Pouco mais de oito meses
depois da publicação d´
O Livro dos Espíritos,
Allan Kardec lançou em
Paris o primeiro número
da
Revue Spirite,
mensário que ele
escreveu e publicou de 1o
de janeiro de 1858 a 31
de março de 1869, quando
desencarnou.
A importância da
Revue foi
fundamental na
divulgação e na própria
codificação da Doutrina
Espírita.
No livro Obras
Póstumas, publicado
depois do falecimento do
Codificador do
Espiritismo, podemos ler
o diálogo que ele
manteve em 15 de
novembro de 1857 com seu
protetor espiritual na
residência do Sr.
Dufaux, por intermédio
da senhora E. Dufaux.
|
|
Eis, na íntegra, o teor
do referido diálogo:
Pergunta -
Tenho a intenção de
publicar um jornal
espírita, pensais que
chegarei a fazê-lo, e mo
aconselhais? A pessoa à
qual me dirigi, o Sr.
Tiedeman, parece-me
decidido a dar o seu
concurso pecuniário.
Resposta:
Sim, isso conseguirás
com a perseverança. A
idéia é boa, é preciso
amadurecê-la antes.
Pergunta -
Temo que outros me
antecedam.
Resposta:
É necessário
apressar-se.
Pergunta
-
É o meu desejo, mas o
tempo me falta. Tenho
dois empregos que me são
necessários, vós o
sabeis; gostaria de
poder a isso renunciar,
a fim de consagrar-me
inteiramente à coisa,
sem preocupações
estranhas.
Resposta:
Não é preciso nada
abandonar no momento;
sempre se acha tempo
para tudo; movimenta-te
e conseguirás.
Pergunta
-
Devo agir sem o concurso
do Sr. Tiedeman.
Resposta:
Age com ou sem seu
concurso; não te
inquietes com ele, podes
por isso passar.
Pergunta -
Tinha a intenção de
fazer um primeiro número
de experiência, a fim de
colocar o jornal e
fixar-lhe data, salvo
continuar mais tarde, se
for o caso; que pensais
disso?
Resposta:
A idéia é boa, mas um
primeiro número não
bastará; no entanto, é
útil e mesmo necessário
naquilo que abrirá o
caminho ao resto. Nisso
será preciso levar muito
cuidado, de maneira a
lançar as bases de um
sucesso durável; se for
defeituoso, mais valeria
nada, porque a primeira
impressão pode decidir
seu futuro. É necessário
se ligar, começando,
sobretudo a satisfazer à
curiosidade; deve
encerrar, ao mesmo
tempo, o sério e o
agradável; o sério que
ligará os homens de
ciência, e o agradável
que divertirá o vulgo;
esta parte é essencial,
mas a outra é a mais
importante, porque sem
ela o jornal não teria
fundamento sólido. Em
uma palavra, é preciso
evitar a monotonia pela
variedade, reunir a
instrução sólida ao
interesse, e isso será,
para todos os trabalhos
ulteriores, um poderoso
auxiliar. (Obras
Póstumas, pp. 263 e
264.)
Em seguida ao diálogo
acima transcrito, o
Codificador acrescentou
a observação seguinte:
“Apressei-me em redigir
o primeiro número, e
fi-lo aparecer em
janeiro de 1858, sem
disso nada ter dito a
ninguém. Não tinha um
único assinante e nenhum
sócio capitalista.
Fi-lo, pois,
inteiramente aos meus
riscos e perigos, e não
ocorreu de me arrepender
disso, porque o sucesso
excedeu a minha
expectativa. A partir de
1o de
janeiro, os números se
sucederam sem
interrupção, e, como o
Espírito previra, esse
jornal se me tornou um
poderoso auxiliar.
Reconheci mais tarde que
estava feliz por não ter
um sócio capitalista,
porque estava mais
livre, ao passo que um
estranho teria podido
querer me impor suas
idéias e sua vontade, e
entravar a minha
caminhada; só, não tinha
que dar contas a
ninguém, por pesada que
fosse a minha tarefa
como trabalho.” (Obra
citada, pág. 264.)
A observação contida
nesta nota corresponde à
verdade, porque todos os
que já leram os números
da Revue Spirite
sabem que é impossível
ter uma visão abrangente
da Doutrina sem levar em
conta os textos que nela
foram inseridos.
Lendo-a, pode-se
acompanhar a evolução do
pensamento do
Codificador e o processo
daquilo que se
convencionou chamar de
codificação do
Espiritismo.
Registrando neste mês o
aniversário de 150 anos
do importante periódico,
que será evidentemente
comemorado pelos
espíritas do mundo
inteiro, inicia-se nesta
edição de O
Consolador, conforme
já divulgado, a
apresentação do texto
condensado dos doze
volumes que compõem a
Revue, referentes ao
período de 1858 a 1869. |
|