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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 37 - 6 de Janeiro de 2008

LEONARDO MACHADO
leo@leonardomachado.com.br e www.leonardomachado.com.br
Recife, Pernambuco (Brasil)

“A arte de curar pelo Espírito”: a verdadeira medicina (1)

O mundo moderno, principalmente a parte ocidental, por motivos inúmeros, foi condicionado a vislumbrar, tão só, a vida momentânea, o aspecto físico da existência. De tal forma, que a medicina, naturalmente, sofreu influência forte dessa visão materialista da vida, tornando-se, igualmente, tecnicista.

Entretanto, apesar dessa visão pretender ser a verdadeira, há tempos, talvez, desde que o mundo é mundo, pensadores de grande estirpe moral vêm alertando a humanidade ao real sentido da vida e à real essência da existência.

Basta lembrar que os maiores baluartes da filosofia, Sócrates e seu discípulo mais conhecido Platão, falavam que “o Homem é uma alma encarnada”, assim, “a preocupação constante do filósofo é a de tomar maior cuidado com a alma, uma vez que se ela é imortal, não será prudente viver visando à eternidade?”.

Tal visão é corroborada, também, pelo eminente Aristóteles que dizia ser “a substância, fundamental, do homem a enteléquia (alma)” e que “o corpo orgânico é a substância sensível-corruptível; a alma é sensível não corruptível; e o espírito, afinal, não é sensível, nem corruptível”.

Essa visão de “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, como falava, em seu livro de mesmo nome, o filósofo e pensador francês espírita, Léon Denis, é comum na maioria das grandes civilizações do passado, especialmente na egípcia, na grega e na hindu. E com ela o homem muda completamente a sua posição perante a vida. E, dessa forma, a medicina, também, muda completamente o seu caráter.

Fora por isso, ou seja, por comungar dessa dimensão da vida, que um eminente americano, de nome Joel S. Goldsmith, depois de mais ou menos 13 anos de intensa busca, logrou, em Honolulu, na ilha de Havaí, escrever um livro de nome A arte de curar pelo espírito, no qual explica, minuciosamente, o processo da autocura, explicando o segredo dessa terapia espiritual. Ele viveu, por mais de 30 anos, em viagens por todo o mundo, realizando essa cura real, essa cura pelo Espírito, sem, nunca, porém, cobrar nada pelo que fazia. Explica ele, então, que a quintessência desse processo terapêutico espiritual consiste numa concentração máxima da conscientização da presença de Deus no homem.

Fora por esse motivo, igualmente, que o grande filósofo brasileiro, criador da Filosofia Univérsica, Huberto Rohden, em seu livro Einstein – o enigma do universo, semelhantemente a Joel, veio, também, dar uma visão cósmica à medicina, dizendo que “por medicina não se deve entender, apenas, a repressão de sintomas da superfície do Verso-Ego”, ou seja, do corpo carnal, como faz a medicina ocidental comum, “mas se deve entender a cura pela raiz do Uno-Eu”, ou seja, do “eu” Espírito. 

Felizmente, depois de muito tempo empolgada pelas conquistas que pareciam infinitas, a ciência vem retomando o caminho da verdadeira medicina. As descobertas que a princípio pareciam distanciá-la de tal visão cósmica, vão, em verdade, aproximando-a de tal realidade. Depois de descobertas como as de Sir William Crookes, Alfred Russel Wallace, Albert Einstein ou Heisenberg, a ciência vem, cada vez mais, aproximando-se da realidade transcendental do ser, ou seja, da realidade do Espírito. E, nesse mesmo viés, a medicina vem seguindo.

Nesse contexto, surge na medicina moderna, especialmente na ocidental, um fenômeno a que se deu o nome de humanização da medicina. Desgastada da sua própria prática médica, e, também, atentando aos resultados obtidos com a medicina oriental, que é muito mais transcendental, os médicos, e a própria comunidade científica, vislumbraram a necessidade de se reverem os conceitos, muitas vezes desumanos, arraigados em seu bojo.

Percebeu-se que era preciso cuidar do doente e não da doença.

Assim, embalados pela bioética, desdobrada da ética que foi impulsionada pelo livro de mesmo nome do grande Spinoza, os médicos começaram tal movimento que se tem espalhado com a pretensão de ser o grande futuro da medicina.

Em seu cerne, então, o movimento humanista tem os princípios da bioética, tais como a não maleficência e a beneficência, como norte de sua consciência. Grande avanço, já que a antiga medicina ocidental tinha como roteiro fechado a antiga deontologia, que a levava a agir, mas sem nortear o seu “eu” consciente, já que não a levava a refletir sobre importantes questões da vida e da morte.

Entretanto, se a bioética ultrapassou a deontologia, o amor, igualmente, ultrapassará a bioética, já que este, em verdade, é, apenas, uma visão parcial daquele.

Palavras estas que são corroboradas pelo já citado Huberto Rohden. Em diversas palestras e em vários livros, o filósofo mostra que Spinoza com sua ética, que gerou a bioética, apenas, tratou de um aspecto, dentro de vários tratados pelo embaixador do amor no Planeta Terra, Jesus de Nazaré. Na sua mais linda frase, que, por sinal, é a lei máxima que nós já tivemos a oportunidade de escutar, já que “resume todas as leis e os profetas”, Jesus asseverou “Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”. Nessa humilde sentença, o Mestre dos mestres, resumiu tudo. Deve-se, pois, amar a Deus, ao próximo e a si mesmo. E Rohden nos fala que a ética só vem tratar do amor que devemos ter para com o próximo. Afinal, o que são os princípios da bioética, se não uma conseqüência parcial de tal Lei? E o próprio Spinoza tinha consciência disso, já que assevera ter a certeza da existência de um Deus que é a “alma do universo”.

Desse modo, sendo a medicina humanista baseada, principalmente, nessa bioética, ela, igualmente, como transpassou a medicina tecnicista, será englobada pela medicina espiritual anunciada por Sócrates, por Platão, por Goldsmith, por Rohden e por diversos pensadores que chegaram a “cosmo-consciência”, e, principalmente, pelo maior de todos, o Mestre Galileu, que, na verdade, foi o maior médico que já existiu, porque cuidava da alma.

Se a medicina humanista é um grande avanço, ela não é o fim, mas um meio que levará a humanidade à medicina espiritual, transcendental.

Inúmeros problemas, ainda, a medicina humanista não pode resolver, esbarrando nela mesmo. E uma dessas questões contraditórias que ela vem trazer é a morte, a eutanásia e a distanásia. Apesar de tentar ver o paciente de forma mais abrangente, ela tem uma visão, ainda, por demais, limitada, posto que tenta ignorar a realidade espiritual do ser e da vida, já anunciada por diversos filósofos e líderes, como o antigo príncipe Gautama Siddartha, conhecido como Buda, e Krishna, na antiga Índia; Lao-Tse, na antiga China; Francisco de Assis, na Idade Média; ou, mais modernamente, Allan Kardec, na França, e Francisco Cândido Xavier, no Brasil.

Dessa forma, ela não foi capaz, ainda, de saber lidar de forma satisfatória com a morte. De tal sorte, que a eutanásia ganha cada vez mais força, parecendo revigorar suas energias, na medida direta, que a medicina humanista vem crescendo. Mesmo que para tanto, esses médicos humanistas se digam, de forma eufêmica, contra a eutanásia e contra a distanásia, mas a favor da ortotanásia.

Em verdade, chega-se no mesmo lugar comum. Através de um sofisma, chama-se a luta pela vida, pejorativamente, de distanásia, como se fosse exagerado preservar a vida, não brincar de Deus, em nome de um abreviamento ilusório da dor, quando na verdade, ao se fazer a eutanásia se aumenta mais o sofrimento daquele ser espiritual.

E, igualmente, através de outro jogo de palavras e de raciocínios, diz-se contra a eutanásia, mas a favor da ortotanásia, que seria o ato de retirar equipamentos ou medicações que servissem para prolongar a vida de um doente terminal, e, desse modo, esperar que a natureza se encarregue da morte.

São esses e outros problemas que a atual medicina humanista encontra. Isso tudo porque ignora a ascendência espiritual do ser e, assim, cai-se no medo de encarar a morte, sendo mais fácil vê-la como o fim de tudo.

É natural que ela veja a “ortotanásia” como a solução, e a morte e a “distanásia” como problemas. Lógico, a medicina dita humanista só vislumbra uma realidade parcial do ser. Mas como combinar tal tipo de homicídio com o princípio da não maleficência, ou, principalmente, o da beneficência?

Entretanto, quando a era do Espírito chegar (por sinal vem despontando cada vez mais), somente Deus terá o direito de saber quando tirar a vida humana, em uma reencarnação. Nem a eutanásia, nem a ortotanásia serão eufemismos, mas constituirão assassínio comum, como, aliás, já indica a Constituição Federal do Brasil, no artigo 5º. Nem a preservação da vida será vista como algo exagerado e cruel, como indica o nome distanásia, porque se estará cuidando do ser integral que é o “eu” Espírito imortal, e não só do ser parcial, uma vez que, como diz Huberto Rohden, no seu livro “Porque Sofremos”, “o sofrimento atinge o nosso ego humano, e não nosso Eu divino, e só quem confunde o seu ego periférico com o seu Eu central, não tolera o sofrimento”. E a morte, assim, será vista como uma passagem natural, mudança transitória, e não com temor, como, aliás, inúmeros médicos, na atualidade, vêm dando-se conta, a saber, o Dr. Brian Weiss e o Dr. Raymond Moody Jr.

Isso porque, como falou um médico antigo, chamado Paracelso, “todas as doenças podem ter sua origem no domínio da matéria, na esfera da alma, ou no reino do espírito. Se o corpo, a alma e a mente estão em perfeita harmonia, uns com os outros, não existe nenhuma discordância; mas se se origina uma causa de discordância em um destes três planos, isto se comunica aos demais". Assim, como dizia Sócrates, e sabemos através de Platão, “se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem”.

“A arte de curar pelo Espírito” – eis a verdadeira medicina, a medicina espiritual, que visa o ser integral, e que se baseia no Mestre Jesus, posto que dizia “levanta-te e anda, a tua fé te curou”, e já que Ele recomendou “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”, “amai a Deus a cima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”, pois assim “podereis fazer as mesmas obras que faço, e as fareis maior”, uma vez que “nada é impossível aquele que tem fé”.  

(1) Este artigo foi apresentado pelo autor em uma prova no curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco, em Recife (PE).     
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita