Camilo
Estes são dias
preocupantes pelas estradas
terrenas, por onde seguem os
jornadeiros da evolução. São
dias em que se acha renascida sob
os céus planetários verdadeira
multidão de almas que estiveram
detidas em experiências de
intensas perturbações, em
regiões espirituais de
sofrimentos e de purgações, onde
vivenciaram grandes silêncios
motivados por medos intensos,
provocados por outros
desencarnados, sicários que se
coroaram com o direito de exercer
a justiça nesses locais de
sombras.
Nesses estados
d'alma, tal multidão espiritual
acabou por desenvolver ou
reforçar condicionamentos de
covardia moral, tendo recrudescido
o egoísmo que já levava no
íntimo como conseqüência de
vivências distanciadas das leis
de Deus, ao largo de suas
atividades de pretéritas
reencarnações.
Esses
Espíritos, chegados novamente ao
mundo terrestre, pouco a pouco, em
grandes magotes, ao longo do
último século, foram-se
espalhando pelas diversificadas
regiões do planeta, ocupando
tanto posições de relevância
social quanto ficando atadas às
lidas subalternas no seio da vasta
mediocridade social.
São seres que
aprenderam a desenvolver frieza e
cinismo, afivelando ao rosto
variadas máscaras, passando,
assim, a ter dificuldade de
identificar as dimensões da
realidade em torno de si mesmos.
Sonham com as chances de liberdade
da mente - uma vez que têm
consciência de que se omitem por
medo ou covardia - ao mesmo tempo
que experimentam pesadelos
terríveis, que mais os aturdem,
fazendo-os assumir, cada vez mais,
o espírito omisso, o que se lhes
vai tornando uma segunda natureza.
No seio
familiar, por exemplo, mostram-se
genitores ou esposos laissez-faire,
deixando tudo como está, sofrendo
mas sacando proveito do estado de
coisas que criam, apresentando-se
como vítimas, acreditando que
são vítimas, de fato, sem se dar
conta de que nascem de si
próprios as dificuldades vividas.
São esposos
que se culpam, reciprocamente;
são pais e mães que culpam os
filhos por seus problemas - filhos
que foram por eles mesmos
formados; são filhos que acusam
seus pais por seus insucessos e
dramas; são irmãos que não se
dão bem uns com outros, e que
apresentam sempre elementos com
que se culpam, com que passam a
sofrer.
Na ação
profissional, Espíritos com essas
características, invariavelmente,
atribuem aos outros as causas dos
seus tormentos. São patrões e
chefes que não respeitam a lei
vigente e que fazem pesar sobre
empregados todas as acusações em
torno dos seus insucessos,
destilando mau humor e agrestia
moral, forjando tristeza e
frustrações onde atuam. São
empregados que provocam a mão da
lei ao não cumprir seus deveres,
não fazendo esforços por se
aprimorar, atuando com má
vontade, mas que imputam sempre
aos seus patrões e chefes as
cargas de agonias que
experimentam, espalhando raiva e
desconfiança onde se encontram.
Quando estão
nos campos da religião, costumam
deixar aos santos, aos numes, aos
orixás ou mesmo ao Senhor, a
responsabilidade de decidir por
eles, de fazer escolhas por eles,
passando a responsabilizá-los por
seus sucessos e pelos reveses da
vida, retirando de si o
compromisso de gerenciar a
própria existência, donos dos
seus atos, sejam eles quais sejam.
Pela limitação da capacidade
reflexiva, por imaturidade do
senso moral, criam ou nutrem
divindades que passam a evocar com
seus gestos, e lhes brindam com
mimos, oblatas, oferendas de todos
os tipos; dedicam-lhes dinheiro,
"entregam a alma",
desejosos de obter benesses para
cuja conquista nada fizeram.
Contam sempre com a derrogação
dos Estatutos Divinos em seu
favor. Esperam por milagres e
movem-se nos territórios frágeis
da ingenuidade, para a qual nenhum
raciocínio serve, nenhuma verdade
explica, nenhum argumento é
ouvido, uma vez que se apegam à
possibilidade do milagre...
Acreditando,
piamente, que suas divindades
se encarregam de tudo, prosseguem
esses milagre-dependentes a
aguardar, abrindo espaços n'alma
para a instalação dos processos
fundamentalistas que alimentam o
fanatismo. Impostam a voz,
emocionam-se, fazem a catarse dos
seus estados de opressão interior
- já que se culpam e se vitimam
ao mesmo tempo -, obtendo alívio
por pouco tempo, mas, porque não
trabalham a si mesmos, não se
transformam para melhor, como
propõem as Leis da Vida,
falta-lhes a consciência dessa
necessidade imperiosa do
auto-esforço, e os problemas
persistem e eles avançam mais e
mais infelizes, e se refaz, assim,
o ciclo de infortúnios.
Sofrendo
sérios bloqueios intelectuais,
quando se trata de relacionamentos
teológicos, mostram-se
profundamente emocionais. Não
simpatizam com as propostas da
razão, o que os predispõem à
aceitação fácil de incontáveis
fantasias, sem discernimento,
dependentes que se acham da
ludicidade, do fantasioso e do
pensamento concreto, com
dificuldade para elaborar
abstrações.
*
Indiscutivelmente,
temo-los inseridos no Movimento
Espírita. A princípio, parecem
estar compreendendo os
fundamentos, as propostas e as
conseqüências morais do
pensamento espírita, até o
momento em que passamos a
observar-lhes o modus vivendi
em relação à veneranda
Doutrina.
Apegam-se a guias
diversos, passando a
prestar-lhes culto irracional,
deixando a eles o papel de solver
problemas e interferir em
questões nas quais o medo faz-nos
indiferentes e omissos,
impedindo-os de atuar de modo
amadurecido.
Quando atuam em
instituições, em posições
diretivas, costumam deixá-las ao
deus-dará, uma vez que adotam
posições irrefletidas, algumas
não-espíritas e outras
nitidamente antiespíritas,
pautados em expressões
grandemente significativas para o
Espiritismo, mas que, em sua
mentalidade, devem servir de
pretexto para justificar,
ingenuamente, o injustificável,
tais como: o amor, a caridade, a
fraternidade, o que, quase sempre
oculta o temor de facear
situações graves, sérias, que
exigem pronta definição, bem
pensada e coerente com os
fundamentos espíritas.
É comum
adotarem rituais, cantorias
despropositadas, enxertias
variadas que desfiguram o corpo
doutrinário do Espiritismo.
Prendem-se a sistemas irritantes -
como os nomeou Allan Kardec -, que
são aqueles que não são da
alçada da Doutrina Espírita, que
suscitam querelas e antagonismos
que perturbam a marcha do
Movimento Espírita. As criaturas
marcadas por essa imaturidade
referida, contudo, costumam
abraçar com fervor piegas
semelhantes sistemas, que não
resistem à mínima observação
lúcida, à mínima reflexão
lógica, motivo pelo qual são
impostos emocionalmente, ocasião
em que - como ocorria nos remotos
tempos do mundo, quando os
legisladores das teocracias punham
na boca dos seus deuses as
sentenças que desejavam tornar
efetivas - não trepidam em evocar
os nomes mais respeitáveis de
Benfeitores da Vida Superior, a
fim de chancelar suas
imposições.
*
O que
tudo isso demonstra é um
preocupante espírito de
descomprometimento, de falta de
zelo para com o Espiritismo.
Vale a
pena notar que o Espiritismo nos
apresenta um conjunto de
princípios altamente impactantes
e vigorosos, capazes de dar
sentido à vida, explicitando a
grandeza do Criador diante da Sua
criação, a exigir-nos mente
aberta, amor à verdade e
espírito de liberdade, para que
logremos penetrar e aprofundar os
seus ensinamentos.
As criaturas
assinaladas pelo
descomprometimento permitem que
vigorem os achismos, os guiismos
e os personalismos nos
arraiais doutrinários,
tão-somente para não ter que
defrontar as vaidades e o orgulho
humanos, para não ter que dizer
"sim, sim, não, não",
conforme a referência de Jesus
Cristo, para não se agastar
perante a ignorância ou diante de
outros descomprometidos.
Esse
descomprometimento tem levado
incontáveis companheiros,
vinculados ao abençoado Movimento
Espírita, a relaxar ante a
educação e a formação dos
próprios filhos, justificando com
a cantilena do "respeito ao
livre-arbítrio", ainda
quando estejam assistindo ao
número enorme de crianças e
jovens bandeados para a
dependência química, para a
prostituição sexual e para a
vasta gama de crimes, que
entenebrecem a trajetória humana
no mundo.
Quando já nos
achamos no bojo do terceiro
milênio, os descomprometidos agem
com mentalidade embolorada,
passadista, quando não se atiram
a propostas modernosas,
ridículas, prontas a lançar o
pensamento luminoso da Doutrina
Espírita à praça do escárnio
ou às valas do desrespeito, sem a
menor cerimônia, cheios de
palavras de ordem, de empobrecidos
chavões, na tentativa de
justificar posturas
injustificáveis diante da clareza
do pensamento espírita.
*
É verdade que
esses tempos terão que sofrer
mudanças. É da lei que tudo
tenha que passar. Porém, enquanto
esses dias de abundante lucidez e
de fidelidade a Jesus não chegam,
cabe aos espíritas conscientes e
convictos, aqueles que sabem o
porquê da própria crença,
os que conseguem dimensionar as
próprias necessidades e adotar ou
manter posição íntegra, sem
medo de pôr as coisas nos seus
devidos lugares, vivenciar os
conteúdos da mirífica Doutrina,
ainda que isso lhes custem
agressões e ataques, indiferença
e mofas, sempre partidos de almas
muito apequenadas em seus
estágios de cristalização
mental.
Não é demais
considerar que muitos companheiros
marcados pelo descompromisso para
com o Espiritismo acham-se, muitas
vezes, alimentados por mentes
invasivas da erraticidade
inferior, com objetivo de fazer
retardar a marcha do bem, numa
tresloucada peleja contra Jesus
Cristo, que ainda conta com
inumeráveis inimigos na
psicosfera terrena, instalados no
corpo físico e fora dele.
Para quem é
comprometido com a Doutrina
libertadora de consciências vale
o sacrifício, sem contender com o
mal, jamais. Porém, consciente
quanto às atitudes a tomar no
momento devido, quando falar e
quando calar, sempre visando o
aprimoramento, a iluminação, a
ascensão, fugirá de errar por
mero comodismo, omissão, e
confirmará Jesus onde esteja, por
meio dos roteiros de amor e luz
que o Espiritismo aponta.
Mensagem
psicografada pelo médium Raul
Teixeira, em agosto de 2004, na
Sociedade Espírita Fraternidade,
Niterói-RJ.