77. A
medicina no futuro
- Manassés ponderou,
diante daqueles gráficos
numerosos que se
alinhavam com absoluta
ordem, demonstrando o
cuidado espiritual que
precede o serviço de
reencarnações, que a
medicina humana será
muito diferente no
futuro, quando a Ciência
puder compreender a
extensão e a
complexidade dos fatores
mentais no campo das
moléstias do corpo
físico. Muito raramente
– disse o instrutor –
não se encontram as
afeições diretamente
relacionadas com o
psiquismo. Todos os
órgãos são subordinados
à ascendência moral. O
médico do porvir
conhecerá semelhantes
verdades e não
circunscreverá sua ação
profissional ao simples
fornecimento de
indicações técnicas,
dirigindo-se, nos
trabalhos curativos,
muito mais às
providências
espirituais, onde o amor
cristão represente o
maior papel. (Cap. 12,
págs. 176 e 177)
78. A
úlcera escolhida
- O instrutor mostrou a
André o projeto da
futura reencarnação de
um amigo seu. Alguns
pontos escuros podiam
ser notados desde o
cólon descendente à alça
sigmóide. Aquilo
indicava que ele
sofreria, por escolha
própria, uma úlcera de
importância nessa
região, logo que
chegasse à maioridade, e
a explicação era a
seguinte: Mais de cem
anos atrás o amigo
cometeu revoltante
crime, assassinando
pobre homem a facadas. A
vítima desencarnada
ligou-se fortemente a
ele e, por isso, o
homicida colheu de seu
crime resultados
terríveis por muitos
anos. É que o ódio
recíproco opera
igualmente vigorosa
imantação e a entidade,
fora da carne, passou a
vingar-se dele, todos os
dias, matando-o
devagarinho, através de
ataques sistemáticos
pelo pensamento
mortífero. Assim, quando
o homicida desencarnou,
trazia o organismo
perispiritual em
dolorosas condições,
além do remorso natural
que a situação lhe
impusera. Arrependido do
crime, sofreu muito e,
depois de largos
padecimentos,
aproximou-se da vítima,
beneficiando-a em
louváveis serviços de
resgate e penitência.
Assim fazendo, cresceu
moralmente, tornou-se
amigo de muitos
benfeitores, conquistou
a simpatia de vários
agrupamentos da colônia
e obteve preciosas
intercessões. Mas... a
dívida permanecia. O
amor, contudo,
transformou o caráter do
trabalho de pagamento. O
Espírito, ao voltar à
Crosta, não precisará
desencarnar em
espetáculo sangrento,
mas onde estiver,
durante os tempos de
cura completa, carregará
a própria ferida. André
notou, assim, que a
justiça divina se cumpre
sempre, mas, tão logo se
disponha o Espírito à
precisa transformação no
Senhor, atenua-se o
rigorismo do processo
redentor, como informa o
Evangelho de Jesus, que
diz que "o amor cobre a
multidão dos pecados".
Fica evidente, pois, que
ninguém trai a Vontade
de Deus, nos processos
evolutivos, sem graves
tarefas de reparação, e
todos os que tentam
enganar a Natureza
acabam por enganar a si
mesmos. A existência não
é um ato acidental e
todos, na vida, recebem
de acordo com o seu
merecimento, atentos ao
preceito evangélico "a
cada um segundo suas
obras". (Cap. 12, págs.
177 a 179)
79. No lar de
Adelino - Eram
dezoito horas,
aproximadamente, quando
André e Alexandre
chegaram ao lar de
Adelino, situado em
pitoresco canto
suburbano, qual ninho
gracioso, rodeado de
tufos de vegetação.
Herculano os esperava no
limiar e Segismundo, que
viera com ele,
esperava-os dentro da
casa. Adelino e Raquel
tomavam a refeição da
tarde, junto do
primogênito do casal,
ainda um menino nos seus
três anos. Perto,
acomodado numa cadeira
de descanso, estava
Segismundo, que se
abraçou a Alexandre
chorando
convulsivamente. O
instrutor acolhia-o como
pai e, após ouvi-lo
durante alguns minutos,
pediu-lhe que não
chorasse, porque,
estando a família em
horário de jantar, não
deveriam eles ser
perturbados com a
emissão de forças
magnéticas de
desalento. Segismundo
reconhecia ter sido um
grande criminoso, mas
pretendia redimir as
velhas culpas. Adelino,
porém, apesar das
promessas anteriores na
esfera espiritual,
esqueceu, depois de
encarnado, o perdão aos
seus antigos erros.
Alexandre lhe disse
palavras de
encorajamento e
pediu-lhe não
alimentasse expectativas
e inquietações
injustificáveis.
Enquanto isso, à mesa do
jantar, Adelino
encontrava-se taciturno,
conversando com a esposa
apenas por monossílabos
– não, sim, talvez,
nenhuma –, o que levou
Alexandre a dizer: Em
verdade, a condição
espiritual de Adelino é
das piores, porque o
sublime amor do altar
doméstico anda muito
longe, quando os
cônjuges perdem o gosto
de conversar entre si.
(Cap. 13, págs. 180 a
183)
80. A
ajuda espiritual
desanuvia o ambiente
- Vendo que Adelino,
naquele estado psíquico,
em nada ajudaria aos
seus propósitos,
Alexandre levantou-se e
aproximou-se do menino,
colocando a destra sobre
o seu coração. O pequeno
sorriu, mostrando novo
brilho nos olhos azuis e
falou, com inflexão de
infinito carinho:
Mamãe, por que papai
está triste? Ela
disse não saber o
motivo, mas certamente
eram os negócios,
explicando, em seguida,
que negócios são as
lutas da vida. Papai
fica alegre nos negócios?
– a criança indagou. Ela
disse que sim. Ele então
perguntou: E por que
fica triste em casa?
A genitora carinhosa
esclareceu o menino com
paciência, explicando
que, nas lutas de cada
dia, o pai deve estar
contente com todos e não
deve ofender a ninguém.
Mas, o que parecia
tristeza era apenas
cansaço do trabalho,
pois, quando ele volta
ao lar, traz consigo
muitas preocupações. Se
na rua, ele deve mostrar
cordialidade e alegria a
todos, para não ferir os
demais, o mesmo não
acontece no lar, onde se
encontra à vontade para
refletir nos problemas
que o interessam de
perto. A criança
escutou, atenta,
dividindo os olhares
afetuosos entre pai e
mãe, e tornou: Que
pena, hein, mamãe?
Adelino, tocado em sua
alma pela ternura do
filhinho e pela
humildade sincera da
companheira, sentiu que
a nuvem de sombra de
seus pensamentos dava
lugar a repousantes
sensações de alívio
confortador. E sorriu,
repentinamente
transformado,
dirigindo-se ao filho
com nova inflexão de
voz, para dizer-lhe que
não estava triste, nem
desalentado, mas apenas
pensativo. O filho,
ainda envolvido nas
irradiações magnéticas
de Alexandre, pediu-lhe
então que ele fosse
rezar, de noite, com
ele, em seu quarto, no
que o pai assentiu, e, a
pedido deste, mostrou
com uma pequena oração
que ele sabia orar
sozinho. Adelino tinha
os olhos rasos d'água,
após ouvir o filhinho
dizer em sua prece
sincera: "Meu Deus,
guarda o papai nos
caminhos da vida, dá-lhe
saúde, tranqüilidade e
coragem nas lutas de
cada dia! Assim seja!".
(Cap. 13, págs. 183 a
185)
81. Pesadelos na
noite - A
palestra do menino
fizera enorme bem a
Adelino, que revelou a
Raquel estar passando
por momentos difíceis
que ele não sabia
definir. Trazia o
coração desalentado,
opresso. Havia dias que
suas noites eram
agitadas e cheias de
aflições e pesadelos. O
marido sonhava
sistematicamente que
alguém se aproximava
dele, na qualidade de
vigoroso inimigo. Tão
logo se acomodava no
leito, sentia que uma
sombra se aproximava, e
o sono acontecia debaixo
de incrível ansiedade,
repetindo-se os sonhos
noite após noite. Raquel
lhe propôs uma consulta
ao médico. Mas Adelino
considerou que talvez
não fosse preciso
recorrer a facultativos.
Seu filhinho talvez
estivesse com a razão...
As lutas grosseiras do
mundo impuseram-lhe o
esquecimento da fé em
Deus. Há quantos anos
teria abandonado a
oração? E recordou que,
quando menino, sua mãe o
educara na ciência da
prece. Ele sentia então
a Bondade Divina em
todas as coisas e
ajoelhava-se confiante
ao pé de sua mãe,
implorando as bênçãos do
Alto... Depois, vieram
as emoções dos sentidos,
o duelo com os maus, a
experiência difícil na
concorrência ao pão de
cada dia, e desde então
perdera a crença pura,
que sentia necessidade
de retomar... Adelino
despediu-se e mais tarde
retornou ao lar, a tempo
de fazer com o filho as
orações prometidas.
(Cap. 13, págs. 186 a
189)
82. Prece em
família - Antes
de orar, o menino chamou
os mensageiros de Deus
para os assistirem na
oração. Foi sua mãe que
lhe ensinara essa
providência. Os
Espíritos que estavam na
casa sentiram-se, assim,
convidados e penetraram
o recinto, onde o quadro
era dos mais comoventes.
O pequeno João pusera-se
de joelhos e fazia a
oração dominical, com
infantil emotividade. Os
pais seguiam-lhe a prece
com grande atenção.
Raquel se achava rodeada
de intensa luminosidade,
que, partindo do seu
coração, envolvia o
esposo e o filho em
suaves irradiações.
Quando todos, findas as
preces, se recolheram
sob os cobertores,
Alexandre pediu a
proteção divina para o
casal, em voz alta,
sendo acompanhado pelos
demais Espíritos, em
profundo silêncio. As
vibrações do pensamento
do grupo em prece
congregaram-se, como
parcelas de luminosas
substâncias a se
reunirem num todo,
derramando-se sobre o
leito conjugal, quais
correntes sutis de
forças magnéticas
revigorantes e
regeneradoras. Raquel
logo abandonou o corpo
físico, parecendo alheia
à situação, abraçando-se
com uma entidade também
presente, que fora sua
avó materna. Por que ela
não via os demais
Espíritos ali reunidos?
Alexandre esclareceu
dizendo que cada um deve
ter a possibilidade de
ver somente aquilo que
lhe proporcione proveito
legítimo. Não era
necessário intensificar
a sua percepção visual.
Ela não precisaria
seguir de perto os
esclarecimentos que
seriam ministrados a
Adelino. Quem faz o
que pode, recebe o
salário da paz,
esclareceu Alexandre.
(Cap. 13, págs. 189 a
191)
83. As
singularidades da vida
espiritual -
Adelino afastou-se do
corpo físico,
pesadamente. Não
apresentava, tal qual a
esposa, um halo radioso
em derredor da
personalidade, parecendo
mover-se com extrema
dificuldade. Alexandre
aproveitou o ensejo para
explicar que Adelino e
Raquel, embora
associados de muitas
existências em comum e
partilhando o mesmo
cálice de dores e
alegrias, viviam em
plano mental diferente.
É muito difícil
estarem reunidas nos
laços domésticos as
almas da mesma esfera,
asseverou Alexandre.
Raquel podia ver a
avozinha. Adelino,
porém, somente podia ver
Segismundo, com quem se
encontrava imantado
pelas forças do ódio que
ele deixou
desenvolver-se, de novo,
em seu coração... Um
grito lancinante
ouviu-se em seguida. É
que Adelino identificara
a presença do antigo
adversário e,
espavorido, tentava
correr, inutilmente.
Qual criança medrosa,
procurando refúgio, ele
queria retomar o corpo
físico, mas Alexandre,
aproximando-se,
estendeu-lhe as mãos,
das quais saíram grandes
chispas de luz. Contido
pelos raios magnéticos,
Adelino pôs-se a tremer,
notando-se que ele
começava a ver alguma
coisa além da figura de
Segismundo. Aos poucos,
em vista das vigorosas
emissões magnéticas de
Alexandre, ele pôde ver
o instrutor espiritual,
com quem passou a
sintonizar diretamente e
caiu de joelhos, em
convulsivo pranto. Ele
associava a visão de
Alexandre com a prece do
filhinho. Supunha que
Alexandre devia ser um
emissário do Céu para
salvá-lo dos pesadelos
cruéis. Alexandre lhe
disse: Adelino,
guarda a paz que te
trazemos em nome do
Senhor! E,
abraçando-o, perguntou o
que temia. Adelino,
indicando Segismundo,
disse que aquele
fantasma o enlouquecia.
O instrutor o chamou,
porém, à
responsabilidade. É
assim que ele recebia os
irmãos infelizes? Onde
pusera as noções de
solidariedade humana? E
pediu-lhe firmemente:
Modifica as vibrações de
teus pensamentos! recebe
com caridade o mendigo
que te bate à porta,
quando não tenhas
adquirido ainda bastante
luz para recebê-lo com o
amor que Jesus nos
ensinou!
Impressionado com o que
ouvia, Adelino, chorando
copiosamente, voltou-se
para Segismundo.
Alexandre o incentivou,
pedindo que contemplasse
aquele pobrezinho que
lhe pedia socorro e
abrisse a ele as portas
do coração. (Cap. 13,
págs. 191 a 193)
84. Adelino e
Segismundo se
reconciliam - A
presença de Segismundo
despertava em Adelino as
reminiscências do
passado sombrio. Embora
não conseguisse
localizar os fatos
vividos, experimentava
no plano emotivo as
recordações imprecisas
dos acontecimentos,
cheias de ansiedades
dolorosas. Alexandre,
contudo, lhe objetou que
ele não deveria permitir
que forças negativas e
destruidoras se
intrometessem em sua
alma. É sempre
possível transformar o
mal em bem, quando há
firme disposição da
criatura no serviço de
fidelidade ao Senhor,
disse-lhe o instrutor
espiritual. E como
Adelino chorasse
copiosamente, Alexandre
pediu-lhe cessasse o
pranto, equilibrasse o
coração e aproveitasse a
sagrada oportunidade.
Adelino, enxugando as
lágrimas, pediu-lhe que
o ajudasse, por amor de
Deus. Foi então que
Alexandre, sentindo a
sinceridade do amigo,
convidou Segismundo a
aproximar-se. A entidade
levantou-se cambaleante,
angustiada. Alexandre,
amparando Adelino,
indicou-lhe o
ex-assassino dizendo:
Este é o nosso amigo
Segismundo que necessita
de tua cooperação no
serviço redentor.
Estende-lhe as mãos
fraternas e atende em
nome de Jesus!
Adelino não hesitou e,
apesar do grande esforço
íntimo, apertou a destra
do ex-adversário,
fundamente comovido. "Perdoe-me,
irmão! – murmurou
Segismundo, com infinita
humildade. – O Senhor
recompensá-lo-á pelo bem
que me faz..." O
marido de Raquel fixou-o
nos olhos e redargüiu: "Disponha
de mim... serei seu
amigo!...".
Segismundo inclinou-se,
respeitoso, e beijou-lhe
as mãos. Esse ato
conquistou Adelino. Não
podia ser mau aquele
Espírito que lhe beijava
as mãos com veneração e
carinho. Então
registrou-se um fenômeno
singular: o organismo
perispiritual de Adelino
parecia desfazer-se de
pesadas nuvens, que se
rompiam de alto a baixo,
revelando-lhe as
características
luminosas. Irradiações
suavíssimas
aureolavam-lhe agora a
personalidade, deixando
perceber a sua condição
elevada e nobre. Como o
perdão de Adelino fora
sincero, as sombras
espessas do ódio foram
efetivamente dissipadas.
(Cap. 13, págs. 193 a
195)
85. A
necessidade do concurso
afetivo de Adelino
- Segismundo sorria,
resignado e confiante,
porquanto Alexandre lhe
disse que na semana
entrante já poderia
iniciar-se o seu serviço
definitivo de
reencarnação. No gráfico
referente ao seu futuro
corpo físico podiam-se
ver as imagens da
moléstias do coração que
ele sofreria na idade
madura, como
conseqüência da falta
cometida no passado. Ele
experimentaria grandes
perturbações dos nervos
cardíacos. Era preciso,
entretanto, que ele
entendesse que as provas
de resgate inclinam a
alma encarnada a
situações periclitantes
e difíceis, mas não
obrigam a novas quedas
espirituais, quando
dispomos de verdadeira
boa vontade no trabalho
de elevação. O
aprendiz aplicado pode
ganhar muito tempo e
conquistar imensos
valores se, de fato,
procura conhecer as
lições e pô-las em
prática – asseverou
Alexandre. A justiça
divina nunca foi
exercida sem amor. E
quando a fidelidade
sincera ao Senhor
permanece viva no
coração dos homens, há
sempre lugar para o
"acréscimo de
misericórdia" a que se
referia Jesus em seu
apostolado, concluiu
o mentor espiritual.
As coisas iam-se
encaminhando muito bem,
mas André Luiz estava
curioso: por que não se
fazia a ligação de
Segismundo, sem
quaisquer delongas?
Sua estranheza era
natural, disse-lhe
Alexandre, que explicou
então como a mente
humana pode ajudar no
equilíbrio do organismo
físico, e quanto –
quando perturbada – é
lesiva para as
comunidades celulares
que a servem. O
pensamento envenenado de
Adelino destruía a
substância da
hereditariedade,
intoxicando a cromatina
dentro da própria bolsa
seminal. Ele poderia
atender aos apelos da
Natureza, com a união
sexual, mas não
atingiria os objetivos
da Criação, porque,
devido às disposições
lamentáveis de sua vida
íntima, estava
aniquilando as células
criadoras, ao nascerem,
e, mesmo se não as
aniquilasse por
completo, intoxicava os
genes do caráter,
dificultando a ação
procriadora. Ora, no
caso de Segismundo,
unido a ele em processo
ativo de redenção, não
se podia dispensar-lhe o
concurso amoroso e
fraterno. Eis a razão do
trabalho intenso para
despertar em Adelino os
valores afetivos.
Somente o amor
proporciona vida,
alegria e equilíbrio.
Modificado em sua
posição íntima, Adelino
emitiria doravante
forças magnéticas
protetoras dos elementos
destinados ao serviço da
procriação.
Concluindo suas
explicações, Alexandre
acentuou que não
existem milagres para o
culto do menor esforço:
quando ensinamos, em
toda parte, a
necessidade da prática
do amor, não procedemos
obedientes a meros
princípios de essência
religiosa, mas atendendo
a imperativos reais da
própria vida. (Cap.
13, págs. 196 a 198)
(Continua no próximo
número.)