ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
Religião e
religiosos
verdadeiros e
racionais
“(...) O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
derroca os
fundamentos do
edifício que abrigava o clero há dezoito séculos.” - Erasto
Sempre
obedientes aos
Planos Divinos,
os Espíritos só
desvelaram o
aspecto
religioso do
Espiritismo
quando ele já
estava
científica e
filosoficamente
sedimentado. Tal
se deu com o
advento do
terceiro livro
básico: “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo” no
ano de 1864.
Portanto, a
frase de Erasto,
em epígrafe, bem
poderia ter sido
o título em
caixa alta de
chamada de
matéria
jornalística na
primeira página
de qualquer
jornal escrito
140 anos
atrás...
Como a nova
formatação
religiosa
apresentada pelo
Espiritismo
iria,
evidentemente,
acirrar os
ânimos dos
“religiosos”
tradicionais,
Allan Kardec
perguntou ao
Espírito de
Verdade (“Obras
Póstumas”, pg.
311): “Que
dirá o clero?”
E a resposta não
se fez esperar:
“O clero
gritará:
heresia!!!...
Porque verá que
atacas
decisivamente as
Penas Eternas e
outros pontos
sobre os quais
ele baseia a sua
influência e o
seu crédito.
Gritará tanto
mais, quanto se
sentirá muito
mais ferido do
que com a
publicação de O
Livro dos
Espíritos, cujos
dados
principais, a
rigor, poderia
aceitar. Agora,
porém, tu
entraste por um
novo caminho, no
qual não poderá
ele
acompanhar-te. O
anátema secreto
se tornará
oficial e os
espíritas serão
repelidos, como
o foram os
judeus e os
pagãos, pela
Igreja Romana.
Em compensação,
os espíritas
verão
aumentar-se-lhes
o número, em
virtude dessa
espécie de
perseguição,
sobretudo com o
qualificarem, os
padres, de
demoníaca uma
Doutrina cuja
moralidade
esplenderá como
um raio de Sol
pela publicação
mesma do teu
novo livro e dos
que se seguirão.
“Aproxima-se a
hora em que te
será necessário
apresentar o
Espiritismo qual
Ele é, mostrando
a todos onde se
encontra a
verdadeira
Doutrina
ensinada pelo
Cristo.
Aproxima-se a
hora em que, à
face do Céu e da
Terra, terás de
proclamar que o
Espiritismo é a
única tradição
verdadeiramente
cristã e a única
instituição
verdadeiramente
divina e humana.
Ao te
escolherem, os
Espíritos
conheciam a
solidez das tuas
convicções e
sabiam que a tua
fé, qual muro de
aço, resistiria
a todos os
ataques.
Entretanto,
amigo, se a tua
coragem ainda
não desfaleceu
sob a tarefa tão
pesada que
aceitaste, fica
sabendo que
foste feliz até
o presente, mas
que é chegada a
hora das
dificuldades...
Sim, caro
Mestre,
prepara-se a
grande batalha;
o fanatismo e a
intolerância,
exacerbados pelo
bom êxito da tua
propaganda, vão
atacar-te e aos
teus com armas
envenenadas.
Prepara-te para
a luta... Tenho,
porém, fé em ti,
como tu tens fé
em nós, e sei
que a tua fé é
das que
transportam
montanhas e
fazem caminhar
por sobre as
águas. Coragem,
pois, e que a
tua obra se
complete. Conta
conosco e conta
sobretudo com a
grande alma do
Mestre de todos
nós, que te
protege de modo
muito
particular...
A reação do
Clero contra o
Espiritismo
“(...) É chegada
a hora em que a
Igreja tem de
prestar contas
do depósito que
lhe foi
confiado, da
maneira por que
pratica os
ensinos do
Cristo, do uso
que fez da sua
autoridade,
enfim, do estado
de incredulidade
a que levou os
Espíritos. A
hora é vinda em
que ela tem de
dar a César o
que é de César e
de assumir a
responsabilidade
de todos os seus
atos. Deus a
julgou e a
reconheceu
inapta, daqui
por diante, para
a missão de
progresso que
incumbe a toda
autoridade
espiritual.
“Somente por
meio de uma
transformação
absoluta lhe
seria possível
viver; mas,
resignar-se-á
ela a essa
transformação?!
Não, pois que,
então, já não
seria a Igreja;
para assimilar
as Verdades e as
descobertas da
Ciência, teria
de renunciar aos
dogmas que lhe
servem de
fundamentos;
para volver à
prática rigorosa
dos preceitos do
Evangelho, teria
de renunciar ao
poder, à
dominação, de
trocar o fausto
e a púrpura pela
simplicidade e a
humildade
apostólicas. Ela
se acha nesta
alternativa: ou
se suicida,
transformando-se;
ou sucumbe nas
garras do
progresso, se
permanecer
estacionária.
“Aliás, Roma já
se mostra cheia
de ansiedade e
na Cidade Eterna
se sabe, por
inegáveis
revelações, que
a Doutrina
Espírita causará
dor viva ao
papado, porque
na Itália se
prepara
rigorosamente o
cisma. Não é,
pois, de
espantar o
encarniçamento
com que o clero
se lança ao
combate contra o
Espiritismo,
impelido pelo
instinto de
conservação.
Ele, porém, já
verificou que
suas armas se
embotam contra
essa potência
que surge, seus
argumentos não
têm podido
resistir à
lógica
inflexível; só
lhe resta o
demônio, mísero
auxiliar seu no
século XIX. Ao
demais, a luta
está aberta
entre a Igreja e
o progresso,
mais do que
entre ela e o
Espiritismo. Ela
é batida em toda
a linha do
progresso geral
das idéias e
sucumbirá sob os
seus golpes,
como tudo quanto
sai fora do seu
nível. A marcha
rápida das
coisas há de
fazer-vos
pressentir que o
desenlace não
demorará muito
tempo. A própria
Igreja parece
compelida
fatalmente a
precipitá-lo”.
A religião
cristã vista
pelo Espiritismo
As religiões de
antanho
fundamentaram o
edifício
religioso no
“sobrenatural”.
Ora, nós
aprendemos com o
ínclito e
insuperável
Mestre Lionês
(Kardec, “A
Gênese”,
capítulo XIII,
itens 18 e 19):
“(...)
Pretender-se que
o sobrenatural é
o fundamento de
toda religião,
que ele é o
fecho de abóbada
do edifício
cristão, é
sustentar
perigosa tese.
Assentar
exclusivamente
as verdades do
Cristianismo
sobre a base do
maravilhoso é
dar-lhe fraco
alicerce, cujas
pedras
facilmente se
soltam. Essa
tese, de que se
constituíram
defensores
eminentes
teólogos, leva
direito à
conclusão de
que, em breve
tempo, já não
haverá religião
possível, nem
mesmo a cristã,
desde que se
chegue a
demonstrar que é
natural o que se
considerava
sobrenatural,
visto que, por
mais que se
acumulem
argumentos, não
se logrará
sustentar a
crença de que um
fato é
miraculoso,
depois de se
haver provado
que não o é.
Ora, a prova
existe de que um
fato não
constitui
exceção às leis
naturais, logo,
que pode ser
explicado por
essas mesmas
leis e que,
podendo
reproduzir-se
por intermédio
de um indivíduo
qualquer, deixa
de ser
privilégio dos
santos. O de que
necessitam as
religiões não é
do sobrenatural,
mas do princípio
espiritual, que
erradamente
costumam
confundir com o
maravilhoso e
sem o qual não
há religião
possível.
“O Espiritismo
considera de um
ponto mais
elevado a
religião cristã;
dá-lhe base mais
sólida do que a
dos milagres: as
imutáveis leis
de Deus, a que
obedecem assim o
princípio
espiritual como
o princípio
material. Essa
base desafia o
tempo e a
Ciência, pois
que o tempo e a
Ciência virão
sancioná-la.
“Deus não Se
torna menos
digno da nossa
admiração, do
nosso
reconhecimento,
do nosso
respeito, por
não haver
derrogado Suas
leis,
grandiosas,
sobretudo, pela
imutabilidade
que as
caracteriza. Não
se faz mister o
sobrenatural,
para que se
preste a Deus o
culto que Lhe é
devido. A
Natureza não é
de si mesma tão
imponente que
dispense se lhe
acrescente seja
o que for para
provar a suprema
potestade? Tanto
menos incrédulos
topará a
religião, quanto
mais a razão a
sancionar em
todos os pontos.
O Cristianismo
nada tem que
perder com
semelhante
sanção; ao
contrário, só
tem que ganhar.
Se alguma coisa
o há prejudicado
na opinião de
muitas pessoas,
foi precisamente
o abuso do
sobrenatural e
do maravilhoso.
A origem do mal
nada tem que ver
com Deus
“(...) Querem
dar ao povo, aos
ignorantes, aos
pobres de
espírito uma
idéia do poder
de Deus?
Mostrem-no na
sabedoria
infinita que
preside a tudo,
no admirável
organismo de
tudo o que vive,
na frutificação
das plantas, na
apropriação de
todas as partes
de cada ser às
suas
necessidades, de
acordo com o
meio onde ele é
posto a viver.
Mostrem-lhes a
ação de Deus na
vergôntea de um
arbusto, na flor
que desabrocha,
no Sol que tudo
vivifica.
Mostrem-lhes a
sua bondade na
solicitude que
dispensa a todas
as criaturas,
por mais ínfimas
que sejam, a Sua
previdência, na
razão de ser de
todas as coisas,
entre as quais
nenhuma inútil
se conta, no bem
que sempre
decorre de um
mal aparente e
temporário.
Façam-lhes
compreender,
principalmente,
que o mal real é
obra do homem e
não de Deus; não
procurem
espavori-los com
o quadro das
penas eternas,
em que acabam
não mais crendo
e que os levam a
duvidar da
bondade de Deus;
antes, dêem-lhes
coragem,
mediante a
certeza de
poderem um dia
redimir-se e
reparar o mal
que hajam
praticado.
Apontem-lhes as
descobertas da
Ciência como
revelações das
leis divinas e
não como obras
de Satanás.
Ensinem-lhes,
finalmente, a
ler no livro da
Natureza,
constantemente
aberto diante
deles; nesse
livro
inesgotável, em
cada uma de
cujas páginas se
acham inscritas
a sabedoria e a
bondade do
Criador. Eles,
então,
compreenderão
que um Ser tão
grande, que com
tudo se ocupa,
que por tudo
vela, que tudo
prevê,
forçosamente
dispõe do poder
supremo. Vê-lo-á
o lavrador, ao
sulcar o seu
campo; e o
desditoso, nas
suas aflições, o
bendirá dizendo:
Se sou infeliz,
é por culpa
minha. Então, os
homens serão
verdadeiramente
religiosos,
racionalmente
religiosos,
sobretudo, muito
mais do que
acreditando em
pedras que suam
sangue, ou em
estátuas que
piscam os olhos
e derramam
lágrimas”.
Sem a luz da
razão, desfalece
a fé
A partir,
portanto, da
publicação do
terceiro livro
da codificação
Espírita, “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”,
foram novamente
reavivados os
contornos do
Paleocristianismo,
isto é, voltaram
à plena luz do
dia e da razão
os peregrinos
revérberos do
Cristianismo
revertido à sua
origem,
devolvido à sua
primitiva pureza
e pulcritude,
levando a um
irremediável
sucateamento
toda a estrutura
religiosa
medieval erguida
sobre os pilotis
da ignorância,
do baraço e
cutelo,
estratificada no
modelo cultural
dos dogmas
inverossímeis.
Tais
deformidades
doutrinárias
perenizadas
pelos religiosos
de antanho deram
origem a outro
desenho
estrutural das
idéias cristãs.
Hodiernamente,
numa análise
comparada, vamos
observar que o
perfil do
desenho
estrutural do
Espiritismo se
amolda
perfeitamente ao
Paleocristianismo.
O mesmo já não
se pode
constatar com
relação ao
perfil da Igreja
de Roma e ao das
inúmeras igrejas
ditas
evangélicas, que
mais valorizam
os dízimos e as
artimanhas de
Satanás,
mantendo seus
profitentes na
mais santa
paralisia
cerebral e
ignorância.
Daí a gritaria e
os anátemas
encolerizados do
clero e dos
protestantes ao
surgir no
proscênio
terrestre “O
Evangelho
segundo o
Espiritismo”,
que espanca as
trevas d’alma,
apontando o
caminho
alforriador, e
consolidando não
só a formatação
religiosa do
Espiritismo, mas
ensejando uma
irresistível
ação demolidora
que implodiu os
ancilosados e
absurdos dogmas
medievais.