É o Espiritismo uma
religião?
A velha polêmica
sobre ser ou não
o Espiritismo
uma religião –
assunto tratado
na entrevista de
Marcelo Henrique
Pereira e também
no artigo de
Rogério Coelho,
ambos constantes
desta edição –
não poderia
apresentar em
nosso meio
dificuldade
alguma.
Claro que os
espíritas têm
inteira
liberdade de
preferir esse ou
aquele aspecto
do Espiritismo,
seja o
filosófico, o
científico ou o
religioso. Mas
ninguém tem, em
sã consciência,
o direito de
negá-los, como
fazem os laicos
com relação ao
aspecto
religioso,
adjetivo que
costumam
substituir pelo
vocábulo moral.
Ora, se é certo
que o
Espiritismo
apresenta
conseqüências
morais, é
igualmente
correto afirmar
que ele
apresenta
conseqüências
religiosas.
Não é preciso
recorrer a
outros autores
para percebê-lo,
porque a própria
obra de Kardec o
atesta, como
comprovam os
trechos adiante
transcritos,
colhidos em
diversas edições
da Revue
Spirite,
periódico
escrito e
publicado por
Allan Kardec de
1858 a 1869.
Ressaltam dos
textos em foco a
preocupação com
atos tipicamente
associados à
religião – como
a prece, a
leitura do
Evangelho e a
prática do bem –
e a reverência
que Kardec e os
Espíritos
dedicam à pessoa
de Jesus e ao
Evangelho, bem
como a
conceituação do
Espiritismo como
|
|
o Consolador
prometido e
sua íntima
correlação
com os
ensinos do
Cristo. |
Dividimos os 40
textos em dois
grupos: 1o
- textos de
autoria do
Codificador do
Espiritismo; 2o
- textos
assinados por
Espíritos
diversos.
São de autoria
de Kardec os
trechos da
Revue Spirite
adiante
resumidos:
1. O ensino dos
Espíritos, diz Kardec, é
eminentemente
cristão porque
se apóia na
imortalidade da
alma, nas penas
e recompensas
futuras, no
livre-arbítrio e
na moral cristã.
(Revue
Spirite de 1858,
p. 313.)
2. O Espiritismo
é o mais
poderoso
auxiliar das
idéias
religiosas: ele
dá religião aos
que não a
possuem;
fortifica-a nos
que a têm
vacilante;
consola pela
certeza do
futuro, faz
suportar com
paciência e
resignação as
tribulações
desta vida e
desvia o
pensamento do
suicídio.
(Revue de 1859,
p. 5.)
3. O Espiritismo
não nega a Deus,
a alma, o
livre-arbítrio,
as penas e
recompensas
futuras. Longe
disso, ele
prova, não pelo
raciocínio, mas
pelos fatos,
essas bases
fundamentais da
religião, cujo
inimigo mais
perigoso é o
materialismo.
(Revue de 1859,
p. 150.)
4. O Espiritismo
é forte porque
se apóia nas
bases da
religião: Deus,
a alma, as penas
e recompensas
futuras,
baseadas naquilo
que fazemos.
(Revue de 1860,
p. 4.)
No sentido
filosófico, o
Espiritismo é
uma religião
5. Impedindo
inúmeros
suicídios,
devolvendo a paz
e a concórdia a
muitas famílias,
tornando mansos
e pacientes
homens violentos
e coléricos,
dando resignação
e consolo aos
que não os
tinham,
reconduzindo a
Deus os que o
desconheciam, o
Espiritismo,
longe de
antagonista, é o
mais poderoso
auxiliar da
Religião.
(Revue de 1861,
p. 317.)
6. O Espiritismo
jamais se
arvorou em rival
do Cristianismo,
do qual se
declara filho.
Ele combate o
ateísmo e o
materialismo e
repousa sobre as
bases
fundamentais de
toda religião e
sobre a moral do
Cristo. “Se
renegasse o
cristianismo,
ele se
desmentiria,
suicidar-se-ia.”
(Revue de
1862, p. 121.)
7. O
Cristianismo,
tal qual saiu da
boca de Jesus,
mas apenas tal
qual saiu, é
invulnerável,
porque ele é a
lei de Deus.
(Revue de 1864,
p. 202.)
8. É o
Espiritismo uma
religião? Ora,
sim, sem dúvida,
senhores. No
sentido
filosófico, o
Espiritismo é
uma religião, e
nós nos
glorificamos por
isso, porque é a
doutrina que
funda os elos da
fraternidade e
da comunhão de
pensamentos, não
sobre uma
simples
convenção, mas
sobre bases mais
sólidas: as
mesmas leis da
natureza.
(Revue de 1868,
p. 351.)
9. O verdadeiro
objetivo das
assembléias
religiosas deve
ser a comunhão
de pensamentos;
é que, com
efeito, a
palavra religião
quer dizer
laço. Uma
religião é um
laço que
religa os
homens numa
comunidade de
sentimentos,
princípios e
crenças.
(Revue de 1868,
p. 351 a 354.)
10. Esse laço é,
porém, um laço
essencialmente
moral, que liga
os corações, e
seu objetivo é
estabelecer,
entre as pessoas
que ele une, a
fraternidade
e a
solidariedade,
a indulgência
e a
benevolência
mútuas.
(Revue de
1868, p. 354 a
357.)
11. O
Espiritismo é
inteiramente
baseado no dogma
da existência da
alma, sua
sobrevivência ao
corpo, sua
individualidade
após a morte,
sua
imortalidade, as
penas e as
recompensas
futuras. Seu
objetivo é
prová-las de
maneira patente
e sua moral é
apenas o
desenvolvimento
das máximas do
Cristo.
(Revue de 1860,
p. 308.)
12. Mataram o
Cristo, mataram
seus apóstolos,
e no entanto a
idéia cristã
triunfou,
vencendo até a
perseguição dos
Césares
onipotentes. Por
que, então, o
Espiritismo, que
não é senão o
desenvolvimento
e a aplicação da
idéia cristã,
não triunfará de
alguns trocistas
ou de
antagonistas que
não lhe puderam
opor senão uma
negação estéril?
(Revue de
1861, p. 358.)
13. O
Cristianismo, ao
surgir, teve que
lutar contra uma
potência
terrível: o
Paganismo. O
Espiritismo nada
tem a destruir,
porque assenta
suas bases no
próprio
Cristianismo e
no Evangelho, do
qual é simples
aplicação.
(Revue de 1861,
p. 316.)
14. A
moral que ele
ensina é boa ou
má? É
subversiva? Eis
a questão. Ora,
desde que é a
moral do
Evangelho
desenvolvida e
aplicada,
condená-la seria
condenar o
Evangelho.
(Revue de 1861,
p. 317.)
O Espiritismo é,
de fato, o
verdadeiro
Consolador
15. Em suas
instruções os
Espíritos
superiores têm
sempre o
objetivo de
despertar nos
homens o amor do
bem pela prática
do Evangelho.
(Revue de 1858,
p. 5.)
16. Graças às
comunicações de
ora em diante
estabelecidas de
maneira
permanente entre
os homens e o
mundo invisível,
a lei
evangélica,
ensinada em
todas as nações
pelos próprios
Espíritos, não
mais será letra
morta, porque
cada um a
compreenderá e
necessariamente
será solicitado
a pô-la em
prática, a
conselho de seus
guias
espirituais.
(Revue de 1864,
p. 99.)
17. Não existe
nenhuma surpresa
no fato de haver
Deus enviado os
bons Espíritos
para lembrar o
sentido
verdadeiro de
sua lei. “Eles
não vêm para
destruir o
cristianismo,
mas desligá-lo
das falsas
interpretações e
dos abusos que
nele
introduziram os
homens.”
(Revue 1864, p.
275.)
18. A
bandeira
“Fora da
caridade não há
salvação”,
por ele posta no
frontispício do
Espiritismo, não
surgiu por ato
de sua
autoridade, mas
dos ensinos dos
Espíritos, que a
colheram nas
palavras do
Cristo, em que
ela se encontra
com todas as
letras, como
pedra angular do
edifício
cristão.
(Revue de 1866,
pp. 114 a 116.)
19. A
fraternidade
deve ser a pedra
angular da nova
ordem social,
mas não existirá
fraternidade
real, sólida e
efetiva se não
for apoiada em
base inabalável,
que é a fé, não
a fé em tais ou
quais dogmas,
mas a fé nos
princípios
fundamentais que
todos podem
aceitar: Deus, a
alma, o futuro,
o progresso
individual
indefinido, a
perpetuidade das
relações entre
os seres.
(Revue de 1866,
p. 289 a 301.)
20. O
Espiritismo não
diz: Fora do
Espiritismo não
há salvação,
mas apoiado no
Cristo: Fora
da caridade não
há salvação,
princípio de
união e
tolerância que
ligará os homens
num sentimento
comum de
fraternidade, em
vez de os
dividir em
seitas inimigas.
(Revue de
1866, p. 289 a
301.)
21. O Cristo não
disse tudo o que
poderia ter
dito, porque os
homens de sua
época não o
compreenderiam.
Eis por que mais
tarde seria
enviado à Terra
o Consolador, o
Espírito de
Verdade, que
haveria de
restabelecer
todas as coisas
e explicar tudo
quanto ele
dissera.
(Revue de 1867,
p. 261 a 285.)
22. Se
considerarmos o
poder
moralizador do
Espiritismo, a
força moral, a
coragem e as
consolações que
ele dá nas
aflições,
reconheceremos
que ele realiza
todas as
promessas do
Cristo a
respeito do
Consolador
prometido. Ora,
como é o
Espírito de
Verdade que
preside ao
grande movimento
de regeneração,
a promessa de
seu advento se
acha realizada,
porque ele é, de
fato, o
verdadeiro
Consolador.
(Revue de 1867,
p. 261 a 285.)
A Oração
dominical deve
ser a prece de
todos os dias
23. Tal é a fé
dos espíritas, e
a prova de sua
força é que se
esforçam por
tornar-se
melhores,
dominar suas
inclinações más
e pôr em prática
as máximas do
Cristo, olhando
todos os homens
como irmãos,
perdoando aos
inimigos e
fazendo o bem
pelo mal, a
exemplo do
Mestre.
(Revue de 1868,
p. 7 a 12.)
24. O mais
perfeito modelo
de concisão, no
caso da prece, é
a Oração
dominical, que é
a mais indicada
para as preces
da manhã e da
noite, desde que
dita com
inteligência, de
coração, e não
dos lábios.
(Revue de 1864,
p. 234.)
25. Uma vez por
semana, por
exemplo, no
domingo, pode-se
consagrar à
prece um tempo
mais longo, a
isto
acrescentando a
leitura de
algumas
passagens do
Evangelho e a de
algumas boas
instruções,
ditadas pelos
Espíritos.
(Revue de 1864,
p. 234.)
São de autoria
dos Espíritos
adiante
nominados os
trechos
seguintes:
1. Mártires do
Espiritismo são
os que escutam,
a cada passo,
palavras
insultuosas,
como louco,
insensato,
visionário,
as afrontas da
incredulidade e
outros
sofrimentos
ainda mais
amargos. Mas a
sua recompensa
será bela,
porque o lugar
que o Cristo
prepara aos
mártires do
Espiritismo será
ainda mais
brilhante.
(Santo
Agostinho, Revue
de 1862, p.
122.)
2. O Espiritismo
não é uma
religião nova,
mas a
consagração
dessa religião
universal
cujas bases
foram lançadas
pelo Cristo. “O
Espiritismo, sob
o ponto de vista
religioso, é
apenas a
confirmação do
cristianismo.”
(Bernardin,
Revue de 1862,
p. 186 a 188.)
3. O Espiritismo
é a realização
de todas as
profecias, o
desenvolvimento
da religião, o
esclarecimento
dos mistérios, o
caminho reto que
conduz ao
verdadeiro
objetivo e à
perfeição.
(Cardeal Wiseman,
Revue de 1865,
p. 213 e 214.)
4. A
religião
espiritualista é
a alma do
Cristianismo: é
preciso não
esquecer.
(Lamennais,
Revue de 1865,
p. 216.)
5. A
moral ensinada
pelo Cristo
sobrepuja os
ensinos mais
sublimes da
Antigüidade; o
que é preciso
observar no
Espiritismo é a
moral cristã.
(Lamennais,
Revue de 1860,
p. 364.)
6. O Cristo foi
o iniciador da
moral mais pura,
a mais sublime:
a moral
evangélica
cristã, que deve
renovar o mundo,
reaproximar os
homens e os
tornar a todos
irmãos; a moral
que deve fazer
jorrar de todos
os corações
humanos a
caridade, o amor
do próximo; que
deve criar entre
todos os homens
uma
solidariedade
comum; a moral,
enfim, que deve
transfigurar a
Terra e dela
fazer uma morada
para Espíritos
superiores.
(Um Espírito
israelita, Revue
de 1861, p. 96.)
O Espiritismo é
a aplicação da
moral evangélica
7. Foi Moisés
quem abriu a
estrada; Jesus
continuou a
obra; o
Espiritismo a
acabará. (O
mesmo Espírito,
Revue de 1861,
p. 97.)
8. O Espiritismo
é a aplicação da
moral
evangélica,
pregada pelo
Cristo, em toda
a sua pureza, e
os homens que o
condenam sem o
conhecer são
pouco prudentes.
(Ferdinand,
Revue de 1861,
p. 168 e 169.)
9. O Espiritismo
é uma ciência
essencialmente
moral. Os que se
dizem espíritas
não podem, pois,
sem cometer uma
grave
inconseqüência,
subtrair-se às
obrigações que
impõe. Disso
advém a
obrigação moral
que tem o
espírita de
conformar sua
conduta à sua
crença e ser um
exemplo vivo, um
modelo, como o
Cristo o foi
para a
humanidade.
(Luís de França,
Revue de 1866,
p. 156 a 159.)
10. O
Espiritismo não
é senão a
aplicação
verdadeira dos
princípios de
moral ensinada
por Jesus. Foi
com o objetivo
de fazê-la por
todos
compreendida que
Deus permite as
manifestações
dos Espíritos.
Ele vem,
portanto, como o
Cristianismo bem
compreendido,
mostrar ao homem
a absoluta
necessidade de
sua renovação
interior.
(Luís de França,
Revue de 1866,
p. 156 a 159.)
11. Encarando
como subversiva
toda doutrina
contrária à
moral do
Evangelho e aos
princípios
gerais do
Decálogo, que se
resumem nesta
lei concisa:
Amai a Deus
sobre todas as
coisas e ao
próximo como a
vós mesmos,
ficareis
invariavelmente
unidos.
(Erasto, Revue
de 1861, p.
365.)
12. Sabei que a
caridade não se
faz somente com
esmola, mas
também com o
coração. Ide e
pregai o
Evangelho. Deus
vos situou no
alto, para que
todos vos possam
ver e vossas
palavras sejam
bem
compreendidas.
(Santo
Agostinho, Revue
de 1862, p. 151
e 152.)
13. Um novo
livro acaba de
aparecer (ele
se reportava ao
Evangelho
segundo o
Espiritismo):
“é uma luz mais
brilhante que
vem clarear a
vossa marcha”.
“Pelos frutos se
reconhece a
árvore. Vede
quais são os
frutos do
Espiritismo:
casais onde a
discórdia tinha
substituído a
harmonia
voltaram à paz e
à felicidade;
homens que
sucumbiam ao
peso de suas
aflições,
despertados aos
acentos
melodiosos das
vozes de
além-túmulo,
compreenderam
que seguiam
caminho errado
e, corando de
suas fraquezas,
arrependeram-se
e pediram ao
Senhor a força
para suportar
suas provações.”
(O Espírito
de Verdade,
Revue de 1864,
p. 395 a 397.)
14. Toda a
felicidade
eterna está
contida nesta
máxima:
"Amai-vos uns
aos outros". A
alma não pode
elevar-se às
regiões
espirituais
senão pela
dedicação ao
próximo. (São
Vicente de
Paulo, Revue de
1858, p. 226.)
15. Gostaria que
a leitura do
Evangelho fosse
feita com mais
interesse
pessoal. Vossos
males provêm do
abandono
voluntário em
que deixais esse
resumo das leis
divinas. (S.
Vicente de
Paulo, Revue de
1858, p. 226.)