CRISTIAN MACEDO
cristianmacedo@potencial.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Os violinos de
Hilaíde
“... não há, em
nenhum domínio,
efeito sem
causa, parto sem
dor, vitória sem
combate, triunfo
sem rudes
esforços...”
Léon Denis
A vida é muito
complexa. Possui
muitos momentos
de dor...
Cada um de nós
recebe as
aflições de uma
forma.
As reações quase
sempre se
ajustam a quem
somos... Se
somos pessoas
agressivas a
reação é
violenta. Se
somos pessoas
sábias, as
“reações” são
ações amorosas,
construtivas e
belas.
Ninguém gosta de
sofrer. A dor em
si é muito ruim.
Mas é óbvio que,
como tudo na
vida, ela nos
serve de
aprendizado.
Existem dores
que não servem
para nada... São
dores
construídas...
Dores do
masoquismo. Mas
existem as dores
de parto... As
dores que servem
para algo... Que
passam e deixam
filhos... Deixam
frutos...
A dor do parto
Aquele jovem era
muito
violento... Já
havia
assassinado duas
pessoas.
Ele trazia essa
revolta que não
é incomum nos
dias de hoje.
Cedo da manhã,
abordou um homem
que saia de sua
casa... Queria
dinheiro e
jóias...
Rodavam a cidade
quando o homem
reconhece o
rapaz... A mãe
do jovem era
funcionária do
hospital que o
recém
seqüestrado
trabalhava como
médico. Ele já o
havia visto
lá... Era o
filho da
cozinheira.
Diante do
reconhecimento,
o jovem resolve
assassiná-lo.
Coloca-o no
porta-malas.
Leva-o para um
matagal...
Em alta
velocidade, o
carro capota...
Do porta-malas o
homem,
desesperado,
ouve o
seqüestrador
forçando para
abrir, mas o
acidente avariou
o carro e o
porta-malas não
pode ser
aberto...
Curiosos se
aproximavam do
acidente... O
jovem foge.
Ele sobreviveu.
Renascimento
para o homem...
Renascimento
para a
família...
Isso se chama
metamorfose:
dor,
transformação e
renascimento.
Respondendo com
a não-violência
A esposa do
homem
seqüestrado
chama-se Hilaíde.
Como todo ser
humano normal,
ela reagiu
àquela situação
que chocou toda
a família.
Certamente o
medo, a revolta
brotariam...
Mas sua reação
foi
diferente...
Foi especial.
Não fez
passeatas
pedindo vingança
travestida de
“justiça”. Não
saiu às ruas
exigindo penas
mais duras...
Hilaíde optou
por dar ao mundo
o que podia.
Escolheu dar
amor.
Isso não é muito
fácil... Talvez
para Gandhi e
Luther King...
Mas não para a
maioria.
Violinos e amor
A vida
encaminhou
Hilaíde para a
periferia...
Para o bairro de
onde aquele
jovem saiu. E,
nesse contexto,
a harmonia da
música, da
beleza e do amor
foi levada pela
mulher, que
sofreu e viu sua
família sofrer o
trauma gerado
pela violência.
Se a violência é
feia e insana,
nada melhor do
que levar a
beleza da música
para envolver
corações no Bem,
no Belo e no
Verdadeiro...
Violinos...
As cordas que
lembram as
musas... As
servas de Apolo
que encantavam
os deuses do
Olimpo com suas
melodias...
Eram deusas dos
campos e das
montanhas...
Inspiravam
poetas,
compositores,
escritores...
Por isso música
(mousiké =
aquilo que
se relaciona com
as musas).
Hilaíde está
ensinando
violino aos
jovens da
periferia de sua
cidade, no
interior do
Paraná.
Sabedoria
A sabedoria nos
faz ver a dor de
um outro
jeito...
A violência é
oportunidade de
ensinar carinho.
A raiva dá a
chance de
ensinar amor.
A ignorância é
que permite ter
sentido a
educação.
Precisamos de
pessoas sábias,
pois elas podem
entender os
recados da
vida... Sabem
que a dor pode
ser parto, pode
ser vida
abundante a
transformar o
mundo.