|
Ricardo, de oito
anos, era o
terror do seu
bairro.
Onde estivesse,
estaria criando
problemas.
Rebelde
e irreverente,
ele brigava com
todo mundo.
|
Na escola, os
colegas evitavam
se aproximar
dele. Mas assim
mesmo, onde
passava deixava
descontentes:
mexia com um,
batia em outro,
xingava um
terceiro. |
Na sala de aula,
a professora
escutava um
grito, e lá
vinha
reclamação:
— Professora, o
Ricardo jogou
meus livros no
chão!
— Professora, o
Ricardo roubou
meu lanche!
— Professora,
olha o Ricardo!
Está me
provocando!
Era assim o
tempo todo. Uma
reclamação atrás
da outra. Até
que a professora
perdia a
paciência,
colocava o
menino para fora
da sala e o
mandava à
diretoria.
|
Na rua era o
mesmo problema.
Ricardo não
conseguia jogar
bola em paz com
os vizinhos. O
jogo sempre
acabava em
briga.
Em casa, então,
nem se fala!
Ricardo entrava
dando pontapé na porta, batendo
nos irmãos menores,
|
desrespeitando
a mãe,
reclamando
de tudo,
quebrando os
utensílios
domésticos.
Resultado:
acabava
levando uma
surra do
pai, que
estava
sempre
bêbado. |
Ninguém
agüentava mais.
Era preciso
fazer alguma
coisa!
A professora,
preocupada,
resolveu mudar
de tática.
Assim, certo
dia, após as
aulas, ela o
chamou:
— Ricardo, quer
limpar o meu
jardim para mim? |
|
O menino
aceitou,
satisfeito.
Acompanhou a
professora até a
casa dela e foi
logo perguntando
pela enxada. |
|
|
— Depois você
começa o
serviço,
Ricardo. Antes,
vamos almoçar!
O garoto
sentou-se e
comeu com
vontade. Ao
terminar disse:
— Puxa! Faz
muito tempo que
não como tão
bem.
|
Obrigado,
dona Neuza.
Lá em casa
não é todo
dia que tem
comida. E,
quando tem,
a mãe divide
um pouco
para cada
um.
|
A professora
olhou o menino,
cheia de
compaixão.
Jamais pensou
que a família
dele fosse tão
pobre.
— E seu pai,
Ricardo, o que
ele faz ?
— Fica em casa o
tempo todo,
bebendo. Está
desempregado há
meses. Quando
saio da escola,
ele me obriga a
pedir esmolas na
rua. Com o
dinheiro que eu
ganho, que nos
faz tanta falta,
ele compra
bebida e se
tranca no
quarto. Se uma
das crianças
fizer qualquer
barulho, ele
fica violento.
Dá uma surra em
todo mundo.
— Ah!... E sua
mãe?
— Minha mãe
trabalha muito.
É lavadeira e
ganha uma
miséria. Ela
precisa cuidar
de meus quatro
irmãos menores e
não tem tempo
para mim. Acha
que já sou bem
crescido e que
posso cuidar de
mim mesmo —
respondeu
tristonho.
A professora
sentiu um nó na
garganta e seus
olhos
umedeceram.
Ricardo foi para
o jardim e
pôs-se a
arrancar o mato
que crescia no
meio da grama.
Mais tarde, dona
Neuza
ofereceu-lhe um
lanche e, quando
ele terminou o
serviço, deu-lhe
dez reais.
Ricardo ficou
eufórico. Nunca
ganhara tanto
dinheiro!
— Obrigado,
professora. Vou
passar no
supermercado e
levar comida
para casa. Mamãe
ficará contente!
|
|
Dona Neuza
sentiu-se
emocionada com a
atitude do
menino, que
mostrava
preocupação pela
família.
|
Percebeu que o
problema dele
era um só: Falta
de amor! Ele se
sentia
rejeitado, tinha
necessidade de
amor e fazia
tudo para chamar
a atenção das
pessoas.
Desse dia em
diante, dona
Neuza passou a
tratá-lo de
maneira
diferente. Todas
as manhãs
dava-lhe um
abraço, um
beijo, e
dizia-lhe o
quanto gostava
dele.
Durante as
aulas, quando
terminava os
deveres, ela
demonstrava sua
satisfação,
acompanhada de
um sorriso:
— Você está indo
muito bem,
Ricardo. Ótimo!
Continue assim.
Parabéns!
Às vezes
convidava
Ricardo para
almoçar e
encarregava-o de
pequenos
serviços, que
remunerava.
Dava-lhe roupas,
calçados,
brinquedos e
livros.
Até o levava
para passear,
ocasiões em que
lhe pagava um
sorvete, um
sanduíche ou um
doce.
O menino estava
feliz. Sentia-se
importante.
Sentia-se amado.
A professora foi
mais longe.
Visitou a casa
de Ricardo e
conversou com a
mãe dele, dona
Cida.
Sabendo das
dificuldades da
família, arrumou
um emprego para
o pai,
chamando-o à
responsabilidade.
Informada de que
dona Cida sabia
costurar,
conseguiu-lhe
uma máquina de
costura. Assim,
ela ganharia
mais,
trabalharia
menos e poderia
dispor de mais
tempo para
cuidar dos
filhos.
Aos poucos, as
coisas foram
entrando nos
eixos. Algum
tempo depois,
todos podiam
notar a mudança
que se operara
no comportamento
de Ricardo.
Andava mais bem
arrumado, estava
mais alegre,
tranqüilo, não
brigava com
ninguém e fazia
as lições com
capricho. Nada
de reclamações!
As pessoas,
curiosas,
perguntavam à
professora :
— O que você
fez? Como
conseguiu mudar
o comportamento
de Ricardo em
tão pouco tempo?
Que receita
milagrosa foi
essa que você
usou?
E a professora
respondia com um
sorriso:
— A receita
milagrosa? É de
Jesus: Um pouco
de amor!
Tia Célia