142. A idade
madura é o verão de
nossa existência
terrena. A exemplo da
estação estival, é feita
de ardores, cheia de
luz. O nascer do Sol é
logo manhã; o poente é
radioso; as noites são
alumiadas suntuosamente
pelas estrelas. A
criatura sente-se aí
feliz com o viver; tem a
consciência de sua força
e dela sabe servir-se. É
quando atinge física e
moralmente o ponto
culminante da Beleza,
porque existe uma beleza
na idade madura e esta é
a verdadeira. Um de
nossos erros está em
crer que a beleza da
mocidade é a única
senhora da vida, mas
falta-lhe o elemento
principal, a força,
resultante do equilíbrio
geral e harmonioso do
ser. (PP. 206 e 207)
143. A velhice é
o outono da vida; no
último declínio, a vida
está no inverno. A
velhice, segundo o modo
de ver comum dos homens,
é a decrepitude, a
ruína; é o prelúdio
melancólico e aflitivo
do último adeus. Mas
existe aí um grave erro,
porque, em regra geral,
nenhuma fase da vida
humana é inteiramente
deserdada dos dons da
Natureza. (P. 207)
144. Ao contrário; a
velhice é bela, grande,
santa. Recapitula todo o
livro da vida. Resume os
dons das outras épocas
da existência, sem as
ilusões, as paixões e os
erros. O ancião viu o
nada de tudo quanto
deixa; entreviu a
certeza de tudo o que há
de vir; é um vidente.
(P. 208)
145. Entretanto, é
preciso não esquecer que
em nossa época, já dizia
Chateaubriand, “há
muitos velhos e poucos
anciães”. Ora, o ancião
é bom, indulgente,
estima e encoraja a
mocidade; seu coração
não envelheceu. Os
velhos são ciumentos,
malévolos e severos.
(PP. 208 e 209)
146. A velhice é
santa, pura quanto a
primeira infância; por
isso, aproxima-se de
Deus e vê mais claro e
mais longe nas
profundezas do Infinito.
Ela é, em realidade, um
começo de
desmaterialização. A
insônia, característico
ordinário dessa idade,
oferece disso a prova
material. A velhice
assemelha-se à vigília
prolongada, à vigília da
eternidade. O velho é
uma espécie de sentinela
avançada, na extrema
fronteira da vida, onde
tem um pé na terra
prometida e vê a outra
margem, a segunda
vertente do destino. (P.
209)
147. As transformações,
ou melhor, as
transfigurações operadas
nas faculdades da alma,
pela velhice, são
admiráveis. Esse
trabalho interior
resume-se em uma única
palavra: a simplicidade.
A velhice é
eminentemente
simplificadora de tudo.
Simplifica,
inicialmente, o lado
material da vida e
suprime todas as
necessidades irreais, as
mil necessidades
artificiosas que a
mocidade e a idade
madura criaram. O ancião
tem uma faculdade
preciosa: a de esquecer.
Tudo o que lhe foi
fútil, supérfluo na
vida, apaga-se, só
conservando na memória o
que lhe foi e é
substancial. (P. 211)
148. A velhice é o
prefácio da morte; é o
que a torna santa, igual
à vigília solene que
faziam os iniciados
antigos, antes de
levantar o véu que
cobria os mistérios. A
morte é, pois, uma
iniciação. (P. 212)
149. Ainda desconhecida
em seu verdadeiro
caráter pelas religiões
e pelas filosofias, a
morte é, simplesmente,
um segundo nascimento.
Deixamos o mundo pela
mesma razão por que nele
entramos, segundo a
mesma lei. (P. 212
150. Algum tempo antes
da morte, um trabalho
silencioso se executa. A
desmaterialização já
está começada. A
moléstia goza aqui de
papel considerável, pois
acaba em alguns meses,
em algumas semanas, em
alguns dias, o que o
lento trabalho da idade
havia preparado.
Trata-se da obra de
“dissolução” de que fala
Paulo de Tarso. (PP. 212
e 213)
151. Na fronteira dos
dois mundos, a alma é
visitada pelas visões
iniciais daquele em que
vai entrar. O mundo que
deixa envia-lhe os
fantasmas da lembrança,
e todo um cortejo de
Espíritos lhe aparece do
lado da aurora. Ninguém
morre só, pela mesma
forma que ninguém nasce
só. Os invisíveis que a
conheceram, que a
amaram, que a assistiram
aqui, vêm ajudá-la a
desembaraçar-se das
últimas cadeias do
cativeiro terrestre. (P.
213)
152. Considerando apenas
as vidas ordinárias, as
existências que seguem
tranqüilamente as fases
lógicas do seu destino,
que é a condição comum
da maior parte dos
mortais, ao entrar na
sombria galeria a alma
aí fica em obscuridade,
em uma penumbra próxima
da luz. É o crepúsculo
do Além. (P. 216)
153. Aqui, as analogias
entre a vida e a morte
são impressionantes. A
criança permanece muitos
dias sem fixar a luz e
sem ter conhecimento do
que a rodeia. O
recém-nascido no mundo
invisível fica também
algum tempo sem tomar
conhecimento do seu modo
de ser e de seu destino.
(P. 216)
154. Em tais momentos,
as influências
magnéticas da prece, das
lembranças, do amor,
podem gozar um papel
considerável e apressar
o advento das claridades
reveladoras que vão
iluminar essa
consciência ainda
adormecida. (P. 217)
155. Esse período de
transição e essa parada
no túnel da morte são,
no entanto,
absolutamente
necessários, como
preparação da visão de
luz que deve suceder à
obscuridade. É preciso
que o sentido psíquico
se vá adaptando
proporcionalmente ao
novo foco que o irá
esclarecer. (P. 217)
156. As almas, por
instinto infalível, vão
para a esfera
proporcionada ao seu
grau de evolução, à sua
faculdade de iluminação,
à sua aptidão atual de
perfectibilidade. As
afinidades fluídicas
conduzem-nas, qual doce
mas imperiosa brisa que
impele um batel, para
outras almas similares,
com as quais vão unir-se
em uma espécie de
amizade. No Além, as
famílias, os grupos de
almas e os círculos de
Espíritos reformam-se
segundo as leis de
afinidade e simpatia.
(P. 218)
157. O purgatório é
visitado pelos anjos,
diz a teologia católica.
O mundo errático é
visitado, dirigido,
harmonizado pelos
Espíritos superiores, e
a lei circulatória que
preside ao eterno
progresso dos Estados e
dos mundos desenrola-se
sem cessar em esferas e
mundos cada vez mais
engrandecidos. (P. 219)