WEB

BUSCA NO SITE

Página Inicial
Capa desta edição
Edições Anteriores
Quem somos
Estudos Espíritas
Biblioteca Virtual
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français  
Jornal O Imortal
Vocabulário Espírita
Biografias
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English Livres Spirites en Français Spiritisma Libroj en Esperanto 
Mensagens de Voz
Filmes Espiritualistas
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Efemérides
Esperanto sem mestre
Links
Fale Conosco
Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 44 - 24 de Fevereiro de 2008

EUGÊNIA PICKINA 
eugeniamva@yahoo.com.br 
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Meditação – uma prática que sustenta o ser

Se a vigilância é um procedimento que ajuda a expandir os efeitos da consciência, operando como veículo do Self e a serviço da vida socioanímica, inclinar-se ao silêncio pode favorecer o itinerário adequado que incentive a pessoa a largar as impressões particulares ou coletivas, limitadas por rasas opiniões e preconceitos, sob as quais julga a realidade. Com isso, é possível ir além do ego e em direção do Self, o guia interior, que desperta para a memória da semelhança com o divino que habita cada ser humano. 

Nossa verdadeira realidade, mesmo que isso contrarie o ego, medroso e inquieto, está fundada em nossa unidade com a vida total. O instante silencioso, por meio da prática da meditação, amplifica as limitações de tempo e de espaço vividas pela perspectiva do ego, pondo-o em contato com o coração, locus da serenidade e das virtudes, tais como o amor, a justiça, a caridade.  

Desse modo, o gozo do recolhimento causa no praticante a experiência no qual ele aprende que Eu e o Pai somos Um, ponto de partida para a florescência do princípio da compaixão, senda que viabiliza uma compreensão generosa da vida em todas as suas manifestações. 

Sem dúvida, para se conhecer e se aperfeiçoar é necessário visitas constantes ao próprio interior para nele experimentar as fontes de inspiração, a fim de se tornar ciente de seus propósitos, deveres e bênçãos.  

Na luta contra o conformismo e disposto à viagem para a expansão das virtudes, entre outras sadias possibilidades, deve haver por parte do indivíduo uma abertura para a busca do Self, apto a orientar uma existência rica e com significado.  

Contudo, essa expansão não é sem ônus, embora haja meios capazes de guiar os passos para a humanização do ser e, ao mesmo tempo, lograr inspirar um sustentável discernimento nos momentos de crise e de sofrimento que qualquer um experimenta durante a sua sinuosa jornada. 

Desse modo, como passo importante, é aconselhável socializar-se para o silêncio, pelo exercício da meditação como meio sutil para a vivência e o entendimento das forças organizacionais internas, pois é sabido que realizar a própria humanidade pressupõe abandonar o padrão da dependência, os subterfúgios emocionais, a tendência da imitação e da intolerância em prol do caminho do coração, que habilita o ser humano para a consideração mais essencial: dar cumprimento ao próprio programa e, com isso, melhorar-se e avançar, segundo a prerrogativa evolutiva.  

A meditação auxilia no processo de auto-sondagem e traz a recompensa da harmonia interior à medida que cria a ambiência para um diálogo metafórico entre ego e Self, Self e o Invisível. Quando voltamos a atenção para esse hábito sadio, somos iluminados por uma forma preciosa de autocompreensão, que nos ajuda a enxergar tudo o que somos e tudo o que podemos nos tornar em sintonia com a expressão da nossa alma. 

Claramente, o objetivo do trabalho com a meditação é ajudar a personalidade consciente (ego) a dar menos valor ao julgamento racional e às concepções pessoais e coletivas da realidade, que geralmente intervêm na integração de todas as suas partes, cristalinas ou obscuras, num todo harmonioso, ou seja, é auxiliar no processo da visão interior qualitativa, uma das metas do Self.  

Dessa perspectiva, a noção de julgamento externo adquire menos peso, pois, o que está em jogo, de fato, é o esforço que a pessoa deve fazer para não continuar no caminho inconsciente. Para isso, cativar o silêncio pela prática meditativa facilita a consciência da própria individualidade e torna o homem inspirado e, por isso, vivo. (1) 

Se a práxis espiritual da nossa civilização é ainda alvo de suspeita ou de zombaria, para muitos, felizmente, o hábito meditativo ajuda no redirecionamento da vida que se tornou tão materialista e econômica ao ponto de a pessoa atravessar a jornada ignorante de seu chamado essencial, enterrando ou desprezando seu talento essencial. 

Em suas Meditações, Descartes escreveu: 

“Fecharei agora os olhos, tamparei meus ouvidos, desviar-me-ei de todos os meus sentidos, apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais ou, pelo menos, uma vez que mal se pode fazê-lo, reputá-las-ei vãs e falsas; e assim, entretendo-se apenas comigo mesmo e considerando meu interior, empreenderei tornar-me pouco a pouco mais conhecido e mais familiar a mim mesmo”. (2) 

A disponibilidade para o silêncio certamente auxilia o ser humano a percorrer o caminho espirálico que leva da infância à maturidade integral. Entretanto, em um tempo de retórica para as massas, de costumes inconsistentes, de individualismo competitivo, de recalcamento espiritual, a disponibilidade para o silêncio é sine qua non, pois, quando o Self conduz, a inspiração surge desembaraçada e as experiências conscientes se modificam radicalmente, ou seja, o ser colhe otimismo, inala esperança e criatividade. E somente essa condução pode preparar o caminho para a sabedoria.  

Notas:

(1) Essa expressão advém de Rollo May que, ao chamar o homem “uma coisa viva”, entende que ele “não cresce automaticamente como uma árvore, mas realiza suas potencialidades somente quando planeja e escolhe conscientemente” (in: O homem à procura de si mesmo. 24 ed. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 77). (itálico meu)

(2) DESCARTES, Meditações. São Paulo: Difel, 1962, p. 136.
 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita