A privação voluntária
deve ter limites
1. A palavra privação
tem, segundo os
dicionários, o sentido
de “despojar, desapossar
alguém de alguma coisa;
destituir, tolher,
fraudar”. Privação
voluntária consiste,
porém, em renúncia
consciente a bens,
favores, gozos,
facilidades ou direitos
a que se tem acesso ou
posse natural e
legítima.
2. A verdadeira privação
voluntária é a que se dá
em benefício do próximo,
quer para auxiliá-lo
materialmente ou
espiritualmente. Há
grande mérito quando os
sofrimentos e as
privações objetivam o
bem do próximo,
porquanto a caridade
feita com sacrifício é
sempre mais meritória.
3. A privação voluntária
deve ter, porém,
limites. Recomenda a
doutrina espírita que,
no que diz respeito à
existência terrena, é
preciso que nos
contentemos com as
provas que Deus nos
envia, sem lhes aumentar
o volume, que já é, por
vezes, tão pesado.
Aceitá-las sem queixumes
e com fé, eis o que o
Criador exige de nós.
4. O homem não deve
enfraquecer o corpo com
privações inúteis e
macerações sem
objetivos, porque
necessitamos de todas as
nossas forças para
cumprir a missão que
devemos desempenhar na
Terra. Torturar e
martirizar
voluntariamente o corpo
físico é contravir a lei
de Deus, que nos dá
meios de o sustentar e
fortalecer.
Enfraquecê-lo sem
necessidade é um
verdadeiro suicídio.
São inúteis as privações
ascéticas de certos
religiosos
5. Há privações
voluntárias que são
meritórias ao progresso
individual. É o caso,
por exemplo, do
indivíduo que se priva
dos prazeres do mundo
para auxiliar o próximo.
Pelo seu trabalho, pelo
emprego de suas forças,
de sua inteligência e
seus talentos, ele reúne
recursos com que
concretiza seus
generosos propósitos.
6. Essas privações são
meritórias porque
implica privar-se de
gozos inúteis, desprende
da matéria o homem e lhe
eleva a alma. Meritório
é, sem dúvida, resistir
à tentação que arrasta o
indivíduo aos excessos,
ao gozo de coisas
inúteis. E mais ainda o
é tirar do que lhe é
necessário para dar aos
que carecem do bastante.
Se a privação não passar
de um simulacro,
evidentemente será uma
irrisão.
7. Os ensinos espíritas
nos mostram que são
inúteis as privações
ascéticas que se
observam em alguns
religiosos. Com relação
a elas, os imortais nos
dizem: “Procurai saber a
quem elas aproveitam e
tereis a resposta. Se
somente servem para quem
as pratica e o impedem
de fazer o bem, é
egoísmo, seja qual for o
pretexto com que
entendem de colori-la.
Privar a si mesmo e
trabalhar para os
outros, tal a verdadeira
mortificação, segundo a
caridade cristã”. (O
Livro dos Espíritos,
item 721.)
8. Muitas pessoas,
quando passam a
apreender um certo
conhecimento espiritual,
começam a abster-se de
certos alimentos,
principalmente a carne,
por compreenderem que a
ingestão de vísceras
animais constitui
comportamento contrário
à lei da Natureza.
Alimentar-se de carne é
um equívoco lastimável
9. Tratando desse tema,
disseram os imortais, na
questão 723 d’ O Livro
dos Espíritos: “Dada a
vossa constituição
física, a carne alimenta
a carne, do contrário o
homem perece. A lei de
conservação lhe
prescreve, como um
dever, que mantenha suas
forças e sua saúde, para
cumprir a lei do
trabalho. Ele, pois, tem
que se alimentar
conforme o reclame a sua
organização”.
10. Emmanuel, contudo,
nos alerta: “A ingestão
das vísceras dos animais
é um erro de enormes
conseqüências, do qual
derivaram numerosos
vícios da nutrição
humana. É de lastimar
semelhante situação,
mesmo porque, se o
estado de materialidade
da criatura exige a
cooperação de
determinadas vitaminas,
esses valores nutritivos
podem ser encontrados
nos produtos de origem
vegetal, sem a
necessidade absoluta dos
matadouros e
frigoríficos”. (O
Consolador, pergunta
129.)
11. O Instrutor
Alexandre reporta-se ao
assunto no livro
Missionários da Luz,
psicografado por Chico
Xavier, em que lembra
que nós os terráqueos, a
pretexto de buscar
recursos protéicos,
exterminamos frangos e
carneiros, leitões e
cabritos incontáveis.
Sugamos os tecidos
musculares, roemos os
ossos e, não contentes
em matar os pobres seres
que nos pedem roteiros
de progresso e valores
educativos, para melhor
atenderem à Obra do Pai,
dilatamos os requintes
da exploração milenária
e infligimos a muitos
deles determinadas
moléstias para que nos
sirvam melhor ao
paladar. O suíno comum é
enclausurado em regime
de ceva, para adquirir
banhas doentias e
abundantes. Gansos são
postos nas engordadeiras
para que hipertrofiem o
fígado, de modo a
obtermos pastas
substanciosas destinadas
a quitutes famosos. Em
nada nos dói o quadro
comovente das vacas-mães
levadas ao matadouro,
para que nossas panelas
transpirem
agradavelmente,
esquecidos de que tempos
virão para a Humanidade
terrestre em que o
estábulo, como o lar,
será também sagrado e
que em todos os setores
da Criação nosso Pai
colocou os superiores e
os inferiores para o
trabalho de evolução,
através da colaboração e
do amor, da
administração e da
obediência.
(Missionários da Luz,
cap. 4, págs. 41 e 42.)
A carne não é mais hoje
indispensável à vida
12. Não existe
contradição entre a
resposta consignada por
Kardec e as lições de
Emmanuel e Alexandre,
porque entre Kardec e os
dias atuais já se
passaram mais de cem
anos. Na época da
Codificação, certamente
não foi possível aos
Espíritos Superiores dar
outra resposta senão
aquela. Há que
considerar, também, o
grau de evolução da
Humanidade de hoje e o
nível evolutivo da
sociedade do Século XIX.
13. À medida que o homem
progride moral e
intelectualmente, passa
a ter horror ao
sacrifício dos animais,
mesmo para a sua
alimentação. A
descoberta de novas
técnicas de produção e o
aprimoramento das
existentes culminam por
fazerem desaparecer,
gradativamente, os
matadouros e
frigoríficos.
14. Hoje em dia os
recursos alimentares,
com o aperfeiçoamento da
agricultura e da
indústria, são
inumeráveis. Nas viagens
espaciais, por exemplo,
os astronautas
alimentam-se de
substâncias condensadas
em forma de cápsulas,
que possuem todos os
nutrientes necessários à
sobrevivência.
15. Com a soja é
possível substituir, com
vantagens, inúmeros
produtos de origem
animal, como o leite, o
queijo e mesmo a carne,
o que indica que esta
não apresenta mais o
caráter de produto
indispensável à
subsistência humana,
como certamente o era à
época de Kardec.
Respostas às questões
propostas