RENATO
COSTA
rsncosta@terra.com.br
Rio
de Janeiro, RJ (Brasil)
Adão
e Eva
A História de Adão e
Eva é real?
- Vejamos, inicialmente, o que diz
a Gênese
bíblica, começando pela fala
de Caim, após ser repreendido
pelo Senhor devido ao fratricídio
cometido.
4, 14. ... O primeiro que me encontrar matar-me-á.
15. ... O Senhor pôs em Caim um
sinal, para que, se alguém o
encontrasse, não o matasse. 16.
Caim ... foi habitar na região de
Nod, no oriente do Éden. 17. Caim
conheceu sua mulher. Ela ... deu
à luz Henoc. E construiu uma
cidade...
Por qual motivo teria Caim receio de que o matassem
longe do Éden se, além dele,
somente Adão e Eva habitavam a
Terra? A única alternativa capaz
de sustentar a hipótese de Adão
e Eva terem sido o primeiro casal
humano é supor que eles tivessem
tido muitos outros filhos e que,
por razão desconhecida, estes
tivessem mudado anteriormente para
as distantes regiões para onde
Caim estava indo. A propósito,
tal hipótese é utilizada por
alguns irmãos de outras crenças
na tentativa de justificar
interpretações literais da Bíblia.
O que torna frágil tal suposição,
a nosso ver, é a total ausência
de menção na Gênese a outros
filhos que não os conhecidos.
Ora, se tais supostos filhos
tivessem sido agradáveis a Deus
ou, pelo contrário, o tivessem
desagradado, o motivo para sua
mudança para longe do Éden
constaria obrigatoriamente no
relato bíblico, o que,
definitivamente, não é o caso.
Essa ausência de registro bíblico poderia ser
justificada dizendo-se que se deve
tal fato a terem sido tais irmãos
iniciadores de outras raças,
sendo, portanto, sem importância
para a tradição judaica. Uma
leitura atenta do relato, no
entanto, permite-nos facilmente
contestar tal justificativa. Mesmo
que a tradição omitisse o
destino de outros filhos de Adão
e Eva, jamais colocaria na boca do
Senhor palavras sem sentido. No
entanto, quando Caim demonstra
preocupação em ser morto pelo
“primeiro que me encontrar”,
provando não saber quem poderia
fazê-lo, o Senhor lhe assegura
que ele não seria morto por
“quem o encontrasse”. É
evidente, tanto na fala de Caim
quanto na resposta do Senhor, que
Caim poderia encontrar, nas terras
para onde ia, alguém que lhe era
estranho, o que descarta a hipótese
de que tal pudesse vir a ser um
irmão seu.
Não bastasse o raciocínio acima, o texto fornece
outra informação interessante
que nos corrobora a interpretação.
Diz o relato que Caim construiu
uma cidade para morar com esposa e
filho. Ora, se fosse para morar
apenas com a mulher e o filho
bastaria ter levantado uma casa.
Se Caim construiu uma cidade é
porque, na região para onde foi,
existiam muitas pessoas e, por ser
ele, dentre todos, o mais evoluído,
tornou-se o líder que os levou a
se organizar de forma civilizada.
A
Raça Adâmica e o Advento da
Civilização -
Em O
Livro
dos Espíritos, somos
informados:
50. A
espécie
humana começou por um único
homem?
“Não; aquele a quem chamais Adão não foi o
primeiro, nem o único a povoar a
Terra.”
51.
Poderemos saber em que época
viveu Adão?
“Mais
ou menos na que lhe assinais:
cerca de 4.000 anos antes do
Cristo.”
Sabemos
do ensino dos Espíritos que, no
plano espiritual, não se percebe
a passagem do tempo da mesma forma
que se dá com nós, encarnados.
Ora, o estágio atual das
pesquisas arqueológicas confirma
que a civilização surgiu
aproximadamente naquela época.
Assim sendo, se entendermos Adão
e Eva como uma figura mítica,
eles bem podem representar o
aparecimento das primeiras
civilizações em nosso planeta.
O
Item 38, do Capítulo XI de A
Gênese, trata da Raça Adâmica
e aponta na mesma direção que
essa nossa interpretação. Diz aí
o Codificador:
“38.
– De acordo com o ensino dos Espíritos,
foi uma dessas grandes imigrações,
ou, se quiserem uma dessas colônias
de Espíritos, vinda de outra
esfera, que deu origem à raça
simbolizada na pessoa de Adão e,
por essa razão mesma, chamada raça
adâmica. Quando ela aqui chegou,
a Terra já estava povoada desde
tempos imemoriais, como a América,
quando aí chegaram os
europeus.”
“Mais
adiantada do que as que a tinham
precedido neste planeta, a raça
adâmica é, com efeito, a mais
inteligente, a que impele ao
progresso todas as outras. A Gênese
no-la mostra, desde os seus primórdios,
industriosa, apta às artes e às
ciências, sem haver passado aqui
pela infância espiritual...”
Na
seqüência, poderemos ver que
Kardec interpreta Adão como uma
alegoria a representar a chegada
ao nosso orbe de uma colônia de
Espíritos advindos de um mundo
então mais evoluído, tendo sido
eles que alavancaram a construção
de cidades, o cultivo da terra, o
fabrico dos metais e o progresso
nas artes e nas ciências,
conquistas que, em suma, definem o
aquilo que entendemos como
Civilização.
A partir do Item 43, do mesmo capítulo de A
Gênese, Kardec trata da
“Doutrina dos Anjos Caídos e da
Perda do Paraíso”.
“...
Logo que um mundo tem chegado a um
de seus períodos de transformação,
a fim de ascender na hierarquia
dos mundos, operam-se mutações
na sua população encarnada e
desencarnada. É quando se dão as
grandes emigrações e imigrações.
Os que, apesar da sua inteligência
e do seu saber, perseveraram no
mal, sempre revoltados contra Deus
e suas leis, se tornariam daí em
diante um embaraço ao ulterior
progresso moral, uma causa
permanente de perturbação para a
tranqüilidade e a felicidade dos
bons, pelo que são excluídos da
humanidade a que até então
pertenceram e tangidos para mundos
menos adiantados, onde aplicarão
a inteligência e a intuição dos
conhecimentos que adquiriram ao
progresso daqueles entre os quais
passam a viver, ao mesmo tempo em
que expiarão, por uma série de
existências penosas e por meio de
árduo trabalho, suas passadas
faltas e seu voluntário
endurecimento.”
A explicação de Kardec é clara, dispensando, a
nosso ver, maiores
esclarecimentos.
A
Entrada no Reino Hominal - Analisando o Mito do Paraíso
Perdido, vemos que a árvore da ciência
do bem e do mal tem um significado
evidente. O que é saber o que é
certo e o que é errado senão a
aquisição de uma consciência
madura? Tentemos interpretar a
mensagem por trás do mito.
|
As almas que animavam os humanóides viviam no Éden
da ingenuidade. Não tendo ainda
adquirido a consciência madura,
isto é, sendo incapazes de
discernir entre o certo e o
errado, não eram responsáveis
pelos seus atos, não sendo,
portanto, submetidas a expiações.
Quando essas almas provaram do
fruto da árvore da ciência do
bem e do mal, isto é, quando sua
consciência tornou-se madura e se
tornaram Espíritos, elas foram
expulsas do Éden da ingenuidade e
passaram a comer “o pão com o
suor do seu rosto”, isto é,
tornaram-se responsáveis pelos
seus atos, submetendo-se, a partir
de então, à Lei da Causalidade.
Entendemos ser nossa leitura do mito plenamente
conciliável com o que nos ensina
a Codificação. Afinal, como
dissemos, a informação que se
depreende do acima citado Item 38,
de A Gênese, é que a colônia de Espíritos representada pelo mito de
Adão e Eva teria sido responsável
pelo advento daquilo que chamamos
de Civilização.
Uma consulta à obra de Carlos Torres Pastorino, A
Sabedoria do Evangelho, vem
confirmar nossa interpretação e
encerrar o nosso breve estudo.
Comentando sobre a genealogia de
Jesus, conforme apresentada no
Evangelho de Lucas, diz o erudito
professor:
“Passemos a Lucas. Dá-nos ele 76 gerações, de Adão
a Heli. Recordemos que a palavra
Adão (
em hebraico ADAM
) tem simplesmente o sentido do
substantivo comum HOMEM. Não é
nome próprio.
“Então,
diz-nos Lucas que, assim que a
criatura sai do reino-animal para
o reino-hominal, atingindo a fase
humana (adâmica), ...”
Bibliografia:
KARDEC, Allan. A
Gênese, os Milagres e as Predições
segundo o Espiritismo. 36 Ed.
FEB, Rio de Janeiro, 1995.
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 76 Ed.
FEB, Rio de Janeiro, 1995.
PASTORINO, Carlos Torres. A Sabedoria do Evangelho. Vol. I. Sabedoria, 1967.
Bíblia
Sagrada.
Tradução dos originais mediante
a versão dos Monges de Mardesous
pelo Centro Bíblico Católico.
112 Ed.. São Paulo, 1997.