Leda Maria
Flaborea:
“É
impossível
imaginar a
Doutrina
Espírita como
algo dissociado
do seu aspecto
religioso”
Leda Maria
Flaborea nasceu
em Marília (SP)
mas vive hoje na
capital de São
Paulo. Pedagoga,
licenciada pela
Universidade de
São Paulo (USP),
já atuou em
diversas áreas
do Movimento
Espírita
paulista,
buscando sempre
levar a
orientação
àqueles que não
conhecem a
Doutrina
codificada por
Kardec.
Atualmente, Leda
profere
palestras e
participa de
trabalhos
práticos
mediúnicos, além
de escrever
sobre a Doutrina
em diversos
periódicos
espíritas, no
País e em
Portugal.
Para ela,
espírita desde a
infância, a
unidade do
Espiritismo é
fundamental para
o verdadeiro
exercício e
compreensão da
Doutrina.
E entende
que as
mudanças
de,
|
|
comportamento
podem ajudar
o
relacionamento entre as
pessoas
principalmente
no que diz
respeito às
atitudes
dentro de
casa, no
seio da
família.
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Eis a seguir a
entrevista que
ela gentilmente
concedeu à nossa
revista:
O Consolador:
Sendo do
interior de São
Paulo, que
motivo a levou a
residir na
capital
paulista?
Leda:
Saí bem jovem da
cidade que
nasci, com meus
pais e irmãs,
para tentarmos
melhorar
de vida, como se
dizia.
O Consolador:
Qual a sua
formação?
Leda:
Sou pedagoga,
licenciada pela
Universidade de
São Paulo.
O Consolador:
Quais os cargos
e funções que
você já exerceu
no movimento
espírita?
Leda:
Quase todos
ligados à área
de ensino, à
assistência
espiritual --
palestras e
trabalhos
práticos
mediúnicos – e à
divulgação da
Doutrina
Espírita como
articulista em
periódicos
diversos.
O Consolador:
Que cargo você
exerce no
momento?
Leda:
Ainda permaneço
nas mesmas
funções,
acrescidas de
mais tarefas.
Hoje, também
escrevo para
periódicos em
Portugal.
O Consolador:
Quando você teve
contato com o
Espiritismo?
Leda:
Apesar de ter
tido os
primeiros
contatos com o
Espiritismo na
infância, ele
foi perdido
quando minha
família veio
para São Paulo.
Somente depois,
bem mais tarde,
por problemas
familiares,
vi-me obrigada a
buscar ajuda e
não me afastei
mais.
O Consolador:
Qual foi a
reação de sua
família ante sua
adesão à
Doutrina
Espírita?
Leda:
Não houve
aceitação, o que
se deu mais por
falta de
informação do
que qualquer
outra coisa.
O Consolador:
Dos três
aspectos do
Espiritismo –
científico,
filosófico e
religioso – qual
é o que mais a
atrai?
Leda:
O religioso, sem
qualquer dúvida,
e depois o
filosófico. Mas
não podemos
perder de vista
a unidade
doutrinária, que
só existe pela
junção desses
três aspectos.
O Consolador:
Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
Leda:
Além de Kardec,
gosto de todos
os seus
contemporâneos.
Depois,
Emmanuel, André
Luiz, Yvonne do
Amaral Pereira,
Joanna de
Ângelis, Rodolfo
Calligaris,
Martins Peralva,
fora muitos
outros. Difícil
citar todos, mas
não posso deixar
de mencionar
dois autores que
têm desenvolvido
trabalhos
excelentes de
estudo
doutrinário:
Orson Peter
Carrara e
Rogério Coelho,
ambos
articulistas
desta revista.
O Consolador:
Que livros
espíritas você
considera de
leitura
indispensável
aos confrades
iniciantes?
Leda:
É preciso
começar pelo
começo. E quem
quiser,
verdadeiramente,
estudar com
seriedade o
Espiritismo,
precisa iniciar
pelos livros da
Codificação.
Kardec publicou
um livro
interessantíssimo
que pode dar um
panorama para
quem se propõe a
um estudo sério.
Intitula-se "O
que é o
Espiritismo".
Todavia, existem
publicações de
Orson Carrara e
Rogério Coelho
que oferecem
possibilidades
ótimas para quem
é iniciante.
Linguagem
simples e
fidelidade
doutrinária. É
isso que os
torna confiáveis
para mim,
modernamente.
O Consolador:
Se você fosse
passar alguns
anos num lugar
remoto, que
livros
pertinentes à
Doutrina
Espírita
levaria?
Leda:
"O Livro dos
Espíritos" e "O
Evangelho
segundo o
Espiritismo". E
quem precisa de
mais?
O Consolador:
As divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para
você, o
Espiritismo é
uma religião?
Leda:
Se não for,
estou fora do
movimento. Muito
se discute e se
briga para fazer
prevalecer um
aspecto ou
outro, com cada
grupo procurando
convencer seus
adeptos de ser o
dono da verdade.
Para mim é
impossível
imaginar a
Doutrina
Espírita como
algo dissociado
do seu aspecto
religioso. Como
disse acima,
para ser uma
Doutrina, o
Espiritismo tem
que ter unidade.
Se tirarmos uma
só de suas
vertentes, a
estrutura não
mais existirá.
Realmente, não
entendo o porquê
dessas
divagações. São
espíritas, na
acepção da
palavra?
O Consolador:
Outro tema que
suscita
geralmente
debates
acalorados diz
respeito à obra
publicada na
França por J. B.
Roustaing. Qual
é sua apreciação
dessa obra?
Leda:
Nunca a li e não
perderia tempo
com obras assim.
Há tanto o que
estudar e fazer
no campo
doutrinário!
Estamos
começando a
descobrir a
Doutrina que os
Espíritos
Superiores nos
legaram através
de Kardec... A
Ciência humana,
agora está dando
os primeiros
passos em
direção à
descoberta da
vida do
Espírito.
Estamos
ensaiando os
primeiros
movimentos no
entendimento de
que somos
criados
Espíritos e não
corpos. Não há
tempo para
ilações,
fantasias
terrenas...
O Consolador:
O terceiro
assunto em que a
prática espírita
às vezes diverge
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados,
propostos na
obra de Edgard
Armond. Embora
saibamos que, em
geral, a opção
já definida
pelas
federativas seja
tão-somente a
imposição das
mãos, tal como
recomenda J.
Herculano Pires,
qual é sua
opinião a
respeito?
Leda:
Concordo com
Herculano Pires.
O muito nem
sempre significa
o melhor. Nosso
modelo é Jesus e
Ele apenas
impunha as mãos.
Será que não
conseguimos nem
essa
simplicidade?
Mas, muitas
casas já adotam
essa postura,
pois entende-se
que o que vale,
no passe, é a
vontade real de
ajudar. O resto,
os Benfeitores
Espirituais
fazem com a
permissão de
Deus.
O Consolador:
Como você vê a
discussão em
torno do aborto?
Os espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida
como tem feito a
Igreja?
Leda:
Penso que os
espíritas estão
fazendo o que
devem e podem
fazer. Os
Centros
Espíritas estão
lotados de
corações aflitos
pelos mais
diferentes
motivos. E a
angústia, o
sentimento de
culpa de quem
praticou o
aborto devem ser
examinados à luz
dos princípios
da caridade,
porque corremos
o risco de fazer
sangrar, mais
ainda, a ferida
aberta pela
ignorância das
Leis de Deus. O
apoio a quem
sofre, através
do conforto e da
esperança que
podemos levar, é
o primeiro
passo. Depois,
mais
fortalecidos, o
esclarecimento
evitará que
permaneçam no
erro. Esse é,
acima de tudo, a
meu ver, o dever
do espírita
esclarecido nas
luzes do
Evangelho. O
resto é gritar
para surdos.
O Consolador:
A eutanásia,
como sabemos, é
uma prática que
não tem o apoio
da Doutrina
Espírita. Kardec
e outros
autores, como
Joanna de
Ângelis, já se
posicionaram
sobre esse tema.
Surgiu, no
entanto,
ultimamente a
idéia da
ortotanásia,
defendida até
mesmo por
médicos
espíritas. Qual
a sua opinião a
respeito?
Leda:
O desvio da Lei
de Deus é o
mesmo com outro
nome. Pergunto:
que espírita é
esse que
concorda com tal
crime? Penso que
seja dever do
médico, espírita
ou não, dar ao
doente que sofre
as melhores
condições de
ficar
confortável, sem
interromper a
existência de
quem quer seja.
O Consolador:
O movimento
espírita em
nosso país lhe
agrada ou falta
algo nele que
favoreça uma
melhor
divulgação da
Doutrina?
Leda:
Nosso trabalho é
e será sempre de
formiguinha. O
problema do
movimento
espírita não
está fora dele,
mas nessas
constantes
divergências de
opiniões. Fico
imaginando se os
Espíritos
Superiores
divergissem como
fazemos nós. Não
haveria
Doutrina,
certamente.
Melindres demais
para meu gosto.
O Consolador:
Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
em todo o país e
como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Leda:
Que tal começar
dentro dos
nossos lares?
Preocupa-me o
fato de
espíritas –
melhor dizendo,
pseudo-espíritas
– terem uma
postura dentro
da casa espírita
ou em reuniões
com
companheiros, e
em suas casas ou
em outros locais
agirem de forma
a não harmonizar
boca e coração.
Se necessitamos
dar o exemplo da
nossa
transformação
íntima, para
mostrar ao mundo
a grandeza da
Doutrina que
abraçamos, por
que não iniciar
isso junto dos
nossos
familiares? O
exemplo educa.
Como cobrar de
uma criança ou
de um jovem uma
postura que não
conseguimos ter?
O desculpismo –
o político faz,
por que não
posso fazer? –
tem sido a
brecha que
muitos encontram
para colocar em
prática suas
próprias
imperfeições. A
criança ou o
jovem que vê e
ouve o adulto
agindo assim não
tem escolha.
Seguirá pelo
caminho do mal.
O Consolador:
A preparação do
advento do mundo
de regeneração
em nosso planeta
já deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
provas e
expiações,
passando
plenamente à
condição de
mundo de
regeneração?
Leda:
Que coisa boa se
pudéssemos fazer
previsões, não
é? Gostaria que
fosse a partir
de amanhã.
Entretanto,
quantos milhares
de séculos já
caminhamos para
chegar até aqui!
E quantos,
ainda, nos
aguardam! O
importante é que
continuemos a
caminhar, sem
esmorecimento.
Para que ter
pressa ou
impaciência se
tudo chegará a
seu tempo e
hora? Dispomos
de recursos
incríveis para
prosseguirmos em
direção à
felicidade
plena. Afinal,
não fomos
criados para
isso?
O Consolador:
Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem o
movimento
espírita no
Brasil e no
mundo?
Leda:
Primeiro,
esclarecerem-se
através do
autoconhecimento.
Depois,
verificarem se
estão,
efetivamente,
colocando em
prática os
princípios
morais aos quais
Jesus nos
convida a ter,
para que
sirvamos de
exemplo a esta
sociedade tão
tumultuada. Aí,
sim, buscar
esclarecer a
todos os que
desejarem, como
conseguimos
viver em paz e
sermos felizes
no meio de tanta
iniqüidade.
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