Na apresentação dessa
obra, o médium Carlos A.
Baccelli diz que “na
condição de espírita e
médium, me senti no
dever de dar-lhe
publicidade, deixando a
sua apreciação e
análise, no que tange à
autenticidade e valor, a
quantos se considerem
mais habilitados para
tanto.”
Não nos consideramos
mais habilitado, mas a
examinamos não só pelo
direito de exame que nos
confere a Doutrina, mas
também no cumprimento do
dever de contribuir para
que o Espiritismo
continue a ser essa
fonte confiável de
informação, de
esclarecimento e de
equilíbrio.
As obras mediúnicas
quase sempre contêm um
prefácio explicativo que
informa o leitor como
elas foram produzidas.
Nesse livro não há
informação de como se
teria processado esse
inusitado diálogo: se o
médium desdobrou-se e
foi à esfera habitada
pelo Chico; se este veio
até ele para ser
entrevistado como se
fora um encarnado, ou se
veio para uma
comunicação
psicográfica. Mas, logo
à primeira resposta,
tem-se a impressão de
que se trata de
psicografia, exercitada
em forma de diálogo, no
qual o médium teria
psicografado as
respostas, sem dizer
como foram feitas as
perguntas.
Transcreveremos em
negrito os trechos
da obra, colocando entre
parênteses o número da
página e, em seguida,
faremos nossos
comentários:
— Mas você não era Allan
Kardec reencarnado?
— E quem vocês pensam
que era Allan Kardec?
(9)
Nós temos a inabalável
certeza de que Allan
Kardec se coloca entre
os grandes benfeitores
da Humanidade, mas igual
certeza temos de que não
viria ele comunicar-se,
usando do seu precioso
tempo e do tempo de um
médium para uma conversa
informal, sem conteúdo,
banal, muito distante
das sábias páginas que
nos deixou na
Codificação. Seria o
mesmo que Michelangelo
gastando seu tempo em
modelar toscas figuras
de barro para exibi-las
numa feira.
— Com a desencarnação, a
linguagem do espírito
pode sofrer alguma
mudança?
— A linguagem, sim; o
pensamento, não. Com o
passar do tempo e de
acordo com o instrumento
mediúnico através do
qual se manifesta, o
espírito não mais se
prende a certas
peculiaridades que o
identificam do ponto de
vista do estilo.
(10)
A afirmativa acima
parece-nos uma
justificativa para o
distanciamento do estilo
desse Espírito do estilo
de Kardec e de Chico.
Emmanuel e André Luiz,
para não citarmos
outros, comunicaram-se
durante décadas pelo
Chico, conservando o
mesmo estilo, fato
constatável até mesmo
por pessoas não afeitas
à literatura. Além
disso, o estilo de André
Luiz não se modificava
quando escrevia por
Waldo Vieira.
— O que teria a dizer
aos que afirmam que
André Luiz fez
literatura de ficção?
— Que a ficção sempre se
antecipa à realidade.
(28)
Ao
responder que a ficção
se antecipa à realidade,
esse Espírito está
afirmando que a obra de
André Luiz é ficção. E
qual seria a realidade
que a sucederia? Estaria
justificando as obras
atribuídas ao Dr. Inácio
Ferreira, essas que
trazem pretensas
revelações, em linguagem
vulgar, zombeteira,
agressiva, bem distante
daquela usada por todos
os Espíritos que
escreveram pelo Chico.
A
obra de André Luiz,
recebida através da
mediunidade missionária
de Francisco Cândido
Xavier, é um verdadeiro
desdobramento da
Codificação. É através
dessa série de livros
que pode ser vista a
aplicação prática –
tanto no Plano Físico,
quanto no Espiritual –
das teses contidas nas
obras de Kardec.
Para
se avaliar a magnitude
da obra de André Luiz,
atentemos às palavras do
Irmão Jacob, no livro
“Voltei” (22), que
transcreve o que ouviu
do Espírito que
supervisionava o
exercício mediúnico de
Chico Xavier, ao se
referir à tarefa
atribuída ao autor de
“Nosso Lar”: “(...) Além
disto, o esforço dele é
impessoal e reflete a
cooperação indireta de
muitos benfeitores que
respiram em esferas mais
elevadas.”
Como
poderia o Chico, agora,
admitir que foi uma
ficção antecipando-se à
realidade?
— O que diria aos que se
consideram donos da
verdade?
— Diria que nem Jesus
quis defini-la.
(28)
O Movimento Espírita tem
sofrido ataques
constantes através de
uma literatura que,
pretendendo ser moderna,
inovadora, reveladora,
tacha de “donos da
verdade” os espíritas
sérios, zelosos pela
preservação da
sobriedade, da nobreza e
da dignidade da
linguagem do que se
publica em nome da
Doutrina. Deixando de
lado esse posicionamento
falacioso da pergunta,
atente-se para a pobreza
e a para a desconexão da
resposta colocada na
boca do Chico.
— Presentemente, onde se
encontraria Amélie
Boudet?
— Em dimensão Espiritual
Superior.
(29)
Resposta óbvia, a uma
pergunta sem sentido, no
caso de um Espírito como
Amélie Boudet.
— E quem foi
Hippolyte-Léon Denizard
Rivail?
— Alguém que, não fossem
os Espíritos, teria
vivido no mais completo
anonimato; um homem
comum, como tantos
outros que vivem
esquecidos dos homens...
(45)
Como poderia ter ficado
no anonimato o emérito
educador que, já aos 27
anos, fora premiado pela
Academia de Arras pela
sua proposta de reforma
dos estudos clássicos,
tendo publicado obras
sobre variados ramos de
estudos, sempre visando
ao aprimoramento dos
processos de educação?
Seria um homem comum,
esquecido dos homens?
Note-se o que dizem Zêus
Wantuil e Francisco
Thiesen, na sua
excelente obra “Allan
Kardec”, cap. 37,
intitulado “Fertilidade
Pedagógica”, que
finaliza com estas
palavras: Nos planos
e projetos apresentados
aos membros do
Parlamento, às Comissões
encarregadas da reforma
do ensino e à
Universidade, nota-se
que o autor se adiantara
de muitos anos aos
processos pedagógicos
então em voga,
aproximando-se, em
diversos pontos, da
“escola ativa”.
Aqui
fica muito clara a
intenção desse Espírito
de tentar diminuir a
estatura intelectual do
Codificador.
— Por que Allan Kardec
não teve filhos?
— Ele era estéril.
(45)
Na obra “Na Próxima
Dimensão” o Espírito que
se faz passar pelo
insigne Dr. Inácio
Ferreira diz o seguinte:
(...) o casal havia
renunciado a qualquer
tipo de convivência mais
íntima na esfera sexual,
para devotar-se aos
valores do espírito, e,
tanto assim que ambos
não geraram herdeiros
diretos (...)
(56).
Parece que o “Dr.
Inácio” ainda não se
havia informado
corretamente no Mundo
Espiritual, ou será que
esse que se apresenta
como Chico está
equivocado?
— Hoje, você se sente
mais Chico Xavier ou
Allan Kardec?
— Ainda me sinto mais
Chico Xavier.
— Mas qual prefere
sentir?
— Ser Chico me agrada
mais...
— Por quê?
— Está mais de acordo
com o que me sinto ser.
— Faltava um pouco de
Chico a Kardec ou de
Kardec a Chico?
— Creio que de Chico a
Kardec.
(47/48)
Mesmo que fosse
verdadeira essa tese
absurda, vê-se
claramente que Chico
Xavier não teria tanta
falta de bom-senso a
ponto de pôr mais lenha
nessa fogueira que o
“Dr. Inácio” reacendeu,
em ação própria de
Espíritos que querem
desviar do estudo sério
e do trabalho edificante
as pessoas que se
dedicam à Doutrina. Uma
resposta como essa é a
mais evidente negação da
identidade de Chico
Xavier, que sempre
primou pela prudência,
pelo equilíbrio, nunca
entrando em discussões
dessa natureza. Além do
mais, vê-se outra
tentativa de diminuir a
figura do insigne
Codificador.
— É natural, então, que,
na atualidade, exista
mais do médium na
mediunidade do que da
mediunidade no médium?
— Sim, é natural, mas
quem não possui bom
senso não alcança esta
compreensão.
(79)
Depois de todas as
admiráveis lições sobre
mediunidade veiculadas
através do Chico, num
verdadeiro desdobramento
de “O Livro dos
Médiuns”, é possível se
acredite possa ele agora
participar de um diálogo
tão primário e sem
sentido como este?
Bem, pelo mesmo médium,
no livro “Do Outro Lado
do Espelho”, o “Dr.
Inácio” faz a seguinte
afirmação, referindo-se
aos médiuns:
– Nós, os considerados
mortos, em matéria de
mediunidade temos que
nos contentar com
percentagem: 30% nossos,
70% do médium... Quando,
pelo menos, são 50% para
cada lado, vá lá... Raro
o médium que nos permite
o empate. Isso sem
falarmos nos médiuns que
vivem colocando palavras
inteiramente suas em
nossos lábios: é um tal
de termos dito, sem
termos dito nada...
(...) Os médiuns hoje
querem improvisar...
Quanta mistificação!...
(160)
Esse
Espírito que se intitula
“Dr. Inácio” vem, ao
longo de suas obras,
fazendo uma terrível
campanha de descrédito à
mediunidade,
ironicamente usando um
médium para tal
cometimento.
— Como médium, Chico, na
recepção das mensagens
ditas particulares, você
necessitava de um
contato prévio com os
familiares encarnados do
espírito comunicante?