O
Espiritismo
é ou não
uma
religião?
Questão
aberta
para
alguns
espíritas,
especialmente
os de
fora do
Brasil,
saber se
o
Espiritismo
é
religião
é mais
que uma
definição
de
postura
diante
da
Doutrina,
é uma
questão
de
sobrevivência
e
difusão
do
Espiritismo
no
Mundo.
Para
muitos
espíritas,
é ponto
pacífico:
o
Espiritismo
é, sim,
religião.
A
própria
obra
kardequiana
o define
como tal
de forma
inequívoca.
Kardec,
em seu
discurso
“O
Espiritismo
é uma
religião?”,
publicado
na
Revista
Espírita
de
dezembro
de 1868,
perguntou:
“o
Espiritismo
é uma
religião?”
E
respondeu:
“Ora,
sim, sem
dúvida,
senhores”.
E em
seguida
indagou:
“Por
que,
então,
declaramos
que o
Espiritismo
não é
uma
religião?”
Ou seja,
por que,
antes,
declarara
que o
Espiritismo
não é
uma
religião?
E ele
mesmo
esclareceu:
“Porque
não há
uma
palavra
para
exprimir
duas
idéias
diferentes,
e que,
na
opinião
geral, a
palavra
religião
é
inseparável
da de
culto;
desperta
exclusivamente
uma
idéia de
forma,
que o
Espiritismo
não
tem.”
Em
seguida,
descreveu
qual é
“o
Credo, a
religião
do
Espiritismo”:
“Crer
num Deus
todo-poderoso,
soberanamente
justo e
bom;
crer na
alma e
em sua
imortalidade;
na
pré-existência
da alma
como
única
justificação
do
presente;
na
pluralidade
das
existências
como
meio de
expiação,
de
reparação
e de
adiantamento
moral e
felicidade
crescente
com a
perfeição;
na
equitável
remuneração
intelectual;
na
perfectibilidade
dos
seres
mais
imperfeitos;
na do
bem e do
mal,
conforme
o
princípio:
a cada
um
segundo
as suas
obras;
na
igualdade
da
justiça
para
todos,
sem
exceções,
favores
nem
privilégios
para
nenhuma
criatura;
na
duração
da
expiação
limitada
pela
imperfeição;
no
livre-arbítrio
do
homem,
que lhe
deixa
sempre a
escolha
entre o
bem e o
mal;
crer na
continuidade
que
religa
todos os
seres
passados,
presentes
e
futuros,
encarnados
e
desencarnados;
considerar
a vida
terrestre
como
transitória
e uma
das
fases da
vida do
Espírito,
que é
eterna;
aceitar
corajosamente
as
provações,
em vista
do
futuro
mais
invejável
que o
presente;
praticar
a
caridade
em
pensamentos,
palavras
e obras
na mais
larga
acepção
da
palavra;
esforçar-se
cada dia
para ser
melhor
que na
véspera,
extirpando
alguma
imperfeição
de sua
alma;
submeter
todas as
crenças
ao
controle
do livre
exame e
da razão
e nada
aceitar
pela fé
cega;
respeitar
todas as
crenças
sinceras,
por mais
irracionais
que nos
pareçam
e não
violentar
a
consciência
de
ninguém;
ver
enfim
nas
descobertas
da
ciência
a
revelação
das leis
da
natureza,
que são
as leis
de Deus:
eis o
Credo, a
religião
do
Espiritismo,
religião
que pode
conciliar
com
todos os
cultos,
isto é,
com
todas as
maneiras
de
adorar a
Deus.”
Isto
posto,
basta
analisar
cada
item da
Doutrina
Espírita
para
concluir
que a
maior
parte
deles,
como
matéria
de
crença,
não é
objeto
da
ciência
ou da
filosofia.
A
ciência
espírita
revela,
sim,
alguns
desses
aspectos,
mas não
tem nada
a dizer
sobre
sua
feição
de
credo. O
mesmo se
dá em
relação
à
filosofia.
Ela pode
discorrer
sobre
sistemas
morais,
mas nada
tem a
concluir
a
respeito
da ética
cristã,
baseada
na
justiça
e
bondade
de Deus
e na
regra de
ouro do
“fazer
aos
outros o
que se
quer que
se faça
a si
mesmo”,
ou, de
outra
forma,
do
preceito
de que
“fora da
caridade
não há
salvação”.
Não é
preciso
dizer
que
ciência
e
filosofia
nada têm
a dizer
sobre o
princípio
sobre o
qual
toda a
Doutrina
foi
erigida,
assim
como o
próprio
Livro
dos
Espíritos:
a
existência
de Deus.
Kardec,
no
discurso
citado,
está se
referindo
ao poder
emanado
da união
de
pensamentos
com
objetivos
comuns,
e que a
religião
nada
mais é,
segundo
ele, em
seu
sentido
filosófico,
que
comunhão
de
pensamentos:
“Dissemos
que o
verdadeiro
objetivo
das
assembléias
religiosas
deve ser
a
comunhão
de
pensamentos;
é que,
com
efeito,
a
palavra
religião
quer
dizer
laço.
Uma
religião,
em sua
acepção
nata e
verdadeira,
é um
laço que
religa
os
homens
numa
comunidade
de
sentimentos,
de
princípios
e de
crenças.”
Dissemos
que
considerar
o
Espiritismo
uma
religião
pode ser
crucial
para sua
sobrevivência
e
propagação
porque
na
atualidade
muitas
pessoas
associam
Religião
às
religiões
conhecidas
e sua
lamentável
história
secular.
O
chamado
Espiritismo
laico
tem
nesse
fato sua
única
base. Na
Europa,
por
exemplo,
existe
uma
verdadeira
aversão
a tudo
que diga
respeito
à
religião,
em
especial
às
religiões
cristãs,
em
virtude
dos
séculos
de
dominação
e
comprometimento
com o
Poder,
os
desmandos,
as
perseguições
em nome
da fé,
os
abusos
em nome
de Deus
e seu
acumpliciamento
com os
déspotas
e
exploradores
do povo.
Desse
modo,
associar
o
Espiritismo
à
religião
equivaleria,
na
concepção
de
alguns,
a
condená-lo
ao
abandono.
Herculano
Pires,
no
entanto,
disse
certa
vez que,
mesmo
que
Kardec
não
tivesse
feito o
discurso
a que
nos
referimos,
bastaria
repassar
os
fundamentos
do
Espiritismo
para
caracterizá-lo
como
religião
e não só
como
ciência
e
filosofia.
Assim,
ainda
que
desconsiderássemos
a
opinião
de
Kardec,
de Léon
Denis,
de
Emmanuel,
de
Bezerra
de
Menezes,
de
Carlos
Imbassahy,
de Chico
Xavier,
de
Joanna
de
Ângelis
e tantos
outros
vultos
do
Espiritismo,
é
suficiente
analisar
os
fundamentos
da
Doutrina
para
enxergar
nela uma
feição
religiosa.
A
propósito,
não
podemos
esquecer
que
Carlos
Imbassahy,
um dos
mais
argutos
pensadores
espíritas,
escreveu
toda uma
obra -
Religião
-
exatamente
para
provar
que o
Espiritismo
é, sim,
religião,
embora
destituído
da
pompa,
do
sacerdócio,
dos
rituais
e de
tudo o
mais que
tradicionalmente
associamos
a essa
palavra.
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