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Entrevista
Ano 1 - N° 25 - 5 de Outubro de 2007
FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

José Passini:

 “A Doutrina Espírita é a bússola que
me orienta no estabelecimento
da rota da minha vida”
 

 Integrante do Conselho Editorial desta revista, José Passini (foto) é natural de Nova Itapirema, interior de São Paulo, mas reside há muito tempo na cidade mineira de Juiz de Fora. Espírita desde a infância, Passini considera a Doutrina codificada por Kardec como uma bússola em sua vida, assim como ele mesmo diz. Segundo ele, o Espiritismo pode ser comparado a um farol  que ilumina seus caminhos. “Ele  me  faz assumir, 

cada  vez  mais,  a  minha condição de espírito imortal, temporariamente encarnado,   isto é,  conscientizando-me  da minha cidadania espiritual.”

Esperantista conhecido internacionalmente, Passini foi reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora. Doutor em Lingüística, seu extenso currículo revela a ocupação de diversos cargos em casas espíritas. Atualmente ele faz parte da equipe do programa Opinião Espírita (rádio e TV) e do Departamento de Evangelização da Criança da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora.

Nesta entrevista, ele manifesta sua opinião sobre diversos assuntos relevantes e do interesse da comunidade espírita e não-espírita. Diz ele que, quando apresenta a Doutrina Espírita aos leigos, procura fazê-lo com clareza, mostrando-a como uma religião singular, a ser vivenciada fora dos templos, no serviço a Deus, na pessoa do próximo. “Enalteço a sua feição consoladora, pela certeza da imortalidade da alma, ao tempo em que liberta a criatura humana do temor do inferno, resgatando as lições de Jesus no tocante à Misericórdia Divina. Enfatizo sempre que o Espiritismo não trouxe nada de novo, pois suas propostas estão todas contidas no Novo Testamento. Todas.”

O Consolador: Havendo nascido no estado de São Paulo, que fato o levou a morar em Juiz de Fora?

Passini: Meus pais se transferiram para Lins, quando eu contava com 3 anos de idade. Lá morei até os 19. Transferi-me para São Paulo, onde residi por quatro anos. Deixando São Paulo, fixei-me definitivamente em Juiz de Fora, em função de emprego que me foi oferecido.

O Consolador: Qual a sua formação?

Passini: Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Lingüística.

O Consolador: Que cargos ou funções você já exerceu no movimento espírita?

Passini: Presidente do Instituto Jesus, obra de amparo ao menor carenciado; presidente da Aliança Municipal Espírita, por duas vezes; presidente do Centro Espírita União, Humildade e Caridade.

O Consolador: Que tarefas desempenha atualmente no meio espírita?

Passini: Membro da equipe do programa Opinião Espírita (Rádio e Televisão) e do Departamento de Evangelização da Criança da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora.

O Consolador: Quando você teve contato com o Espiritismo? Houve algum fato ou circunstância especial que tenha propiciado esse contato inicial?

Passini: Minha família tornou-se espírita quando eu tinha uns 4 anos de idade. A família toda é espírita.

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – qual é o que mais o atrai?

Passini: Os três, na seguinte ordem: religioso, filosófico e científico.

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?

Passini: Kardec, Léon Denis, Emmanuel, André Luiz.  

O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura indispensável aos confrades iniciantes?

Passini: A Codificação e as obras de Francisco Cândido Xavier, notadamente as escritas por Emmanuel e André Luiz.

O Consolador: Se você fosse passar alguns anos num lugar remoto, com acesso restrito às atividades e trabalhos espíritas, que livros pertinentes à Doutrina Espírita, você levaria?

Passini: Os acima citados.

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Passini: Depende do que se conceitua como religião. Se o Espiritismo não é religião, Jesus não trouxe religião alguma à Terra. Acho que é mais uma questão de palavras que, infelizmente, provoca muita discussão capaz de tirar muita gente do trabalho produtivo.

O Consolador: Outro tema que suscita geralmente debates acalorados, diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Qual é sua apreciação dessa obra?

Passini: Creio que Roustaing é um dos Espíritos da equipe de Kardec, mas que se desviou, pretendendo ombrear com o Codificador, produzindo uma obra completamente equivocada. Nas equipes dos grandes missionários há sempre algum que falha...

O Consolador: O terceiro assunto em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond. Embora saibamos que no Paraná a opção já definida pela Federação seja tão-somente a imposição das mãos tal como recomenda J. Herculano Pires, qual é sua opinião a respeito?

Passini: Creio que há pessoas que sempre querem dar um toque pessoal em tudo, chegando a atitudes infelizes. Jesus foi muito simples na imposição de mãos, praticando-a com naturalidade e recomendando que o imitássemos. O essencial para o passe é o esforço do passista em manter-se equilibrado, vivendo dentro dos parâmetros do Evangelho de Jesus. Menos técnica e mais Evangelho!

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? No seu modo de ver as coisas, os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Passini: O trabalho espírita tem sido desenvolvido no sentido de esclarecer, com muita firmeza, sem campanhas ruidosas.

O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a idéia da ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual a sua opinião a respeito?

Passini: Quem lê atentamente André Luiz não tem dúvidas quanto ao assunto. No livro “Obreiros da Vida Eterna”, vemos o caso de Cavalcanti e de Dimas. A respeito deste último, há uma frase que esclarece bem o assunto: “Estamos autorizados a aliviá-lo, o que faremos hoje, alijando-lhe o fardo pesado de matéria densa” (cap. 13). Ora, se os Espíritos recebem ordem do Alto para o desligamento – ou libertação, conforme dizem às vezes –, nós, que não enxergamos a vida espiritual, é que vamos tomar iniciativas?

O Consolador: O movimento espírita em nosso país lhe agrada ou falta algo nele que favoreça uma melhor divulgação da Doutrina?

Passini: Acho que a Doutrina está sendo muito bem divulgada. Talvez não a gosto daqueles que apreciam grandes espetáculos. A maior divulgação, a mais eficaz, é aquela feita pela nossa exemplificação pessoal. Portanto, a questão não é divulgação, mas exemplificação, conforme o pensamento de Guillon Ribeiro, manifestado ao irmão Jacob, no livro “Voltei”: “Daí continuar acreditando que o maior serviço prestado à Doutrina é, ainda, o da própria conversão ao Infinito Bem”.

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o país e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Passini: Estamos vivendo aquilo que se denomina “Fim dos Tempos”. O quadro vai mudar, sem dúvida. Basta lembrarmos de Jesus, quando asseverou, no Sermão da Montanha: “... os mansos herdarão a Terra”. Kardec fala a mesma coisa em “A Gênese” e Emmanuel em “A Caminho da Luz”.

O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra “amor” estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais?

Passini: Tenho certeza absoluta de que vai acontecer, mas fixar datas é um tanto temerário...

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Passini: Indubitavelmente a evangelização da Humanidade, a começar, com prioridade absoluta, pela criança. Creio que o Movimento Espírita ainda não se conscientizou plenamente do alcance do trabalho de evangelização começado na infância. Há uma desproporção muito grande entre o tempo empregado com a mediunidade e com a evangelização da criança. A mediunidade trata do mal já instalado: a evangelização da infância aplica preventivamente a vacina contra o mal.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita