EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
O cultivo da
aceitação
das
diferenças
O pedagogo
Roberto Freire
afirma que
devemos
fortalecer nossa
“fé nos homens e
na criação de um
mundo em que não
seja difícil
amar”.
Ora, qualquer
medida social
que seja
orientada pelo
compromisso
fraterno, no
lastro do
ensinamento
cristão, indica
a necessidade da
conversão da
indiferença,
chaga social, em
tolerância, que,
à luz do
Espiritismo
humanitário,
prega o respeito
pelo outro, ou
seja, uma
natural
aceitação da
diferença,
inerente à vida
em sociedade.
Não podemos
ignorar que cada
ser humano é um
projeto, apto a
desenvolver suas
potencialidades
em benefício da
sua própria
evolução e a
serviço da
família humana.
Isso implica
compreender que
as pessoas têm
pontos
convergentes,
mas também
possuem
características
peculiares
agregadas às
suas
individualidades.
A organização
social não é
homogênea e cada
um carrega sua
própria
ambiência
interior, fruto
de seus
caracteres
individuais e de
suas
experiências.
Logo,
compreender a
necessidade da
indulgência e a
superação da
indiferença pode
facilitar o
desenvolvimento
da sensibilidade
e bem temperar
uma concepção
mais fraterna,
mais afetiva,
daqueles que
seguem conosco,
pois, no mínimo,
é o outro que
serve à condição
de espelho de
nossas
necessidades de
melhora.
A parábola do
bom samaritano
expõe, por
exemplo, a
importância da
caridade, que é
contrária à
indiferença de
qualquer ordem.
Sim, é a
caridade que
aceita a
diferença e que,
por isso, ajuda
um ser humano a
“enxergar” o
outro no curso
de sua jornada.
De acordo com as
palavras de
Jesus, é a
caridade que
levou o
samaritano a
socorrer o
homem, o seu
próximo, que foi
assaltado e
ferido
cruelmente no
caminho de
Jerusalém a
Jericó. Nesta
bela passagem, o
Mestre nos
explica o
significado da
caridade e da
humildade e
repele,
necessariamente,
a indiferença,
enraizada no
egoísmo, que nos
embota para o
dever cristão de
ajudar o nosso
próximo, seja
ele quem for.
De outro
aspecto, inserir
a prática da
aceitação das
diferenças em
nossa
convivência
diária permite a
oxigenação dos
nossos
mecanismos
afetivos e nos
ajuda a
internalizar a
indispensável
lição de
complementaridade
e de consenso,
pois é sempre
possível
aprender algo
com as pessoas
que são
diferentes de
nós, uma vez que
a vida social é
formada pela
diversidade para
impulsionar o
aprendizado
constante.
Em nosso favor,
o cultivo da
tolerância nos
ensina que os
“diferentes” não
são adversários,
mas sim aliados
que nos dão os
mais variados
contextos para o
nosso
crescimento e
conquista íntima
da serenidade.
Se o cuidado com
o
auto-aprimoramento
participa do
dever cristão, é
a prática da
indulgência e o
hábito acolhedor
que nos
possibilitam
desfrutar da paz
interior,
lograda no
combate do
personalismo e
na sincera
consideração
pela diversidade
de pontos de
vista e de
maneiras de ser
e de conviver.
Para bem viver,
segundo os
princípios
cristãos,
sufoquemos a
erva daninha da
indiferença, que
contribui para a
desarmonia das
relações
humanas. Ora, na
contramão do
personalismo,
lutemos para
desenvolver a
prática da
aceitação das
diferenças, que
guia uma
convivência
indulgente,
cooperativa e
favorável a
nossa
humanização.
Fontes:
FREIRE, Roberto.
Pedagogia do
oprimido.
Porto:
Afrontamento,
1970, p. 261.