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Estudando as obras de Kardec
Ano 1 - N° 23 - 21 de Setembro de 2007

ASTOLFO OLEGÁRIO DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

O que é o Espiritismo
Allan Kardec

(1
a Parte)

Iniciamos nesta edição o estudo do livro O que é o Espiritismo, que surgiu em Paris em julho de 1859, o qual será aqui apresentado em 14 partes. As páginas citadas no texto referem-se à 20a edição publicada pela Federação Espírita Brasileira.

Questões preliminares

A. Qual foi um dos primeiros resultados obtidos por Allan Kardec em suas observações?

Kardec diz que um dos primeiros resultados que obteve em suas observações foi que os Espíritos não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência, que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. (O que é o Espiritismo, Biografia, p. 17.)

B. Dois pontos muito importantes Kardec destaca no fato das comunicações dos Espíritos. Quais são eles?

O primeiro ponto é que a comunicação dos Espíritos provava a existência de um mundo invisível ambiente. O segundo é que, por meio desse intercâmbio, tornava-se possível conhecer o estado desse mundo e seus costumes. (Obra citada, p. 17.)

C. No dia 19 de setembro de 1860, Kardec fez em Lyon, sua cidade natal, pela primeira vez, uma classificação dos espíritas. Segundo esse discurso, como Kardec considerava os espíritas?

Kardec disse naquela oportunidade que havia três categorias de adeptos: os que procuram, antes de tudo, os fenômenos; os que compreendem o alcance filosófico dos fatos espíritas e admiram a moral que deles decorre mas não a praticam; e, por fim, os que não se contentam de admirar a moral, mas a praticam, aceitam-lhe as conseqüências e têm na caridade a regra de sua conduta. Estes últimos são, segundo palavras do Codificador do Espiritismo, os verdadeiros espíritas, ou, melhor, os espíritas cristãos. (Obra citada, pp. 28 e 29.)

D. O ano de 1861 registra um fato marcante nos anais do movimento espírita internacional. Que acontecimento foi esse?

Foi o auto-de-fé de Barcelona, em que foram queimadas, por ordem do bispo local, trezentas obras espíritas importadas legalmente pelo Sr. Maurice Lachâtre. O fato ocorreu em 9 de outubro de 1861. (Obra citada, pp. 34 e 35.)  

Texto para leitura

1. Foi em 1854 que o professor Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do Sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações em razão de seus estudos sobre Magnetismo. Fortier lhe disse que "não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar". "Interroga-se, e ela responde." Rivail respondeu-lhe: "Isso é uma outra questão; eu acreditarei quando vir e quando me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que se pode tornar sonâmbula. Até lá, permita-me que não veja nisso senão uma fábula..." (O que é o Espiritismo, Biografia, pág. 14.)

2. No ano de 1855, o Sr. Carlotti, um amigo de há 25 anos, discorreu sobre os fenômenos durante mais de uma hora com o entusiasmo que ele punha em todas as idéias novas. Apesar de reconhecer nele as qualidades que caracterizam uma alma grande e bela, o professor Rivail desconfiava de sua exaltação. "Ele foi o primeiro a falar-me da intervenção dos Espíritos, e contou-me tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencerem, aumentaram as minhas dúvidas", disse depois Allan Kardec. (Biografia, pág. 15.)

3. Em maio de 1855, o professor Rivail esteve em casa da Sra. Roger, sonâmbula, com o Sr. Fortier, seu magnetizador. Ali encontrou o Sr. Pâtier e a Sra. Plainemaison, que lhe falaram dos fenômenos no mesmo sentido que o Sr. Carlotti, mas noutro tom. "O Sr. Pâtier era funcionário público, de certa idade, homem muito instruído, de caráter grave, frio e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu-me viva impressão", anotou Kardec. (Biografia, pág. 16.)

4. A convite do Sr. Pâtier, o professor Rivail foi assistir às experiências que se realizavam na casa da Sra. Plainemaison. A primeira ocorreu numa terça-feira de maio de 1855, às 20 horas. Diz Allan Kardec: "Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas girantes, que saltavam e corriam, e isso em condições tais que a dúvida não era possível". O codificador relata ter visto também, na mesma reunião, alguns ensaios de escrita mediúnica em uma ardósia com o auxílio de uma cesta. (Biografia, pág. 16.)

5. A respeito da reunião na casa da Sra. Plainemaison, disse Kardec: "Minhas idéias estavam longe de se haver modificado, mas naquilo havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e a espécie de divertimento que com esses fenômenos se fazia, alguma coisa de sério e como que a revelação de uma nova lei, que a mim mesmo prometi aprofundar". (Biografia, pág. 16.)

6. Em um dos serões da Sra. Plainemaison, o professor Rivail conheceu a família Baudin, que realizava em sua casa sessões semanais. "Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos ainda por efeito de revelações que por observação", anotou o codificador. (Biografia, pág. 16.)

7. Allan Kardec aplicou à nova ciência o método experimental. Ele assim escreveu: "Nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão". (Biografia, págs. 16 e 17.)

8. Uma noite, um Espírito amigo, Z., disse ao professor Rivail que eles foram conhecidos um do outro em uma anterior existência, quando, ao tempo dos Druidas, viveram juntos nas Gálias. O professor chamava-se, então, Allan Kardec. O incentivo recebido naquela oportunidade de Z. levou o professor a aceitar a tarefa de pôr em ordem 50 cadernos de comunicações diversas que haviam sido reunidas por um grupo de amigos formado pelos Srs. Carlotti, René Taillandier, Tiedeman-Manthese, Sardou, pai e filho, e Didier. (Biografia, pág. 18.)

9. O professor tomou os cadernos, anotou-os com cuidado, suprimiu as repetições e pôs em ordem cada ditado, cada relatório de sessão. Assinalou depois as lacunas a preencher, as obscuridades a aclarar e preparou as perguntas necessárias para chegar a esse resultado. (Biografia, pág. 18.)

10. Até então, as sessões na casa do Sr. Baudin não tinham nenhum fim determinado. Com o professor Rivail isso mudou. Ele comparecia a cada sessão com uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas, que eram respondidas com precisão, profundeza e de modo lógico. Desde esse momento as reuniões passaram a ter caráter diferente, e os assistentes sérios tomaram vivo interesse pelo trabalho. (Biografia, págs. 18 e 19.)

11. A princípio, o professor Rivail tinha em vista apenas a sua própria instrução; mais tarde, quando viu que aquilo formava um conjunto e tomava as proporções de uma doutrina, teve o pensamento de o publicar. O codificador então registrou em suas memórias: "Foram essas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, fizeram a base de O Livro dos Espíritos". (Biografia, pág. 19.)

12. Em 1856 o professor Rivail freqüentou as reuniões realizadas na casa do Sr. Roustan, onde trabalhava a senhorita Japhet, sonâmbula, que obtinha comunicações com o auxílio da cesta aguçada, em forma de bico. Ele fez examinar por essa médium as comunicações obtidas anteriormente e postas em ordem. O trabalho era, no início, efetuado nas sessões ordinárias, mas, a pedido dos Espíritos, para que fosse dada mais atenção a esse exame, foi continuado em sessões particulares. (Biografia, pág. 19.)

13. O exame feito com o auxílio da senhorita Japhet não o satisfez inteiramente e, por isso, toda vez que se lhe oferecia ocasião o professor Rivail a aproveitava para propor algumas das questões que lhe pareciam mais melindrosas. Escreveu então: "Foi assim que mais de dez médiuns prestaram seu concurso a esse trabalho. E foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação, que formei a primeira edição de O Livro dos Espíritos, a qual apareceu em 18 de abril de 1857". (Biografia, pág. 19.)

14. No momento de publicá-lo, o autor ficou embaraçado em resolver como o assinaria, se com o seu nome civil, ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido do mundo científico, em virtude de seus trabalhos anteriores, e podendo originar alguma confusão e até prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de assiná-lo com o nome de Allan Kardec, que tivera como druida. (Biografia, pág. 20.)

15. A primeira manifestação ostensiva do Espírito de Verdade ao professor Rivail ocorreu em sua casa no dia 25/3/1856 por meio de pancadas. No dia seguinte, em casa do Sr. Baudin, o professor pôde conversar com o Espírito de Verdade, apresentado por uma outra entidade espiritual como sendo um Espírito familiar do professor. E ele assim se identificou: "Para ti chamar-me-ei Verdade, e todos os meses, durante um quarto de hora, estarei aqui, à tua disposição". (Biografia, págs. 20 e 21.)

16. O professor Rivail indagou ao Espírito de Verdade se esse nome seria uma alusão à verdade que ele procurava. A resposta obtida foi: "Talvez, ou, pelo menos, é um guia que te há de auxiliar e proteger". Intentando saber a identidade do Espírito, o professor perguntou se ele havia animado alguma personagem conhecida na Terra. A resposta foi sintomática: "Disse-te que para ti eu era a Verdade, o que da tua parte devia importar discrição; não saberás mais que isto". (Biografia, págs. 21 e 22.)

17. Em razão do êxito que "O Livro dos Espíritos" alcançou, Kardec decidiu criar um jornal espírita. Solicitou para isso apoio financeiro ao Sr. Tiedeman, mas este não estava resolvido a participar do empreendimento. Em 15/11/1857, Kardec perguntou aos seus guias, por intermédio da médium Ermance Dufaux, o que deveria fazer. Os Espíritos lhe disseram que pusesse a idéia em execução, sem se inquietar com o resto. O primeiro número da "Revista Espírita" saiu no dia 1o de janeiro de 1858, sem um único assinante, nem sócio capitalista. O êxito foi surpreendente, os números se sucederam e, como previram os Espíritos, o jornal se tornou um poderoso auxiliar de Kardec na obra da codificação. (Biografia, págs. 22 e 23.)

18. Em 12/6/1856, a senhorita Aline C. foi intermediária de um interessante diálogo travado entre Kardec e o Espírito de Verdade, que lhe falou sobre sua missão, esclarecendo que ela seria rude e difícil. "Não creias que te seja suficiente publicar um livro, dois livros, dez livros, e ficares tranqüilamente em tua casa; não; é preciso te mostrares no conflito; contra ti se açularão terríveis ódios, implacáveis inimigos tramarão a tua perda; estarás exposto à calúnia, à traição, mesmo daqueles que te parecerão mais dedicados; as tuas melhores instruções serão impugnadas e desnaturadas; sucumbirás mais de uma vez ao peso da fadiga; em uma palavra, é uma luta quase constante que terás de sustentar com o sacrifício do teu repouso, da tua tranqüilidade, da tua saúde e mesmo da tua vida, porque tu não viverás muito tempo.". Mais de dez anos depois, Kardec anotou em suas memórias que a previsão se cumprira integralmente. (Biografia, págs. 23 e 24.)

19. A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foi fundada a 1o de abril de 1858. Até então, as reuniões se realizavam na casa de Kardec, na Rua dos Mártires, tendo a senhorita Ermance Dufaux como principal médium. No salão de reuniões cabiam até 20 pessoas, mas cedo já eram 30 os participantes. Alguns dos assistentes propuseram, então, formar uma sociedade espírita e alugar um local mais apropriado. As primeiras reuniões após a fundação da Sociedade realizavam-se às terças-feiras no Palais-Royal, galeria Valois. Dois anos depois, a Sociedade se instalou em sede própria, na rua e passagem Sant'Ana, no 59, na capital francesa. (Biografia, págs. 25 e 26.) (Continua na próxima edição.)


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