O fanatismo aqui
cogitado não é o
que se atribui,
costumeiramente,
aos seguidores
das seitas
neopentecostais,
rotulados até
com um certo
sentido
pejorativo de
evangélicos
ou crentes.
Seu destinatário
são os
entusiásticos
intérpretes
literais do
Velho e Novo
Testamentos, os
quais, muitas
vezes, se
esquecem de que
os seus
conteúdos nem
sempre
correspondem à
verdade,
porquanto
passíveis das
conhecidas
deturpações que,
no decurso dos
séculos,
sofreram em face
de interesses e
de conveniências
temporais.
Temos constatado
que, no meio
espírita, existe
um bom número de
companheiros que
se mostram
entusiasmados
com essa
corrente. Em
face disso,
acabam por se
envolver em
intrincados
torneios
verbais,
procurando o
melhor sentido
ou explicação
para determinada
palavra
supostamente
empregada pelo
autor do
Evangelho.
Enquanto isso, o
principal, a
mensagem ética e
superior legada
e exemplificada
por Jesus, é
relegada ao
plano
secundário. O
grande perigo
reside, contudo,
na aparente e
pretensiosa
intenção de
atingirem,
mediante
tautológicos
jogos de
palavras, o
sentido mais
profundo desse
ou daquele
texto.
Tais situações
já se tornaram
lugar comum nas
discussões de
tais pessoas,
razão pela qual
não existe, a
nosso ver,
nenhum motivo
mais sério que
impeça a alusão
a elas. Ademais,
têm sido objeto
de estudos e de
palestras
públicas,
cercadas,
inclusive, de
ampla cobertura
publicitária. O
que se visa é
apenas e
tão-somente
alertar,
sobretudo os
iniciantes na
Doutrina, para a
grande perda de
tempo que
significam, uma
vez que não
levam a lugar
nenhum, e
desviam a
atenção dos
neófitos para o
lado meramente
formal ou
exterior do
Evangelho.
Recentemente,
tivemos
oportunidade de
participar de
uma atividade de
estudos
doutrinários,
nos quais a
parte
concernente ao
Evangelho esteve
sob a
responsabilidade
de renomado
expositor e
seguidor desse
modo de agir.
O primeiro tema
cogitado contém
uma das mais
significativas
mensagens de
esperança e de
reconforto
pronunciadas por
Jesus: “Vinde a
mim todos vós
que estais
aflitos e
sobrecarregados
e eu vos
aliviarei. Tomai
sobre vós o meu
jugo e aprendei
comigo que sou
brando e humilde
de coração e
achareis repouso
para vossas
almas, pois o
meu jugo é suave
e meu fardo,
leve” – Mateus,
11:28/30.
O responsável
pela exposição,
relegando a
plano secundário, não
se sabe se
consciente ou
inconscientemente,
o profundo apelo
de retomada de
posição do ser
humano diante
das agruras da
vida, e as
conseqüências
benéficas que
isso pode
implicar, desde
que ele se
sujeite às
normas de
conduta (social
e individual)
traçadas,
apregoadas e
vivenciadas por
Jesus,
demorou-se sobre
dois únicos e
exclusivos
aspectos: o fato
de alguns
evangelhos
usarem a
expressão
“oprimidos” no
lugar de
“sobrecarregados”
(como é o caso
de João Ferreira
de Almeida) e a
discussão a
respeito da
origem e
significado do
verbo tomar,
aliada à
circunstância de
Jesus o ter
empregado no
imperativo!
Todo o restante
da narrativa foi
simplesmente
esquecido e
cedeu lugar a
uma prolixa e
acadêmica
discussão sobre
esses dois
temas,
inteiramente
distante da
compreensão da
grande maioria
dos presentes.
Tal atitude não
deixa de ser
passível de
crítica, em
virtude da pouca
ou nenhuma valia
do caminho a que
conduz. Um dos
inúmeros
aspectos de suma
importância que
esta conclamação
de Jesus
comporta diz
respeito à
promessa que fez
ao ser humano.
Não prometeu a
cura
milagrosa
de seus
males, mas
apenas o seu
alívio, o que
implica tornar
mais suave a
longa e penosa
jornada da
humanidade no
caminho da
evolução e da
perfeição final.
O fardo dos
erros, defeitos
e falhas
acumulado no
curso dos
milênios vai
sendo,
paulatinamente,
deixado à beira
da estrada e
substituído
pelas qualidades
e virtudes de
que um dia será
detentora.
O alívio por ele
proclamado
significa,
portanto, uma
melhor
compreensão de
todos os
problemas
terrenos e de
suas causas,
além de
propiciar, a
quem detém o
ônus de
esclarecer o
público, a
formulação de
uma idéia mais
compatível com a
sua capacidade
de entendimento
(dele, público)
da Justiça
Divina e de seu
mecanismo
operacional,
cujo fundamento
básico é a
reencarnação.
Daí advém uma
série de
conotações e de
correlações O
exercício do
amor e da
caridade, a fé
embasada na
lógica, na razão
e no
conhecimento, a
vivência
evangélica,
entremeadas da
esperança na
vida futura e na
certeza da
correção das
decisões da
Justiça Divina,
são temas que
jamais poderiam
ser preteridos a
favor de
questionamentos
de total
irrelevância
doutrinária e
que, a nosso
ver, servem
somente para
afastar os
iniciantes das
reuniões
doutrinárias.
Ainda no curso
de tal trabalho,
foi feita uma
abordagem sobre
o lava-pés
(João, 3: 1/10).
O mesmo
expositor
centrou todo o
seu discurso em
torno do verbo
deitar
(“Depois deitou
água numa
bacia...”),
questionando as
razões por que o
evangelista usou
tal verbo,
quando poderia
perfeitamente
ter empregado os
verbos pôr,
colocar,
derramar
etc., para
concluir
enfaticamente
que deitar era
uma expressão
mais educada,
suave e meiga,
inteiramente
consentânea com
a natureza de
Jesus.
Posteriormente,
passou a
discutir por que
motivo Jesus, no
versículo 13, se
afirma Mestre
e Senhor, e,
a seguir (14),
se diz Senhor
e Mestre.
Foram longos e
intermináveis
minutos na vã
tentativa de
explicar a
diferença
ontológica entre
uma expressão e
outra, quando o
mais importante,
a enorme
demonstração de
humildade dada
por Jesus, que,
segundo suas
próprias
palavras,
deveria ser
tomada como
exemplo para ser
seguida por
todos, não foi
sequer cogitada!
Tais atitudes,
improducentes e
até pedantes,
podem ser tidas,
a um primeiro
exame, como a
conseqüência do
estudo apressado
e mal conduzido
da Doutrina,
fato para o qual
as Casas
Espíritas devem
estar
devidamente
preparadas para
evitar. Revelam,
por outro lado e
quase sempre, um
grande grau de
vaidade da parte
dos encarregados
de tais estudos,
fato que deve
ser levado em
conta como
demonstração de
seu despreparo
para a função.
Além disso,
contrariam,
frontalmente, a
simplicidade e a
total ausência
de formalismo da
pedagogia de
Jesus. Ademais,
não se prestam a
formar seres
humanos
renovados sob a
ótica da moral
evangélica, mas
a meros
repetidores de
textos
evangélicos,
numa atitude que
se acha muito
próxima de uma
forma de
fanatismo
incompatível com
a fé raciocinada
defendida e
preconizada por
Allan Kardec.