Obra em
análise:
Fala,
Dr.
Inácio!
Autor
espiritual:
Dr.
Inácio
Ferreira
Autor
encarnado:
Carlos
A.
Baccelli
Sumário:
Esta
obra é
resultado
do
diálogo
franco e
amistoso
entre o
médium
Carlos
Baccelli
e,
segundo
ele, o
Espírito
do Dr.
Inácio
Ferreira.
O médium
propõe
questões
diversas
e o
benfeitor
espiritual
responde
com a
espontaneidade
e
clareza
que
o
caracteriza,
expondo
suas
idéias
sem se
preocupar
em |
|
contemporizar
ou
mascarar
seus
pontos
de vista
em torno
de
assuntos
que
muitos
consideram
delicados
e
polêmicos. |
|
A obra apresenta uma
modalidade mediúnica
inusitada: uma conversa
muito informal,
descompromissada com a
seriedade que seria de
se esperar num diálogo –
estabelecido num
contexto que tenta se
impor como espírita –
entre um médium e um
Espírito que se diz
diretor de um grande
hospital psiquiátrico
situado no Mundo
Espiritual, conforme
declarado na sua obra
“Na Próxima Dimensão”,
pág. 13.
Não fica claro como se
deu esse diálogo. O
leitor não sabe como
foram elaboradas as
perguntas e como foram
obtidas as respostas.
Psicofonia? Psicografia?
Revela-se aí uma
excessiva confiança no
despreparo do leitor,
que vai lendo, achando
graça, rindo, sem
analisar nada. Seria até
de se perguntar: como
Kardec qualificaria essa
obra?
Na apresentação da obra
já há uma defesa prévia,
consubstanciada num
ataque aos que analisam
aquilo que lêem: “É
óbvio que, no mínimo, o
ouçamos com o respeito
que nos deve merecer
todo seareiro bem
intencionado, sem, a
pretexto de discordância
e interpretação pessoal
dos temas abordados,
cassar-lhe o direito de
falar, estendendo ao
Além-Túmulo as sombras
dos tempos medievais
que, infelizmente, ainda
pairam na Terra.”
A argumentação falaciosa
começa aí, imputando aos
que usam o direito – e
como espíritas, o dever
– de examinar um livro,
a condição de
inquisidores medievais.
Entendemos que, ao
lançar uma obra, o autor
deve estar preparado
para receber a crítica
feita pelo leitor. A
análise, a crítica de
uma obra é sempre
necessária, e o autor
que contra ela se
insurge, demonstra ser
ele, e não o leitor que
está usando de métodos
medievais. Analisar uma
obra, e sobre ela
externar sua opinião, é
um direito legítimo que
se aprende no
Espiritismo. Quem quer
impor silêncio ao
leitor, ainda não se
despiu do magister
dixit, este sim,
medieval.
A forma de diálogo seria
uma caricatura da obra
de Kardec, que usou esse
método? O Codificador
dialogou com Espíritos
Superiores sobre magnos
assuntos humanos e
espirituais. Esse Dr.
Inácio seria algum
homônimo do Dr. Ignácio
Ferreira a que se refere
Manoel Philomeno de
Miranda na obra “Entre
dois Mundos” (págs.
145/146), psicografada
por Divaldo Franco?
Note-se o contexto em
que ele é citado:
“Encontramo-nos, porém,
dispostos a seguir
adiante, abrindo espaço
para o futuro, como
fizeram os nossos
predecessores,
particularmente o
apóstolo da caridade,
Dr. Adolfo Bezerra de
Menezes Cavalcanti, o
eminente Dr. Ignácio
Ferreira, o inesquecível
médium Eurípedes
Barsanulfo e muitos
outros que se empenharam
em atender os distúrbios
mentais gerados nas
obsessões de natureza
espiritual.”
Será que um Espírito que
é citado entre esses
dois luminares da
Espiritualidade, citado
como “eminente”, estaria
assim à disposição de um
médium para tratar de
assuntos banais,
superficiais, às vezes,
irreverente e
levianamente? Onde a
seriedade e a
respeitabilidade da
Doutrina Espírita? Onde
se encontrou um diálogo
dessa natureza na obra
de Kardec e dos autores
encarnados que o
sucederam? E na obra de
Francisco Cândido
Xavier, de Yvonne do
Amaral Pereira, de
Divaldo Pereira Franco,
de José Raul Teixeira?
Dizer que um livro como
esse é uma obra espírita
é algo inominável, é uma
profanação. É mediúnica,
mas não é espírita.
Leia estas páginas até o
fim. Inteire-se do que
está sendo publicado e
vendido em nome do
Espiritismo, dessa
Doutrina libertadora que
custou suor e lágrimas
daqueles que nos
precederam. Leia e forme
opinião. Saia do marasmo
e do comodismo de muitos
que, embora herdeiros da
Verdade, numa postura de
falsa tolerância, de
caridade, até mesmo de
pieguismo, deixam as
coisas como estão. É a
hora da verdade!
Lembremo-nos do Cristo:
“Seja, porém, o vosso
falar: Sim, sim; Não,
não, porque o que passa
disto é de procedência
maligna.” (Mt, 5: 37)
Este, talvez o livro
mais difícil de ser
analisado, dessa
produção em série,
porque salvo alguns
trechos, assemelha-se a
uma conversa entre duas
pessoas que não têm o
que fazer e se põem a
divagar sobre alguns
temas espirituais,
banalidades terrenas,
através de perguntas e
respostas de difícil
classificação. Fico até
a imaginar como será
esse tipo de psicografia
em que o médium dialoga
com o Espírito...
Desta vez, deixo de
comentar, item por item,
como fiz em relação a
outras obras do mesmo
Autor. Note que há
diálogos de teores
variados, que vão desde
a conversa banal,
corriqueira, passando
pelo achincalhe da
mediunidade e dos
espíritas. Além desses
pontos, há a discussão
superficial e equivocada
de temas doutrinários,
além de conselhos que se
situam na contra-mão do
Evangelho, no tocante ao
relacionamento do médium
com os dirigentes
espíritas. Deixo a você
esse encargo de analisar
criteriosamente. Também
você é responsável pela
manutenção da
respeitabilidade da
Doutrina Espírita.
As perguntas em
negrito são
formuladas pelo médium,
e as respostas, em tipo
normal, pertencem ao
Espírito. Os números
entre parênteses no
final das respostas
significam as páginas do
livro:
– Quer dizer que, embora
desencarnado, o senhor
não tem acesso a toda a
Verdade?
– Quem me dera! Nós, os
desencarnados, em
maioria apreciamos a
magnífica paisagem da
Vida por um degrau –
apenas um degrau – acima
daquela em que vocês se
encontram. Entre nós,
vivos e mortos, a
diferença está na
densidade do corpo que
nos reveste... (10)
– Estamos muito
distantes dela, da
Verdade?
– Assim como a Terra se
encontra distante do
Sol! Contentemo-nos com
os seus reflexos... (11)
– Quer dizer que
poderíamos definir
mediunidade como
sintonia dos limites?
– É uma boa definição.
(13)
– O médium é co-autor,
Dr. Inácio?
– Sim. (15)
– No resultado final, de
quem é a
responsabilidade maior:
do médium ou do
espírito?
– Eu diria que é do
médium. (15)
– É assim também com o
senhor?
– Quando é que entenderá
que espírito é gente?
Tenho emoções, variações
de humor...
Definitivamente, não sou
um espírito de luz! (19)
– Quem é o senhor?
– Um espírito. (21)
– Dr. Inácio, como vivem
os espíritos depois da
morte?
– A morte não existe,
portanto vivem como
vivem os homens. (24)
– Têm vida social, etc.?
– Sim, deste Outro Lado,
temos a “nossa” Terra...
(24)
– Como é que a vida se
organiza?
– Como se organiza por
aí. (24)
– Todas as profissões
têm ocupação?
– De modo geral, sim; no
Mundo Espiritual, temos
profissões que ainda hão
de aparecer na Terra...
(24)
– Mas existe algum tipo
de remuneração?
– Sim. (24)
– Existe Política por
aí?
– Política e, o pior,
políticos... (24)
– Há disputa de poder?
– Claro, as trevas não
vivem se opondo à luz?
(25)
– Os santos fizeram
“milagres”...
– Com um poder
espiritual que lhes foi
outorgado. Os santos
eram médiuns: não
curavam por si mesmos...
(26)
– Mas poderiam fazê-lo?
– À exceção de Jesus,
todos os que realizaram
os chamados “milagres”
foram simples
instrumentos da Vontade
de Deus. (26)
– O senhor acredita na
Graça Divina?
– Acredito. (26)
– São os espíritos que
curam?
– Não, como não são os
médiuns... (27)
– Não são os
médiuns?!...
– O que cura é a
Medicina, e a Medicina
vem de Deus. (28)
– Dr. Inácio, vamos ter
que interromper
novamente o nosso
diálogo: preciso ir ao
banco pagar algumas
contas que vencem hoje
– Pois e! Depois reclama
de sintonia, qualidade
de produção mediúnica,
dificuldade de
recepção... (34)
– A gente é casado, tem
filhos...
– Quem mandou? (34)
– Como é que eu faço?
– Vá ao banco, pague
suas contas e volte...
com o cérebro
danificado. (35)
– O espírito também
progride no Plano
Espiritual?
– Onde estiver, seja no
corpo ou fora dele, o
espírito está sujeito à
Lei da Evolução; o seu
aprendizado não se
interrompe. (51)
– Toda pessoa é
mesmo potencialmente
médium?
– Quanto mais
perturbada, mais
médium... (55)
– O senhor está
brincando...
– Nem tanto... O médium
aparentemente
equilibrado, aprendeu a
se conter. Alguns
escapam por pouco de um
surto psicótico. (55)
– Dr. Inácio, preciso ir
atrás de um pintor...
– Quer me trocar por Da
Vinci? (56)
– Não, é que uma
parede lá em casa está
com infiltração.
–
Ah, um pintor de
paredes! Sem demérito
para ele, pensei que eu
valesse mais...
– Eu não posso deixar a
parede...
– Não, não pode, mas a
infiltração lá está se
infiltrando aqui. Deve
ser muita água!...(59)
– O senhor não se
aborreça...
– Sinceramente, eu não
sei como você consegue
ser médium. (59)
– Para dizer a verdade,
nem eu.
– Talvez, justamente por
isso, estejamos juntos
nesta empreitada. (59)
– Depois do almoço, a
cabeça me pesa muito...
–
O que pesa
é o estômago, não a
cabeça: coma menos. (59)
– Chico Xavier...
– Chico Xavier, às vezes
não tinha tempo nem de
tomar banho. Não é o seu
caso e o de tantos
outros, que, além de
tomarem banho todos os
dias, passam muitos
cremes no corpo – estão
cada vez mais
enrugados... (62)
– Chico...
– Chico, por vezes,
ficava com a mesma roupa
3, 4 dias... (62)
– O senhor aprova?
– Quem sou eu para
desaprovar em Chico
Xavier alguma coisa?!
(62)
– Chico...
– É melhor você ir atrás
do seu pintor de
paredes.(62)
– Doutor...
– Espero você amanhã...
Câmbio, estou
desligando. (67)
– Todos os espíritos
deverão passar pela
experiência do
homossexualismo?
– Não diria isso. (68)
– O médium homossexual
deve ser impedido de
trabalhar no centro
espírita?
– De maneira alguma!
Agora, que ele também
faça o possível para se
conter, não é? (68)
– Se conter?
– Com seus trejeitos
e... balangandãs! (69)
– De modo geral...
– Deixe-me concluir: os
jornais espíritas têm
“donos” – jornais e
revistas! Estão a
serviço de grupos, não
da Doutrina.
Infelizmente, o
interesse pessoal está
vigorando no Movimento.
(70)
– Só para determinado
jornal, eu respondi a
três entrevistas que não
foram publicadas...
– Eu sei, mas também
quem manda você não
contemporizar? Faça
política... É o que esse
pessoal quer: ser
bajulado! Diga que eles
foram personalidades
ilustres em vidas
anteriores, ligadas a
Allan Kardec, etc. Você
não mente... Como é que
quer fazer parte da
“panela”, se não entra
nela? Corrompa-se, e
você terá espaço. (71)
– O médium...
– O médium é incoerente:
quando mais precisa
trabalhar, delibera
tirar férias... (105)
– Mas, o Dr. Inácio
Ferreira, um nome,
inclusive,
internacional...
– Não deixava de ir ao
banheiro todo dia! (108)
– O Espírito Verdade não
era Jesus?...
– Elias, cumprindo a
promessa de restabelecer
todas as coisas, veio em
espírito; o Espírito
Verdade era João
Batista! (115)
– Dr. Inácio, o senhor
se posiciona contra ou a
favor do aborto?
– Com a Doutrina, sou
contra o aborto
indiscriminado, sem,
digamos, nenhuma
indicação terapêutica.
(127)
– E quando se trata de
gravidez por ocasionada
por estupro?
– Quando se trata de
estupro, creio que se
deve dar à mulher o
direito de decidir, e
respeitá-lo, seja qual
for. (128)
– Mesmo que ela decida
pelo aborto?
– A sociedade não pode
obrigá-la a arcar com as
conseqüências de tal
violência. Ponhamo-nos
no lugar da mulher
aviltada em sua
dignidade... A pretexto
de ética religiosa ou o
que o valha, não podemos
traçar regras de
comportamento para os
outros. (128)
– A mulher deve ter o
direito de abortar o
anencéfalo?
– Creio que Deus,
através dos progressos
da Ciência, está nos
dotando de meios a fim
de que tenhamos certas
provas suavizadas.
Sabemos que a dor é
benéfica para o
espírito, no entanto,
recorremos ao
analgésico. (131)
– Então, a gravidez do
anencéfalo deve ser
interrompida?
– Se os pais, e
principalmente a mãe
tomarem tal decisão,
após a confirmação do
diagnóstico, cabe-nos,
repito, acatá-la sem
recriminações. (131)
– O senhor está fazendo
graça, não é?
– Estou provocando...
(172)
– Provocando a quem?
– Os espíritas
ortodoxos. Adoro fazer
isto... (172)
– Para quê?