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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 26 - 12 de Outubro de 2007

MARCELO HENRIQUE PEREIRA
cellosc@floripa.com.br
Florianópolis, Santa Catarina (Brasil)

Misericórdia:
O efeito conduz
à causa

“Sede misericordiosos como misericordioso é vosso Pai. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado”. Jesus (Lc; 6:36-38).

Uma das principais virtudes “divinas”, a Misericórdia, foi-nos solenemente apresentada por Jesus de Nazaré em seus diálogos e pregações. Dizia ele que somente o Pai seria infinitamente justo, bom e misericordioso. O foco estaria na possibilidade (infinita) do aprendizado, do refazimento, da reconstrução. Nada seria absoluto e representaria condenação ou destruição e, do contrário, haveria sempre a oportunidade de à frente se modificar o panorama então existente (no aspecto espiritual).

O passado, isto é, o que fizemos ou deixamos de fazer, nunca pode ser alterado – não obstante, em muitas de nossas fantasias mentais, desejássemos uma máquina fantástica (como nos filmes de ficção científica) para “voltar no tempo”. Melhor a nossa concentração no presente e, com o que nele fizermos, endereçarmo-nos para melhores vivências (e conseqüências) no futuro.

A misericórdia, então, representa o convite à paz. Sendo misericordiosos, compreendemos o outro – em seu momento existencial próprio – e não exigimos dele qualquer atitude “conforme” às nossas aspirações e desejos. Do contrário, com um posicionamento indulgente, aprendemos que cada um é herança de si mesmo e reage ou se manifesta de acordo com sua bagagem e trajetória. Nem mais, nem menos! No padrão exato da consciência de si mesmo e da disponibilidade em traduzir em atos e palavras a expressão de suas crenças e ideologias.

Se respeitamos o outro como ele é, evitamos o confronto e, por conseguinte, o embate. Isto não significa, entretanto, que não possamos discutir, isto é, conversar em clima sereno e harmônico, inclusive perpassando as possíveis “diferenças” de entendimento – entre eu e o outro. O debate importa a apresentação de idéias e pontos de vista que, primariamente, podem ser distintos, mas que poderão representar, mais à frente, o nosso (e/ou o do outro) amadurecimento ou revisão de determinadas visões e interpretações, de modo salutar, na seqüência do (natural) caminho evolutivo.

O que importa é entender a misericórdia como a perene disposição (e disponibilidade) ao “acerto de contas”, ou seja, ao perdão das “ofensas” do outro (ou minhas, vice-versa), justamente por entendermos que a natureza humana (ainda imperfeita) nos endereça às reações que são “naturais” porque provêm de nossa real essência. Não podemos reagir de outro modo, salvo pelo esforço que empreendermos na vigilância e na correção daquilo que, antes, tivermos considerado inoportuno ou inadequado.

Como afiançam alguns avatares, o perdão das ofensas é um elemento creditório em relação a nós mesmos, já que não sabemos se à frente, em situações similares, também não teremos agido de modo indevido ou censurável, ocasião em que também “precisaremos” da compreensão dos outros.

Sê, pois, misericordioso com teu interlocutor para que a misericórdia dele também te alcance, quando se fizer necessário!


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita