Uma leitora
perguntou-me na semana passada que
podemos responder a alguém que,
valendo-se dos textos bíblicos,
contesta a existência dos
fenômenos mediúnicos.
Penso, antes de
qualquer coisa, que este tipo de
discussão acaba não levando a
nada, porque os que se apegam ao
texto literal da Bíblia têm
geralmente uma idéia cristalizada
sobre o assunto e não devemos
incomodá-los, lembrando a
célebre advertência de Kardec,
que dizia que o Espiritismo não
veio para os que têm religião,
mas para os que não professam
nenhuma ou consideram insuficiente
aquela que seguem.
O caso tomaria
outra feição se alguém,
querendo entender o ponto de vista
dos espíritas acerca do fenômeno
espírita, perguntasse onde
encontramos na Bíblia a sanção
do nosso entendimento.
Poderíamos
então lembrar a esse suposto
consulente que, como ensinava
Léon Denis, o profetismo em
Israel, de Moisés a Jesus, foi um
dos fenômenos transcendentais
mais notáveis da História.
A origem do
profetismo ali foi assinalada por
imponente manifestação relatada
pelo Antigo Testamento. Moisés
escolhera 70 anciãos e, quando os
colocou ao redor do tabernáculo,
Jeová, um dos protetores
espirituais do povo judeu, revelou
sua presença em uma nuvem.
Moisés era,
como ninguém ignora, médium
vidente e auditivo, e foi graças
a tais faculdades que ele pôde
ver e ouvir Jeová na sarça do
Horeb e no monte Sinai. Os
fenômenos mediúnicos em sua vida
foram, por causa disso, numerosos
e expressivos.
O condutor dos
hebreus ouvia vozes quando se
inclinava diante do propiciatório
da arca da aliança e recebeu no
Sinai, escritas na lápide, as
tábuas da lei. Magnetizador
poderoso, fulminou com uma
descarga fluídica os hebreus
revoltados no deserto. Médium
inspirado, entoou um maravilhoso
cântico logo após a derrota de
Faraó e, de quebra, revelou um
gênero especial de mediunidade
– a transfiguração luminosa
– quando, ao descer do Sinai,
trazia na fronte uma auréola de
luz, passando a usar daí por
diante um véu quando se dirigia
às pessoas.
Samuel, outro
profeta judeu, quando dormia no
templo, foi diversas vezes
despertado por vozes que o
chamavam, falavam-lhe no silêncio
da noite e anunciavam-lhe as
coisas futuras. Esdras
reconstituiu integralmente a
Bíblia que se havia perdido, com
o auxílio de um Espírito. Todo o
livro de Jó está repleto de
elucidações e inspirações
mediúnicas e sua própria vida,
atormentada por Espíritos
infelizes, é um assunto que
merece estudos acurados.
A culminância
da fenomenologia mediúnica nos
tempos mais recuados ocorreu,
porém, com o advento de Jesus. A
passagem do Mestre pela Terra
revela, a cada hora, intercâmbio
constante com o Plano Superior,
seja em colóquios com os
emissários de alta estirpe, seja
na conversa com os aflitos
desencarnados, no socorro aos
obsessos do caminho, como também
na equipe de companheiros, aos
quais se apresentou em pessoa,
depois da morte. E os próprios
discípulos conviveriam com o
fenômeno mediúnico,
especialmente a partir dos
extraordinários acontecimentos
registrados no dia de Pentecostes
comemorado algumas semanas depois
da Páscoa da ressurreição.
Diz Emmanuel que naquele dia,
como registrou o livro de Atos
(cap. 2, versículos 1 a 13), os
apóstolos que se mantiveram leais
ao Senhor converteram-se em
médiuns notáveis, ocasião em
que, associadas as suas forças,
os emissários espirituais de
Jesus produziram, por meio deles,
fenômenos físicos em grande
quantidade, como sinais luminosos
e vozes diretas, além de fatos de
psicofonia e xenoglossia, em que
os ensinamentos do Evangelho foram
ditados em várias línguas,
simultaneamente, para os
israelitas de procedências
diversas.