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Espiritismo para crianças - Célia Xavier Camargo
Ano 1 - N° 47 - 16 de Março de 2008

 

Receita milagrosa
 

Ricardo, de oito anos, era o terror do seu bairro.

Onde estivesse, estaria criando problemas. Rebelde
e irreverente, ele brigava com todo mundo.
 

Na escola, os colegas evitavam se aproximar dele. Mas assim mesmo, onde passava deixava descontentes: mexia com um, batia em outro, xingava um terceiro.

Na sala de aula, a professora escutava um grito, e lá vinha reclamação:

— Professora, o Ricardo jogou meus livros no chão!

— Professora, o Ricardo roubou meu lanche!

— Professora, olha o Ricardo! Está me provocando!

Era assim o tempo todo. Uma reclamação atrás da outra. Até que a professora perdia a paciência, colocava o menino para fora da sala e o mandava à diretoria.

Na rua era o mesmo problema. Ricardo não conseguia jogar bola em paz com os vizinhos. O jogo sempre acabava em briga.

Em casa, então, nem se fala! Ricardo entrava dando pontapé   na   porta,   batendo   nos    irmãos    menores,

desrespeitando a mãe, reclamando de tudo, quebrando os utensílios domésticos. Resultado: acabava levando uma surra do pai, que estava sempre bêbado.

Ninguém agüentava mais. Era preciso fazer alguma coisa!

A professora, preocupada, resolveu mudar de tática. Assim, certo dia, após as aulas, ela o chamou:

— Ricardo, quer limpar o meu jardim para mim?

O menino aceitou, satisfeito. Acompanhou a professora até a casa dela e foi logo perguntando pela enxada.

 

— Depois você começa o serviço, Ricardo. Antes, vamos almoçar!

O garoto sentou-se e comeu com vontade. Ao terminar disse:

— Puxa! Faz muito tempo que não como tão bem.

Obrigado, dona Neuza. Lá em casa não é todo dia que tem comida. E, quando tem, a mãe divide um pouco para cada um.

A professora olhou o menino, cheia de compaixão. Jamais pensou que a família dele fosse tão pobre.  

— E seu pai, Ricardo, o que ele faz ?

— Fica em casa o tempo todo, bebendo. Está desempregado há meses. Quando saio da escola, ele me obriga a pedir esmolas na rua. Com o dinheiro que eu ganho, que nos faz tanta falta, ele compra bebida e se tranca no quarto. Se uma das crianças fizer qualquer barulho, ele fica violento. Dá uma surra em todo mundo.

— Ah!... E sua mãe?

— Minha mãe trabalha muito. É lavadeira e ganha uma miséria. Ela precisa cuidar de meus quatro irmãos menores e não tem tempo para mim. Acha que já sou bem crescido e que posso cuidar de mim mesmo — respondeu tristonho.

A professora sentiu um nó na garganta e seus olhos umedeceram.

Ricardo foi para o jardim e pôs-se a arrancar o mato que crescia no meio da grama.

Mais tarde, dona Neuza ofereceu-lhe um lanche e, quando ele terminou o serviço, deu-lhe dez reais.

Ricardo ficou eufórico. Nunca ganhara tanto dinheiro!

— Obrigado, professora. Vou passar no supermercado e levar comida para casa. Mamãe ficará contente!
 

Dona Neuza sentiu-se emocionada com a atitude do menino, que mostrava preocupação pela família.

Percebeu que o problema dele era um só: Falta de amor! Ele se sentia rejeitado, tinha necessidade de amor e fazia tudo para chamar a atenção das pessoas.

Desse dia em diante, dona Neuza passou a tratá-lo de maneira diferente. Todas as manhãs dava-lhe um abraço, um beijo, e dizia-lhe o quanto gostava dele.

Durante as aulas, quando terminava os deveres, ela demonstrava sua satisfação, acompanhada de um sorriso:

— Você está indo muito bem, Ricardo. Ótimo! Continue assim. Parabéns!

Às vezes convidava Ricardo para almoçar e encarregava-o de pequenos serviços, que remunerava. Dava-lhe roupas, calçados, brinquedos e livros.

Até o levava para passear, ocasiões em que lhe pagava um sorvete, um sanduíche ou um doce.

O menino estava feliz. Sentia-se importante. Sentia-se amado.

A professora foi mais longe. Visitou a casa de Ricardo e conversou com a mãe dele, dona Cida.

Sabendo das dificuldades da família, arrumou um emprego para o pai, chamando-o à responsabilidade. Informada de que dona Cida sabia costurar, conseguiu-lhe uma máquina de costura. Assim, ela ganharia mais, trabalharia menos e poderia dispor de mais tempo para cuidar dos filhos.

Aos poucos, as coisas foram entrando nos eixos. Algum tempo depois, todos podiam notar a mudança que se operara no comportamento de Ricardo.

Andava mais bem arrumado, estava mais alegre, tranqüilo, não brigava com ninguém e fazia as lições com capricho. Nada de reclamações!

As pessoas, curiosas, perguntavam à professora :

— O que você fez? Como conseguiu mudar o comportamento de Ricardo em tão pouco tempo? Que receita milagrosa foi essa que você usou?

E a professora respondia com um sorriso:

— A receita milagrosa? É de Jesus: Um pouco de amor!  

                                                                  Tia Célia

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 Revista Semanal de Divulgação Espírita