Eliana Maria
Thomé de Souza:
“Temos de levar
a esperança aos
desesperados, o
conhecimento aos
deserdados e a
fé aos incautos”
A jornalista
Eliana Maria
Thomé de Souza é
espírita de
berço. Falar
sobre
Espiritismo é
para ela falar
sobre um assunto
que está na
ponta da língua,
descrito com
precisão,
sabedoria e
muito amor.
Experiente e
trabalhadora,
Eliana – que
atualmente
reside em São
Paulo, capital –
já exerceu
diversas funções
em centros
espíritas de São
Paulo e Santos.
Atualmente, ela
atua na área da
mediunidade e
também na
orientação
espiritual
àqueles que chegam à casa
|
|
espírita
pela
primeira
vez.
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Para Eliana, que
já viveu na
França e
trabalhou em
diversas
empresas de
comunicação
famosas – como
as revistas Veja
e IstoÉ e na
Rádio France –
as pessoas
devem, além de
ensinar,
“vivenciar a
doutrina
codificada por
Kardec”. Ela
ressalta que o
Mestre Jesus é o
nosso maior
exemplo,
portanto “temos
de levar a
esperança aos
desesperados, o
conhecimento aos
deserdados e a
fé aos
incautos”.
A seguir, a
entrevista que
gentilmente nos
concedeu:
– Em que cidade
você nasceu?
Na cidade de
Mococa (SP), mas
atualmente
resido em São
Paulo, capital.
– Que fato a
levou a residir
em São Paulo?
Nasci em 1955 e
logo nos mudamos
para Manaus
(AM), pois
papai, como
militar do
Exército, servia
numa determinada
localidade a
cada cinco anos.
Estávamos sempre
nos mudando e os
irmãos nasceram
em locais
diferentes por
isso. Cheguei a
São Paulo em 12
de dezembro de
1986 vindo
diretamente de
Paris, França,
onde morei
quatro anos para
realizar o
doutorado em
cinema. Antes eu
morava em Santos
(SP) com a
família e
trabalhava na
sucursal do
jornal A
Tribuna, de
Santos, na
cidade de
Registro (SP),
na qualidade de
jornalista
formada pela
antiga Faculdade
de Comunicação
de Santos, hoje
UniSantos.
– Que funções
você já exerceu
no movimento
espírita?
Não sei se dá
para levar em
conta um
trabalho
realizado junto
à equipe do
Divaldo Pereira
Franco, em São
Paulo, onde, na
qualidade de
jornalista,
devia conseguir
espaço na
imprensa da
cidade para a
doutrina.
Evidentemente
encontramos
muita
resistência dos
grandes jornais
da Capital,
mesmo o Divaldo
tendo enviado da
Bahia textos
especiais para
essa imprensa.
Em 2004
participei do IV
Congresso
Espírita
Mundial, em
Paris, cidade
que me cala
fundo ao coração
e em cujo país
tenho um irmão
(André Luiz)
casado com uma
francesa
(Martine), os
quais me deram
três belos
sobrinhos (Johanna,
Kévin e Nils).
No Centro
Espírita Casa do
Caminho, situado
na Rua Itapeva,
131, Bairro Bela
Vista, que
freqüento desde
1987, fui
Secretária e
Vice-presidente.
Hoje sou
dirigente de
trabalhos,
expositora e
professora
(estudo do livro
O Céu e o
Inferno, de
Allan Kardec).
Durante mais de
dez anos exerci
o cargo de 1ª
Secretária da
Casa, assim como
ministrei os
cursos de
Educação
Mediúnica,
Aprendizes do
Evangelho,
Básico I e II,
Preparatório e
estudo do livro
“O Problema do
Ser, do Destino
e da Dor”, de
Léon Denis. Sou
ainda
ex-dirigente dos
trabalhos de
Pintura
Mediúnica,
Higienização,
Passes, entre
outras
atividades, como
o atendimento de
Orientação
Espiritual para
aqueles que
chegam à nossa
Casa pela
primeira vez.
– Que função
exerce no
momento?
Visando à
renovação da
Diretoria da
Casa – já
estávamos há
mais de uma
década nessa
atividade -, eu
e um grupo de
diretoras saímos
da diretoria
para a inclusão
de novos nomes.
Hoje dirijo o
estudo do livro
O Céu e o
Inferno e os
trabalhos
práticos de
Obsessão-Desobsessão,
e,
eventualmente, o
de Orientação
Espiritual, na
falta do
responsável
direto.
– Quando você
teve contato com
o Espiritismo?
Papai (Atahualpa
Thomé de Souza)
foi quem nos
levou à
doutrina. Mamãe
(Ana Maria
Barreto de
Souza),
fundamentalmente
católica,
acabaria também
se envolvendo
com o
Espiritismo,
tornando-se
médium passista
no Centro
Espírita Casa do
Caminho, de
Santos. Jamais
tive outra
doutrina
religiosa.
Abraçar a
doutrina e seus
ensinamentos foi
algo bem
natural, quase
como um
reencontro eu
diria.
– Dos três
aspectos do
Espiritismo –
científico,
filosófico e
religioso – qual
é o que mais a
atrai?
O Espiritismo
está calcado
neste tripé e
devemos
considerar que
nenhum é maior
do que o outro,
senão
complementares
uns aos outros.
Portanto,
considero que a
nossa visão
espírita deve
ser completa nos
três campos
formando um
conjunto
harmônico. Se
pegarmos o
aspecto
religioso,
invariavelmente
caímos nos dois
outros compostos
uma vez que a fé
espírita deve
ser raciocinada
e sancionada
pelos fatos e
fenômenos. Meio
de se evitar a
fé cega que nada
explica e nada
justifica,
científica e
racionalmente.
– Que autores
espíritas mais
lhe agradam?
Minha formação
de base, além de
Allan Kardec e
Léon Denis,
cujas obras
absorvo com
prazer, é
completada por
Hermínio C.
Miranda,
Vinícius, Chico
Xavier
(Emmanuel, André
Luiz, Maria
Dolores),
Cairbar Schutel,
Divaldo Pereira
Franco (Joanna
de Ângelis,
Victor Hugo,
Manoel Philomeno
de Miranda),
Paulo Alves
Godoy, João
Nunes Maia (Shaolin,
Miramez, etc.),
Amália Domingo
Soler, Yvonne A.
Pereira, Bezerra
de Menezes,
entre outros.
– Que livros
espíritas você
considera de
leitura
indispensável
aos confrades
iniciantes?
Um livro que
muito me ajudou
no passado foi
“Em Torno do
Mestre”, de
Vinícius.
Acredito que
todos os
romances de
Emmanuel são
obrigatórios,
sem falar na
série deixada
por André Luiz.
Os livros de
Zilda Gama
também são bons.
Mas o
conhecimento
doutrinário
exige que
passemos
indubitavelmente
pela
Codificação.
Quanta instrução
e quantos
ensinamentos
morais não
tiramos em “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”!
– As
divergências
doutrinárias em
nosso meio
reduzem-se a
poucos assuntos.
Um deles diz
respeito ao
chamado
Espiritismo
laico. Para
você, o
Espiritismo é
uma religião?
O próprio Allan
Kardec deixou
bem claro o
aspecto
religioso da
doutrina
espírita, que
está longe de
seguir a fórmula
das outras
doutrinas com
seus dogmas e
preceitos
sistemáticos. O
aspecto
religioso
basicamente está
contido nos
ensinos de
Jesus, caminho
que nos leva a
Deus. Entender
esse caminho é a
maneira
encontrada para
melhor
formularmos
nosso processo
evolutivo desta
para outra vida,
pois, ensina “O
Livro dos
Espíritos”, o
Espiritismo está
inteiramente
fundamentado na
existência da
alma e na sua
situação depois
da morte
(Introdução ao
Estudo da
Doutrina
Espírita, 7 – A
Doutrina
Espírita e a
Ciência).
– Outro tema que
suscita
geralmente
debates
acalorados, diz
respeito à obra
publicada na
França por J. B.
Roustaing. Qual
é sua apreciação
dessa obra?
Quando nos
encontramos bem
fundamentados
nas obras
deixadas por
Allan Kardec,
podemos ler de
tudo sem nos
deixar atingir
por qualquer
inovação ou
conceito
extraordinário.
As “novas”
explicações que
aparecem – como
a questão do
corpo fluídico
de Jesus - ficam
por conta de
quem as divulga.
Devemos sempre
nos basear no
Codificador para
quem uma verdade
para ser
verdadeira deve
ser confirmada –
a chamada
universalidade
do ensino.
– O terceiro
assunto em que a
prática espírita
às vezes diverge
está relacionado
com os chamados
passes
padronizados.
Que você pensa a
respeito?
A
Espiritualidade
de nossa Casa
nos deixou um
passe
padronizado que
tem beneficiado
uma multidão de
pessoas em seus
37 anos de
atividade. Nas
obras de André
Luiz somos
surpreendidos
com tratamentos
de passes,
dirigidos a
órgãos
específicos das
entidades
auxiliadas pela
equipe
socorrista. Nós
mesmos durante o
passe sentimos
nossas mãos
serem dirigidas
para
determinados
órgãos, conforme
o caso. Mas
sabemos que a
simples
imposição de mão
também
beneficia,
quando
impulsionada por
uma fé ardente e
um coração
amoroso.
Considero a
padronização do
passe como o Pai
Nosso na
abertura dos
trabalhos: a
união de
pensamentos e
sentimentos
percorrendo a
mesma estrada,
aplainada de
antemão por
Jesus como uma
comunhão de
auxílio.
– Como você vê a
discussão em
torno do aborto?
No seu modo de
ver as coisas,
os espíritas
deveriam ser
mais ousados na
defesa da vida
como tem feito a
Igreja?
Os espíritas não
têm sido
inativos neste
aspecto. Todo
texto espírita,
toda entrevista
com divulgadores
espíritas, toda
exposição
espírita
posiciona-se
contra o aborto
e mesmo os
nossos políticos
já sabem de
nossa posição.
No ano passado
eu mesma
encaminhei
vários e-mails
para alguns
senadores,
pedindo
vigilância no
assunto. Tenho
certeza que os
nossos órgãos
representativos
não estão sem
agir. Apenas a
imprensa dá
menos destaque
às nossas
opiniões. A
Igreja
posicionar-se
contra o aborto
vende mais do
que o
Espiritismo
tocar no
assunto. O que
somos nós para
essa imprensa?
Um percentual
muito baixo de
leitores.
– A eutanásia,
como sabemos, é
uma prática que
não tem o apoio
da Doutrina
Espírita. Kardec
e outros
autores, como
Joanna de
Angelis, já se
posicionaram
sobre esse tema.
Surgiu, no
entanto,
ultimamente a
idéia de
ortotanásia,
defendida até
mesmo por
médicos
espíritas. Qual
a sua opinião a
respeito?
Entendamos
primeiro o que
cada palavra
defende.
Eutanásia é a
prática pela
qual se abrevia,
sem dor ou
sofrimento, a
vida de um
enfermo
incurável. Já
ortotanásia,
segundo a
literatura
médica, consiste
na não
utilização de
métodos ou
medicações para
o prolongamento
da vida de um
paciente
terminal. Ou
seja,
dispensa-se
qualquer recurso
extraordinário
nesse sentido.
Analisemos agora
as duas ações à
luz da doutrina.
Ora, a vida é um
dom divino e o
Mestre Jesus nos
ensinou que
devemos pagar
até o último
ceitil (Mateus,
5:26), isto é,
deixar cumprir
em nós as leis
de Deus. Por que
então recuamos
diante das
provas,
particularmente
aquelas que
chegam via
doenças? Por que
esquecemos de
testemunhar
nossa fé,
preferindo antes
abreviar um
sofrimento para
encontrar outro
ainda maior,
qualificado pelo
suicídio
indireto
provocado pela
ortotanásia e
pela eutanásia?
Aprendemos na
doutrina que na
espiritualidade,
antes de começar
uma nova
existência
corporal, o
Espírito escolhe
o gênero de
provas pelas
quais quer
passar (O Livro
dos Espíritos,
questão 258).
Portanto, o
recuo da prova é
falta grave e
demonstração de
fé bem pequena,
quase
inexistente.
– O movimento
espírita em
nosso país lhe
agrada ou falta
algo nele que
favoreça uma
melhor
divulgação da
Doutrina?
Devo confessar
que se não temos
amplo espaço na
televisão e nem
nas rádios,
dominamos
consideravelmente
a internet, pois
o número de
sites espíritas
ou sites que
divulgam
mensagens
espíritas e
mesmo alguns
fundamentos
doutrinários, é
realmente
impressionante.
Mais do que
qualquer outra
doutrina, eu
diria.
Encontramos
ainda facilmente
revistas e
jornais
discutindo
pontos preciosos
da doutrina, com
grande qualidade
de dissertação.
Os livros
espíritas estão
para a doutrina
como os doces
para as
crianças: são
indispensáveis.
Neste quesito
lamento somente
o excesso de
títulos
comprometedores
para a pureza
doutrinária. Já
as casas
espíritas,
isoladamente,
têm sido boas
representantes
nesta propagação
através dos
trabalhos
doutrinários e
sociais junto à
comunidade. Como
nada nunca é
suficiente temos
muito ainda a
realizar, pois
para nós os
meios de
conquistas são
sempre bem mais
difíceis. Meios
humildes,
simples, que um
dia frutificarão
como as flores
no jardim.
Devemos
parabenizar os
pioneiros de
hoje que não
medem esforços e
tempo nesses
empreendimentos.
É um trabalho de
muito custo,
tanto humano
como monetário.
– Como você vê o
nível da
criminalidade e
da violência que
parece aumentar
em todo o país e
como nós,
espíritas,
podemos cooperar
para que essa
situação seja
revertida?
Podemos ajudar
compreendendo o
momento por que
passamos. A
humanidade
carece de
fraternidade e
amor. Tudo na
vida nos chama,
nos convida para
a materialidade.
O homem se
esquece do
amanhã e vive
tão-somente o
hoje, negando-se
a qualquer
compromisso
posterior. O
resultado deste
comportamento
está expresso em
cores vivas nos
noticiários das
rádios e
televisões e dos
jornais: dramas
que se sucedem,
cada um mais
grave que o
outro. Eis que o
ensino da
doutrina vem
embasar o homem
para o seu
futuro imortal.
Aí se encontra a
grandiosa tarefa
dos centros
espíritas na
divulgação do
homem espiritual
e o seu caminhar
para o Pai.
Muito trabalho
nos aguarda
nesse sentido e
vivenciar a
doutrina é parte
do projeto, pois
a fé sem obras é
morta, como já
dizia Tiago.
– A preparação
do advento do
mundo de
regeneração em
nosso planeta já
deu, como
sabemos, seus
primeiros
passos. Daqui a
quantos anos
você acredita
que a Terra
deixará de ser
um mundo de
provas e
expiações,
passando
plenamente à
condição de um
mundo de
regeneração, em
que, segundo
Santo Agostinho,
a palavra “amor”
estará escrita
em todas as
frontes e uma
equidade
perfeita
regulará as
relações
sociais?
Ah! estaremos
realizando ainda
múltiplas
encarnações até
que isso ocorra.
Do jeito que a
humanidade é
preguiçosa e
indiferente às
coisas
espirituais –
veja que estamos
ainda
despertando,
falta o
testemunho -,
podemos contar
que muitos
séculos correrão
neste trajeto
abençoado.
– Em face dos
problemas que a
sociedade
terrena está
enfrentando,
qual deve ser a
prioridade
máxima dos que
dirigem
atualmente o
movimento
espírita no
Brasil e no
mundo?
Ensinar e
vivenciar a
doutrina. Temos
no Mestre Jesus
que o exemplo é
o melhor
fundamento.
Temos de levar a
esperança aos
desesperados, o
conhecimento aos
deserdados e a
fé aos incautos.
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