MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Obreiros da Vida Eterna
André Luiz
(6a
Parte)
Damos continuidade ao
estudo da obra
Obreiros da Vida Eterna,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e publicada em 1946 pela
editora da Federação
Espírita Brasileira, a
qual integra a série
iniciada com o livro
Nosso Lar.
Questões preliminares
A. Que erros de Domênico
vieram à tona graças à
clarividência da
enfermeira Luciana?
R.: Primeiramente
Luciana descreveu uma
cena ocorrida em certa
noite fria, em que
Domênico penetrava um
lar honesto, cego por
sentimento menos
respeitoso para com
alguém que lhe ouvira
palavras de sedução e
malícia. O padre estava
sem a batina escura e a
mulher cedia a suas
promessas. Em seguida,
Luciana viu uma mulher
chegando ao presbitério
em noite tempestuosa. A
pobrezinha chorava e
rogava auxílio. Ela
confiara excessivamente
nas promessas do padre e
cedera aos seus
caprichos de homem
vulgar. A princípio
acreditou que não
adviriam desagradáveis
conseqüências. Mas,
agora, anunciava-se um
filhinho. Quem a
socorreria? quem lhe
restauraria a paz
familiar? Não seria
melhor a legalização dos
laços existentes?
Domênico escutara as
rogativas sem nenhum
abalo moral. Com a
frieza dos homens de
fraseologia brilhante,
invocou o dever
sacerdotal como
justificativa da
impossibilidade e, por
fim, propôs-lhe a
conciliação do problema
com um casamento
apressado entre a vítima
e o último dos seus
servos. A infeliz
soluçava convulsivamente
e naquela noite,
suicidou-se, ingerindo
grande dose de
formicida. Na seqüência,
Luciana viu uma cena em
que o pai de Domênico,
também desencarnado, o
contemplava com
desespero e
enternecimento
simultâneos. Ele
reclamava certa
escritura que o filho
não apresentara. O velho
não fora pai apenas de
um sacerdote e de outros
filhos que honravam o
seu nome. Tivera
aventuras diferentes e
possuía alguns filhos,
nascidos a distância do
lar, e não desejava
partir sem legitimá-los
devidamente. Pretendia,
além disso,
garantir-lhes futuro
próspero. No fim do
último adeus, o pai lhe
reiterara a súplica de
amparo constante a certa
mulher, cercada de
filhinhos que esperavam
dele o sustento
necessário. Era esse o
pedido expresso, que
Domênico prometera
cumprir, mas não
cumpriu, sepultando o
testamento recebido do
genitor em móvel pesado,
com intenções
francamente hostis aos
propósitos do velho.
Surgiu, em seguida, a
cena de um velho
sacerdote, que deixou a
vida física endereçando
a Domênico intensas
vibrações de ódio. O
motivo era trivial:
Domênico roubara-lhe,
com artifícios e
suborno, a paróquia de
que o velho padre era
titular, conseguindo,
mediante gratificação a
companheiros altamente
colocados, a remoção do
adversário para
longínqua paróquia de
montanha, onde o ancião
morreu, intoxicado pela
cólera e por reiterados
desejos de vingança. Ato
contínuo, apareceu na
tela mental a figura de
determinada mulher,
vítima também do poder
fascinante e dominador
do ex-padre. Certa
manhã, ela, já
envelhecida e quase
cega, bateu à casa do
padre, conduzida por
anêmico menino de nove a
dez anos, a suplicar-lhe
auxílio. Ante a frieza
da recepção, a
infortunada, em palavras
sentidas, invocou o
passado de leviandades e
perguntou-lhe se ele
esquecera o filho que
lhe colocara nos braços.
Chorava, gesticulava,
implorava. Lutara
heroicamente por manter
o filho, à custa de
trabalho honesto, mas
adoecera, sem qualquer
proteção, e ali estava
quase cega, implorando
socorro... Se pudesse,
pouparia ao filho ainda
criança a humilhação de
conhecer o pai
desalmado, mas o menino,
vitimado por uma
tuberculose, estava à
beira da morte.
Domênico, insensível,
chamou um servidor que,
conduzindo cães bravos,
obrigou os pobres
pedintes a fugir,
espavoridos.
(Obreiros da Vida
Eterna, cap. 7, pp. 93 a
103.)
B. Que efeito teve sobre
o ex-padre a recordação
de lances de sua última
existência?
R.: O efeito foi
devastador, tanto que,
quando Luciana começou a
descrever nova cena, o
desventurado Domênico,
num grito terrível,
desfez-se em lágrimas e
exclamou, alucinado de
sofrimento moral: –
Basta! Basta!...
Soluços atrozes lhe
rebentaram do peito
opresso. Zenóbia
comentou: – Domênico
melhora, graças ao Nosso
Divino Médico. Para o
Espírito culpado e
sofredor, as lágrimas
são também uma chuva
benéfica que refrigera o
coração. Começou
então a doutrinação,
feita pelo padre
Hipólito, enquanto
Zenóbia convocava
mentalmente aquela que
fora na Terra a mãe do
infeliz sacerdote.
Hipólito perguntou-lhe
inicialmente se ele
desejava efetivamente a
redenção. Ele não
respondeu, mas indagou
se existia mesmo a
Justiça Divina, anotando
as faltas das pessoas.
Hipólito lhe respondeu
dizendo que trazemos na
própria consciência o
arquivo indelével dos
nossos erros, da mesma
maneira que os justos
são portadores das notas
íntimas que os
glorificam diante do Pai
Altíssimo. E advertiu: –
Cerra, para sempre,
meu amigo, a porta do
"ego inferior"! Cala a
vaidade, o orgulho, a
impenitência! Não
maldigas. A Igreja que
nos reunia, no círculo
carnal, é santa em seus
fundamentos. Nós é que
fomos maus servos,
desviando-lhe os
princípios básicos para
a satisfação de
instintos dominadores.
(Obra citada, cap. 7,
pp. 104 a 111.)
C. A prece proferida por
Domênico fez-lhe bem?
R.: Sim. A prece fez-lhe
profundo bem. Mais
calmo, ele abraçou-se à
mãe e perguntou-lhe por
Zenóbia, ignorando por
completo que a diretora
da Casa Transitória
estava ali, a seu lado,
acompanhando-lhe os
mínimos gestos. (Obra
citada, cap. 7, pp. 112
a 115.)
D. No lamaçal em que
vasta legião de
sofredores se
encontrava, todos
choravam e pediam ajuda?
R.: Não. Ali, embora
muitas vozes suplicassem
socorro, outras
vociferavam blasfêmias,
ironias e condenações,
recusando até o mesmo a
ajuda oferecida pelo
grupo socorrista.
(Obra citada, cap. 8,
pp. 116 a 118.)
Texto
para leitura
37. O passado de
Domênico vem à tona
- Luciana
aproximou-se do infeliz
e, depois de fitar-lhe a
fronte demoradamente,
começou: – Padre
Domênico, vossa mente
revela o passado
distante e esse
pretérito fala muito
alto diante de Deus e
dos irmãos em
humanidade! Duvidais da
Providência Divina,
alegais que o vosso
ministério não foi
devidamente remunerado
com a salvação e
imprecais contra o Pai
de Misericórdia
Infinita... Vossa dor
permanece repleta de
blasfêmia e desespero,
proclamais que as Forças
Celestes vos abandonaram
ao tenebroso fundo do
abismo!... O padre
retrucou, mas Luciana
insistiu no seu desvio
de conduta cristã. Como
ele reclamasse das
promessas da Igreja, que
lhe prometera o Céu,
referindo-se à confissão
feita, no leito de
morte, ao Monsenhor
Pardíni, que o havia
absolvido dos pecados,
Luciana lembrou-o de que
seu colega de sacerdócio
poderia induzi-lo ao bom
ânimo e à coragem
necessária ao serviço de
reparação futura, mas
não conseguiria
subtrair-lhe à
consciência os negros
resíduos mentais dos
atos praticados. E ela
começou – diante de
Domênico calado, sob a
vigorosa influenciação
magnética de Zenóbia,
que o mantinha nos
braços – a relatar
episódios que estavam
vivos na mente do
ex-padre. Primeiro
descreveu uma cena
ocorrida em certa noite
fria, em que Domênico
penetrava um lar
honesto, cego por
sentimento menos
respeitoso para com
alguém que lhe ouvira
palavras de sedução e
malícia. O padre estava
sem a batina escura e a
mulher cedia a suas
promessas. Um homem,
porém, espreitava a
ambos. Era o esposo
ofendido, que, em
dolorosa crise
passional, tomado de dor
selvagem, arquiteta sua
vingança. Num grande
empório ele adquire um
litro de vinho antigo,
por alto preço; depois
adiciona ao frasco
poderoso veneno, e
aguarda o retorno de
Domênico ao presbitério,
acariciando a idéia de
vingança. Noite alta, o
padre retorna a casa. O
esposo traído, que o
aguardava, oferece-lhe o
precioso vinho. Minutos
depois, ante os gemidos
furiosos do sacerdote, o
assassino ria-se
pronunciando feias
palavras de maldição.
Chegara ao fim a
existência na Terra de
padre Domênico, que nem
pôde articular sua
confissão ao Monsenhor
Pardíni, que lhe
concedeu, porém, "plena
absolvição" de todos os
pecados da existência
humana, considerando que
a um sacerdote reto não
se fazia necessária a
confissão, no alento
derradeiro. (Cap. 7, pp.
93 a 97)
38. Luciana relata
o caso da suicida
enganada -
Luciana continuou a
relatar algumas cenas do
passado do ex-padre,
que, acordando no plano
espiritual, parecia
estar envolvido em
imensa noite. Ele grita,
como um cego no primeiro
instante de cegueira,
mas ninguém o ouve. Fala
do crime de que fora
vítima, roga
providências contra o
matador, porém os
ouvidos humanos
permanecem noutras
dimensões. Tenta então
fugir, todavia
invencíveis grilhões o
ligam ao cadáver. Mesmo
depois do sepultamento,
Domênico continua ligado
às vísceras
decompostas... Começam
então infinitos
padecimentos. Sente o
tormento da fome, da
sede e da dor. É difícil
precisar quanto tempo
isso durou. Certa mulher
já desencarnada
visita-lhe o sepulcro,
estende-lhe braços
horrendos e, sob
impressão de pavor,
Domênico consegue
desatar o laço que ainda
o prendia ao corpo
disforme, fugindo a
praguejar. Aquela mulher
fora também vítima de
seu poder fascinador.
Luciana a vê chegando ao
presbitério em noite
tempestuosa. A
pobrezinha chora e
roga-lhe auxílio.
Pronuncia palavras de
comover corações de
pedra, mostrando
indefinível desalento.
Ela confiara
excessivamente em suas
promessas, cedendo aos
seus caprichos de homem
vulgar. A princípio
acreditou que não
adviriam desagradáveis
conseqüências. Mas,
agora, anunciava-se um
filhinho. Quem a
socorreria? quem lhe
restauraria a paz
familiar? Não seria
melhor a legalização dos
laços existentes?
Domênico escutara as
rogativas sem nenhum
abalo moral. Com a
frieza dos homens de
fraseologia brilhante,
invocou o dever
sacerdotal como
justificativa da
impossibilidade e, por
fim, propôs-lhe a
conciliação do problema
com um casamento
apressado entre a vítima
e o último dos seus
servos. A infeliz soluça
convulsivamente e
abandona o local,
precipitada, ganhando a
via pública, sob a chuva
torrencial. Naquela
noite, suicida-se,
ingerindo grande dose de
formicida. No dia
imediato, um pai aflito
acorre à Igreja para
relatar ao padre a
triste ocorrência, o
qual, disfarçando com
dificuldade a emoção,
repete textos
evangélicos para
consolar o amigo
confiante,
providenciando depois o
auxílio de um clínico
amigo, que atesta ter
sido a morte causada por
uma ruptura de vasos do
coração. Na verdade,
Domênico temia que a
família soubesse do
motivo real da morte, o
que lhe poderia trazer
sérios aborrecimentos.
(Cap. 7, pp. 98 a 100)
39. Traição,
crimes e promessa não
cumprida -
Luciana via agora uma
cena em que o pai de
Domênico, também
desencarnado, o
contempla com desespero
e enternecimento
simultâneos. Ele reclama
certa escritura que o
filho não apresentara. A
clarividente vê então a
noite derradeira em que
o moribundo entrega ao
filho Domênico grande
testamento com suas
últimas vontades. O
velho não fora pai
apenas de um sacerdote e
de outros filhos que
honravam o seu nome.
Tivera aventuras
diferentes e possuía
alguns filhos, nascidos
a distância do lar, e
não desejava partir sem
legitimá-los
devidamente. Pretendia,
além disso,
garantir-lhes futuro
próspero. No fim do
último adeus, o pai lhe
reitera a súplica de
amparo constante a certa
mulher, cercada de
filhinhos que esperavam
dele o sustento
necessário. Era esse o
pedido expresso, que
Domênico prometera
cumprir, mas não
cumpriu, sepultando o
testamento em móvel
pesado, com intenções
francamente hostis aos
propósitos do pai
desencarnado. É por isso
que aquela entidade o
seguia sempre de perto,
reclamando,
reclamando... Surge, na
seqüência, a cena de um
velho sacerdote, que
deixou a vida física
endereçando a Domênico
intensas vibrações de
ódio. O motivo era
trivial: Domênico
roubara-lhe, com
artifícios e suborno, a
paróquia de que o velho
padre era titular,
conseguindo, mediante
gratificação a
companheiros altamente
colocados, a remoção do
adversário para
longínqua paróquia de
montanha, onde o ancião
morreu, intoxicado pela
cólera e por reiterados
desejos de vingança.
Aparece, em seguida, na
tela mental a figura de
determinada mulher,
vítima também do poder
fascinante e dominador
do ex-padre. Certa
manhã, ela, já
envelhecida e quase
cega, bate à casa do
padre, conduzida por
anêmico menino de nove a
dez anos, a suplicar-lhe
auxílio. Ante a frieza
da recepção, a
infortunada, em palavras
sentidas, invoca o
passado de leviandades e
pergunta se ele
esquecera o filho que
lhe colocara nos braços.
Chora, gesticula,
implora. Lutara
heroicamente por manter
o filho, às custas de
trabalho honesto, mas
adoecera, sem qualquer
proteção, e ali estava
quase cega, implorando
socorro... Se pudesse,
pouparia ao filho ainda
criança a humilhação de
conhecer o pai
desalmado, mas o menino,
vitimado por uma
tuberculose, estava à
beira da morte.
Domênico, insensível,
chama um servidor que,
conduzindo cães bravos,
obriga os pobres
pedintes a fugir,
espavoridos. Em pouco
tempo, o menino morre,
sem recursos, e a mãe
desencarna em pavilhão
de indigentes, nutrindo
em sua alma o sinistro
desejo de vingar-se do
desalmado que os
abandonara. (Cap. 7, pp.
100 a 103)
40. Domênico
recolhe-se no seio
materno -
Luciana começara a
descrever nova cena,
quando o desventurado
Domênico, num grito
terrível, desfez-se em
lágrimas e exclamou,
alucinado de sofrimento
moral: – Basta!
Basta!... Soluços
atrozes lhe rebentaram
do peito opresso.
Zenóbia comentou: –
Domênico melhora, graças
ao Nosso Divino Médico.
Para o Espírito culpado
e sofredor, as lágrimas
são também uma chuva
benéfica que refrigera o
coração. Começou
então a doutrinação,
feita pelo padre
Hipólito, enquanto
Zenóbia convocava
mentalmente aquela que
fora na Terra a mãe do
infeliz sacerdote.
Hipólito perguntou-lhe
inicialmente se ele
desejava efetivamente a
redenção. Ele não
respondeu, mas indagou
se existia mesmo a
Justiça Divina, anotando
as faltas das pessoas.
Hipólito lhe respondeu
dizendo que trazemos na
própria consciência o
arquivo indelével dos
nossos erros, da mesma
maneira que os justos
são portadores das notas
íntimas que os
glorificam diante do Pai
Altíssimo. E advertiu: –
Cerra, para sempre,
meu amigo, a porta do
"ego inferior"! Cala a
vaidade, o orgulho, a
impenitência! Não
maldigas. A Igreja que
nos reunia, no círculo
carnal, é santa em seus
fundamentos. Nós é que
fomos maus servos,
desviando-lhe os
princípios básicos para
a satisfação de
instintos dominadores.
Hipólito lembrou-lhe
depois que antigos
superiores da Igreja, em
grande número, expiavam
nas regiões tenebrosas,
porquanto honraram, no
mundo, não a Deus, mas a
si mesmos. Muitos deles
aguardavam dias
melhores, no fundo de
viscosos pântanos;
outros imploravam
socorro, ansiosos de paz
e renovação. – Por
que não nos redimirmos
também?, perguntou.
E convidou Domênico a
levantar-se dos próprios
erros, para ser útil aos
companheiros de outro
tempo, reconduzindo-os
ao porto de salvação.
Mencionou então o
exemplo de Jesus, que
percorreu a Via
Dolorosa, como vulgar
malfeitor, sem
rebelar-se. Foi então
que uma entidade
simpática e muito
radiante aproximou-se do
filho e, ajoelhando-se
junto dele, rogou a
proteção dos Céus. Fosse
pela renovação profunda
daquela hora que lhe
modificara o padrão
vibratório, fosse porque
as forças invisíveis de
ordem superior
manipulavam as energias
dos presentes em
benefício do infeliz,
Domênico, que era cego
perante o grupo ali
presente, conseguiu
enxergar a recém-chegada
e, em gritos comoventes,
falou: – Mamãe!
mamãe!, abrindo os
braços ansiosos e
procurando o seio amigo.
(Cap. 7, pp. 104 a 106)
41. Jesus é o
Divino Médico -
"Mãe, minha mãe!",
gritava o ex-padre
Domênico, colando sua
cabeça ao tórax
inclinado para frente, a
fim de melhor fazer-se
sentir. "Ajuda-me!
Perdoa-me! perdoa-me!"
E acrescentou ter sido
descoberto pela justiça
divina, dizendo-se um
réprobo sem perdão, um
celerado infernal.
Depois, perguntou-lhe se
ela era capaz de
suportá-lo, quando todos
o detestavam. Ernestina
aconchegou-o mais perto
do coração e falou
comovida que o amava com
toda a alma e sentia
profundas saudades de
sua presença carinhosa.
Pediu-lhe meditasse um
instante sobre a
grandeza divina, para
certificar-se de que
ninguém permanece ao
abandono. "O
pensamento de gratidão a
Deus, dentro das sombras
do sofrimento, é como
raio brilhante de
aurora, preludiando a
vitória plena do Sol
sobre as trevas densas
da noite", disse-lhe
a genitora. Depois,
lembrou que todos nós
também tivemos pedras e
espinhos na longa
estrada da redenção e
que ele jamais se
esquecesse de que Jesus
é o Divino Médico,
recomendando-lhe
expressamente aceitar a
necessidade de medicação
e dirigir-se a Ele na
súplica sincera de quem
deseja a cura real para
a vida eterna. Em
seguida, dissertou sobre
a importância do
trabalho e do esforço no
processo de iluminação
das almas. Disse-lhe
então que nossas
existências são dias
abençoados de trabalho,
em que, ao sol do dever
nobilitante e às chuvas
da experiência
construtiva, desabrocham
a crescem nossas
faculdades divinas para
a Eternidade. Se é
verdade que os erros
deliberados turvam-nos a
consciência, o Senhor
jamais nega recursos de
retificação aos que lhe
rogam socorro, no
propósito fiel de
reconquistar a harmonia
divina. E enfatizou que
após a travessia do
túmulo, continuamos
trabalhando e
edificando, iluminando e
redimindo... (Cap. 7,
pp. 107 e 108)
42. Mãe e filho
oram, numa cena
comovente - A
palavra incisiva e
branda da mãe
transformava a mente de
Domênico, pouco a pouco.
E ela prosseguiu
advertindo-o
amorosamente, para que a
recordação dos tempos
idos não lhe
constituísse obstáculo
insuperável à realização
de sua transformação
moral. "Todos aqueles
a quem feriste não
desapareceram para
sempre. Prosseguem tão
vivos, quanto nós" –
disse-lhe Ernestina.
Assim, ele poderia
buscar seus credores,
atendendo, no próprio
benefício, a exigência
do resgate necessário. O
êxito pedia, entretanto,
um coração ardente na fé
viva e um cérebro
desassombrado, pronto a
compreender o bem e a
praticá-lo. Sem a
esperança arrojada e sem
espírito de serviço,
dificilmente ele poderia
saldar o débito pesado
que prendia seu ser a
esferas grosseiras e
inferiores. Domênico
estava fundamente
modificado e, comovido,
rogou à sua mãe que não
o abandonasse. Ela
prometeu estar sempre
com ele, mas pediu-lhe
que ele também jamais
abandonasse a Jesus.
Depois, passados longos
instantes de silêncio,
Domênico começou a dizer
das saudades de suas
preces em criança,
quando a mãe lhe
ensinava a ver o Criador
do Universo em todas as
dádivas da Natureza.
Mais tarde, no
torvelinho do mundo, ele
se perverteria ao
contacto dos homens
ambiciosos e maus. Ao
invés da piedade,
passaria a cultivar a
indiferença; em lugar do
amor fraterno, legítimo
e ativo, colocaria o
ódio inexorável aos
semelhantes... Exibia
então a máscara, fugindo
às verdades de Deus e
fantasiando-se de
humanas ilusões. E, em
meio a essas
reminiscências, rogou à
mãe o ajudasse a
esquecer o homem cruel
que fora. Foi então que
Ernestina, bastante
emocionada, auxiliou o
filho a prosternar-se,
amparando-o, porém, com
imensa ternura e, em
seguida, copiando os
gestos das mãezinhas
cuidadosas e desveladas,
uniu-lhe as mãos em
súplica e, chorando para
dentro de si mesma,
disse-lhe: - "Repete,
filho, as minhas
palavras". Dito
isso, numa cena
comovedora, que André
Luiz afirma jamais
esquecerá, Ernestina
orou pausadamente,
acompanhando-a Domênico,
sentença por sentença: -
Senhor Jesus! (Senhor
Jesus!) - Eis-me
aqui (Eis-me aqui)...
(Cap. 7, pp. 109 a 111)
43. Domênico
lembra seu amor por
Zenóbia - O
ex-sacerdote repetiu a
oração, frase por frase,
qual menino dócil e
interessado em aprender
a lição. A prece fez-lhe
profundo bem. Mais
calmo, ele abraçou-se a
Ernestina e
perguntou-lhe por
Zenóbia, ignorando por
completo que a diretora
da Casa Transitória
estava ali, a seu lado,
acompanhando-lhe os
mínimos gestos. "Zenóbia
tê-lo-ia abandonado para
sempre?" – indagou
Domênico. A mãe disse
que não, porque
certamente a citada
amiga o acompanhava de
esfera superior,
implorando a Jesus lhe
abençoasse os propósitos
de redenção. Domênico
comentou, então, que se
ele e Zenóbia se
tivessem unido pelos
laços do matrimônio,
outro teria sido o seu
destino. Ela, porém,
desposara outro homem,
quando era maior a sua
confiança no futuro,
compelindo-o ao celibato
sacerdotal, de tão
deploráveis
conseqüências. Zenóbia –
lembrou Domênico – era a
lente milagrosa através
da qual ele sabia ver o
mundo noutro prisma. Em
sua companhia, ele teria
adquirido o dom de ver
as oportunidades divinas
que lhe cercavam o
coração. E confessou
que, ao perdê-la,
acreditou que a Religião
lhe ofereceria refúgio
inexpugnável contra as
tentações. Foi tudo,
porém, um terrível
engano! Ernestina
afagou-lhe a cabeça,
maternalmente, mas
exclamou: – "Cala-te,
meu filho! Não te
presumas o único
sacrificado. Se
houvesses aceitado a
Vontade Divina, o
presente ser-nos-ia
menos doloroso. Não te
estribes em fatos
humanos, naturais e
necessários, para
justificar os desvarios
que te precipitaram nas
sombras fatais! Zenóbia
foi sempre verdadeiro
anjo entre nós". E
indagou-lhe, com
firmeza: "Quem teria
sido a maior vítima? O
homem jovem e forte, que
se recolheu livremente à
organização religiosa a
facultar-lhe mil
processos diferentes na
prática do bem, ou a
pobre menina forçada
pelas circunstâncias da
luta terrestre a
desposar um viúvo,
rodeado de filhinhos aos
quais deveria dedicar-se
na categoria de mãe?"
(Cap. 7, pp. 112 e 113)
44. Domênico parte
para a Crosta -
Ernestina lembrou-lhe
que Zenóbia fora
constrangida por
situações angustiosas a
aceitar um caminho de
abnegação contrário aos
sonhos da juventude; mas
ele, entregue às
próprias criações
individualistas, não
fora fiel aos princípios
esposados. Ela
perseverou no sacrifício
e na fé viva até ao fim,
mas ele errou para
satisfazer-se a si
mesmo, incapaz de
acalmar as paixões
inferiores que lhe
ardiam no peito.
Poder-se-ia comparar a
abnegação de uma com a
insensatez de outro?
Domênico concordou com
as observações de sua
mãe, que, encerrando a
conversa, lhe disse,
brandamente: – "Compete-nos,
agora, avançar para
alcançá-la". Nesse
instante, embora
discretamente, Zenóbia
começou a chorar,
contemplando o rosto de
Domênico, sobre quem
estava debruçada. O
ex-padre sentiu que
gotas quentes do pranto
lhe caíam na face e, sem
entender o fenômeno,
perguntou à mãe quem
estaria chorando sobre
ele. A benfeitora
carinhosa, que a tudo
via perfeitamente,
respondeu emocionada: –
"Os anjos choram de
júbilo nas regiões
celestes, quando um
coração sofredor se
levanta do abismo..."
O filho dava a impressão
de grande alívio.
Compreendendo a
oportunidade feliz,
Ernestina convidou-o a
ir com ela para o
resgate indispensável, e
ambos se retiraram, em
direção à Crosta. Irmã
Zenóbia mantinha-se
transfigurada e ditosa.
Enxugando as lágrimas,
estendeu ao grupo a
destra, em sinal de
gratidão e
contentamento, antes de
regressar para reunir-se
aos companheiros que
ficaram na retaguarda,
próximos do abismo.
(Cap. 7, pp. 113 a 115)
45. No vale de
treva e sofrimento
- A sombra tornava-se de
novo muito densa e não
se conseguia divisar o
recôncavo. Frases
comovedoras subiam até o
grupo. Dolorosos ais,
blasfêmias,
imprecações... Parecia
que vastíssimo
agrupamento de infelizes
se rebolcava no solo. Os
impropérios infundiam
receio; contudo, os
gemidos ecoavam
angustiosamente na alma
dos benfeitores que por
ali passavam. Zenóbia
aproveitou o ensejo para
esclarecer que aqueles
padecimentos não se
verificavam à revelia da
Proteção Divina.
Incansáveis
trabalhadores da verdade
e do bem visitavam
seguidamente aqueles
sítios, convocando os
prisioneiros da rebeldia
à necessária renovação
espiritual; eles,
entretanto, retraíam-se,
revoltados e endurecidos
no mal. Lamentavam-se,
suplicavam e provocavam
compaixão. Contudo,
raramente alguns deles
ouviam o apelo dos
benfeitores. Quando
retirados
compulsoriamente do vale
tenebroso, acusavam os
protetores de
violentadores e
ingratos, fugindo-lhes
ao contacto e
influenciação. A negação
deles não era, porém,
motivo para qualquer
negação de parte dos
benfeitores espirituais.
Era preciso trabalhar em
benefício de todos os
necessitados. Dito isso,
Zenóbia ordenou e dez
cooperadores acenderam
focos de intensa luz.
Contemplou-se então
monstruoso quadro vivo:
vasta legião de
sofredores cobria o
fundo, um pouco abaixo
dos pés dos companheiros
de André Luiz. A rampa
que os separava dos
Espíritos sofredores não
era íngreme, mas
compacto e enorme o
lamaçal. Em face da
claridade brusca, muitas
vozes suplicaram
socorro. Outras,
contudo, vociferavam
blasfêmias, ironias e
condenações. Zenóbia
recomendou que os
socorristas se
congregassem num único
grupo, para infundir
respeito e temor nas
entidades perigosas que
se misturavam ali aos
infelizes. Em seguida,
pediu ao padre Hipólito
dirigisse apelo geral,
em nome do Senhor, às
vítimas do infortúnio,
para que considerassem a
necessidade da
transformação íntima.
Hipólito abriu pequeno
manual evangélico, que
carregava consigo, e leu
a parábola do homem rico
que se vestia de
púrpura, em regalada
existência, enquanto o
mendigo chaguento lhe
batia, debalde, à porta
da sensibilidade. Após
ler, alta e
pausadamente, o texto
evangélico, destacou a
sentença "Lembra-te
de que recebeste os teus
bens em tua vida", e
dispunha-se ao
comentário, quando
certos gritos
blasfematórios chegaram
até o grupo, ameaçadores
e sarcásticos: –
Fora! Fora! Abaixo as
mentiras do altar! –
Ataquemos de vez o
padre! – Estamos bem,
somos felizes! Não
pedimos auxílio algum,
não precisamos de
arengas! – Temos aqui o
nosso céu! Vão para os
infernos!... (Cap.
8, pp. 116 a 118)
(Continua no próximo
número.)