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Entrevista
Ano 1 - N° 47 - 16 de Março de 2008

FERNANDA BORGES
fernanda@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)

Gerson Simões Monteiro:

“A causa da criminalidade
está na falta de Cristo”

Gerson Simões Monteiro, radialista, articulista e ativo trabalhador na divulgação da Doutrina Espírita, possui um extenso currículo de atividades desenvolvidas no movimento espírita. Nascido no Rio de Janeiro (RJ), onde vive, é presidente da Fundação Cristã-Espírita Cultural Paulo de Tarso, operadora da Rádio Rio de Janeiro. Graduado em Economia, Gerson tornou-se espírita aos 16 anos de idade, por influência de um tio materno, e sua família reagiu diante disso de forma natural, sem reações contrárias ao seu ingresso nas hostes espíritas.

Gerson participou de eventos nacionais e internacionais importantes, ligados ao Espiritismo,  como  o 1o e o 2o Congresso

Espírita Mundial, respectivamente em Brasília (1995) e Lisboa (1998), e o 1o Congresso Espírita Brasileiro em Salvador (2002). Em todos, apresentou propostas doutrinárias. Na União das Sociedades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (USEERJ) foi relator de documentos e na qualidade de presidente da USEERJ esteve à frente da organização e implantação do Sistema Federativo Espírita de Unificação do Estado do Rio de Janeiro, tomando iniciativas decisivas para a fusão da USEERJ com a FEERJ. Naquela oportunidade, coordenou a realização dos Cinedebates, uma atividade pioneira de exibição de filmes renomados com temática espírita em cinemas tradicionais do Rio de Janeiro.

Para ele, o movimento espírita tem empregado todos os esforços possíveis para ser atuante na vida nacional, mas se ressente da falta de recursos para a realização de um trabalho maior. Esse é um dos fatores que impedem um maior avanço, que ele exemplifica citando a manutenção da Rádio Rio de Janeiro, que luta há 36 anos com dificuldades para permanecer no ar, embora seja uma das duas únicas emissoras espíritas de rádio no País.  

A seguir, a entrevista que ele nos concedeu:  

O Consolador: Que cargos ou funções você já exerceu no movimento espírita ao longo desta vida?

Gerson Simões Monteiro: Inicialmente fui secretário da Mocidade Espírita Dias da Cruz e evangelizador da Escola Espírita Célia Lúcius, da Casa Espírita Dias da Cruz, em Juiz de Fora. No Rio de Janeiro, participei da Mocidade Espírita do Centro Espírita Joaquim Murtinho, e presidi a Mocidade Espírita Emmanuel, da Associação Cristã-Espírita Bezerra de Menezes, em Vaz Lobo. Posteriormente , integrei a diretoria dessa Associação, participando de suas atividades assistenciais. Desempenhei os cargos de secretário e vice-presidente do Centro Espírita Discípulos de Allan Kardec, no Lins de Vasconcelos. Também colaborei, de 1962 a 1972, na Escola Espírita que funcionava no Presídio da Rua Frei Caneca, sob a coordenação do Departamento de Assistência ao Presidiário da Instituição Espírita Amélie Boudet, proferindo palestras para os presidiários. Também realizei palestras em diversos Centros Espíritas do Estado do Rio.

Na televisão, participei na condição de entrevistado, pela primeira vez, no programa da Televisão Sociedade de Juiz de Fora, apresentado por Custódio Beiral. Posteriormente, participei em programas da TV Rio, da TV Tupi (1978), da TVE (programa “Sem Censura”), da TV Manchete (programa O Grande Júri, defendendo a tese da imortalidade da alma com um psicólogo materialista), da TV Record, do SBT (no extinto Programa Livre, debatendo com o Padre Quevedo sobre materializações de espíritos) e da TV Globo (programas Fantástico, opinando sobre cirurgias espirituais, e Linha Direta, emitindo um depoimento sobre o médium Zé Arigó). Na TV Globo, participei ainda do Programa Ecumênico, sob a responsabilidade da Federação Espírita Brasileira, apresentando crônicas sobre temas espíritas, no período de 1997 a 2003. Fui entrevistado em diversas rádios sobre assuntos ligados ao Espiritismo, e participei do programa Revista Nacional, da Rádio Nacional, de julho de 1988 a fevereiro de 1989. Fui articulista do jornal Última Hora, assinando a Coluna "Espiritismo" de 1978 a 1982.

Por volta de 1973, organizei a Caravana do Ibraim, que leva sempre no dia 25 de dezembro doações de frutas e objetos de higiene pessoal, feitas por diversos confrades, para os pacientes da Colônia de Curupaiti, destinada ao tratamento da hanseníase. Colaborei ainda nos seguintes grupos espíritas que funcionavam em hospitais para o tratamento da tuberculose: Clemente Ferreira, no Caju, e Rafael de Souza, em Curicica. Fui vice-presidente do Grupo Espírita Dias da Cruz, de Caratinga, Minas Gerais, sendo o responsável pela direção dos trabalhos de materialização para assistência aos enfermos, com a desencarnação do confrade Ramiro Viana, conforme orientação de Chico Xavier.  

O Consolador: Que atividades você exerce no momento?

Gerson: Exerço o cargo de presidente da Fundação Cristã-Espírita Cultural Paulo de Tarso, operadora da Rádio Rio de Janeiro, desde abril de 2003, e apresento os programas Debate na Rio, Clube da Fraternidade e Entrevista. Presido também desde outubro de 1956 o Grupo Espírita Maria de Nazaré, que funciona nas dependências do Hospital Estadual Santa Maria, para tratamento da tuberculose. Escrevo semanalmente, aos domingos, a coluna Em Nome de Deus, sobre temas espíritas, no jornal EXTRA, com grande circulação. Coordeno as reuniões de Desobsessão e de Estudos e Assistência Espiritual do Centro Espírita Augusto Paiva. Presido o Conselho do Abrigo Tereza de Jesus para amparo de crianças carentes. E, por fim, também presido o Conselho Fiscal do Lar Anália Franco para amparo da criança carente e integro, na condição de ator convidado, o Grupo Teatral Mensageiros, que colabora financeiramente com a Rádio Rio de Janeiro, participando das peças Paulo e Estêvão, Há Dois Mil Anos, O Céu e o Inferno, Cinqüenta Anos Depois e Ave Cristo.  

O Consolador: Quando e como teve contato com o Espiritismo a primeira vez?

Gerson: Ingressei em 1952, aos 16 anos de idade, na Mocidade Espírita Dias da Cruz, da Casa Espírita de mesmo nome, em Juiz de Fora (MG), ao ler um exemplar de O Evangelho segundo o Espiritismo. O exemplar pertencia ao meu irmão Yvoart, que chegou a freqüentar a Mocidade da qual fazia parte um dos meus tios, Joaquim Simões da Silva. Nessa oportunidade, assisti às reuniões de estudos doutrinários na Casa Espírita e no Centro Humildade e Caridade, além de participar da Campanha do Quilo promovida pela Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora. Voltando para o Rio de Janeiro, freqüentei as bibliotecas da FEB, na Avenida Passos, e do Real Gabinete Português de Leitura, nas quais pude ler muitas obras espíritas. As primeiras obras lidas e que contribuíram para o meu despertar espiritual foram Nosso Lar e Paulo e Estêvão.  

O Consolador: Na sua opinião, qual dos três aspectos do Espiritismo – científico, filosófico e religioso – mais o atrai?

Gerson: O filosófico, sem tirar a importância do aspecto religioso e do científico.  

O Consolador: Quais autores espíritas mais lhe agradam?

Gerson: Como autores encarnados, Allan Kardec, Deolindo Amorim, Léon Denis, Bezerra de Menezes e Yvonne Pereira; e entre os desencarnados, Humberto de Campos, Emmanuel e André Luiz.

O Consolador: Que livros espíritas você considera de leitura indispensável àqueles que se iniciam no Espiritismo?

Gerson: O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec; Boa Nova, do Espírito Humberto de Campos, e Nosso Lar, do Espírito André Luiz, ambos psicografados por Francisco Cândido Xavier.  

O Consolador: Se fosse para um local distante, sem acesso às atividades e trabalhos espíritas, que livros você levaria?

Gerson: O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo.  

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?

Gerson: Penso que o Espiritismo, enquanto Ciência, estuda e pesquisa os fenômenos espíritas como fatos naturais e universais perfeitamente observáveis, bem como prova que os Espíritos existem e são imortais, sendo eterna a vida. Enquanto Filosofia compreende todas as conseqüências morais que emanam da interpretação dos fatos naturais e universais, permitindo ao Homem chegar, através da reflexão e da razão, à verdade a respeito de si, conforme alguns lexicólogos, e mesmo da Vida, do Mundo e de Deus. Já enquanto Religião compreende os deveres do Homem para com Deus, não admite liturgia ou culto exterior, prega a fé raciocinada e repousa sobre as bases fundamentais da crença religiosa: Deus, a alma e a vida futura. O pensamento do benfeitor espiritual Emmanuel, na questão 260 de “O Consolador”, livro psicografado pelo médium Chico Xavier, é muito claro: “Religião é o sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. Enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do raciocínio, a religião edifica e ilumina os sentimentos. As primeiras se irmanam na sabedoria, a segunda personifica o amor, as duas asas divinas com que a alma humana penetrará, um dia, nos pórticos sagrados da espiritualidade”.  

O Consolador: Outro tema que suscita geralmente grandes debates diz respeito à obra publicada na França por J. B. Roustaing. Que você pensa sobre essa obra?

Gerson: Como sempre me preocupei em estudar as obras da Codificação do Espiritismo, e acreditar que o antídoto a qualquer interpretação antidoutrinária estaria nela própria, acredito que o próprio tempo se encarregará de esclarecer a verdade dos fatos.  

O Consolador: Que você pensa sobre os passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond?

Gerson: No livro publicado pelo antigo Conselho Estadual Espírita do Estado do Rio de Janeiro, da USEERJ, O Passe e a Água Fluidificada, o Movimento Espírita do Estado, com base nas obras da Codificação Espírita, deu a devida orientação sobre o tema, cuja obra tive o prazer apresentar na condição de presidente dessa federativa.  

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto? Os espíritas deveriam ser mais ousados na defesa da vida como tem feito a Igreja?

Gerson: De minha parte, tenho defendido a vida de forma intransigente desde 1978, quando já escrevia no jornal Última Hora, e atualmente através do jornal EXTRA (com mais de um milhão de leitores aos domingos) e de toda a programação da Rádio Rio de Janeiro, em especial no programa Debate na Rio, que coordeno. Considero que o Movimento Espírita não tem se omitido na defesa de suas posições sobre o assunto, desde quando participava das reuniões do Conselho Federativo Nacional da FEB, na qualidade de presidente da USEERJ, até o presente momento.  

O Consolador: A eutanásia, como sabemos, é uma prática que não tem o apoio da Doutrina Espírita. Kardec e outros autores, como Joanna de Ângelis, já se posicionaram sobre esse tema. Surgiu, no entanto, ultimamente a idéia da ortotanásia, defendida até mesmo por médicos espíritas. Qual é sua opinião a respeito?

Gerson: Sobre a ortotanásia, minha opinião é totalmente afinizada com a da Doutrina Espírita. Assim sendo, contesto a resolução do Conselho Federal de Medicina, de 9 de novembro de 2006, que autoriza o médico a limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal de enfermidades graves e incuráveis, medida esta denominada como ortotanásia. Em princípio, os espíritas não são e não podem ser favoráveis à prática da ortotanásia ou eutanásia passiva, porque ela afronta o direito à vida garantido pela nossa Constituição.

Por isso, com base nesse fundamento constitucional, a prática da ortotanásia configura-se como um homicídio, cuja penalidade está prevista no artigo 21 e parágrafos da Lei Penal. Por outro lado, quem pode adivinhar os desígnios de Deus? Neste sentido, lembro o caso notório da jovem Karen Ann Quilan, que emocionou o mundo inteiro na década de 80. Os pais da referida jovem, ante a iminência e inevitabilidade de sua morte, prognosticada pelos médicos, haviam pedido à justiça americana autorização para desligar os aparelhos que lhe mantinham artificialmente a vida. O processo durou muitos e longos meses. Finalmente, foi concedida a pretendida autorização, e os aparelhos foram desligados. No entanto, mesmo sem a ajuda dos aparelhos, Karen continuou a viver por mais dez anos, contrariando frontalmente o prognóstico da Medicina. Assim sendo, pergunto: se os referidos aparelhos tivessem continuado ligados, ela não se teria recuperado plenamente? A morte é fatal, como sabemos; por que então apressá-la, contrariando as leis naturais?  

O Consolador: Como você vê o nível da criminalidade e da violência que parece aumentar em todo o País? Na sua opinião, como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida?

Gerson: Diante da criminalidade e da violência, creio que a causa está na falta de Cristo. Em outras palavras, está faltando orientação espiritual para as crianças e para os jovens. Orientação que possa despertar neles o amor ao próximo, a necessidade de perdoar, o amor a Deus, enfim, a vivência dos ensinamentos cristãos. A meu ver, o primeiro passo para acabarmos com tanta violência é despertar, na criança e no jovem, o sentimento de religiosidade. E isso consiste no desenvolvimento em suas almas da fé em Deus, no cultivo do hábito de orar, no respeito ao próprio corpo para evitar os vícios e habituá-los a praticarem a caridade. Quantos pais se preocupam em preparar os filhos para a vida, fazendo de tudo para eles terem corpos “sarados" e receberem a melhor instrução? Tudo isso está certo, mas não basta, porque eles, antes de tudo, são espíritos imortais habitando temporariamente corpos físicos. Eles, além de necessitarem dos cuidados materiais, precisam de fato de educação. A educação a que me refiro não é sinônima de instrução, mas sim a responsável pela formação de hábitos perante Deus, perante o próximo e perante si mesmo. Dessa forma, estaremos criando homens de bem, conforme o perfil traçado por Allan Kardec na questão 918 de “O Livro dos Espíritos”.  

O Consolador: Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de provas e expiações, passando plenamente à condição de um mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma eqüidade perfeita regulará as relações sociais?

Gerson: Está claro que falta muito; é só assistirmos os jornais televisivos a respeito das notícias do mundo em que vivemos. Mas, como cremos nas palavras do Cristo, ao dizer que "os brandos e pacíficos herdarão a Terra" no célebre Sermão da Montanha, estamos trabalhando para tal advento, fazendo a nossa parte para sermos candidatos a viver neste mundo.  

O Consolador: Quanto aos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, o que você acha que deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no Brasil e no mundo?

Gerson: A prioridade escolhida deve ser a da máxima divulgação da Doutrina Espírita, através de uma literatura de mais fácil entendimento voltada ao grande público, desentranhando o pensamento da Codificação Kardequiana. A literatura doutrinária, de certa forma, direcionou-se historicamente para os espíritas de bom nível cultural, fato atestado através de pesquisas realizadas atualmente por institutos oficiais. Com tal propósito, publiquei três livros: “Suicídio e Suas Conseqüências”, “Entusiasmo para Viver” e “O Que Ensina o Espiritismo”, todos com base nos artigos que escrevi para os jornais Última Hora e EXTRA, nos quais procuro adequar os ensinamentos doutrinários para pessoas situadas na faixa sociocultural das classes C e D, de forma simples e objetiva. Na mesma linha editorial, já estou preparando outras três obras: “Aprender Mais com o Espiritismo”, “Vultos que Marcaram o Tempo” e “Nunca Perca a Esperança”.


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita