FRANCISCO
REBOUÇAS
costareboucas@ig.com.br
Niterói, Rio de Janeiro
(Brasil)
Só as obras definem o
verdadeiro cristão!
“Assim
também a fé, sem obras, é
morta em si mesma.”
(Tiago, Cap.2, v.17.)
É
muito comum ouvirmos de amigos
que pertencem a outras
correntes religiosas, de visão
bem diferente da nossa, certas
interpretações das mensagens
do Evangelho de Jesus, que às
vezes ficamos a nos perguntar
intimamente: será que estamos
interpretando os mesmos
ensinamentos do nosso Mestre
Jesus? Ou será que estamos
falando de personalidades
distintas?
Entre
tantas interpretações
diferentes, uma nos salta aos
sentidos, justamente aquela em
que os nossos amigos afirmam
que, pela simples aceitação
de Jesus no coração do indivíduo,
ele estará livre dos seus
pecados, apagando
definitivamente todos os seus
possíveis débitos para com a
Justiça Divina, fazendo jus
daí por diante de conquistar
sua salvação tão sonhada,
e, por essa mesma razão, também
poderá considerar-se quite
com as Leis e os desígnios do
Pai Celestial, pois que assim
procedendo, estará em consonância
com todos os seus deveres de
Cristão.
Aí
é que começam as minhas íntimas
inquirições. Inicialmente
pergunto: ao aceitar o Mestre
de Nazaré em seu coração, não
estará mais comprometido com
Jesus esse indivíduo que
confessa aceitá-lo? Não
estará ele decidindo e se
comprometendo por seguir os
seus ensinamentos? Se assim
for, como não atentar para o
fato de que Jesus resumiu as
Leis e os Profetas em dois únicos
mandamentos, “amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo”? Não estão
contidos nesses dois
mandamentos todos os deveres
do homem para com o próximo,
com a vida e com Deus? Como
buscar a “salvação”
esquecendo a desgraça causada
ao semelhante?
Não foi Jesus quem
recomendou: “Reconciliai-vos
o mais depressa possível com
o vosso adversário, enquanto
estais com ele a caminho, para
que ele não vos entregue ao
juiz, o juiz não vos entregue
ao ministro da justiça e não
sejais metido
em prisão. Digo-vos
, em verdade, que daí não
saireis, enquanto não
houverdes pago o último
ceitil”? (S.Mateus, Cap. V,
25-26) (1)
Não consta de seu Evangelho a resposta que deu aos
fariseus sobre “o mandamento
maior”?
O
Evangelho segundo o
Espiritismo, que tanto eles contestam e combatem, nos apresenta esta passagem de
Jesus que não pode ser
simplesmente esquecida ou
desprezada como se não
existisse, conforme segue:
Os
fariseus, tendo sabido que ele
tapara a boca dos saduceus,
reuniram-se; e um deles, que
era doutor da lei, para o
tentar, propôs-lhe esta questão:
– “Mestre, qual o
mandamento maior da lei?”
Jesus respondeu: “Amarás o
Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma
e de todo o teu espírito;
este o maior e o primeiro
mandamento. E aqui tendes o
segundo, semelhante a esse: Amarás
o teu próximo, como a ti
mesmo” – “Toda a lei
e os profetas se acham
contidos nesses dois
mandamentos”. (S. MATEUS,
Cap. XXII, 34-40)
Fazei aos homens tudo o que queirais que eles vos façam,
pois é nisto que consistem a
lei e os profetas. (Idem,
Cap. VII, v. 12.)
Tratai
todos os homens como quereríeis
que eles vos tratassem. (S.
LUCAS, Cap. VI, v. 31) (2)
A Doutrina Espírita nos esclarece ainda mais a esse
respeito, quando nos afirma: “Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo,
todos os deveres do homem se
resumem nesta máxima: Fora
da caridade não há salvação”.
(O
Evangelho segundo o
Espiritismo – Cap. XV,
itens 8 e 9) (3)
No
Capítulo XVIII, item 16, do
citado Evangelho, os Espíritos
Superiores nos dão as instruções
de que necessitamos para
entender que não nos basta
apenas falar esta ou aquela
palavra “milagrosa”, e nem
mesmo a simples demonstração
de arrependimento, mesmo que
sincera, pois o mal já foi
feito e conseqüentemente terá
seus desdobramentos, que só
com a sua total reparação é
que verdadeiramente estaremos
nos harmonizando com as sábias
e perfeitas Leis de Deus,
contidas em nossa consciência
culpada.
Prestemos, portanto,
bastante atenção no referido
item que a seguir
transcrevemos:
"Nem
todos os que me dizem: Senhor!
Senhor! entrarão no reino dos
céus, mas somente aqueles que
fazem a vontade de meu Pai que
está nos céus".
Escutai
essa palavra do Mestre, todos
vós que repelis a Doutrina
Espírita como obra do demônio.
Abri os ouvidos, que é
chegado o momento de ouvir.
Será
bastante trazer a libré do
Senhor, para ser-se fiel
servidor seu? Bastará dizer:
"Sou cristão", para
que alguém seja um seguidor
do Cristo? Procurai os
verdadeiros cristãos e os
reconhecereis pelas suas
obras. "Uma árvore boa não
pode dar maus frutos, nem uma
árvore má pode dar frutos
bons." – "Toda árvore
que não dá bons frutos é
cortada e lançada ao
fogo." São do Mestre
essas palavras. Discípulos do
Cristo, compreendei-as bem!
Que frutos deve dar a árvore
do Cristianismo, árvore
possante, cujos ramos
frondosos cobrem com sua
sombra uma parte do mundo, mas
que ainda não abrigam todos
os que se hão de grupar em
torno dela? Os da árvore da
vida são frutos de vida, de
esperança e de fé. O
Cristianismo, qual o fizeram há
muitos séculos, continua a
pregar essas virtudes divinas;
esforça-se por espalhar seus
frutos, mas quão poucos os
colhem! A árvore é boa
sempre, porém maus são os
jardineiros. Entenderam de
moldá-la pelas suas idéias;
de talhá-la de acordo com as
suas necessidades;
cortaram-na, diminuíram-na,
mutilaram-na; tomados estéreis,
seus ramos não dão maus
frutos, porque nenhum mais
produz. O viajor sedento, que
se detém sob seus galhos à
procura do fruto da esperança,
capaz de lhe restabelecer a
força e a coragem, somente vê
uma ramaria árida,
prenunciando tempestade. Em vão
pede ele o fruto de vida à árvore
da vida; caem-lhe secas as
folhas; tanto as remexeu a mão
do homem, que as crestou.
Abri, pois, os ouvidos e os
corações, meus bem-amados!
Cultivai essa árvore da vida,
cujos frutos dão a vida
eterna. Aquele que a plantou
vos concita a tratá-la com
amor, que ainda a vereis dar
com abundância seus frutos
divinos. Conservai-a tal como
o Cristo vo-la entregou: não
a mutileis; ela quer estender
a sua sombra imensa sobre o
Universo: não lhe corteis os
galhos. Seus frutos benfazejos
caem abundantes para alimentar
o viajor faminto que deseja
chegar ao termo da jornada; não
amontoeis esses frutos, para
os armazenar e deixar
apodrecer, a fim de que a
ninguém sirvam. "Muitos
são os chamados e poucos os
escolhidos." É que há açambarcadores
do pão da vida, como os há
do pão material. Não sejais
do número deles; a árvore
que dá bons frutos tem que os
dar para todos. Ide, pois,
procurar os que estão
famintos; levai-os para
debaixo da fronde da árvore e
partilhai com eles do abrigo
que ela oferece. – "Não
se colhem uvas nos
espinheiros." Meus irmãos,
afastai-vos dos que vos chamam
para vos apresentar as sarças
do caminho, segui os que vos
conduzem à sombra da árvore
da vida.
O
divino Salvador, o justo por
excelência, disse, e suas
palavras não passarão:
"Nem todos os que dizem:
Senhor! Senhor! entrarão no
reino dos céus; entrarão
somente os que fazem a vontade
de meu Pai que está nos céus."
Que
o Senhor de bênçãos vos
abençoe; que o Deus de luz
vos ilumine; que a árvore da
vida vos ofereça
abundantemente seus frutos!
Crede e orai.
– Simeão. (Bordéus,
1863) (4)
Por essas e outras razões,
é que a cada dia mais me
certifico da excelência da
Doutrina Espírita, pois, em
tudo que nos ensina,
solicita-nos raciocinar para não
nos deixar arrastar por
teorias infundadas e ilógicas,
que não levem em conta as lições
ministradas por Jesus e
contidas
em seu Evangelho
de Luz ao nosso inteiro
dispor, e esclarece-nos por
fim que: “Fé
inabalável só o é a que
pode encarar frente a frente a
razão, em todas as épocas da
Humanidade”.
Bibliografia:
1)
Kardec Allan, O
Evangelho segundo o
Espiritismo, FEB, 112 edição,
Cap. X, item 5.
2) Op. cit., Cap. XI, itens 1 e 2.
3) Op. cit. Cap. XV, itens 8 e 9.
4) Op. cit., Cap. XVIII, item 16.