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Especial

Ano 1 - N° 30 - 9 de Novembro de 2007

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Algumas anotações sobre as exposições doutrinárias

 As técnicas da exposição espírita dependem da capacidade
 de quem fala. Não se pode afirmar qual é a
melhor. Jesus só usava a palavra

É de José Jorge (foto), saudoso confrade carioca que desencarnou em 11 de dezembro de 2006, esta assertiva: "Crer é uma coisa; saber é uma aquisição inalienável. Quem não estuda não sabe; nem pisou ainda o primeiro degrau". "O nascimento biológico depende dos pais; o nascimento espiritual depende de nós." E quando a pessoa dá valor à Doutrina Espírita, ela está pisando o segundo degrau, que é a conversão.

"No Espiritismo, 90% dos  indivíduos são convertidos", completava o querido amigo.

Para ilustrar essa tese, o professor mencionava o caso do "Baiano", um sujeito que, embora estando sempre embriagado, não deixava de ir às reuniões públicas de determinado Centro Espírita localizado na antiga capital do País. "Baiano" morrera numa farra e, anos depois, comunicou-se naquele mesmo Centro, em uma sessão mediúnica cujo dirigente se recordava do estado de embriaguez que caracterizou os últimos anos do confrade.

Quando a exposição oral é boa

"Lá vem o Baiano!" -- pensou consigo o dirigente, preocupado com o an­damento da reunião. Por isso, seu desejo era logo "expulsar" dali o Espírito. "Por favor, não me mande embora...", pediu-lhe com voz chorosa a entidade desencarnada, que pediu tempo para contar a sua história. No plano espiritual, logo que percebeu que havia desencarnado, ele pedira oportunidade de trabalho. Mas o que ele poderia fazer, se pouco sabia? Dedicou-se então a uma tarefa curiosa. Fingindo que não sabia estar desencarnado, trazia para as reuniões do Centro Espírita os Espíritos desocupados que também ignoravam a própria desencarnação. Os convites eram para uma festa que ali ocorreria. E, assim, "Baiano" conseguiu atrair muitas entidades à Casa espírita... "Aprendi muita coisa no Espiritismo, mas aproveitei pouco...", dizia aquele que fora conhecido na Terra pelo apelido de "Baiano".

O fato comprova que muito aprendemos no Centro Espírita e que a palavra é muito importante, como João registra: "Muitos acreditaram em Jesus por causa de sua palavra" (João, 4:41). O objetivo da preparação de expositores espíritas deve ser, pois, técnico e moral. Exposição vem do latim "expositione" (narrativa, narração etc.), mas a exposição é boa apenas quando esclarece, quando atende às finalidades da didática, que, no dizer de Comênio (foto), é a arte de ensinar todas as coisas a todo mundo.

O segredo da exposição doutrinária

Numa exposição doutrinária, o segredo é a motivação. É preciso que os ouvintes tenham o interesse voltado para o palestrante, e as dúvidas devem ser resolvidas na hora. Sabe-se que não existe regra específica para a motivação. Muitas vezes, um fato inesperado, uma data importante, uma notícia de última hora podem servir de motivação.

Há motivações provocadas. Um nome errôneo que se coloque deliberadamente chama a atenção da platéia e atrai para o palestrante as atenções que ele deseja. Quem fala deve inteirar-se de que há limitações em toda explanação doutrinária: limitações daquele que fala, daqueles que ouvem, da sala etc. Um ponto, porém, indiscutível é que ninguém ensina o que não sabe. Constitui, pois, ponto pacífico que para divulgar é preciso, primeiro, conhecer, e para conhecer é preciso estudar.

As qualidades da exposição oral

As técnicas da exposição espírita dependem da capacidade de quem fala. Não se pode afirmar qual é a melhor. Jesus só usava a palavra. É preciso, porém, que o expositor tenha voz apropriada à tarefa que vai desempenhar e o roteiro do assunto a ser explanado.

Especificamente com relação à técnica, três qualidades tornam-se indispensáveis a uma boa exposição oral: intensidade de voz; clareza; expressão.

Por intensidade de voz entenda-se a capacidade de falar suficientemente alto, de modo que todos possam ouvir o que é dito.

Clareza significa dizer as palavras corretamente, sem "engolir" sílabas, tendo um cuidado especial com a pronúncia dos vocábulos proparoxítonos e com a formação de cacófatos, que, de modo geral, são perfeitamente evitáveis. "Ela tinha falado", "a boneca dela", "pagou pouco por cada cadeira" são frases comuns que podem ser ditas de modo a se evitar o cacófato, que deslustra a exposição oral, sobretudo nos programas de rádio, onde a atenção com o som é muito maior.

Aquele que usa a tribuna deve ter cuidado especial com certos vocábulos que são costumeiramente pronunciados de forma errônea em nosso meio. "Fluido" é um deles. Ora, o substantivo "fluido" é formado por duas sílabas: flui + do, e deve ser assim pronunciado. É erro falar "fluído", com acento na letra "i". Outro erro comum dos espíritas é utilizar o vocábulo “palestrista”, que não existe, em lugar do correto “palestrante”.

Expressão é conferir à verbalização a entonação que cada palavra deve ter no discurso. A expressão é a alma da exposição oral, enquanto que intensidade e clareza seriam o seu corpo. A ênfase, repetindo-se os termos, aumenta a expressão. E nesse sentido devemos entender que a entoação de voz e sua modulação devem ser reguladas de acordo com o significado que a palavra tem na frase. Ninguém dirá: "Estou com ódio de você" sorrindo.

A adequação e a fundamentação doutrinária

Valer-se de uma história para ilustrar uma palestra é recurso válido. Jesus foi também um mestre nisso, como mostram suas inúmeras parábolas, que o povo compreendia com facilidade.

Há defeitos na oratória que devem, contudo, ser combatidos. Existem oradores que falam tão devagar que dão sono: são chamados popularmente "conta-gotas". E há os que disparam, como metralhadoras, falando tão rapidamente, que o ouvinte não consegue acompanhá-los.

Outro aspecto importante a ser considerado numa exposição é sua adequação ao público, ao tempo e ao local. Numa assembléia de pessoas humildes, destituídas de maior cultura, não se deve fazer exposição sobre tema árido, acima de sua capacidade de compreensão. Um orador com pouca intensidade de voz não será ouvido por todas as pessoas num salão para duzentas pessoas. Se não houver no recinto equipamento de som que permita amplificar a voz, ele não deve aceitar o convite para falar em lugar semelhante, porque poucos aproveitarão sua palestra.

A exposição oral, no meio espírita, deve visar ainda à integração com a Doutrina Espírita, com a Casa Espírita e com o próprio palestrante. É preciso entender que uma palestra espírita tem de examinar o tema proposto à luz da Doutrina Espírita, evitando-se exposições que se fundamentem inteiramente em textos escriturísticos. Evite-se também falar sobre um assunto em que haja discordância de pontos de vista entre o orador e a instituição onde se vai falar. Se há na Casa o hábito de fazer as orações em pé, como ocorre na Federação Espírita Brasileira, não se justifica que a pessoa, naquele recinto, se coloque em posição contrária. Se a Casa adota a sistemática dos passes padronizados, evidentemente deverá ele evitar, numa palestra pública, criticar tal método de trabalho, o que não significa ignorar esse assunto em seminários específicos para os quais o palestrante tenha sido especialmente convidado.

Os pontos essenciais à boa exposição oral

Concluindo, é preciso convir em que não existe uma didática espírita, porque a didática transcende o nosso meio e fornece elementos a todas as disciplinas.

No caso da exposição oral, ela estabelece quatro pontos essenciais que compete ao expositor ter sempre em mente:

1.o  - Saber o que vai falar (estudo prévio). 

2.o  - Saber para quem vai falar (adequação do assunto). 

3.o  - Saber para que vai falar (finalidade).

4.o  - Saber como vai falar (planejamento, motivação e fixação).

Nesses quatro pontos situa-se o segredo do êxito de qualquer exposição oral, que deve ser revestida sempre da mesma alegria destacada por Paulo numa de suas cartas aos Coríntios: "Dai, dai mesmo pouco, mas dai com alegria".

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita