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Crônicas
e Artigos |
Ano
1 - N° 46 - 9 de Março
de 2008 |
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WELLINGTON
BALBO
wellington_plasvipel@terra.com.br
Bauru,
São Paulo (Brasil)
Kardec
e o esquecimento temporário
Corria
o ano de 2007, e aquela mulher
ainda vivia no ano de 1967, época
em que o marido a deixara para
viver com outra. O ex-marido
se casou, teve filhos, e ela
lamentavelmente vivia 40 anos
atrás, pensando no que fizera
de errado para perder o
“amor de sua vida”.
Desde
então, foram tempos de
tristeza. Não se casou, não
mais namorou, e sequer fez
novos amigos, tudo porque
preferia ficar se machucando
com um passado que deveria ser
esquecido.
Ao
tomar conhecimento dessa história
compreendemos as razões do
esquecimento temporário que
experimentamos ao
reencarnarmos para as lides
terrenas, sendo esse
esquecimento um presente que a
Providência Divina nos
concede. Imagine o que
ocorreria com a mulher da história
acima se tivesse o
conhecimento de todo seu
passado?
Kardec
não deixou passar
despercebida a questão
envolvendo o Esquecimento
Temporário, e abordou o
assunto com os sábios da
espiritualidade
em O
Livro
dos Espíritos:
P
(392) – Por que o Espírito
encarnado perde a lembrança
de seu passado?
R
– O homem não pode nem deve
saber tudo. Deus em Sua
sabedoria quer assim. Sem o véu
que lhe encobre certas coisas,
o homem ficaria deslumbrado,
como aquele que passa sem
transição do escuro para a
luz. O esquecimento do passado
o faz sentir-se mais senhor de
si.
Resposta
esclarecedora!
Com
sangue novo, ou melhor, novo
corpo, recomeçar sem as
sombras do passado e as
artimanhas do remorso, que
muitas vezes nos fizeram cair,
é benéfico, porquanto, entre
tantas circunstâncias que se
apresentam, o esquecimento
temporário dos fatos não
tolhe nossa iniciativa,
principalmente no campo do Bem
ou na reconstrução da própria
vida. Ou seja, estamos, de
certa forma, momentaneamente
livres para escolher novos
caminhos, sem culpa ou olhares
de reprovação que nos embaraçam.
E
esses olhares de reprovação
e comentários maldosos
presenciamos sempre que alguém
procura modificar suas disposições
íntimas, em exclamações do
tipo:
–
Nossa, mas ainda outro dia
deleitava-se com o vício e
agora pensa que é santo!
Quanta hipocrisia!
É
a velha tendência humana de
se prender ao passado, sem se
atentar que as pessoas podem
modificar suas disposições.
Mas
complicado mesmo é quando a
culpa começa a senhorear
nossa vida. Com freqüência
encontramos criaturas com
doridas marcas provocadas pela
culpa, e que não conseguem
tomar iniciativas de reconstrução
porque querem se autopunir,
considerando que a autopunição
quita os débitos perante a própria
consciência. Nada disso! O
melhor caminho é trabalhar e
servir para apaziguar a consciência
em chamas pelos equívocos
cometidos.
Outra
situação que comprova o
benefício desse esquecimento
temporário é o
relacionamento dentro do lar.
Não raro guarda-se a sete
chaves, como um trunfo, uma
suposta ofensa feita por um
familiar, e espera-se apenas o
momento oportuno para sacar a
língua e dizer:
–
Ah, mas não me esqueço
daquele dia que você fez
isso, aquilo e aquilo outro.
É
curioso notar que são situações
já ultrapassadas há meses,
quando não anos. Sim, são
situações ultrapassadas, mas
não superadas pela velha
imaturidade humana. Se não
conseguimos por hora
equacionar emoções
vivenciadas nesta existência,
imagine o que ocorreria se tivéssemos
conhecimento de fatos
ocorridos há milênios, e que
foram motivos de muitas lágrimas
por parte de todos os
envolvidos. Se isso ocorresse,
certamente nos perderíamos
embaralhados em um turbilhão
de emoções e sentimentos.
Porém,
Deus é a sabedoria suprema,
conhece nossas virtudes e
limitações, e nos oferta o
esquecimento temporário como
sublime oportunidade de recomeço
para que aprendamos a viver a
existência atual como a de
maior importância em nossa
jornada, porquanto, o passado
já se foi, o futuro virá, e
o presente é para ser
trabalhado, visando nosso
progresso como Espíritos
em evolução. Prender-se
ao passado doloroso ou não,
dessa ou de outra existência,
para quê? Para nos
aborrecermos, desanimarmos ou
nos envaidecermos em demasia
por essa ou aquela posição
que ocupamos no mundo? O
melhor é privilegiar o
presente, pois é ele que
oferta nossas maiores
possibilidades de felicidade,
aqui ou acolá, nesta e em
futura existência.
Pensemos
nisso.
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