Do além
Antônio Nobre
Pudesse o nosso olhar,
vagueando os ermos,
Ver através da própria
soledade
A expressão luminosa da
Verdade,
E da luz da Verdade não
descrermos...
Preocupar-se aí, porém,
quem há de
Com o problema de sermos
ou não sermos,
Pois que o ardente
desejo de o sabermos
É sempre o anelo falso
da vaidade?
Peregrinos da dor, na
dor andamos
Sem que a nossa miséria
se desfaça
No escabroso caminho
onde marchamos,
Seguindo a alma nos
sonhos iludida,
Até que a dor unindo-se
à desgraça
Descerre os véus que
encobrem outra vida.
Antônio Nobre, o
primoroso poeta
português que já nos deu
tanta emoção nos versos
que deixou, retorna da
pátria espiritual por
meio da pena luminosa de
Francisco Cândido
Xavier.