RITA
CÔRE
garciacore@hotmail.com
Laje do Muriaé, Rio de
Janeiro (Brasil)
O Código Divino
Um estudo sério
caracteriza-se pela
continuidade, conforme
explica Allan Kardec na
Introdução ao Estudo da
Doutrina Espírita.
O espírita, apoiado no
estudo, avesso ao
comodismo, não se
assombra diante das
constatações da História
ou das descobertas da
Ciência. Suas bases
doutrinárias têm como
alicerce a fé
raciocinada que indaga,
procura e avança
constantemente.
Nas últimas décadas, o
público tem acesso, por
meio de livros e
reportagens, a temas
inquietantes, embora não
sejam novos, pois
imersos nos registros
históricos. Em tal
quadro se destaca a
abordagem dos textos
ditos apócrifos, muitos
deles sem dúvida
enriquecedores, na busca
de se traçar um perfil
do Filho do Homem. No
entanto, perfis são
naturalmente redutores e
o Mestre de Nazaré
transcende o que Dele se
julga conhecer.
Recentemente se redimiu
Judas, como se ele disso
precisasse. A Lei de
Deus é perfeita e nada
existe por acaso. A
Doutrina Espírita, por
sua vez, jamais “malhou
o Judas”. Ao contrário,
temos páginas
mediúnicas, a respeito
do controvertido
discípulo de Jesus, que
encerram profunda
beleza. E os estudos
sobre sua função no
projeto divino já
existem há bastante
tempo.
Vejamos, de outro
aspecto, a polêmica
criada em torno do livro
de Dan Brown (2003),
O Código Da Vinci.
Seguindo a tradição dos
romances policiais, o
autor parte de um crime
e do envolvimento das
personagens como pano de
fundo para mergulhar em
um mundo marcado de
suposições e revelações
sobre a figura de Jesus.
No desenrolar da trama,
há a postura da Igreja a
respeito do “dito e do
não dito”, suas
organizações, como a
Opus Dei, além da
existência de sociedades
secretas criadas para
guardar ensinamentos e
informações
convenientemente
rejeitadas pelo poder
religioso.
Há, sem dúvida, um fundo
de veracidade.
Sociedades secretas
sempre existiram,
disfarçando posições
filosóficas e políticas.
Porém, o livro referido
é obra ficcional, um
romance, com enredo e
redes tecidas pela
imaginação.
Ora, uma obra literária,
sendo aberta, é passível
de leituras diversas.
Façamos a nossa. No
diálogo do livro
indicado, que mistura
literatura e história,
há a denúncia, através
dos “sinais” deixados
por Da Vinci na Santa
Ceia, do punhal da
traição da Igreja aos
ensinamentos de Jesus em
essência e a ocultação
de importantes dados da
vida e obra daquele a
quem chamamos o Cristo.
Eis o que o código
revela e esconde.
As ilações daí emanadas
e as aventuras da
narrativa têm, em certos
pontos, comprovação
histórica, mas, em
outros, não. Além da
traição da Igreja, o que
mais incomoda? A
possibilidade, sem
fundamentação
documental, de Jesus
haver se casado e,
conseqüentemente, ter
deixado uma linhagem.
Mas, independente de
dados biográficos, não
comprovados, a
verdadeira família do
Mestre é a daqueles que
“fazem a vontade do
Pai”, expressas nas leis
naturais da harmonia
cósmica. É o que
importa.
Ao espírita que sabe
disso, nada abala. Sua
fé, alicerçada na razão
e alimentada pelo estudo
constante, encara com
desassombro essas
novidades, na verdade,
tão antigas.
Especulações sobre a
vida de Jesus sempre
existiram. Ao tempo de
Kardec, sabia-se o
suficiente para que o
Codificador selecionasse
dos Evangelhos,
inspirado pelo Espírito
de Verdade, apenas os
ensinamentos morais,
descartando as demais
partes, geradoras de
polêmica e dúvida.
Busquemos o primeiro
parágrafo da introdução
ao Evangelho segundo o
Espiritismo: “Podem
dividir-se em cinco
partes as matérias
contidas nos Evangelhos:
os atos comuns da vida
do Cristo; os milagres;
as predições; as
palavras que foram
tomadas pela Igreja para
fundamento de seus
dogmas; e o ensino
moral. As quatro
primeiras têm sido
objeto de controvérsias;
a última, porém,
conservou-se
constantemente
inatacável. Diante
desse código divino, a
própria incredulidade se
curva.” (1)
Conclui-se da
advertência do
Codificador que apenas
os ensinamentos morais
de Jesus, resistindo aos
ventos impuros da
corrupção, atestam Seu
lugar de guia e modelo
de toda a humanidade,
enquanto porta-voz do
código divino.
Por isso, as
pesquisas isentas de
compromissos religiosos,
que podem ser
comprovadas ou não no
futuro, ao gerarem
inquietações, são de
qualquer forma saudáveis
porque abalam dogmas
limitadores da
grandiosidade da Boa
Nova. Afinal, quem não
indaga não obtém
respostas. Quem não
procura não acha.
Na verdade, temos visto
que o Espiritismo está
cada vez mais atual,
pois agrega perguntas e
respostas, hoje
apresentadas como
grandes novidades. O
espírita que lê, tem
acesso ao saber, pois
sua fé tem base na
razão.
Mas, de outro lado, nem
todo espírita
desenvolveu ainda a
prática do estudo
constante e, por isso,
temos os “assombrados”.
Se o leitor aí se
enquadra,
desassombre-se, pois
Jesus se basta.
Enfim, acima do
desenredo das letras,
lendas e mitos, ecoa a
voz que atravessa os
séculos: “Passará o céu
e a Terra, mas minhas
palavras não passarão.”
Falou o Filho do Homem a
traduzir como Filho de
Deus as Leis Morais,
nada secretas, porque
escritas na consciência.
Eis o grande código.
Curve-se a incredulidade
diante dele, à luz do
Espiritismo, que nos
revela pela razão a sua
origem divina.
Fonte:
(1) KARDEC, A. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Rio de
Janeiro. FEB, 2001.