A desencarnação de
Allan Kardec
Ocorrida há 139
anos, no dia 31
de março de
1869, a
desencarnação do
Codificador do
Espiritismo se
deu
quando ele
contava apenas
64 anos de idade
A jornalista Ana
Blackwell, que
traduziu para o
inglês as
principais obras
de Kardec, assim
descreveu o
codificador:
|
"Kardec era de
estatura média.
Compleição
forte, com uma
cabeça grande,
redonda, maciça,
feições bem
marcadas, olhos
pardos, mais se
assemelhando a
um alemão do que
a um francês.
Enérgico e
perseverante,
mas de
temperamento
calmo, cauteloso
e não imaginoso
até a frieza,
incrédulo por
natureza e por
educação,
pensador seguro
e lógico e
eminentemente
prático no
pensamento e na
ação, era
igualmente
emancipado do
misticismo e do
entusiasmo...
"Grave, lento no
olhar, modesto
nas maneiras,
embora não
lhe
faltasse
uma certa
dignidade,
|
resultante
da seriedade
e da
segurança
mental, que
eram traços
distintivos
de seu
caráter. Nem
provocava
nem evitava
a discussão,
mas nunca
fazia
voluntariamente
observações
sobre o
assunto a
que havia
devotado
toda a sua
vida.
Recebia com
afabilidade
os inúmeros
visitantes
de todas as
partes do
mundo que
vinham
conversar
com ele a
respeito dos
pontos de
vista nos
quais o
reconheciam
um expoente,
respondendo
a perguntas
e objeções,
explanando
as
dificuldades
e dando
informações
a todos os
investigadores
sérios, com
os quais
falava com
liberdade e
animação, de
rosto
ocasionalmente
iluminado
por um
sorriso
genial e
agradável,
conquanto
tal fosse a
sua habitual
seriedade de
conduta, que
nunca se lhe
ouvia uma
gargalhada..."
(Do livro
"História do
Espiritismo",
de Arthur
Conan Doyle.) |
Quem foi Kardec?
Nascido em Lyon,
França, a 3 de
outubro de 1804,
Kardec recebeu
na pia batismal
o nome de
Hippolyte Léon
Denizard Rivail.
No dia 6 de
fevereiro de
1832, casou-se
com Amélie
Gabrielle
Boudet (foto). Sua
desencarnação
ocorreu em Paris
em 31 de março
de 1869, quando
contava 64 anos
e meio.
Filho de
tradicional
família francesa
que se destacara
na magistratura,
Kardec nasceu em
ambiente
católico, mas
|
|
foi educado
no
protestantismo.
Aluno e
depois
discípulo de Pestalozzi, foi
uma pessoa
devotada à
educação e um
entusiasta do
sistema de
ensino criado
por seu mestre,
que exerceu
grande
influência na
França e na
Alemanha. Falava
fluentemente o
alemão, o
inglês, o
italiano e o
espanhol, assim
como o holandês.
Tradutor das
obras de Fénelon
para o alemão,
verteu também
para o francês
diversas obras
inglesas e
alemãs, mas foi
no magistério
que estava a sua
indiscutível
vocação. |
No período de
1835 a 1840,
organizou em sua
casa em Paris
cursos gratuitos
de química,
física,
astronomia e
anatomia
comparada, que
eram muito
freqüentados.
Aos 27 anos, em
1831, foi
premiado em
concurso pela
apresentação de
um trabalho
intitulado:
"Qual o sistema
de estudo mais
em harmonia com
as necessidades
da época?" Nessa
mesma época, ele
preparava todos
os cursos de
Levy-Alvares,
freqüentados por
discípulos de
ambos os sexos
do "fauborg"
Saint-Germain.
Voltado para a
educação,
escreveu
inúmeras obras
didáticas no
período de 1824
a 1849, tais
como: "Curso
prático e
teórico de
Aritmética",
segundo o método
de Pestalozzi,
para uso das
mães e dos
professores
(ele contava
então 20 anos de
idade); "Plano
apresentado para
o melhoramento
da instrução
pública" (aos 24
anos);
"Gramática
Francesa
Clássica" (aos
27 anos);
"Manual dos
exames para
obtenção dos
diplomas de
capacidade,
soluções
racionais das
questões e
problemas de
Aritmética e
Geometria" (aos
42 anos);
"Catecismo
gramatical da
língua francesa"
(aos 44 anos);
"Ditados normais
dos exames na
municipalidade e
na Sorbonne" e
"Ditados
especiais sobre
as dificuldades
ortográficas"
(aos 45 anos).
Nessa época
(1849), Kardec
lecionava no
Liceu Polimático
de Paris,
regendo as
cadeiras de
fisiologia,
astronomia,
física e
química.
Uma carta
consoladora
O primeiro contato
do professor com
os fenômenos
espíritas se deu
em maio de 1855.
Ele já era,
então, aos 50
anos de idade,
um indivíduo
maduro e
experimentado,
além de talhado
para a tarefa de
codificação da
Doutrina, cujo
fato inicial
marcante foi a
publicação em 18
de abril de 1857
da conhecida
obra que ele
intitulou O
Livro dos
Espíritos. A
ela seguiram-se
outras obras, as
palestras, as
reuniões, a
fundação da
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas e as
edições mensais
da Revista
Espírita.
O resultado do
seu trabalho
como codificador
do Espiritismo é
algo difícil de
avaliar. Eis, no
entanto, uma
pequena amostra
dele no relato
que se segue.
Numa manhã muito
fria de abril de
1860, Kardec
estava triste e
só, em seu
escritório.
Idéias de
desânimo
perpassavam sua
mente.
Escasseavam os
recursos
financeiros.
Críticas
ferinas, até de
companheiros da
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas, ele
vinha recebendo
de todos os
lados. Bem que
os espíritos o
haviam alertado!
De repente,
Amélie penetra o
recinto e lhe
entrega um
pacote que
alguém havia
remetido. Kardec
o abre e vê que
dentro dele
havia uma carta
e um outro
pacote fechado.
O codificador
abre a carta e
lê:
"Sr. Allan
Kardec.
Respeitoso
abraço.
Com a minha
gratidão,
remeto-lhe o
livro anexo, bem
como a sua
história,
rogando-lhe,
antes de tudo,
prosseguir em
suas tarefas de
esclarecimento
da humanidade,
pois tenho
fortes razões
para isso.
Sou encadernador
desde a
meninice,
trabalhando em
grande casa
desta capital.
Há cerca de 2
anos, casei-me
com aquela que
se revelou minha
companheira
ideal. Nossa
vida corria
normalmente e
tudo era alegria
e esperança,
quando, no
início deste
ano, de modo
inesperado,
minha Antoniete
partiu desta
vida, levada por
sorrateira
moléstia. Meu
desespero foi
indescritível e
julguei-me
condenado ao
desamparo
extremo. Sem
confiança em
Deus, sentindo
as necessidades
do homem do
mundo e vivendo
com as dúvidas
aflitivas de
nosso século,
resolvera seguir
o caminho de
tantos outros,
ante a
fatalidade...
A prova da
separação
vencera-me, e eu
não passava,
agora, de trapo
humano. Faltava
ao trabalho e
meu chefe, reto
e ríspido,
ameaçava-me com
a dispensa.
Minhas forças
fugiam..."
O missivista
relatou então
que passou a
acalentar a
idéia do
suicídio,
jogando-se no
Sena, projeto
que pôs em
execução em
determinada
madrugada,
quando o
desespero lhe
tomou por
completo a alma.
Buscou a ponte
Marie e, no
momento em que
colocou a mão
sobre o
parapeito da
ponte, um objeto
caiu-lhe aos
pés: era um
livro. Ele
procurou a luz
de um poste
próximo, achou
estranho o
título do livro
e viu que na sua
primeira página
havia uma nota:
ESTA OBRA
SALVOU-ME A
VIDA. LEIA-A COM
ATENÇÃO E TENHA
BOM PROVEITO. -
A. Laurent.
"Li aquele livro
com redobrada
atenção: era
O Livro dos
Espíritos,
que encadernei e
lhe envio,
anexo, como um
presente."
Kardec
desembrulhou o
pacote anexo à
carta e viu ali
o livro a que se
referia o
missivista,
luxuosamente
encadernado, com
o nome do autor
e o título
gravados a ouro.
O codificador,
ao abri-lo,
encontra a
citação de A.
Laurent,
mencionada na
carta, e debaixo
dela, uma outra
inscrição:
SALVOU-ME
TAMBÉM. DEUS
ABENÇOE AS ALMAS
QUE COOPERARAM
EM SUA
PUBLICAÇÃO. -
Joseph Perrier.
Kardec respirou
a longos haustos
e, antes de
retomar o
serviço, levou o
lenço aos olhos
e limpou uma
lágrima."
(Hilário Silva,
cap. 52 d' "O
Espírito da
Verdade", FEB.)
O reconhecimento
de sua obra:
Emmanuel fala
sobre Kardec
Após 150 anos
desde o
lançamento d’ O
Livro dos
Espíritos,
Kardec é hoje
conhecido e
respeitado
mundialmente
pelos
espiritistas. A
reverência à sua
obra, vencedora
no tempo, está
expressa nas
seguintes
palavras de
Emmanuel, a
mesma entidade
que recomendara
a Chico Xavier
comparar os seus
escritos com o
Evangelho de
Jesus e Kardec,
antes de
torná-los
públicos:
"Antes de
Kardec, embora
não nos faltasse
a crença em
Jesus, vivíamos
na Terra
atribulados por
flagelos da
mente, quais o
que expomos:
o combate
recíproco e
incessante entre
os discípulos do
Evangelho;
o cárcere das
interpretações
literais;
o espírito de
seita;
a intransigência
delituosa;
a obsessão sem
remédio;
o anátema nas
áreas da
filosofia e da
ciência;
o cativeiro aos
rituais;
a dependência
quase absoluta
dos templos de
pedra para a
tarefa da
edificação
íntima;
a preocupação da
hegemonia
religiosa;
a tirania do
medo, ante as
sombrias
perspectivas do
além-túmulo;
o pavor da
morte, por
suposto fim da
vida.
Depois de
Kardec, porém,
com a fé
raciocinada nos
ensinamentos de
Jesus, o mundo
encontra no
Espiritismo
Evangélico
benefícios
incalculáveis,
como sejam:
a libertação das
consciências;
a luz para o
caminho
espiritual;
a dignificação
do serviço ao
próximo;
o discernimento;
o livre acesso
ao estudo da lei
de causa e
efeito, com a
reencarnação
explicando as
origens do
sofrimento e as
desigualdades
sociais;
o esclarecimento
da mediunidade e
a cura dos
processos
obsessivos;
a certeza da
vida após a
morte;
o intercâmbio
com os entes
queridos
domiciliados no
Além;
a seara da
esperança;
o clima da
verdadeira
compreensão
humana;
o lar da
fraternidade
entre todas as
criaturas;
a escola do
Conhecimento
Superior,
desvendando as
trilhas da
evolução e a
multiplicidade
das "moradas"
nos domínios do
Universo.
Jesus - o amor.
Kardec - o
raciocínio.
Jesus - o
Mestre. Kardec -
o apóstolo.
Seguir o Cristo
de Deus, com a
luz que Kardec
acende em nossos
corações, é a
norma renovadora
que nos fará
alcançar a
sublimação do
próprio
espírito, em
louvor da Vida
Maior.”
(Mensagem
psicografada por
Chico Xavier em
24/1/1969.)
O retorno à
pátria
espiritual
"Ele morreu esta
manhã, entre 11
e 12 horas,
subitamente, ao
entregar um
número da
"Revista
Espírita" a um
caixeiro de
livraria que
acabava de
comprá-lo; ele
se curvou sobre
si mesmo, sem
proferir uma
única palavra:
estava morto.
Sozinho em sua
casa (rua de
Sant'Anna),
Kardec punha em
ordem seus
livros e papéis
para a mudança
que se vinha
processando e
que deveria
terminar amanhã.
Seu empregado,
aos gritos da
criada e do
caixeiro,
acorreu ao
local,
ergueu-o.. nada,
nada mais.
Delanne acudiu
com toda
presteza,
friccionou-o,
magnetizou-o,
mas em vão. Tudo
estava acabado.
Venho de vê-lo.
Penetrando a
casa, com móveis
e utensílios
diversos
atravancando a
entrada, pude
ver, pela porta
aberta da grande
sala de sessões,
a desordem que
acompanha os
preparativos
para uma mudança
de domicílio;
introduzido numa
pequena sala de
visitas, que
conheceis bem,
com seu tapete
encarnado, e
seus móveis
antigos,
encontrei a sra.
Kardec assentada
no canapé (espécie
de sofá com
costas e braços),
de face para a
lareira; ao seu
lado, o sr.
Delanne; diante
deles, sobre
dois colchões
colocados no
chão, junto à
porta da pequena
sala de jantar,
jazia o corpo,
restos
inanimados
daquele que
todos amamos.
Sua cabeça,
envolta em parte
por um lenço
branco atado sob
o queixo,
deixava ver toda
a face, que
parecia repousar
docemente e
experimentar a
suave e serena
satisfação do
dever cumprido.
Nada de tétrico
marcara a
passagem de sua
morte; se não
fosse a parada
de respiração,
dir-se-ia que
ele estava
dormindo.
Cobria-lhe o
corpo uma
coberta de lã
branca, que,
junto aos ombros
dele, deixava
perceber a gola
do "robe de
chambre", a
roupa que ele
vestia quando
fora fulminado;
a seus pés, como
que abandonadas,
suas chinelas e
meias pareciam
possuir ainda o
calor do corpo
dele.
Tudo isto era
triste e,
entretanto, um
sentimento de
doce quietude
penetrava-nos a
alma; tudo na
casa era
desordem, caos,
morte, mas tudo
aí parecia
calmo, risonho e
doce e, diante
daqueles restos,
forçosamente
meditamos no
futuro."
(Trecho da carta
escrita por E.
Muller ao sr.
Finet, em
31/3/1869, logo
após o
falecimento de
Kardec.)
Conta-se que
logo após a sua
desencarnação,
quando o corpo
ainda não havia
baixado ao
Cemitério de
Montmartre (a
trasladação dos
despojos para o
dólmen do
Pére-Lachaise
ocorreu um ano
depois), uma
multidão de
Espíritos veio
saudar o mestre
no limiar do
sepulcro. Eram
antigos homens
do povo, seres
infelizes que
ele havia
consolado e
redimido com as
suas ações
prestigiosas e,
quando se
entregavam às
mais santas
expansões
afetivas, uma
lâmpada
maravilhosa caiu
do céu sobre a
grande
assembléia dos
humildes,
iluminando-a com
uma luz que, por
sua vez, era
formada de
expressões do
seu "Evangelho
segundo o
Espiritismo", ao
mesmo tempo que
uma voz poderosa
e suave dizia do
Infinito:
"Kardec,
regozija-te com
a tua obra! A
luz que
acendeste com os
teus sacrifícios
na estrada
escura das
descrenças
humanas vem
felicitar-te nos
pórticos
misteriosos da
Imortalidade...
O mel suave da
esperança e da
fé que
derramaste nos
corações
sofredores da
Terra,
reconduzindo-os
para a confiança
na minha
misericórdia,
hoje se entorna
em tua própria
alma,
fortificando-te
para a claridade
maravilhosa do
futuro.
"No Céu estão
guardados todos
os prantos que
choraste e todos
os sacrifícios
que
empreendeste...
Alegra-te no
Senhor, pois
teus labores não
ficaram
perdidos. Tua
palavra será uma
bênção para os
infelizes e
desafortunados
do mundo, e ao
influxo de tuas
obras a Terra
conhecerá o
Evangelho no seu
novo dia!..."
(Trecho do
cap. 21 do livro
"Crônicas de
Além-Túmulo",
por Humberto de
Campos, por meio
de Chico
Xavier.)