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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 46 - 9 de Março de 2008

FRANCISCO REBOUÇAS
costareboucas@ig.com.br
Niterói, Rio de Janeiro (Brasil)

Só as obras definem o
verdadeiro cristão!

Assim também a fé, sem obras, é morta em si mesma.” (Tiago, Cap.2, v.17.)

É muito comum ouvirmos de amigos que pertencem a outras correntes religiosas, de visão bem diferente da nossa, certas interpretações das mensagens do Evangelho de Jesus, que às vezes ficamos a nos perguntar intimamente: será que estamos interpretando os mesmos ensinamentos do nosso Mestre Jesus? Ou será que estamos falando de personalidades distintas?

Entre tantas interpretações diferentes, uma nos salta aos sentidos, justamente aquela em que os nossos amigos afirmam que, pela simples aceitação de Jesus no coração do indivíduo, ele estará livre dos seus pecados, apagando definitivamente todos os seus possíveis débitos para com a Justiça Divina, fazendo jus daí por diante de conquistar sua salvação tão sonhada, e, por essa mesma razão, também poderá considerar-se quite com as Leis e os desígnios do Pai Celestial, pois que assim procedendo, estará em consonância com todos os seus deveres de Cristão.

Aí é que começam as minhas íntimas inquirições. Inicialmente pergunto: ao aceitar o Mestre de Nazaré em seu coração, não estará mais comprometido com Jesus esse indivíduo que confessa aceitá-lo? Não estará ele decidindo e se comprometendo por seguir os seus ensinamentos? Se assim for, como não atentar para o fato de que Jesus resumiu as Leis e os Profetas em dois únicos mandamentos, “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”? Não estão contidos nesses dois mandamentos todos os deveres do homem para com o próximo, com a vida e com Deus?  Como buscar a “salvação” esquecendo a desgraça causada ao semelhante?

Não foi Jesus quem recomendou: “Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos , em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil”? (S.Mateus, Cap. V, 25-26) (1)

Não consta de seu Evangelho a resposta que deu aos fariseus sobre “o mandamento maior”?

O Evangelho segundo o Espiritismo, que tanto eles contestam e combatem, nos apresenta esta passagem de Jesus que não pode ser simplesmente esquecida ou desprezada como se não existisse, conforme segue:

Os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca dos saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, para o tentar, propôs-lhe esta questão: – “Mestre, qual o mandamento maior da lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo” – “Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos”. (S. MATEUS, Cap. XXII, 34-40)

Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam, pois é nisto que consistem a lei e os profetas. (Idem, Cap. VII, v. 12.)

Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem. (S. LUCAS, Cap. VI, v. 31) (2)

A Doutrina Espírita nos esclarece ainda mais a esse respeito, quando nos afirma: “Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: Fora da caridade não há salvação”. (O Evangelho segundo o Espiritismo – Cap. XV, itens 8 e 9) (3)

No Capítulo XVIII, item 16, do citado Evangelho, os Espíritos Superiores nos dão as instruções de que necessitamos para entender que não nos basta apenas falar esta ou aquela palavra “milagrosa”, e nem mesmo a simples demonstração de arrependimento, mesmo que sincera, pois o mal já foi feito e conseqüentemente terá seus desdobramentos, que só com a sua total reparação é que verdadeiramente estaremos nos harmonizando com as sábias e perfeitas Leis de Deus, contidas em nossa consciência culpada.

Prestemos, portanto, bastante atenção no referido item que a seguir transcrevemos:

"Nem todos os que me dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus, mas somente aqueles que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus".

Escutai essa palavra do Mestre, todos vós que repelis a Doutrina Espírita como obra do demônio. Abri os ouvidos, que é chegado o momento de ouvir.

Será bastante trazer a libré do Senhor, para ser-se fiel servidor seu? Bastará dizer: "Sou cristão", para que alguém seja um seguidor do Cristo? Procurai os verdadeiros cristãos e os reconhecereis pelas suas obras. "Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar frutos bons." – "Toda árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo." São do Mestre essas palavras. Discípulos do Cristo, compreendei-as bem! Que frutos deve dar a árvore do Cristianismo, árvore possante, cujos ramos frondosos cobrem com sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigam todos os que se hão de grupar em torno dela? Os da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé. O Cristianismo, qual o fizeram há muitos séculos, continua a pregar essas virtudes divinas; esforça-se por espalhar seus frutos, mas quão poucos os colhem! A árvore é boa sempre, porém maus são os jardineiros. Entenderam de moldá-la pelas suas idéias; de talhá-la de acordo com as suas necessidades; cortaram-na, diminuíram-na, mutilaram-na; tomados estéreis, seus ramos não dão maus frutos, porque nenhum mais produz. O viajor sedento, que se detém sob seus galhos à procura do fruto da esperança, capaz de lhe restabelecer a força e a coragem, somente vê uma ramaria árida, prenunciando tempestade. Em vão pede ele o fruto de vida à árvore da vida; caem-lhe secas as folhas; tanto as remexeu a mão do homem, que as crestou. Abri, pois, os ouvidos e os corações, meus bem-amados! Cultivai essa árvore da vida, cujos frutos dão a vida eterna. Aquele que a plantou vos concita a tratá-la com amor, que ainda a vereis dar com abundância seus frutos divinos. Conservai-a tal como o Cristo vo-la entregou: não a mutileis; ela quer estender a sua sombra imensa sobre o Universo: não lhe corteis os galhos. Seus frutos benfazejos caem abundantes para alimentar o viajor faminto que deseja chegar ao termo da jornada; não amontoeis esses frutos, para os armazenar e deixar apodrecer, a fim de que a ninguém sirvam. "Muitos são os chamados e poucos os escolhidos." É que há açambarcadores do pão da vida, como os há do pão material. Não sejais do número deles; a árvore que dá bons frutos tem que os dar para todos. Ide, pois, procurar os que estão famintos; levai-os para debaixo da fronde da árvore e partilhai com eles do abrigo que ela oferece. – "Não se colhem uvas nos espinheiros." Meus irmãos, afastai-vos dos que vos chamam para vos apresentar as sarças do caminho, segui os que vos conduzem à sombra da árvore da vida.

O divino Salvador, o justo por excelência, disse, e suas palavras não passarão: "Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; entrarão somente os que fazem a vontade de meu Pai que está nos céus."

Que o Senhor de bênçãos vos abençoe; que o Deus de luz vos ilumine; que a árvore da vida vos ofereça abundantemente seus frutos! Crede e orai.Simeão. (Bordéus, 1863) (4)

Por essas e outras razões, é que a cada dia mais me certifico da excelência da Doutrina Espírita, pois, em tudo que nos ensina, solicita-nos raciocinar para não nos deixar arrastar por teorias infundadas e ilógicas, que não levem em conta as lições ministradas por Jesus e contidas em seu Evangelho de Luz ao nosso inteiro dispor, e esclarece-nos por fim que: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade”.

Bibliografia:

1) Kardec Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, FEB, 112 edição, Cap. X, item 5.

2) Op. cit., Cap. XI, itens 1 e 2.

3) Op. cit. Cap. XV, itens 8 e 9.

4) Op. cit., Cap. XVIII, item 16.
 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita