LEDA MARIA FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP (Brasil)
Laços de família
Os laços familiares não
são obras do acaso. São
o cumprimento da Lei de
Causa e Efeito, que
representa o dever da
responsabilidade que
temos sobre nossa
conduta, seja através de
atos, palavras ou
pensamentos, que une
esses seres no presente
impelidos pelas causas
do passado.
Por essa razão, temos
famílias nas quais vige
o desentendimento entre
seus membros, famílias
em que a harmonia impera
entre seus membros e
famílias em que existe,
às vezes, um indivíduo
que destoa dos demais
membros.
Com vistas à Lei do
Progresso – da qual nada
nem ninguém escapa – os
seres se reúnem para
saldarem as dívidas de
uns para com os outros.
Muitas vezes, tentamos
fugir desses débitos,
mas não adianta, porque
seremos sempre
constrangidos a
liquidá-los com nossos
credores. Mais cedo ou
mais tarde, estaremos
juntos a eles no
cumprimento dos
desígnios divinos.
Por esse motivo, a
equipe familiar, no
mundo, nem sempre é um
jardim florido. Na
maioria das vezes, é um
espinheiro de
preocupações e de
angústias que
exige, de cada um
de nós, um grande número
de renúncias e
sacrifícios, que nem
sempre estamos dispostos
a fazer. Então, mais uma
vez, é preciso lembrar
que seremos chamados a
prestar contas das
nossas atitudes
despóticas dentro do
lar, da nossa
intolerância, da nossa
negligência para com os
seres que foram
colocados ao nosso lado,
da nossa intransigência
em não aceitar as
diferenças nas formas de
pensar e agir, numa
guerra psicológica
surda, que pode ter
conseqüências dolosas
para os seres mais
frágeis que compõem o
grupo familiar e a quem
deveríamos dar proteção.
Seremos, sim, chamados
a responder pelo que
fizermos aos nossos
filhos, aos nossos pais,
aos nossos companheiros
de jornada.
Todos os parentes,
sejam eles
consangüíneos ou afins,
começando pelos nossos
pais, são obras de amor
que Deus nos deu a
realizar. É preciso
ajudá-los, amparando-os,
através da cooperação,
do carinho, atendendo
aos desígnios da
fraternidade, lembrando
que a caridade começa em
nosso lar. Nossos pais,
por exemplo. A lei
humana exige – sob pena
de responsabilidade
penal – que eles sejam
assistidos em suas
necessidades, sobretudo
se impedidos de
conseguir seu próprio
sustento. E o que
fazemos? Nós os
colocamos nos menores
quartos, dando somente e
estritamente o
necessário, sem nos
lembrarmos dos pequenos
gestos, que tanto
aquecem o coração. Isso
quando não os forçamos a
trabalhos domésticos,
como forma de pagamento
por aquilo que lhes é de
direito
−
nosso dever de cuidado.
Mas, a lei moral que nos
alcança, além da lei
humana, orienta-nos –
sob pena de sermos
chamados à
responsabilidade diante
das Leis Divinas – a
cuidar deles em atenção
às suas necessidades,
inclusive, e,
principalmente, as
afetivas.
A Instrutora Espiritual
Joanna de Ângelis lembra
esse nosso dever com a
seguinte frase: “não
percas a oportunidade de
semear dentro de casa”,
porque ela é a primeira
escola de amor onde
somos colocados para
aprender a amar.
Um exemplo que podemos
destacar são os déspotas
domésticos: pessoas
dóceis fora de casa e
que criam o terror
dentro dela, fazendo com
que sejam temidos por
criaturas que deveriam
amá-los. Tristes figuras
essas que dizem
orgulhosos: “em casa sou
obedecido, porque todos
me temem”, porque
poderiam acrescentar a
essa frase: “e também
sou odiado”.
O lar é uma praia
estreita que nos dá
condição, através das
vivências que ali
experimentamos, de
servirmos com êxito – no
futuro - no mar alto das
grandes experiências. É
preciso aprender no
pouco para experimentar
no muito com maior
segurança.
Assim, o exemplo que
cada um de nós dá no
ambiente doméstico passa
a ser o adubo que vai
propiciar o
desenvolvimento de
valores positivos ou
negativos nesse meio,
fortalecendo ou não
atitudes que poderão,
mais tarde, comprometer,
diante das Leis de Deus,
o processo evolutivo dos
Espíritos envolvidos
nesse processo de
reajuste reencarnatório.
Sob esse prisma, podemos
entender, então: 1 – que
uma família não se mede
pelo número de membros
que a compõe ou pelo
tempo que essas pessoas
passam juntas; 2 – que
não é um ato religioso
ou civil que forma uma
família, mas o
sentimento que une essas
pessoas e que dá sentido
à palavra família.
Desse modo, cabe uma
pergunta que Kardec fez
aos Espíritos
superiores: “A família
acaba com o desencarne
de seus componentes?” E
os Benfeitores
responderam que quando o
sentimento que une essas
pessoas é verdadeiro,
baseado no amor, no
respeito, no
companheirismo de uns
para com os outros, ela
sobreviverá além da vida
material. Esses laços
são fortes e mais se
consolidam no plano
espiritual. Encontram-se
lá e reúnem-se de novo
para outras tarefas na
vida material. Temos aí
as famílias harmoniosas.
Agora, quando os
sentimentos são de ordem
puramente material,
baseados no egoísmo e no
orgulho, nas ilusões de
nomes ilustres, de
cargos, fortunas ou
beleza física, o
desencarne, às vezes,
apenas de um dos seus
membros, romperá esses
laços e a família
desaparecerá. Não mais
se encontrarão na vida
espiritual como tal, mas
deverão reencontrar-se
em novas existências
para saldarem os débitos
contraídos uns com os
outros. É isso que
explica a existência de
famílias em
desequilíbrio, em
constante desarmonia, em
eternas cobranças.
Por essa razão, a
advertência de Jesus
ainda é
muito preciosa:
“Ama o teu próximo como
a ti mesmo”. Inicia,
dentro do lar, o plantio
de amor que irá
converter-se em colheita
farta de bons frutos.
Bibliografia:
KARDEC, Allan. O
Evangelho Segundo O
Espiritismo, Cap.
14.