Gerson
Simões Monteiro:
“A
causa da criminalidade
está na falta de
Cristo”
Gerson
Simões Monteiro,
radialista, articulista e
ativo trabalhador na
divulgação da Doutrina
Espírita, possui um
extenso currículo de
atividades desenvolvidas
no movimento espírita.
Nascido no Rio de Janeiro
(RJ), onde vive, é
presidente da Fundação
Cristã-Espírita Cultural
Paulo de Tarso, operadora
da Rádio Rio de Janeiro.
Graduado em Economia,
Gerson tornou-se espírita
aos 16 anos de idade, por
influência de um tio
materno, e sua família
reagiu diante disso de
forma natural, sem reações
contrárias ao seu
ingresso nas hostes espíritas.
Gerson participou de eventos nacionais e
internacionais
importantes, ligados ao
Espiritismo, como
o 1o
e o 2o
Congresso
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Espírita Mundial, respectivamente em Brasília
(1995) e Lisboa
(1998), e o 1o
Congresso
Espírita
Brasileiro em
Salvador (2002).
Em todos,
apresentou
propostas
doutrinárias. Na
União das
Sociedades
Espíritas do
Estado do Rio de
Janeiro (USEERJ)
foi relator de
documentos e na
qualidade de
presidente da
USEERJ esteve à
frente da
organização e
implantação do
Sistema
Federativo
Espírita de
Unificação do
Estado do Rio de
Janeiro, tomando
iniciativas
decisivas para a
fusão da USEERJ
com a FEERJ.
Naquela
oportunidade,
coordenou a
realização dos
Cinedebates, uma
atividade
pioneira de
exibição de
filmes renomados
com temática
espírita em
cinemas
tradicionais do
Rio de Janeiro.
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Para
ele, o movimento espírita
tem empregado todos os
esforços possíveis para
ser atuante na vida
nacional, mas se ressente
da falta de recursos para
a realização de um
trabalho maior. Esse é um
dos fatores que impedem um
maior avanço, que ele
exemplifica citando a
manutenção da Rádio Rio
de Janeiro, que luta há
36 anos com dificuldades
para permanecer no ar,
embora seja uma das duas
únicas emissoras espíritas
de rádio no País.
A
seguir, a entrevista que
ele nos concedeu:
O
Consolador: Que
cargos ou funções você
já exerceu no movimento
espírita ao longo desta
vida?
Gerson
Simões Monteiro: Inicialmente fui secretário da Mocidade
Espírita Dias da Cruz e
evangelizador da Escola
Espírita Célia Lúcius,
da Casa Espírita Dias da
Cruz, em Juiz de Fora. No
Rio de Janeiro, participei
da Mocidade Espírita do
Centro Espírita Joaquim
Murtinho, e presidi a
Mocidade Espírita
Emmanuel, da Associação
Cristã-Espírita Bezerra
de Menezes,
em Vaz Lobo.
Posteriormente
, integrei a diretoria
dessa Associação,
participando de suas
atividades assistenciais.
Desempenhei os cargos de
secretário e
vice-presidente do Centro
Espírita Discípulos de
Allan Kardec, no Lins de
Vasconcelos. Também
colaborei, de
1962 a
1972, na Escola Espírita
que funcionava no Presídio
da Rua Frei Caneca, sob a
coordenação do
Departamento de Assistência
ao Presidiário da
Instituição Espírita Amélie
Boudet, proferindo
palestras para os presidiários.
Também realizei palestras
em diversos Centros Espíritas
do Estado do Rio.
Na televisão, participei na condição
de entrevistado, pela
primeira vez, no programa
da Televisão Sociedade de
Juiz de Fora, apresentado
por Custódio Beiral.
Posteriormente, participei
em programas da TV Rio, da
TV Tupi (1978), da TVE
(programa “Sem
Censura”), da TV
Manchete (programa O
Grande Júri, defendendo a
tese da imortalidade da
alma com um psicólogo
materialista), da TV
Record, do SBT (no extinto
Programa Livre, debatendo
com o Padre Quevedo sobre
materializações de espíritos)
e da TV Globo (programas
Fantástico, opinando
sobre cirurgias
espirituais, e Linha
Direta, emitindo um
depoimento sobre o médium
Zé Arigó). Na TV Globo,
participei ainda do
Programa Ecumênico, sob a
responsabilidade da Federação
Espírita Brasileira,
apresentando crônicas
sobre temas espíritas, no
período de
1997 a
2003. Fui entrevistado em
diversas rádios sobre
assuntos ligados ao
Espiritismo, e participei
do programa Revista
Nacional, da Rádio
Nacional, de julho de
1988 a
fevereiro de 1989. Fui
articulista do jornal Última
Hora, assinando a
Coluna
"Espiritismo" de
1978 a
1982.
Por volta de 1973, organizei a Caravana
do Ibraim, que leva sempre
no dia 25 de dezembro doações
de frutas e objetos de
higiene pessoal, feitas
por diversos confrades,
para os pacientes da Colônia
de Curupaiti, destinada ao
tratamento da hanseníase.
Colaborei ainda nos
seguintes grupos espíritas
que funcionavam em
hospitais para o
tratamento da tuberculose:
Clemente Ferreira, no
Caju, e Rafael de Souza,
em Curicica. Fui
vice-presidente do Grupo
Espírita Dias da Cruz, de
Caratinga, Minas Gerais,
sendo o responsável pela
direção dos trabalhos de
materialização para
assistência aos enfermos,
com a desencarnação do
confrade Ramiro Viana,
conforme orientação de
Chico Xavier.
O Consolador: Que atividades você exerce no momento?
Gerson: Exerço
o cargo de presidente da
Fundação Cristã-Espírita
Cultural Paulo de Tarso,
operadora da Rádio Rio de
Janeiro, desde abril de
2003, e apresento os
programas Debate na Rio,
Clube da Fraternidade e
Entrevista. Presido também
desde outubro de 1956 o
Grupo Espírita Maria de
Nazaré, que funciona nas
dependências do Hospital
Estadual Santa Maria, para
tratamento da tuberculose.
Escrevo semanalmente, aos
domingos, a coluna Em Nome de Deus, sobre temas espíritas, no jornal EXTRA, com grande
circulação. Coordeno as
reuniões de Desobsessão
e de Estudos e Assistência
Espiritual do Centro Espírita
Augusto Paiva. Presido o
Conselho do Abrigo Tereza
de Jesus para amparo de
crianças carentes. E, por
fim, também presido o
Conselho Fiscal do Lar Anália
Franco para amparo da
criança carente e
integro, na condição de
ator convidado, o Grupo
Teatral Mensageiros, que
colabora financeiramente
com a Rádio Rio de
Janeiro, participando das
peças Paulo e Estêvão,
Há Dois Mil Anos, O Céu
e o Inferno, Cinqüenta
Anos Depois e Ave Cristo.
O Consolador: Quando e como teve contato com o Espiritismo a
primeira vez?
Gerson: Ingressei
em 1952, aos 16 anos de
idade, na Mocidade Espírita
Dias da Cruz, da Casa Espírita
de mesmo nome, em Juiz de
Fora (MG), ao ler um
exemplar de O
Evangelho segundo o
Espiritismo. O
exemplar pertencia ao meu
irmão Yvoart, que chegou
a freqüentar a Mocidade
da qual fazia parte um dos
meus tios, Joaquim Simões
da Silva. Nessa
oportunidade, assisti às
reuniões de estudos
doutrinários na Casa Espírita
e no Centro Humildade e
Caridade, além de
participar da Campanha do
Quilo promovida pela Aliança
Municipal Espírita de
Juiz de Fora. Voltando
para o Rio de Janeiro,
freqüentei as bibliotecas
da FEB, na Avenida Passos,
e do Real Gabinete Português
de Leitura, nas quais pude
ler muitas obras espíritas.
As primeiras obras lidas e
que contribuíram para o
meu despertar espiritual
foram Nosso Lar e Paulo e
Estêvão.
O Consolador: Na sua opinião, qual dos três aspectos do
Espiritismo – científico,
filosófico e religioso
– mais o atrai?
Gerson: O filosófico,
sem tirar a importância
do aspecto religioso e do
científico.
O Consolador: Quais autores espíritas mais lhe agradam?
Gerson: Como
autores encarnados, Allan
Kardec, Deolindo Amorim, Léon
Denis, Bezerra de Menezes
e Yvonne Pereira; e entre
os desencarnados, Humberto
de Campos, Emmanuel e André
Luiz.
O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura
indispensável àqueles
que se iniciam no
Espiritismo?
Gerson: O Livro
dos Espíritos e O
Evangelho segundo o
Espiritismo, de Allan
Kardec; Boa Nova, do Espírito
Humberto de Campos, e
Nosso Lar, do Espírito
André Luiz, ambos
psicografados por
Francisco Cândido Xavier.
O Consolador: Se fosse para um local distante, sem acesso às
atividades e trabalhos espíritas,
que livros você levaria?
Gerson: O Livro
dos Espíritos e O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio
reduzem-se a poucos
assuntos. Um deles diz
respeito ao chamado
Espiritismo laico. Para
você, o Espiritismo é
uma religião?
Gerson: Penso
que o Espiritismo,
enquanto Ciência, estuda
e pesquisa os fenômenos
espíritas como fatos
naturais e universais
perfeitamente observáveis,
bem como prova que os Espíritos
existem e são imortais,
sendo eterna a vida.
Enquanto Filosofia
compreende todas as conseqüências
morais que emanam da
interpretação dos fatos
naturais e universais,
permitindo ao Homem
chegar, através da reflexão
e da razão, à verdade a
respeito de si, conforme
alguns lexicólogos, e
mesmo da Vida, do Mundo e
de Deus. Já enquanto
Religião compreende os
deveres do Homem para com
Deus, não admite liturgia
ou culto exterior, prega a
fé raciocinada e repousa
sobre as bases
fundamentais da crença
religiosa: Deus, a alma e
a vida futura. O
pensamento do benfeitor
espiritual Emmanuel, na
questão 260 de “O
Consolador”, livro
psicografado pelo médium
Chico Xavier, é muito
claro: “Religião é o
sentimento divino, cujas
exteriorizações são
sempre o Amor, nas expressões
mais sublimes. Enquanto a
Ciência e a Filosofia
operam o trabalho da
experimentação e do
raciocínio, a religião
edifica e ilumina os
sentimentos. As primeiras
se irmanam na sabedoria, a
segunda personifica o
amor, as duas asas divinas
com que a alma humana
penetrará, um dia, nos pórticos
sagrados da
espiritualidade”.
O Consolador: Outro tema que suscita geralmente grandes debates diz
respeito à obra publicada
na França por J. B.
Roustaing. Que você pensa
sobre essa obra?
Gerson: Como
sempre me preocupei em
estudar as obras da
Codificação do
Espiritismo, e acreditar
que o antídoto a qualquer
interpretação
antidoutrinária estaria
nela própria, acredito
que o próprio tempo se
encarregará de esclarecer
a verdade dos fatos.
O Consolador: Que você pensa sobre os passes padronizados,
propostos na obra de
Edgard Armond?
Gerson: No
livro publicado pelo
antigo Conselho Estadual
Espírita do Estado do Rio
de Janeiro, da USEERJ, O
Passe e a Água
Fluidificada, o Movimento
Espírita do Estado, com
base nas obras da Codificação
Espírita, deu a devida
orientação sobre o tema,
cuja obra tive o prazer
apresentar na condição
de presidente dessa
federativa.
O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? Os
espíritas deveriam ser
mais ousados na defesa da
vida como tem feito a
Igreja?
Gerson: De
minha parte, tenho
defendido a vida de forma
intransigente desde 1978,
quando já escrevia no
jornal Última Hora, e
atualmente através do
jornal EXTRA (com mais de
um milhão de leitores aos
domingos) e de toda a
programação da Rádio
Rio de Janeiro, em
especial no programa
Debate na Rio, que
coordeno. Considero que o
Movimento Espírita não
tem se omitido na defesa
de suas posições sobre o
assunto, desde quando
participava das reuniões
do Conselho Federativo
Nacional da FEB, na
qualidade de presidente da
USEERJ, até o presente
momento.
O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não
tem o apoio da Doutrina
Espírita. Kardec e outros
autores, como Joanna de Ângelis,
já se posicionaram sobre
esse tema. Surgiu, no
entanto, ultimamente a idéia
da ortotanásia, defendida
até mesmo por médicos
espíritas. Qual é sua
opinião a respeito?
Gerson: Sobre a
ortotanásia, minha opinião
é totalmente afinizada
com a da Doutrina Espírita.
Assim sendo, contesto a
resolução do Conselho
Federal de Medicina, de 9
de novembro de 2006, que
autoriza o médico a
limitar ou suspender
procedimentos e
tratamentos que prolonguem
a vida do doente em fase
terminal de enfermidades
graves e incuráveis,
medida esta denominada
como ortotanásia. Em
princípio, os espíritas
não são e não podem ser
favoráveis à prática da
ortotanásia ou eutanásia
passiva, porque ela
afronta o direito à vida
garantido pela nossa
Constituição.
Por isso, com base nesse fundamento constitucional, a prática da
ortotanásia configura-se
como um homicídio, cuja
penalidade está prevista
no artigo 21 e parágrafos
da Lei Penal. Por outro
lado, quem pode adivinhar
os desígnios de Deus?
Neste sentido, lembro o
caso notório da jovem
Karen Ann Quilan, que
emocionou o mundo inteiro
na década de 80. Os pais
da referida jovem, ante a
iminência e
inevitabilidade de sua
morte, prognosticada pelos
médicos, haviam pedido à
justiça americana
autorização para
desligar os aparelhos que
lhe mantinham
artificialmente a vida. O
processo durou muitos e
longos meses. Finalmente,
foi concedida a pretendida
autorização, e os
aparelhos foram
desligados. No entanto,
mesmo sem a ajuda dos
aparelhos, Karen continuou
a viver por mais dez anos,
contrariando frontalmente
o prognóstico da
Medicina. Assim sendo,
pergunto: se os referidos
aparelhos tivessem
continuado ligados, ela não
se teria recuperado
plenamente? A morte é
fatal, como sabemos; por
que então apressá-la,
contrariando as leis
naturais?
O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência
que parece aumentar em
todo o País? Na sua opinião,
como nós, espíritas,
podemos cooperar para que
essa situação seja
revertida?
Gerson: Diante
da criminalidade e da violência,
creio que a causa está na
falta de Cristo. Em outras
palavras, está faltando
orientação espiritual
para as crianças e para
os jovens. Orientação
que possa despertar neles
o amor ao próximo, a
necessidade de perdoar, o
amor a Deus, enfim, a vivência
dos ensinamentos cristãos.
A meu ver, o primeiro
passo para acabarmos com
tanta violência é
despertar, na criança e
no jovem, o sentimento de
religiosidade. E isso
consiste no
desenvolvimento em suas
almas da fé em Deus, no
cultivo do hábito de
orar, no respeito ao próprio
corpo para evitar os vícios
e habituá-los a
praticarem a caridade.
Quantos pais se preocupam
em preparar os filhos para
a vida, fazendo de tudo
para eles terem corpos
“sarados" e
receberem a melhor instrução?
Tudo isso está certo, mas
não basta, porque eles,
antes de tudo, são espíritos
imortais habitando
temporariamente corpos físicos.
Eles, além de
necessitarem dos cuidados
materiais, precisam de
fato de educação. A
educação a que me refiro
não é sinônima de
instrução, mas sim a
responsável pela formação
de hábitos perante Deus,
perante o próximo e
perante si mesmo. Dessa
forma, estaremos criando
homens de bem, conforme o
perfil traçado por Allan
Kardec na questão 918 de “O Livro dos Espíritos”.
O Consolador: Daqui a quantos anos você acredita que a Terra
deixará de ser um mundo
de provas e expiações,
passando plenamente à
condição de um mundo de
regeneração, em que,
segundo Santo Agostinho, a
palavra amor estará
escrita em todas as
frontes e uma eqüidade
perfeita regulará as relações
sociais?
Gerson: Está
claro que falta muito; é
só assistirmos os jornais
televisivos a respeito das
notícias do mundo em que
vivemos. Mas, como cremos
nas palavras do Cristo, ao
dizer que "os brandos
e pacíficos herdarão a
Terra" no célebre
Sermão da Montanha,
estamos trabalhando para
tal advento, fazendo a
nossa parte para sermos
candidatos a viver neste
mundo.
O Consolador: Quanto aos problemas que a sociedade terrena está
enfrentando, o que você
acha que deve ser a
prioridade máxima dos que
dirigem atualmente o
movimento espírita no
Brasil e no mundo?
Gerson: A
prioridade escolhida deve
ser a da máxima divulgação
da Doutrina Espírita,
através de uma literatura
de mais fácil
entendimento voltada ao
grande público,
desentranhando o
pensamento da Codificação
Kardequiana. A literatura
doutrinária, de certa
forma, direcionou-se
historicamente para os espíritas
de bom nível cultural,
fato atestado através de
pesquisas realizadas
atualmente por institutos
oficiais. Com tal propósito,
publiquei três livros:
“Suicídio e Suas Conseqüências”,
“Entusiasmo para
Viver” e “O Que Ensina
o Espiritismo”, todos
com base nos artigos que
escrevi para os jornais Última
Hora e EXTRA, nos quais
procuro adequar os
ensinamentos doutrinários
para pessoas situadas na
faixa sociocultural das
classes C e D, de forma
simples e objetiva. Na
mesma linha editorial, já
estou preparando outras três
obras: “Aprender Mais
com o Espiritismo”,
“Vultos que Marcaram o
Tempo” e “Nunca Perca
a Esperança”. |