Acautelemo-nos contra o
escalracho
das práticas estranhas
no centro espírita
(1)
Sabemos de sobejo que
devemos respeitar
crenças, preconceitos,
pontos de vista e normas
de quaisquer pessoas que
não lêem pela nossa
cartilha doutrinária.
Porém, temos deveres
intransferíveis para com
a Doutrina Espírita. É
mister que lhe
preservemos os
princípios doutrinários
com simplicidade e
dedicação, sem
intolerância, sem
radicalismos, mas sem
concessões indesejáveis.
A orientação, a
experiência e a prática
dos médiuns mais
amadurecidos, como
Francisco Cândido Xavier
e Divaldo Pereira
Franco, entre outros,
têm nos demonstrado,
sempre, a necessidade da
vigilância com relação à
preservação da pureza
dos preceitos básicos da
Doutrina Espírita.
Observamos, atônitos, as
muitas discussões
estéreis em torno de
temas como: crianças
índigo; se Chico é
Kardec (?); ubaldismos,
ramatisismos,
cromoterapias e tantos
outros enfadonhos
“ismos” e “pias”,
infiltrados no meio
espírita. Aceita-se o
poder curador de
cristais, sem a menor
reflexão consciente.
Confiam, cegamente, nos
efeitos das pomadas “mediunizadas”,
como se essa prática
enganosa lhes fosse
trazer algum benefício.
Promovem-se, nas
tribunas, verdadeiros
shows da própria imagem,
shows esses
protagonizados pelos
ilustres oradores, que
não abrem mão da vaidosa
distinção do “doutor”
antes dos próprios
nomes. Criam-se
associações com notáveis
profissionais de
pretensos “espíritas”.
Muitos outros se
projetam nos trabalhos
assistenciais para
galgarem espaços na
ribalta da política
partidária. Não é de
hoje o fenômeno das
práticas exóticas nas
hostes doutrinárias,
fato esse que faz,
realmente, a diferença.
Segundo algumas
conveniências, propiciam
as famosas “churrascadas
espíritas”, disfarçadas
de almoço fraterno, em
nome do Cristo (!?),
pasmem! Confeccionam
rifas “beneficentes”;
agendam desfiles de
moda, “de caráter
filantrópico”, e, o que
é pior, cobram taxas
para o ingresso nos
eventos espíritas, quais
sejam: congressos,
simpósios, seminários e
por aí vai...
Há um impulso
incontrolável para o
universo místico de
muitos idólatras, que,
talvez, leram alguma
“coisinha” aqui, e outra
ali, sobre a doutrina
espírita e se dizem
seguidores convictos,
quando, na realidade,
nada mais são do que
“espíritas de fachada”.
Os Benfeitores nos
advertem que cabe a nós
a obrigação
intransferível de
defender os ensinamentos
de Allan Kardec, seja
pelo exemplo diário do
amor fraterno, seja pela
coragem do debate
elevado.
Muitas pessoas têm
escrito para o meu
e-mail, insistindo
no tema
−
apometria.
Informo-lhes,
freqüentemente, que a
teoria e a prática da
técnica apométrica (e
suas leis) estão em
pleno desacordo com os
princípios doutrinários
codificados por Allan
Kardec. Jamais
aconselharíamos incluir
a apometria no corpo do
Departamento Doutrinário
e Mediúnico das Casas
Espíritas.
Sobre essa estranhíssima
prática,
lamentavelmente,
encruada por estas
bandas do Centro-Oeste,
indagamos aos experts
por que os Espíritos
não nos revelaram tal
proposta “terapêutica”
(!), quando tiveram, à
sua disposição,
excelentes colaboradores
médiuns, ao longo do
século XX? Não basta se
afirmar “espírita”, nem,
tampouco, se dizer
“médium de qualidade”,
se essa prática não for
exercida conforme
preceitua a Codificação
Espírita. Respaldados
nos estudos sistemáticos
que fazemos da Doutrina
Espírita
−
e não dispensamos, de
forma alguma, esse
hábito
−
esclarecemos, sempre,
que a apometria não é
Espiritismo, porquanto
as suas práticas estão
em total desacordo com
as recomendações de
”O Livro dos Médiuns”.
Com essas bizarras
práticas, abrem-se
precedentes graves para
a implantação de rituais
e maneirismos totalmente
inaceitáveis na prática
espírita, que é,
fundamentalmente, a
doutrina da fé
raciocinada.
Se a apometria é (como
afirmam os cansativos
discursos dos líderes
dessa prática) mais
eficiente que a reunião
de desobsessão, por que
a omissão dos Espíritos
Superiores? Por que eles
se calaram sobre o
assunto? Curioso isso,
não? No mínimo, é
esquisito. O silêncio
dos Espíritos Superiores
é, sem dúvida, um
presságio de que tal
prática é de mau agouro
e, por isso mesmo, ela é
circunscrita a poucos
grupos. Não conquistou a
aceitação universal dos
Espíritos, razão pela
qual não conta com a
anuência das nossas
Casas Espíritas sérias.
Percebemos que essas
mistificações coletivas
superlotam alguns
Centros Espíritas, em
que seus dirigentes
vendem a ilusão da
“terapia apométrica”,
como mestres da hipnose,
fazendo com que esses
centros se tornem um
reduto de fanáticos e
curadores de coisa
nenhuma, o que é
lastimável.
Por subidas razões,
devemos estar atentos às
impertinências desses
ideólogos quixotescos,
dos propagadores dessas
terapias inócuas, que
pensam revolucionar o
mundo da “cura
espiritual”. Até porque
a cura das obsessões não
se consegue por um
simples toque de mágica,
de uma hora para outra,
mas é, quase sempre, a
longo prazo, não tão
rápida como se imagina,
dependendo de vários
fatores, principalmente,
da renovação íntima do
paciente.
Como se não bastasse,
ainda, entra em cena, no
rol das bizarrices
doutrinárias, uma tal
“desobsessão por
corrente magnética”.
Isso mesmo! Desobsessão
(!?)
O uso de energia para
afastar obsessores, sem
a necessária
transformação moral
(Reforma Íntima),
indispensável à
libertação real dos
envolvidos nos dramas
obsessivos, contradiz os
princípios básicos do
Espiritismo, pois o
simples afastamento das
entidades perseguidoras
não resolve a obsessão.
O confrade Cauci de Sá
Roriz lembra, na revista
O Espírita, no
artigo “Desobsessão por
corrente magnética. É
possível?” que “a
proposta da corrente
magnética parte de uma
base falsa, qual seja, a
de que o Espiritismo
exista para "atender, na
prática desobsessiva, a
um grande número de
pessoas.” Por essas
razões, preocupa-nos a
introdução, na prática
espírita, de mais esse
enxerto estranho – a
chamada desobsessão por
corrente magnética
−
assunto que ainda mantém
sob hipnose muitos
espíritas incautos.
Repetimos que, sobre o
tema, os “Espíritos
ainda não enviaram
orientação a respeito,
por isso, sejamos
prudentes!”−
recomenda Cauci.
O Cristianismo, com a
pureza doutrinária do
Evangelho e com a
simplicidade de
organização funcional
dos primeiros núcleos
cristãos, foi
conquistando lenta e
seguramente a sociedade
de sua época. Porém, com
o tempo, sofreu um
significativo desgaste
ideológico.
Corrompeu-se, por força
das práticas estranhas
ao projeto de Jesus.
Atualmente, apesar das
advertências dos
Espíritos e do próprio
Allan Kardec, quanto aos
períodos históricos e
tendências do movimento,
os espíritas insistem em
cometer os mesmos erros
do passado. Confrades
nossos, não conseguindo
se adaptar ao
Espiritismo, e,
conseqüentemente, não
compreendendo e não
vivenciando suas
verdades, vão, aos
poucos, adaptando a
doutrina às suas
fantasias, aos seus
limites morais,
corrompendo os textos da
Codificação, trazendo,
para os centros
espíritas, práticas
dogmáticas de suas
preferências místicas.
Falta-lhes, no mínimo, o
estudo das obras
básicas da Codificação
Rivailina. Das duas,
uma: ou Kardec está
sendo colocado em
segundo plano, preterido
por outras obras não
recomendáveis, ou está
totalmente esquecido – o
que é pior.
Mas como evitar esse
processo? Como agir,
ante os centros mal
orientados, com
dirigentes perturbados,
com médiuns obsidiados,
com oradores-estrelas?
Enfim, como agir, diante
dos espíritas
perturbados e
perturbadores? Seria
interessante a prática
do “lavo as mãos” ou a
retórica filosófica do “laissez
faire”, “laissez aller”,
“laissez passer”?
Devemos deixar que os
próprios grupos
espíritas usem e abusem
do livre-arbítrio para,
por fim, aprenderem a
fazer escolhas corretas
e adequadas às suas
necessidades? Não nos
esqueçamos de que os
inimigos, em potencial,
do Espiritismo estão
mascarados entre os
próprios espíritas.
Para encerrar nossas
reflexões, atentemos
para algumas
admoestações de Vianna
de Carvalho, através de
Divaldo Franco, contidas
no livro “Aos
Espíritas”: “O
Espiritismo é a grande
resposta para as
questões perturbadoras
do momento. A sua
correta prática é
exigência destes dias
turbulentos, pois os
fantasmas do porvir
ameaçam-no e distúrbios
de comportamento
apresentam-se com muita
insistência, parecendo
vencer as suas elevadas
aquisições. Por
motivos óbvios, “o
Espiritismo deve ser
divulgado conforme foi
apresentado por Allan
Kardec, sem adaptações
nem acomodações de
conveniência em vãs
tentativas de
conseguir-se adeptos”.
É a Doutrina que se
fundamenta na razão, e,
por isso mesmo, não se
compadece com as
extravagâncias daqueles
que, por meio
sub-reptício, em
tentando fazer
prosélitos, acabam por
macular a pureza
originária da nossa
Doutrina Espírita.
Não faltam tentativas de
enxertos de idéias e
convenções, de práticas
inconvenientes e de
comportamentos que não
encontram guarida na sua
rígida contextura
doutrinal que, se
aceitos,
conduzir-nos-iam a
sérios problemas
existenciais, não fosse
a nossa convicção de que
o Espiritismo veio para
ficar e que de nada
valem essas investidas
do mal. Criar desvios
doutrinários, atraindo
incautos e ignorantes,
causa, sem dúvida,
perturbações que
poderiam,
indiscutivelmente, ser
evitadas, se houvesse,
por parte dos
dirigentes, maior rigor
na condução dos
trabalhos de algumas
Casas Espíritas.
Repetimos com Divaldo: “Qualquer
enxerto, por mais
delicado se apresente
para ser aceito,
fere-lhe a integridade
porque ele [o
Espiritismo] é um
bloco monolítico, que
não dispõe de espaço
para adaptações, nem
acréscimos que difiram
da sua estrutura
básica.”
Caríssimos irmãos de
ideal, cremos ser
indispensável a
vigilância de cada
espírita sincero para
que o escalracho
seitista e sutil da
invasão de teses
estranhas não predomine
no seu campo de ação,
terminando por asfixiar
a planta boa que é, e
cuja mensagem dispensa
as propostas
reformadoras,
caracterizadas pela
precipitação e pelo
desconhecimento dos seus
ensinamentos
−
como adverte Vianna de
Carvalho.
Nota da revisora:
(1) Escalracho −
substantivo masculino.
Rubrica: angiospermas. Erva
(Panicum
repens) da fam. das
gramíneas, nativa da
Europa, de folhas
rígidas e estreitas, e
panículas com ramos
eretos, é planta
daninha e invasora das
searas; esgalracho,
galracho.