LEONARDO MACHADO
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Recife, Pernambuco (Brasil)
A
verdadeira
transformação
para a
verdadeira
identidade
(1)
O educador
recifense Paulo
Freire, falando
sobre “A
importância do
ato de ler: em
três artigos que
se completam”,
diz-nos algo
interessante, e
muito
verdadeiro,
sobre a
renovação. Diz
ele que “cedo o
novo fica velho
se não se
renovar”.
De certo, tal
proposição tem
um grande fundo
de verdade. A
Lei de
Destruição, ou
de
Transformação, é
algo natural,
ela está em a
natureza, e
Lavoisier, em
sua famosa lei,
cujo enunciado
filosófico
ficaria
conhecidíssimo,
vem-nos mostrar
que “na natureza
nada se crea,
nada se perde,
tudo se
transforma”.
E, de fato,
vamos ver que
uma Doutrina, o
Espiritismo,
codificada na
França no século
XIX, por
Hippolyte Léon
Denizard Rivail,
conhecido como
Allan Kardec,
diz-nos, em “O
Livro dos
Espíritos”,
à pergunta 728,
que “tudo se
destrói para
renascer e se
regenerar,
porque o que
chamais
destruição não é
senão uma
transformação
que tem por
objetivo a
renovação e
melhoramento dos
seres vivos”.
Desse modo,
transformar é um
fazer necessário
para o
aprimoramento de
tudo. E, nesse
ínterim, a
transformação se
insere,
perfeitamente,
naquilo que o eu
deve fazer na
busca da sua
real identidade.
Só se consegue
achar o eu real,
quando o ser se
transforma.
Essa
metamorfose,
porém, não é
como muitos
pretendem um
processo
exterior, ao
contrário é uma
busca interior.
Esse se
modificar não é
sinônimo de se
inserir em um
contexto de
mudança
exterior,
através de uma
aprendizagem
superficial de
novos saberes
cognitivos, mas,
em realidade, de
uma viagem
interior, por
meio de uma
busca do eu
primordial que
guarda a
verdadeira
identidade do
indivíduo.
Fora nesse
contexto que a,
já citada,
Doutrina
Espírita, no
mesmo livro de
sua codificação,
igualmente,
referido acima,
em à pergunta
919, vem-nos
advertir que o
meio mais
prático e eficaz
de se melhorar
nesta vida é
seguir os
conselhos de um
sábio da
Antigüidade que
dizia
“conhece-te a ti
mesmo”.
Conhecer-se é,
pois, a
verdadeira
transformação
que o ser humano
pode realizar
nesta vida, já
que ela o leva à
sua verdadeira
identidade que é
o ser latente
que jaz na raiz
do seu “eu”
espiritual, que
está longe de
sua periferia
encoberta pelo
seu ego. Quando
isso o homem
consegue fazer,
ele deixa de ser
o homem parcial
e passa a ser o
homem integral.
Contudo, tais
conhecimentos
não são novos.
Em todas as
épocas da
humanidade vimos
essa verdade ser
levantada, com
muita
propriedade, por
diversos sábios
e por diversas
filosofias do
mundo.
Vejamos...
Na Grécia Antiga
existia um
templo em Delfos
que se tornaria
bastante
conhecido. E, à
sua entrada,
existia uma
inscrição que se
denominava ser a
“recomendação
dos sete sábios
antigos”, que
tinha Tales de
Mileto, segundo
alguns, como um
desses sete. Tal
escritura dizia:
“Conhece-te a ti
mesmo”. E a
mesma
encontraria na
personalidade do
grande filósofo
Sócrates, que,
com a sua vida,
dividiria a
história da
filosofia, o sue
grande
propagador. Ser
altamente
evoluído, ele
não cessava de
recomendar as
inscrições
Délfica,
entretanto a sua
recomendação não
fica, apenas,
nos lábios, mas,
principalmente,
na sua atitude.
Ele não
conseguia
entender uma
filosofia
exterior e só
achava que era
possível uma
filosofia
embasada na
vivência
interior do ser.
Por isso,
pautava toda a
sua vida,
conforme as suas
palavras. Fora
tão coerente que
a intolerância
não pudera
aceitar as
verdades que ele
trazia, fazendo
com que o mesmo
fosse morto com
a cicuta.
Entretanto,
apesar de
possuir um
profundo
conhecimento de
si mesmo, ele
não cessava de
se investigar,
pois tinha
consciência que
a transformação
e a busca pelo
ser real são um
processo
contínuo. Por
isso, em “Fedro”,
conforme nos
conta seu
discípulo
Platão, vamos
ver Sócrates
dizendo: “ainda
não pude fazer
plenamente o que
diz a escritura
délfica, por
isso não acho
certo investigar
ninguém,
enquanto
preciso, ainda,
investigar a mim
mesmo”, “pois
não são as
fábulas que
investigo, é a
mim mesmo”.
No século VI
a.C., vemos,
igualmente,
outro ser
ilustre que
dizia verdades
semelhantes
sobre a nossa
verdadeira
identidade e
transformação.
Trata-se de
Lao-Tsé, que em
seu “Tao Te
Ching”, que
seria uma das
religiões mais
antigas da
China, conhecida
como Taoísmo,
dizia-nos, em
seu poema 25,
que “Nas
profundezas do
Insondável / Jaz
o ser”. Ou,
ainda, no seu
poema 47,
diz-nos que
“Para conhecer o
mundo, / Não é
necessário
viajar pelo
mundo / O sábio
atinge sabedoria
/ Sem viajar”.
Quer Lao-Tsé,
que seria a base
para, mais
tarde, Confúcio
fazer seus
ensinamentos,
dizer que da
mesma forma que
o Tao, ou Deus,
como chamamos no
Ocidente, é a
existência
fundamental, o
nosso ser
interno que
provém Dele,
também jaz nas
profundezas do
insondável.
Porém, ele
arremata, para
se chegar nesse
local, onde jaz
o “eu” real não
são preciso
viagens
exteriores, nem
acúmulo, apenas,
de
conhecimentos,
mas, em
realidade, de
uma viagem
interior e da
vivência desse
saber, eis
porque o sábio o
é sem viajar.
Contudo, essa
verdade não fica
restrita,
apenas, a esses
grandes.
Muito tempo
antes da vinda
co Cristo, na
Índia Milenar,
cuja sabedoria,
provavelmente,
fez surgir toda
a filosofia do
mundo, vamos
encontrar a
figura de
Krishna. Ele, no
seu Bhagavad
Gita, ou “Sublime
Canção”,
vem-nos dizer,
no capítulo II,
“Revelação da
verdade”, que “o
que é irreal não
existe, e o que
é real nunca
deixa de
existir. Os
videntes da
verdade
compreendem a
diferença entre
o ser e o
parecer.
Perecíveis são
os corpos, esses
templos do
Espírito. Quem
pensa é a alma,
o EU. Assim como
o homem se
despoja de uma
roupa gasta e
veste roupa
nova, assim
também a alma se
despoja de
corpos gastos e
veste corpos
novos. Até
quando o homem é
perfeitamente
liberto de todos
os desejos do
ego finito e
alcança a paz da
alma pela
realização do EU
divino, então é
um homem de
perfeita
sabedoria”.
Com essas
palavras
iluminadas ele
vem mostrar que,
acima de tudo,
além de corpos
materiais, nós
somos o EU
divino, o “eu”
Espírito, o “eu”
alma. Esse corpo
é, apenas, uma
roupa que
vestimos em
nossos diversos
avatares, ou em
nossas várias
reencarnações.
Por isso é
preciso olhar
para si mesmo,
“conhecer-se a
si mesmo” para
se poder
vislumbrar o
“eu” divino e se
libertar do ego
finito. Eis aí a
verdadeira
identidade. Eis
aí o mesmo
princípio, com
outras palavras,
do que, hoje,
vem-nos
relembrar o
Espiritismo.
Na Antiga Índia,
igualmente,
antes de Jesus,
vamos encontrar,
ainda, a figura
do príncipe
Siddharta
Gautama, que
teria o nome
iniciático de
Buda. Ele, em
sua doutrina, na
parte dos “Aforismos
Sagrados”,
do capítulo “O
Caminho da
realização
prática”,
mostra-nos que
“tudo é mutável,
tudo aparece e
desaparece; só
poderá haver a
bem-aventurada
paz quando se
puder escapar da
agonia da vida e
da morte”.
Buda mostra
aquele mesmo
princípio da
Doutrina dos
Espíritos de que
a Lei de
Transformação é
natural e
constante, e que
só poderemos
atingir a
suprema paz, ou
a suprema
realização,
quando
escaparmos do
ciclo
vida-morte, ou
seja, das
reencarnações de
provas e de
expiação,
através da
autoplenitude,
da
auto-realização,
do
autoconhecimento
que leva o ser a
verdadeira
identificação do
seu “eu”, e,
assim, a
evolução.
Poderíamos ir
buscar as mais
diversas fontes
da sabedoria da
humanidade,
entretanto
cairíamos no
mesmo lugar
comum. Pode,
pois, o homem
querer
enganar-se o
tempo que
quiser.
Entretanto, a
verdade não pode
ser ofuscada e,
mais dias ou
menos dias, terá
ele que se
render às
evidências do
fato que, com o
Espiritismo,
tornaram-se
científicos.
Lembremos das
palavras
conhecidas do
sábio inglês Sir
William Crookes
que, dentre
inúmeras coisas,
descobriu os
raios catódicos,
que, hoje, deu
origem aos
Raios-X, que
diziam sobre a
veracidade desta
realidade
espiritual:
depois de anos
de estudos
científicos “não
digo mais é
possível, digo
isto é real”.
“Só o total
ego-esvaziamento
e sua
subseqüente
cosmo-plenificação
é que podem dar
uma resposta”,
resumiria o
sábio brasileiro
Huberto Rohden,
pois que só
reformulando-nos
o nosso ser
real, através do
ego-vacuidade,
ou seja, da
libertação do
orgulho e do
egoísmo, é que
poderemos,
realmente,
identificarmo-nos
e, assim,
estarmos em
harmonia com a
harmonia cósmica
do Pai que,
segundo Allan
Kardec, em “A
Gênese”,
capítulo II, a
todos vê,
através do
fluido cósmico
universal,
bastando que o
ego humano não
seja uma
barreira nessa
comunicação.
E tudo isso o
Ser maior que
aqui na Terra
esteve já
falaria. Depois
de enviar os
seus mensageiros
em diversos
pontos do globo,
Ele mesmo veio
ter conosco para
anunciar as mais
sublimes
verdades que o
mundo já pudera
escutar. Depois
do Sermão do
Monte, ninguém
mais poderá
dizer: “eu não
sabia”, pois que
Jesus, o Rei dos
Reis, o nosso
governante, veio
fazer a maior
revolução e a
verdadeira a
revolução do
“amar a Deus
acima de todas
as coisas, e ao
próximo como a
si mesmo”.
Fora por isso
que o Mestre
falara: “Eu sou
a luz do mundo,
mas vós, também,
sois a luz do
mundo, vós sois
o sal da terra.
Assim brilhe a
vossa luz”. (Mt
5, 11-16). Pois,
disse o Médico
das Almas, “vós
sois Deuses,
podereis fazer
tudo que eu faço
e muito mais”.
Ele conhecia a
nossa real
identidade.
Sabia que, por
sermos filhos do
Pai, somos,
igualmente, de
origem luminosa,
pois que Deus é
amor. E, assim,
veio-nos resumir
todos esses
conhecimentos,
dizendo-nos que
somos da mesma
essência que
Ele, Jesus,
próprio é.
Basta que, para
chegarmos a
fazer o que Ele
fez, brilhemos a
nossa luz,
através da
verdadeira
transformação
que o ser pode
fazer a reforma
íntima, através
do
autoconhecimento,
para que esse
possa entrever a
verdadeira
identidade que
se pode ter a
identificação o
“eu” espiritual
primordial,
cheio de luz
latente,
potencial, que
espera brilhar,
quando o ego for
transformado de
opaco para
translúcido,
através da
auto-iluminação.
Eis porque os
Espíritos, em “O
Livro dos
Espíritos”,
recomendaram a
lembrança da
máxima:
“Conhece-te a ti
mesmo”, pois
sabiam eles que
a verdadeira
identidade, a do
“eu”
fundamental, só
pode ser
atingida pela
verdadeira
transformação, a
da reforma
íntima, através
do
autoconhecimento.
Nota explicativa: