DENIS
GLEYCE
denis.gleyce@bol.com.br
Belém, Pará (Brasil)
Aborto:
uma conversa sincera
Quero falar
com você que está pensando em
abortar.
Momento
difícil, muitas dúvidas, poucas
certezas.
Sei do medo que
você está sentindo e da culpa
que lhe ronda a consciência,
pronta para instalar-se, por tempo
indeterminado, no lugar da paz.
Vontade de chorar, de gritar, de
voltar o tempo. Duas opções:
vida ou morte para seu filho(a).
Falar para quem
está fora é bem mais fácil,
confortável. Difícil mesmo é
vivenciar o problema. Quero lhe
contar uma história verídica.
Certo dia, um
amigo meu foi procurado por um
rapaz que mora em sua rua.
O rapaz estava extremamente
desesperado. Sua namorada estava
grávida. Ele desempregado e ela
recém-empregada. Pobres, sem
amparo da família, não tinham
como sustentar uma criança.
Não apenas
isso, os pais da jovem já haviam-na
ameaçado com expulsão de casa,
caso engravidasse.
O cenário
seria os dois desempregados, sem
terem onde morar, com uma criança
pequena. Por isso, o rapaz estava
profundamente angustiado e chorava
como menino. Meu amigo ouviu-lhe o
desabafo e ao final o pedido. O
vizinho queria R$ 50,00 (cinqüenta
reais) para pagar a um médico,
que se disponibilizou a fazer um
aborto clandestino.
Meu amigo era
espírita e tinha convicção de
que a espiritualidade amiga tinha
conduzido aquele rapaz até sua
casa para ser melhor orientado.
- Dou R$ 50,00
com a condição de que você
peça ao médico que minta para
sua namorada.
- Como?!
- Sim, pague a
ele para que diga que ela corre
risco de vida, caso tente o
aborto.
- Mas o médico
não vai aceitar - redargüiu o
jovem vizinho.
- Vai. Ele quer
apenas seu dinheiro - insistiu meu
amigo.
- E como vamos
criar esta criança?
- Deus
proverá!
Assim foi
feito. O rapaz pagou ao médico
que, sem hesitação, mentiu para
a então namorada do vizinho, que
desistiu de abortar.
Depois que a
criança nasceu, o rapaz
contou-lhe tudo. A jovem chorou
bastante e abraçou-o
emocionadamente. Diante de sua
filha, não sabia como a idéia do
aborto havia se infiltrado na
cabeça. Aquele bebê frágil,
dócil, sorridente à sua frente,
era seu tesouro maior, sua razão
de viver.
De fato, teve
dias difíceis, mas nada como
pensava. Seus
pais reagiram num primeiro
momento, mas não foi expulsa de
casa e meses depois a única briga
entre a mãe e os avós era para
que a criança passasse mais tempo
com estes.
Ela não fora
demitida do trabalho. Gozou
licença, teve um parto tranqüilo,
os amigos ajudaram e meses depois
casou com o rapaz. Ele, algum
tempo depois, conseguiu um
emprego, onde continua até hoje,
e tornou-se um pai dedicado e
amável.
A menina
completou 8 anos em 2007. Está
linda, cheia de vida, é o orgulho
e alegria de toda família.
Este é um caso
real e não uma história de conto
de fadas. Como disse, o rapaz e a
jovem passaram por dificuldades,
mas as superaram. Pergunte a eles
se estão arrependidos da escolha
que fizeram?
Não conheço
um único caso em que alguém que
desistiu do aborto tenha se
arrependido. Ao contrário, não
conheço um único caso de quem
praticou aborto que não tenha
ficado com marcas profundas, com
traumas pungentes, que às vezes
jamais cicatrizam.
Deus conhece
seus filhos e dá a cada um apenas
o que podem suportar.
Você tem todas
as condições de ter um filho,
ainda que hoje isso pareça
irreal, difícil. Mãe solteira,
pai problemático, criança
doente, falta de dinheiro,
mudanças no corpo, no trabalho,
na vida, tudo tem solução,
absolutamente tudo. Quantas vezes
você já superou dificuldades que
pareciam invencíveis? Quantas
vezes você conseguiu se sair bem
de uma encruzilhada assustadora?
Quando as
condições são adversas, é
verdade que ter um filho assusta.
Mas a vida é isso, é correr
riscos que valem a pena, como ter
um filho. É estar aberto para
mudanças e aprender com elas. É
se deixar conduzir por Deus,
confiando nele, como um Pai
amoroso e sábio. A vida é isso,
é tentar, é ousar fazer o bem,
ser bom.
Ter um filho é
muito mais do que ter despesas,
trabalho, preocupações. É bem
mais do que isso. Um filho é um
mundo novo, maravilhoso, que se
abre. É provar o amor
incondicional, é degustar beijos
e abraços sinceros, afáveis,
apertados. É voltar a assistir a
desenhos, a andar descalço, a
pintar e se rolar no chão, a rir
das coisas simples.
Ter um filho é
se redescobrir como pessoa, dotada
de inocência e pureza. É gozar o
prazer de ser recebido após o
trabalho com pulos, gargalhadas e
muitas histórias. É tornar-se
sábio e professor, mesmo com
tantas dúvidas sobre a vida. É
tornar-se herói, mesmo cheio de
medos. É virar rei e rainha, sem
trono. Só um filho nos faz
compreender o verdadeiro sentido
da saudade, do amor pleno, da
entrega total. Onde havia
tristezas, haverá alegria,
festas, amiguinhos. Onde havia
solidão, haverá novas amizades e
compromissos. Onde havia egoísmo,
penetrará a humildade. Onde havia
trevas, uma luz radiante a tudo
iluminará. Onde havia dúvidas
sobre o filho, haverá a certeza
de que valeu muito a pena.
Filhos são
mestres, amigos, futuro.
O que está
crescendo aí na sua barriga, já
se alojou em seu coração.
Ouça-o. Lá
no fundinho você escutará seu
chamado amável e carinhoso.
- Pai, mãe, eu
te amo. Cuida de mim!
O que está
crescendo aí na sua barriga não
é apenas um conjunto de células
sem vida, um zigoto, um embrião:
é a felicidade de seu futuro.
Não tenha
medo, Deus proverá!
|