a um hospital, constataram que João fraturara um osso de uma perna e seria preciso engessá-la. Durante um mês teria que fazer repouso e não poderia trabalhar.

No dia seguinte, outro empregado foi encarregado de cuidar dos animais, substituindo João em suas funções.

Sendo muito preguiçoso, o novo empregado não se preocupava com nada. Esquecia de soltar os animais para passear no campo, não trocava a água dos bebedouros, não tirava o capim velho substituindo por novo e não gostava de dar banho, deixando-os sujos e mal-cheirosos.

Como o cavalinho reclamasse do tratamento que lhes estava sendo dispensado, pois vivia cheio de moscas, ainda recebeu algumas chibatadas no lombo, que o deixaram ferido.

Assustado, visto que nunca tinha apanhado, o cavalinho ficou com medo e nunca mais reclamou de nada.

Lembrava-se, porém, com profunda saudade do servidor amigo que os tratava sempre com bondade e nunca lhes deixara faltar nada. À noite, sozinho, olhando as estrelas, ele chorava de tristeza em seu leito sujo e mal-cheiroso.

Quando João retornou, após os trinta dias, foi com um relincho feliz que o recebeu. O cavalinho encostou a cabeça em seu peito, satisfeito pela volta do amigo.

O empregado estranhou a atitude carinhosa do animal, antes tão mal-humorado, e se condoeu do seu aspecto, pois perdera o ar altivo, mantendo a cabeça baixa; estava todo sujo e seu pêlo ferido sangrava, mordido pelos insetos que assentavam em seu corpo, atraídos pela sujeira.

Cheio de compaixão, abraçou o cavalinho que suspirou feliz. Em seguida lavou-o, cuidou das feridas e escovou o pêlo que readquiriu, em parte, o aspecto brilhante e sedoso. Quando acabou, olhou o animal, exclamando:

— Pronto. Agora você já está com melhor aspecto!

O   cavalinho,   que   tivera  muito  tempo  para  pensar

durante aqueles trinta dias, falou-lhe comovido, demonstrando humildade:

— Agradeço seu cuidado e atenção. Foi preciso que eu sofresse para saber valorizar sua amizade. Agora compreendo como fui rude e malcriado com você, e como foi bom para mim. Perdoe-me o coice que lhe dei. Isso nunca mais acontecerá.

Fez uma pausa e, fitando o amigo com os olhos úmidos de emoção, concluiu:

— Aprendi que é preciso saber agradecer tudo o que temos. Deus me deu uma vida boa onde nada me faltava, no entanto eu vivia insatisfeito com tudo. Foi preciso que as coisas piorassem para que eu pudesse perceber como era feliz. Entendi, também, que é preciso saber respeitar os outros se desejamos ser respeitados.  

         Tia Célia
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita