ASTOLFO O. DE
OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Algumas anotações sobre
as exposições
doutrinárias
As
técnicas da exposição
espírita dependem da
capacidade
de quem fala. Não se
pode afirmar qual é a
melhor. Jesus só usava a
palavra
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É de José Jorge
(foto), saudoso
confrade carioca que
desencarnou em
11 de dezembro de 2006,
esta assertiva: "Crer é
uma coisa; saber é uma
aquisição inalienável.
Quem não estuda não
sabe; nem pisou ainda o
primeiro degrau". "O
nascimento biológico
depende dos pais; o
nascimento espiritual
depende de nós." E
quando a pessoa dá valor
à Doutrina Espírita, ela
está pisando o segundo
degrau, que é a
conversão.
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"No
Espiritismo,
90% dos
indivíduos
são
convertidos",
completava o
querido
amigo. |
Para ilustrar essa tese,
o professor mencionava o
caso do "Baiano", um
sujeito que, embora
estando sempre
embriagado, não deixava
de ir às reuniões
públicas de determinado
Centro Espírita
localizado na antiga
capital do País.
"Baiano" morrera numa
farra e, anos depois,
comunicou-se naquele
mesmo Centro, em uma
sessão mediúnica cujo
dirigente se recordava
do estado de embriaguez
que caracterizou os
últimos anos do
confrade.
Quando a exposição oral
é boa
"Lá vem o Baiano!" --
pensou consigo o
dirigente, preocupado
com o andamento da
reunião. Por isso, seu
desejo era logo
"expulsar" dali o
Espírito. "Por favor,
não me mande embora...",
pediu-lhe com voz
chorosa a entidade
desencarnada, que pediu
tempo para contar a sua
história. No plano
espiritual, logo que
percebeu que havia
desencarnado, ele pedira
oportunidade de
trabalho. Mas o que ele
poderia fazer, se pouco
sabia? Dedicou-se então
a uma tarefa curiosa.
Fingindo que não sabia
estar desencarnado,
trazia para as reuniões
do Centro Espírita os
Espíritos desocupados
que também ignoravam a
própria desencarnação.
Os convites eram para
uma festa que ali
ocorreria. E, assim,
"Baiano" conseguiu
atrair muitas entidades
à Casa espírita...
"Aprendi muita coisa no
Espiritismo, mas
aproveitei pouco...",
dizia aquele que fora
conhecido na Terra pelo
apelido de "Baiano".
O fato comprova que
muito aprendemos no
Centro Espírita e que a
palavra é muito
importante, como João
registra: "Muitos
acreditaram em Jesus por
causa de sua palavra"
(João, 4:41). O objetivo
da preparação de
expositores espíritas
deve ser, pois, técnico
e moral. Exposição vem
do latim "expositione"
(narrativa, narração
etc.), mas a exposição é
boa apenas quando
esclarece, quando atende
às finalidades da
didática, que, no dizer
de Comênio (foto), é a arte de
ensinar todas as coisas
a todo mundo. |
|
O segredo da exposição
doutrinária
Numa exposição
doutrinária, o segredo é
a motivação. É preciso
que os ouvintes tenham o
interesse voltado para o
palestrante, e as
dúvidas devem ser
resolvidas na hora.
Sabe-se que não existe
regra específica para a
motivação. Muitas vezes,
um fato inesperado, uma
data importante, uma
notícia de última hora
podem servir de
motivação.
Há motivações
provocadas. Um nome
errôneo que se coloque
deliberadamente chama a
atenção da platéia e
atrai para o palestrante
as atenções que ele
deseja. Quem fala deve
inteirar-se de que há
limitações em toda
explanação doutrinária:
limitações daquele que
fala, daqueles que
ouvem, da sala etc. Um
ponto, porém,
indiscutível é que
ninguém ensina o que não
sabe. Constitui, pois,
ponto pacífico que para
divulgar é preciso,
primeiro, conhecer, e
para conhecer é preciso
estudar.
As qualidades da
exposição oral
As técnicas da exposição
espírita dependem da
capacidade de quem fala.
Não se pode afirmar qual
é a melhor. Jesus só
usava a palavra. É
preciso, porém, que o
expositor tenha voz
apropriada à tarefa que
vai desempenhar e o
roteiro do assunto a ser
explanado.
Especificamente com
relação à técnica, três
qualidades tornam-se
indispensáveis a uma boa
exposição oral:
intensidade de voz;
clareza;
expressão.
Por intensidade
de voz entenda-se a
capacidade de falar
suficientemente alto, de
modo que todos possam
ouvir o que é dito.
Clareza
significa dizer as
palavras corretamente,
sem "engolir" sílabas,
tendo um cuidado
especial com a pronúncia
dos vocábulos
proparoxítonos e com a
formação de cacófatos,
que, de modo geral, são
perfeitamente evitáveis.
"Ela tinha falado", "a
boneca dela", "pagou
pouco por cada cadeira"
são frases comuns que
podem ser ditas de modo
a se evitar o cacófato,
que deslustra a
exposição oral,
sobretudo nos programas
de rádio, onde a atenção
com o som é muito maior.
Aquele que usa a tribuna
deve ter cuidado
especial com certos
vocábulos que são
costumeiramente
pronunciados de forma
errônea em nosso meio.
"Fluido" é um deles.
Ora, o substantivo
"fluido" é formado por
duas sílabas: flui
+ do, e deve
ser assim pronunciado. É
erro falar "fluído",
com acento na letra "i".
Outro erro comum dos
espíritas é utilizar o
vocábulo “palestrista”,
que não existe, em lugar
do correto
“palestrante”.
Expressão
é conferir à
verbalização a entonação
que cada palavra deve
ter no discurso. A
expressão é a alma da
exposição oral, enquanto
que intensidade e
clareza seriam o
seu corpo. A ênfase,
repetindo-se os termos,
aumenta a expressão. E
nesse sentido devemos
entender que a entoação
de voz e sua modulação
devem ser reguladas de
acordo com o significado
que a palavra tem na
frase. Ninguém dirá:
"Estou com ódio de você"
sorrindo.
A adequação e a
fundamentação
doutrinária
Valer-se de uma história
para ilustrar uma
palestra é recurso
válido. Jesus foi também
um mestre nisso, como
mostram suas inúmeras
parábolas, que o povo
compreendia com
facilidade.
Há defeitos na oratória
que devem, contudo, ser
combatidos. Existem
oradores que falam tão
devagar que dão sono:
são chamados
popularmente
"conta-gotas". E há os
que disparam, como
metralhadoras, falando
tão rapidamente, que o
ouvinte não consegue
acompanhá-los.
Outro aspecto importante
a ser considerado numa
exposição é sua
adequação ao público, ao
tempo e ao local. Numa
assembléia de pessoas
humildes, destituídas de
maior cultura, não se
deve fazer exposição
sobre tema árido, acima
de sua capacidade de
compreensão. Um orador
com pouca intensidade de
voz não será ouvido por
todas as pessoas num
salão para duzentas
pessoas. Se não houver
no recinto equipamento
de som que permita
amplificar a voz, ele
não deve aceitar o
convite para falar em
lugar semelhante, porque
poucos aproveitarão sua
palestra.
A exposição oral, no
meio espírita, deve
visar ainda à integração
com a Doutrina Espírita,
com a Casa Espírita e
com o próprio
palestrante. É preciso
entender que uma
palestra espírita tem de
examinar o tema proposto
à luz da Doutrina
Espírita, evitando-se
exposições que se
fundamentem inteiramente
em textos
escriturísticos.
Evite-se também falar
sobre um assunto em que
haja discordância de
pontos de vista entre o
orador e a instituição
onde se vai falar. Se há
na Casa o hábito de
fazer as orações em pé,
como ocorre na Federação
Espírita Brasileira, não
se justifica que a
pessoa, naquele recinto,
se coloque em posição
contrária. Se a Casa
adota a sistemática dos
passes padronizados,
evidentemente deverá ele
evitar, numa palestra
pública, criticar tal
método de trabalho, o
que não significa
ignorar esse assunto em
seminários específicos
para os quais o
palestrante tenha sido
especialmente convidado.
Os pontos essenciais à
boa exposição oral
Concluindo, é preciso
convir em que não existe
uma didática espírita,
porque a didática
transcende o nosso meio
e fornece elementos a
todas as disciplinas.
No caso da exposição
oral, ela estabelece
quatro pontos essenciais
que compete ao expositor
ter sempre em mente:
1.o - Saber
o que vai
falar (estudo prévio).
2.o - Saber
para quem
vai falar (adequação do
assunto).
3.o - Saber
para que
vai falar (finalidade).
4.o - Saber
como vai falar
(planejamento, motivação
e fixação).