Para alguns confrades de
índole "light ou clean"
(!?), a pureza
doutrinária ecoa como
algo obscuro, subjetivo.
Não compartilhamos dessa
tese. Cremos na
observância da
simplicidade dos
conceitos escritos,
praticados e alicerçados
na Codificação, cujas
recomendações básicas
foram apoiadas pelos
"Espíritos do Senhor,
que são as virtudes dos
Céus", (1) no dizer do
Espírito de Verdade, na
introdução de O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
Aconteceu conosco
recentemente: ao término
de uma palestra, cujo
tema enfatizava a
questão das práticas
estranhas às normas de
conduta que a Doutrina
Espírita preceitua,
aproximou-se de nós um
confrade, deixando
transparecer uma série
de dúvidas quanto à
instituição espírita que
freqüentava, próxima à
sua residência.
Confessou-nos que estava
tentando se harmonizar
com aquele grupo, mas a
forma como conduziam os
trabalhos conflitava com
os esclarecimentos
contidos nos Livros da
Codificação.
Esclareceu-nos, também,
que naquele centro os
trabalhadores adotavam a
prática da "apometria"
para promoverem sessões
de "desobsessão" e que o
tratamento pela
"corrente magnética" era
a coqueluche do
centro-oeste brasileiro.
(sic) (!?) Disse-nos,
ainda, que, enquanto uns
utilizavam cristais para
energizarem os
assistidos, outros
recomendavam o hábito da
meditação sob pirâmides
para o necessário
equilíbrio espiritual.
Havia, também, aqueles
que incentivavam o
famoso "banho de sal
grosso", juntamente com
ervas "medicinais" e
outros quejandos.
Convidado para trabalhar
naquele centro, em
serviços de atendimento
aos necessitados da
região, mostrou-se-nos
extremamente receoso em
assumir tal
responsabilidade, já que
tais práticas não eram
condizentes com os
ensinamentos da Doutrina
Espírita.
Ao nos questionar se
deveria ou não aceitar
tal tarefa, demos a ele
o seguinte conselho: Já
que possuía algum
conhecimento sobre as
normas da Codificação e
demonstrava bom senso
crítico e critério
doutrinário, das duas,
uma: ou ele se afastaria
do grupo em que se
associara, procurando se
identificar com outra
instituição, na qual
estivessem estabelecidas
reuniões nos moldes da
Terceira Revelação, ou
permaneceria qual
missionário,
transmitindo, aos
poucos, as claras noções
da Doutrina Espírita.
Lembramos ao nosso irmão
que muitos centros
sustentam movimentos e
idéias hipnotizantes, na
tentativa de embutir, na
espinha dorsal da
Doutrina Espírita,
algumas práticas
estranhas, sob os
auspícios dos apelos
assistencialistas de
inócuos resultados, e
propagam neologismos de
impacto para
"tratamentos
espirituais",
supostamente eficazes.
Explicamos que o trágico
da questão é que esses
grupos são dominadores
e, por conseqüência,
detêm poder hegemônico
no movimento espírita em
certas localidades.
Esclarecemos ainda a ele
que o Centro Espírita
tem que funcionar como
se fosse um autêntico
pronto-socorro
espiritual, tal qual
refrigério em favor das
almas em desalinho, e
não um reduto de
ilusões. A Casa Espírita
tem que estar preparada
para receber um
contingente cada vez
maior de pessoas
perdidas no lodaçal de
suas próprias
imperfeições, uma vez
que estão nos vales
sombrios da ignorância.
Aqueles que lêem livros
tidos como de literatura
avançada, mas de autores
um tanto quanto
duvidosos, sem antes
lerem e estudarem com
seriedade Allan Kardec,
correm o grande risco de
enveredar por caminhos
estreitos e trilhas
confusas, de difícil
acesso esclarecedor. Os
núcleos espíritas
refletem a índole e
consciência doutrinária
dos seus dirigentes. As
práticas narradas pelo
irmão chocam-se,
nitidamente, com os
postulados kardecianos.
Logo, aí não se pratica
Espiritismo. Contudo,
são estágios de
entendimento
insipientes, talvez
necessários para pessoas
neófitas (lembrando
aqui: a cada um segundo
o merecimento). Foi
preciso lembrá-lo,
porém, de que, mesmo nos
grupos mal orientados
por seus dirigentes,
existem pessoas que se
dispõem a ajudar irmãos
necessitados,
independentemente de
regras preestabelecidas,
o que lhes confere algum
mérito, obviamente.
Todavia, o alertamos
sobre as dificuldades
que, certamente, iria
encontrar, pois não
seria fácil o acesso às
mentes cristalizadas em
bases de "verdades
indiscutíveis", mas nada
impeditiva da aceitação
do desafio, se a vontade
de servir fosse maior
que as práticas não
alinhadas com o projeto
espírita. O importante é
servir em nome do
Cristo, mesmo
convivendo,
heroicamente, com
práticas vazias de
sentido lógico. Por
outro lado,
serenando-lhe o Espírito
hesitante, lembramos-lhe
que ninguém é obrigado a
conviver sob as amarras
dos constrangimentos.
O Espiritismo traz-nos
uma nova ordem religiosa
que precisa ser
preservada. A Terceira
Revelação é a resposta
sábia dos Céus às
interrogações da
criatura aflita na
Terra, conduzindo-a ao
encontro de Deus. Cremos
que preservá-la da
presunção dos
reformadores e das
propostas ligeiras dos
que a ignoram, e apenas
fazem parte dos grupos
onde é apresentada,
constitui dever de todos
nós.
"Neste momento,
contabilizamos glórias
da Ciência, da
Tecnologia, do
pensamento, da arte, da
beleza, mas não podemos
ignorar as devastadoras
estatísticas da
perversidade que se
deriva dos transtornos
comportamentais. (...)
as criaturas humanas
ainda não encontraram o
ponto de realização
plenificadora. Isto
porque Jesus tem sido
motivo de excogitações
imediatistas no
campeonato das projeções
pessoais, na religião,
na política e nos
interesses mesquinhos.
“ (1)
Se abraçamos o
Espiritismo por ideal
cristão, não podemos
negar-lhe fidelidade. O
legado da tolerância não
se consubstancia na
omissão da advertência
verbal diante das
enxertias conceituais e
práticas anômalas que
alguns companheiros
intentam impor no seio
do Movimento Espírita.
Para os mais afoitos, a
pureza doutrinária é a
defesa intransigente dos
postulados espíritas,
sem maior observância
das normas evangélicas;
para outros, não menos
afobados, é a rígida
igualdade de tipos de
comportamentos, sem a
devida consideração aos
níveis diferenciados de
evolução em que estagiam
as pessoas. Sabemos que
o excesso de rigor na
defesa doutrinária pode
nos levar a graves
erros, se enredarmos
pelas trilhas de
extremismos
injustificáveis, visto
que redundarão em
divisão inaceitável, em
face dos impositivos da
fraternidade.
É óbvio que não podemos
converter defesa de
pureza kardeciana em
cristalizada
padronização de práticas
que podem obstar a
criatividade espontânea,
diante da liberdade de
ação. Não obstante
repelir atitudes
extremas, não podemos
abrir mão da vigilância
exigida pela pureza dos
postulados espíritas.
Não hesitemos, pois,
quando a situação se
impõe e estejamos alerta
sobre a fidelidade que
devemos a Kardec e a
Jesus. É importante não
esquecermos de que nas
pequeninas concessões
vamos descaracterizando
o projeto da Terceira
Revelação.
"É necessário preservar
o Espiritismo conforme o
herdamos do eminente
Codificador,
mantendo-lhe a claridade
dos postulados, a
limpidez dos seus
conteúdos, não
permitindo que se lhe
instale adenda
perniciosa, que somente
irá confundir os
incautos e os menos
conhecedores das suas
diretrizes.”
(2)
É inegável que existem
inúmeras práticas não
compatíveis com o
projeto doutrinário que
urge serem combatidas à
exaustão, nas bases da
dignidade cristã, sem
quaisquer laivos de
fanatismo, tendente a
impossibilitar discussão
sadia em torno de
questões controversas.
Apresentando certa
apreensão quanto ao
Movimento Espírita,
nosso 'Kardec
Brasileiro' recorda:
"a Boa Nova (...) produz
júbilo interno e não
algazarra exterior
(...). Não é lícito que
nos transformemos em
pessoas insensatas no
trato com as questões
espirituais. Preservar,
portanto, a pulcritude e
a seriedade da Doutrina
no Movimento Espírita é
dever que nos compete a
todos e particularmente
ao Conselho Federativo
Nacional através das
Entidades Federadas"
(3)
Sobre os que ainda se
fixam demasiadamente nas
questões fenomênicas,
Bezerra lembra:
"(...) a mediunidade
deve ser exercida
santamente, cristãmente,
com responsabilidade e
critérios de elevação
para não se transformar
em instrumento de
perturbação e desídia."
(4) O exercício da
mediunidade deve ser
reservado às pessoas que
conheçam Espiritismo,
visto ser extremamente
perigosa a participação
de pessoas ignorantes em
trabalhos de aguçamentos
mediúnicos e, por
desatenção desse tópico,
após mais de um século
de mediunidade à luz da
Doutrina Espírita,
temo-la, ainda,
atualmente,
ridicularizada pelos
intelectuais,
materialistas e
ateístas, que insistem
em desprezá-la até hoje.
Lamentavelmente, em nome
do Espiritismo, muitos
propõem apometrias,
desobsessão por corrente
mento-eletromagnético
(5), aplicações de luzes
coloridas para
higienizar auras humanas
e curar (pasmem!) azia,
cálculo renal, coceiras,
dores de dente, gripes,
soluços em crianças,
verminoses, frieiras,
etc. Se não bastasse,
recomenda-se até
carvãoterapia (?!) para
neutralizar
"maus-olhados". É só
colocar um pedaço de
tora de carvão debaixo
da cama e estaremos
imunes ao grande flagelo
da humanidade, o "olho
comprido", e, nessa
tragicomédia, o
Espiritismo vai
capengando em certos
centros espíritas.
A verdadeira prática
espírita é a expressão
da moral cristã,
consubstanciada no
Evangelho do Mestre
Jesus. Assim, o grupo
espírita só terá maior
credibilidade se houver
pureza doutrinária e se
a prática estiver
conforme os ensinamentos
de Jesus, sob qualquer
tipo de continente
(desobsessão, educação
mediúnica, palestras,
livros, mensagens,
Assistência Social
etc.).
No Espiritismo, o Cristo
desponta como excelso e
generoso condutor de
corações e o Evangelho
brilha como o Sol, na
sua grandeza mágica. Uma
doutrina que cresceu
assustadoramente nos
últimos lustros, em suas
hostes surgiram bons
líderes, ao tempo em que
também apareceram
imprudentes inovadores,
com a presunção de
"atualizar" Kardec.
Recordemos que Kardec
legou à humanidade a
melhor de todas as
embalagens (pureza
doutrinária) ao divino
presente que é a
Doutrina dos Espíritos.
Dessa maneira, aqueles
que têm como base o
alicerce do Evangelho
podem até conviver com
qualquer obra ou
filosofia, que estarão
imunizados contra o
vírus das influenciações
obsidente.
Bibliografia:
(1)
Bezerra de Menezes. (Mensagem
psicofônica recebida
pelo médium Divaldo
Pereira Franco, em 9 de
novembro de 2003, no
encerramento da Reunião
do Conselho Federativo
Nacional, na sede da
Federação Espírita
Brasileira, em Brasília.
Publicada em
Reformador/Dezembro/2003).
(2)
Idem.
(3)
Ibidem.
(4)
Ibidem.
(5)
Jornal Alavanca
(abril/maio/2000).