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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 36 - 23 de Dezembro de 2007

CHRISTINA NUNES 
cfqsda@yahoo.com.br

Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

Cooperação, sim;
competição, não!

“O pinheiro não se empenha em debate com o carvalho a fim de comprovar a sua superioridade. De fato, em toda a Criação, o homem é o único que não se dá por satisfeito com o que é.” Osho

Já escrevi antes sobre a competição, vista sob uma ótica diante da qual geralmente as mentes alimentadas pelos conceitos do sistema torcem o nariz. E esta ótica é contrária à competição para ser favorável, apenas e tão somente, à cooperação. E fazer-se entender sobre isto não é tão fácil, quando nos deparamos com as diretrizes de vida impostas pelos interesses dominantes de hoje em dia; mas nunca é demais discorrer novamente sobre o tema, tendo como base a visão espiritual da vida, para que se evitem leituras equivocadas e distorções propositais da nossa intenção.

Hoje mesmo li um artigo excelente do Dr. Mauro Kwito sobre o assunto, enfrentando-o com a mesma compreensão do problema. É muito útil e proveitosa a descoberta de que a vanguarda das mentes espiritualizadas presentes no mundo nos dias de hoje entendem esta questão sob os mesmos parâmetros.

Ou imprimimos ao curso das nossas vidas um modus vivendi apropriado aos novos tempos que todos ansiamos, pautado segundo as normas da cooperação entre os povos, que, inevitavelmente, trazem em seu bojo o beneplácito da harmonia e da paz como conseqüências naturais e lógicas, ou que não incorramos em flagrante contradição, acendendo uma vela para Deus e outra para o diabo. Porque competição sempre haverá de ser competição sob qualquer roupagem – como bem assevera o Dr. Mauro em sua exposição do tema – com aquele matiz sutil ou ostensivo de rivalidade e do “tenho que ser melhor que...”.

De fato esta mentalidade, em qualquer esfera da atividade humana, induz a atrito e exclui de si os princípios da equanimidade, bem como as prerrogativas mais inteligentes e sábias da cooperação, onde todos se beneficiam da ação conjunta em prol do bem comum - para atender a uma faceta inadequada presente principalmente na perspectiva empresarial vigente, porque baseada sobretudo em lucro para alguns. E lucro – sobretudo o monetário – no mais das vezes se extraí sob a metodologia da ousadia e da audácia, nem sempre presentes em perfis humanos amigos da colaboração mútua, que põe em relevância a capacidade e os valores de todos os envolvidos – e que não evidencia ou favorece apenas egos, bolsos e vaidades.

O indivíduo, desta perspectiva desvirtuada, portanto, torna-se num produto – que, como tal, deve convencer como sendo eficiente, funcional e lucrativo – em detrimento da noção acertada do ser humano em si que, único nas suas potencialidades, detém toda uma riqueza interior propiciadora de valores e de qualidades apropriadas e passíveis de contribuir, com igual eficiência, para o benefício e para a exuberância da vida.

Sob o impacto indesejado e negativo de uma tal referência, observamos um sem número de descalabros, facilmente verificáveis em todas as vertentes da trajetória humana nos tempos atuais: hesita-se em medidas de subida urgência em prol do equilíbrio climático porque, como já rezava o personagem, o equilíbrio da economia de determinadas potências é tão frágil quanto o clima planetário – na defesa da soberania destas mesmas economias sobre as demais do mundo, colocadas vantajosamente em posição de subserviência – eis o fundo de toda a temática!

Crianças e jovens adotam estranhos valores em sua conduta, sob a agravante da anuência familiar, entendendo o mundo como uma arena de batalha onde apenas os mais experts em arrecadar somas monetárias avantajadas – e aí se justificando todos os meios para que se atinja este duvidoso fim! – detêm direitos a usufruir felicidade e bem estar! E decorre da prática desta mentalidade o resultado desastroso das minorias sociais desvalidas, dos indigentes repetidamente incendiados em bancos de praças públicas por jovens embriagados pela volúpia inclemente do poderio material, que os exime, freqüentemente, inclusive das devidas prestações de contas com a justiça; de toda uma legião de seres abdicados do comezinho direito à dignidade em decorrência desta visão excludente e impositora de uma compreensão de vida segundo a qual realização e felicidade se prendem unicamente a oportunidades sociais inerentes apenas a alguns – que, via de regra, as alcançam via atalhos casuais ou transversos – não necessariamente por merecimento!

E propaga-se, no processo, a legenda enganosa, que alia invariavelmente ausência de oportunidades com incompetência, incapacidade ou com despreparo; fatores, todavia, derivados do escalonamento injusto outorgado despoticamente por esta mentalidade competitiva que, de si, exclui automaticamente os desfavorecidos pelas chances elitistas próprias de um mundo que não articula a linguagem da cooperação mútua, favorável às dádivas da vida proveitosa a todos, e a todos aberto à sua contribuição valorosa: mas apenas a uma minoria, talvez que eventualmente presente na hora certa e em locais certos, e diante de articulações certas – induzindo, com isso, décadas de gerações à doentia sensação de tédio e de inutilidade deprimentes, passíveis de lançar os seres humanos a uma arrasadora quanto injusta baixa de auto-estima – e, quiçá, a partir disso, a gestos extremos de desespero gerados por este estado agudo e anônimo de angústia, de ansiedade, de falta de finalidade e de sentido!

Tal quadro jamais se compatibilizará com aquele mundo de sonhos, defendido pelos que não são adeptos desta mentalidade excludente de muitos, e que, todavia, em variadas ocasiões se acham no cerne de muitos movimentos espíritas ou espiritualistas agindo e pensando exatamente em sentido contrário. Sem embargos, desafio uma descrição fidedigna que seja, de origem mediúnica ou não, que venha a comprovar que o que vigora nas paragens espirituais melhoradas e nos seus métodos de vida superiores seja o que ora assola a vida corpórea, com os seus princípios brilhantes quanto traiçoeiros de competitividade que estimulam e impõe, sim, um ritmo alucinante em todas as esferas de atuação humana e uma enganosa sensação de progresso e de melhoria das relações interpessoais – mas jamais a satisfação unânime, a paz, a felicidade e a convivência harmoniosa entre as populações imersas num embate sem fim, visando provar a todo custo o ser melhor que o outro a fim de se obter – coisa estranha! – o simples direito à felicidade e o de se viver harmonizado com o mundo circundante, direito com o qual o próprio Criador nos dotou desde os primórdios incógnitos da nossa trajetória!
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita