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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo
Ano 1 - N° 30 - 9 de Novembro de 2007

 

O sonho de Laurinho

Laurinho tinha apenas oito anos, mas era muito vivo e inteligente.

Certo dia, na escola, ele ouviu a professora falar sobre a existência da “alma” explicando que ela é imortal e, por isso, já existia antes desta vida e continuaria existindo após a morte do corpo. Para finalizar, a professora, que era espírita, completou:

— O sono é um estado muito parecido ao da morte, porque o espírito se desprende do corpo e vai para onde quiser. A diferença é que, do sono, acordamos todas as manhãs; e, quando ocorre a morte do corpo material, o espírito não volta mais a habitar aquele corpo de carne. 

Laurinho escutou com muita atenção e ficou preocupado com as palavras da professora.

Na verdade, não entendia direito como isso poderia acontecer. Aliás, nem sabia se acreditava em “espírito”.

— Será que temos mesmo uma alma ou espírito? — perguntou.

— Nós não temos uma alma ou espírito, Laurinho. “Nós somos” o espírito — respondeu a professora.

Laurinho estava surpreso. Ele nunca ouvira ninguém falar sobre esse assunto!

Assim, voltou pensativo e cheio de dúvidas para casa, e o resto do dia não conseguiu pensar em outra coisa.

À noite, fez uma pequena oração para Jesus, que a mãe ensinara, e deitou-se. Não demorou muito, estava dormindo.                           

Algum tempo depois, Laurinho acordou. Sentiu sede e levantou-se para beber água.

Reconhecia-se mais leve, bem disposto. Ao olhar para o leito, levou um susto. Viu um outro Laurinho dormindo.

Como poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo?!...

Lembrou-se, então, do que a professora havia ensinado.

— Que legal! Então, este é meu corpo espiritual e estou fora do corpo de carne!

Achando graça da situação, saiu do quarto e caminhou pela casa. Seus pais ainda estavam acordados e Laurinho viu a mãe fazendo tricô e o pai lendo um livro em sua cadeira de balanço preferida.

Foi até a cozinha beber água, mas não conseguiu segurar o copo, pois sua mão passava por ele sem conseguir pegá-lo.

Viu seu gatinho Xuxu que estava ronronando num canto da cozinha e resolveu brincar com ele.

— Xuxu! Xuxu! — chamou.

O gatinho acordou, sonolento. Laurinho aproximou-se e passou as mãos no animalzinho que, eriçando os pêlos, miou e correu a esconder-se                                  no quarto de despejo no meio de um monte de roupas, como se estivesse com medo.

Laurinho resolveu deixar Xuxu em paz e voltar para o quarto.

Ao passar pela sala, viu o vovô Carlos ao lado de sua mãe. O avô, sorridente, disse:

— Cuide de sua mãe para mim, Laurinho. Diga a ela que estou muito bem.

O menino, já com sono, voltou para o quarto e deitou-se.

No dia seguinte, Laurinho despertou cedo para ir à escola. Trocou de roupa e foi até a cozinha onde sua mãe acabava de preparar o café.

Sentaram-se. A senhora comentou, enquanto colocava café na xícara:

— Que estranho! Não sei onde está o seu gatinho. Sempre que sentamos à mesa para as refeições, Xuxu se aproxima para ganhar alguma coisa. Estou acordada há horas e ele ainda não apareceu.

Naquele momento, Laurinho lembrou-se do sonho que tivera e afirmou:

— Eu sei onde ele está.

Levantou-se, foi até o quarto de despejo, abriu a porta e Xuxu saiu se espreguiçando todo.

— Como você sabia que ele estava lá? — Perguntou o pai, curioso.

Laurinho contou o sonho que teve à noite, deixando os pais surpresos. Depois continuou:

— E tem mais. O vovô Carlos, que estava na sala ao seu lado, mamãe, pediu-me que cuidasse de você e que lhe dissesse que ele está muito bem.

Emocionada, a senhora, cujo pai tinha morrido há alguns meses, exclamou:

— Mas, seu avô Carlos já morreu, meu filho!

— Pois eu o vi bem vivo, mamãe. E nem me lembrei que ele já estava morto.

Os pais de Laurinho não continham a satisfação e se abraçaram, percebendo que algo de muito grandioso ocorrera àquela noite.

Eles, que não acreditavam em nada, sentiam agora uma nova esperança em seus corações, graças ao sonho de seu filho Laurinho.

E o menino, de olhos arregalados, disse:

— E não é que minha professora tem razão? A morte não existe!...

                                                                  TIA CÉLIA
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita