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Crônicas e Artigos
Ano 1 - N° 47 - 16 de Março de 2008

CHRISTINA NUNES 
cfqsda@yahoo.com.br

Rio de Janeiro, RJ (Brasil)

Aborto

Não ouso abordar aqui as facetas melindrosas dessa situação gravíssima. Não quero deter-me nos casos extremos decorrentes da violência sexual, ou dos inúmeros aspectos da gravidez de risco. Estas linhas tão somente sugerem reflexão aos episódios das gestações de perfil comum - decorrentes do relacionamento sexual consciente e voluntário entre homens e mulheres saudáveis e lúcidos!

Acabo de assistir a um trecho de vídeo que me aniquilou; são imagens cruas, brutais, de cenas de aborto – exclusivamente da ótica do feto! Melhor dizendo: da criança, um pouco menorzinha do que naquele instante em que enfim vem ter à luz! Da criança que – sim! – é já um pequeno bonequinho irrequieto e cheio de vida com pouquíssimas semanas no útero: íntegro, com mãozinhas e pés, se agitando no espaço uterino de um lado para outro - os ultrassons de última geração não nos deixam mentir!

Sim, caríssimos, imagens dos momentos ignóbeis do assassinato de alguns daqueles nenenzinhos angelicais, que são crianças vivas, e – mais que tudo! – seres humanos indefesos e completamente dependentes de quem os nutrem e geram na intimidade de seu útero, bem como daqueles que se responsabilizarão pela tarefa sagrada de auxílio na hora de trazê-los ao mundo quando do uso dos métodos cirúrgicos.

Não consegui ver o pps. até o fim. Talvez tenha sido o que de mais hediondo já presenciei durante a vida, e não ouso aqui, mesmo por respeito à sensibilidade alheia, mesmo por contrição para com as vitimazinhas inocentes destas atrocidades bárbaras perpretadas justo por aqueles de quem se esperaria ao menos reverência pelas suas vidas aniquiladas tão selvagemente – vidas, em iguais condições de expressão em cada organismo, e em cada coração humano – não ouso descrever algo das imagens de uma crueldade intraduzível!

O ensejo do texto, pois, é de apelo à reflexão e à conscientização, amigos, de que não detemos o direito autoral sobre a vida na face da Terra, em decorrência do que não temos também o direito de subtraí-la de quem quer que seja! Principalmente dos serezinhos gerados na intimidade do nosso corpo na mais fática manifestação de vida a partir da vida segundo as deliberações sagradas de algo muito maior do que nós: o Criador!

Há o engano incompreensível, e talvez derivado do vício escabroso de só se crer no que se vê – de se considerar que a criança só existe a partir do momento em que deixa o ventre materno. E a pergunta sem resposta é como que mães – mães, que interagem facilmente com o serzinho ativo em suas entranhas logo a partir dos primeiros movimentos sentidos nas primeiras semanas – podem conceber tão equivocadamente o fenômeno sem paralelos que eclode e se nutre a partir de si mesmas: um indivíduo pequenino e indefeso que, literalmente, se nutre e se desenvolve de sua própria nutrição, defesas, energias emocionais e psicológicas – numa palavra, a partir de suas vidas?!

Perguntem-se, caros, o óbvio: qual a sensação, o paroxismo de terror que experimentariam se, amarrados repentinamente num local escuro, sem acesso externo, sem a mínima compreensão do que existe e do que se dá cá fora, fossem de abrupto arrebatados por facadas que lhes esquartejassem os membros todos em retalhos, ou se vissem vítimas indefesas de insólito banho de produto violento e corrosivo que em questão de segundos lhes derretesse até a intimidade de todas as entranhas?!

Qual seria a palavra adequada para a descrição da dor, do desespero impotente, da desorientação dolorosa do se ser vítima de uma covardia sem qualificação possível?! Pois é esta, a mesma dor desesperada, meus amigos, que experimenta o serzinho indefeso na hora do ato bárbaro que lhe extermina a vida iniciante por nenhuma razão outra que não seja a mistura tétrica do nosso egoísmo com a ignorância lastimável das conseqüências de ordem moral e espiritual para tal atentado contra a sacralidade da vida!

Tantas alternativas viáveis! Há países que contam com a adoção prévia para crianças cujas mães se reconhecem incapacitadas, por inúmeras razões, para a criação de seus filhos. Tantas famílias que as acolheriam com amor; tantas instituições idôneas de mãos estendidas para a solução a contento!

Tantos dispostos a ofertar, gratuitamente, amor!...

Caros... como bem já citava Pietro Ubaldi, O mundo ainda é um inferno porque vós sois monstros; no dia em que fordes anjos, o mundo será o paraíso!

Enquanto as barbáries originadas neste mais espúrio estado de inconsciência para com o valor da vida humana prosseguirem sendo perpretadas diante da nossa omissão conivente, o mundo não logrará sequer o devido merecimento para a concretização de todos os nossos melhores projetos entressonhados de coexistência harmônica e de cidadania, tanto no âmbito do nosso próprio país, quanto mais para com os outros povos da Terra e, por extensão, do Universo!

A maior lição de amor é aprendida primeiro a partir da célula familiar mais querida, e no templo sagrado dos recessos de nossa consciência.

Por enquanto, esta flor ainda é estiolada...

Com a alma cheia de pesar.
 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita