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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 23 - 21 de Setembro de 2007

LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)

Laços de família

Os laços familiares não são obras do acaso. São o cumprimento da Lei de Causa e Efeito, que representa o dever da responsabilidade que temos sobre nossa conduta, seja através de atos, palavras ou pensamentos, que une esses seres no presente impelidos pelas causas do passado.

Por essa razão, temos famílias nas quais vige o desentendimento entre seus membros, famílias em que a harmonia impera entre seus membros e famílias em que existe, às vezes, um indivíduo que destoa dos demais membros.

Com vistas à Lei do Progresso – da qual nada nem ninguém escapa – os seres se reúnem para saldarem as dívidas de uns para com os outros. Muitas vezes, tentamos fugir desses débitos, mas não adianta, porque seremos sempre constrangidos a liquidá-los com nossos credores. Mais cedo ou mais tarde, estaremos juntos a eles no cumprimento dos desígnios divinos.

Por esse motivo, a equipe familiar, no mundo, nem sempre é um jardim florido. Na maioria das vezes, é um espinheiro de preocupações e de angústias que exige, de cada um de nós, um grande número de renúncias e sacrifícios, que nem sempre estamos dispostos a fazer. Então, mais uma vez, é preciso lembrar que seremos chamados a prestar contas das nossas atitudes despóticas dentro do lar, da nossa intolerância, da nossa negligência para com os seres que foram colocados ao nosso lado, da nossa intransigência em não aceitar as diferenças nas formas de pensar e agir, numa guerra psicológica surda, que pode ter conseqüências dolosas para os seres mais frágeis que compõem o grupo familiar e a quem deveríamos dar proteção.  Seremos, sim, chamados a responder pelo que fizermos aos nossos filhos, aos nossos pais, aos nossos companheiros de jornada.

Todos os parentes, sejam eles consangüíneos ou afins, começando pelos nossos pais, são obras de amor que Deus nos deu a realizar. É preciso ajudá-los, amparando-os, através da cooperação, do carinho, atendendo aos desígnios da fraternidade, lembrando que a caridade começa em nosso lar. Nossos pais, por exemplo. A lei humana exige – sob pena de responsabilidade penal – que eles sejam assistidos em suas necessidades, sobretudo se impedidos de conseguir seu próprio sustento. E o que fazemos? Nós os colocamos nos menores quartos, dando somente e estritamente o necessário, sem nos lembrarmos dos pequenos gestos, que tanto aquecem o coração. Isso quando não os forçamos a trabalhos domésticos, como forma de pagamento por aquilo que lhes é de direito nosso dever de cuidado.

Mas, a lei moral que nos alcança, além da lei humana, orienta-nos – sob pena de sermos chamados à responsabilidade diante das Leis Divinas – a cuidar deles em atenção às suas necessidades, inclusive, e, principalmente, as afetivas.

A Instrutora Espiritual Joanna de Ângelis lembra esse nosso dever com a seguinte frase: “não percas a oportunidade de semear dentro de casa”, porque ela é a primeira escola de amor onde somos colocados para aprender a amar.

Um exemplo que podemos destacar são os déspotas domésticos: pessoas dóceis fora de casa e que criam o terror dentro dela, fazendo com que sejam temidos por criaturas que deveriam amá-los. Tristes figuras essas que dizem orgulhosos: “em casa sou obedecido, porque todos me temem”, porque poderiam acrescentar a essa frase: “e também sou odiado”.

O lar é uma praia estreita que nos dá condição, através das vivências que ali experimentamos, de servirmos com êxito – no futuro - no mar alto das grandes experiências. É preciso aprender no pouco para experimentar no muito com maior segurança.

Assim, o exemplo que cada um de nós dá no ambiente doméstico passa a ser o adubo que vai propiciar o desenvolvimento de valores positivos ou negativos nesse meio, fortalecendo ou não atitudes que poderão, mais tarde, comprometer, diante das Leis de Deus, o processo evolutivo dos Espíritos envolvidos nesse processo de reajuste reencarnatório. Sob esse prisma, podemos entender, então: 1 – que uma família não se mede pelo número de membros que a compõe ou pelo tempo que essas pessoas passam juntas; 2 – que não é um ato religioso ou civil que forma uma família, mas o sentimento que une essas pessoas e que dá sentido à palavra família.

Desse modo, cabe uma pergunta que Kardec fez aos Espíritos superiores: “A família acaba com o desencarne de seus componentes?” E os Benfeitores responderam que quando o sentimento que une essas pessoas é verdadeiro, baseado no amor, no respeito, no companheirismo de uns para com os outros, ela sobreviverá além da vida material. Esses laços são fortes e mais se consolidam no plano espiritual. Encontram-se lá e reúnem-se de novo para outras tarefas na vida material. Temos aí as famílias harmoniosas.

Agora, quando os sentimentos são de ordem puramente material, baseados no egoísmo e no orgulho, nas ilusões de nomes ilustres, de cargos, fortunas ou beleza física, o desencarne, às vezes, apenas de um dos seus membros, romperá esses laços e a família desaparecerá. Não mais se encontrarão na vida espiritual como tal, mas deverão reencontrar-se em novas existências para saldarem os débitos contraídos uns com os outros. É isso que explica a existência de famílias em desequilíbrio, em constante desarmonia, em eternas cobranças.

Por essa razão, a advertência de Jesus ainda é muito preciosa: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Inicia, dentro do lar, o plantio de amor que irá converter-se em colheita farta de bons frutos.

Bibliografia:

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo O Espiritismo, Cap. 14.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita