EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Errar é humano
“O grande
caminho não tem
portas, milhares
de caminhos
levam a ele.
Quando
atravessamos
esse umbral sem
porta,
caminhamos
livremente entre
o céu e a
terra.”
(Mumon – sábio
Zen)
É reconhecido
que a vida
agrega diversas
conjunturas de
erro e o
extraordinário é
que ela, em
conseqüência,
também abriga
processos de
administração do
erro, não
somente para
retificá-los,
mas também para
possibilitar o
nascimento da
diversidade e de
variáveis
evolutivas.
É preciso dizer
então que a
ambiência do
erro humano é
muito mais
complexa que a
questão do
acerto como
padrão único de
adequação. A
hominização,
pois, fez-se
possível pelo
surgimento e
revisão-aperfeiçoamento
de enganos e
equívocos.
Por que me
refiro ao erro?
Na
contemporaneidade,
foi preciso
refletir as
próprias
condições da
ciência para se
compreender que
a “posse” da
verdade é frágil
e oscilante,
embora o
problema do erro
não despreze a
verdade, ou
seja, o que deve
ficar claro é
que o caminho da
verdade é uma
busca sem fim.
Com isso, creio
que uma coisa é
a consideração
responsável pela
busca da
verdade, o que
implica
humildade; outra
coisa é incorrer
no comportamento
de acreditar-se
possuidor da
verdade, pois,
nesse caso, há
claro perigo de
se tornar cego
aos erros e
sujeito ao
orgulho, que
obscurece a
razão,
característica
do sectarismo e
do fanatismo.
Desse modo, o
assumir do fato
de que,
inseridas nas
próprias
condições do
conhecimento,
estão contidas
as hipóteses de
erro pressupõe,
ao
sujeito-conhecedor,
uma postura
humilde e aberta
às indagações de
novas visões e
inter-relações...
E é essa
necessária
humildade me faz
lembrar o
esquecido e que
pode ser
revivido a
seguir:
Há uma velha
lenda de um
rabino a quem um
aluno em visita
pergunta:
“Rabbi, outrora
havia homens que
viam Deus face a
face; por que
não acontece
mais isso?” O
rabino
respondeu:
“Porque ninguém
mais, hoje em
dia, é capaz de
inclinar-se
suficientemente”...
“Inclinar-se
suficientemente”
alia-se,
portanto, à
condição
diretiva de amor
pela verdade,
que,
necessariamente,
liga-se ao
reconhecimento
de que o erro
participa da
condição humana.
Logo, a
tolerância
consigo mesmo e
com os outros é
princípio de uma
ação no mundo
mais harmoniosa,
à medida que
respeitosa ao
grau de
consciência de
cada um.
Ora, é natural
que alguns
estejam à frente
e outros ainda
na condição de “não-despertamento”,
pois há um tempo
para cada árvore
preparar-se para
produzir seu
doce fruto...