Mais uma vez a obra de J. B.
Roustaing é objeto de
dúvidas por parte de um
leitor, como recentemente
foi tratado nesta revista.
Dada a relevância do
assunto, voltamos a repetir:
Quem lê a obra de J. B.
Roustaing percebe com
facilidade que existem nela
quatro pontos que a tornam
incompatível com a Doutrina
Espírita exposta nas obras
de Kardec, Léon Denis,
Gabriel Delanne, André Luiz
e Emmanuel.
Os quatro pontos são estes:
1o - A
tese de que a encarnação não
é obrigatória, nem mesmo
necessária, e só se dá em
caso de queda do Espírito. A
evolução da criatura humana,
após a passagem do princípio
inteligente pelos reinos
inferiores da criação,
ocorreria, segundo
Roustaing, em cidades
espirituais nas quais o
Espírito reveste tão-somente
um corpo fluídico – o
perispírito. Se o indivíduo
apresentar nessa condição
algum defeito a ser
corrigido (vaidade, inveja
etc.), aí sim, por castigo,
terá de encarnar. A
reencarnação seria uma
conseqüência dessa primeira
encarnação. O assunto é
tratado no volume 1, pp. 317
e 321, no volume 3, p. 91, e
no volume 4, p. 292, da 8a
edição, de agosto de 1994,
publicada pela FEB.
2o - Ao
ter de encarnar, o Espírito
fá-lo-á em um mundo
primitivo, encarnando-se aí
num corpo rudimentar que
viverá, como os animais, do
que encontrar no solo. “Não
poderíamos compará-los
melhor do que a criptógamos
carnudos”, diz o livro de
Roustaing em seu volume 1,
p. 313. Um exemplo conhecido
de criptógamo carnudo são as
nossas lesmas.
Roustaing afirma, portanto,
que uma alma humana, depois
de viver numa cidade
espiritual, encarnará numa
forma animal que nem mesmo
chegou ao nível dos
vertebrados, um ensinamento
que reedita a doutrina da
metempsicose, rejeitada
formalmente pela Doutrina
Espírita. O assunto é
tratado ainda nas pp. 299 e
312 do volume citado.
3o - A
encarnação somente se dá em
caso de queda do Espírito,
uma alusão à retrogradação
da alma, que o Espiritismo
não admite. Os motivos, diz
Roustaing, são diversos e
seus resultados, terríveis.
“Qualquer que seja a causa
da queda, orgulho, inveja ou
ateísmo, os que caem,
tornando-se por isso
Espíritos das trevas, são
precipitados nos
tenebrosos lugares da
encarnação humana,
conforme ao grau de
culpabilidade, nas condições
impostas pela necessidade de
expiar e progredir”, eis a
lição transmitida na obra em
seu volume 1, p. 311.
4o -
Afirma Roustaing que Jesus
não encarnou para vir
trazer-nos a Boa Nova. Seu
corpo teria sido fluídico.
Ele teria sido, assim, um
agênere, um Espírito
materializado e desse modo
se explicariam seu
desaparecimento dos 12 aos
30 anos e o sumiço do seu
corpo material nos dias
seguintes à crucificação. O
assunto é tratado nos quatro
volumes da obra,
constituindo um dos aspectos
mais conhecidos da doutrina
roustainguista e, por isso
mesmo, o mais criticado.
Allan Kardec examinou em
suas obras os quatro
assuntos acima focalizados:
a encarnação do Espírito,
que ele apresenta como
requisito indispensável à
evolução espiritual e ao
progresso dos planetas; a
metempsicose, que rejeitou
expressamente; o princípio
da não-retrogradação da alma
e a natureza corpórea do
corpo de Jesus, ao qual
dedicou os itens 64 a 67 do
cap. XV de seu livro “A
Gênese”. Fica claro,
portanto, que os adeptos de
Roustaing não poderiam
intitular-se espíritas, pois
defendem uma doutrina que
contraria frontalmente os
princípios espíritas.