– Você é
espírita de berço?
Carmem –
Meu pai era espírita antes de se
casar, mas minha mãe era uma
católica muito fervorosa. Minha
mãe só se rendeu ao Espiritismo
quando eu tinha seis anos. A
partir daí eu comecei a participar
das escolinhas de evangelização,
mocidade espírita, e assim por
diante. Portanto, eu acho que
posso me considerar uma "espírita
de berço", pois tive uma vida toda
espírita.
– Com qual dos
três aspectos do Espiritismo –
científico, religioso e filosófico
– você mais se identifica?
Carmem – Eu
já me fiz essa pergunta várias
vezes e cheguei à conclusão de que
me identifico com todos eles.
Quando era muito jovem, como eu
tinha feito uma opção pela
Genética e pela Ciência, eu queria
ser uma pesquisadora, uma
geneticista. Tinha uma paixão pela
parte científica do Espiritismo.
Durante a minha época de mocidade
espírita, eu tinha uma predileção
pelos temas científicos, mas
depois, com o tempo e a vivência
no movimento, fui levada a
trabalhar os aspectos filosófico e
religioso, porque minha maior
oportunidade de trabalho foi fazer
palestras no trabalho de
fluidoterapia, no Centro Espírita
Luz Eterna, onde o livro-texto que
adotávamos era O Evangelho
segundo o Espiritismo.
Seguindo o Evangelho, nós fazíamos
toda uma abordagem do seu conteúdo
doutrinário, além do que estava
nos capítulos. Então, o ponto de
partida era o Evangelho.
No início, eu
me sentia um pouco como "um peixe
fora d’água", mas foi uma
oportunidade abençoada para eu
descobrir essa outra faceta da
Doutrina que, para mim hoje, me
deu uma visão integral. Eu não
consigo mais separar os três
aspectos, inclusive, eu tenho dito
isto em algumas de minhas
palestras. Eu acho que quando você
conhece um pouco mais a fundo o
Espiritismo, você não consegue
mais separá-los. Você transita,
você inicia numa abordagem mais
religiosa ou filosófica e, num
dado momento, você toca no aspecto
mais científico. Você acaba indo a
todas essas direções porque o
próprio "pensar espírita" é o
"pensar científico". Assim, você
está trabalhando aquela filosofia
com o objetivo religioso, que é o
objetivo da Doutrina – a religação,
por um raciocínio, uma linguagem,
uma metodologia de estudar e de
abordar que são científicos.
Cada assunto,
embora você possa começá-lo por um
enfoque ou por outro, você não
foge dos demais. Entrelaça... Não
tem como fugir, a menos que você
tenha um objetivo muito
delimitado. Se você for falar de
mediunidade, reencarnação,
qualquer um desses assuntos, não
tem como falar especificamente de
um aspecto ou de outro, porque
você entrelaça tudo.
– Há pouco
tempo, uma matéria que saiu num
jornal importante falava sobre o
ensino da teoria criacionista nas
escolas, com base na Bíblia. Qual
a sua opinião sobre isto?
Carmem – Eu
acho que seria um retrocesso,
porque nós temos hoje, na Ciência,
um consenso de que o processo de
desenvolvimento dos seres
aconteceu através do processo
evolutivo. O grande problema é
justamente que a grande polêmica
está em torno da presença, ou não,
de Deus nesse processo. Os
criacionistas, embora não consigam
explicar como, defendem a idéia de
Deus dirigindo o processo.
Lembrando uma frase de Einstein -
A Ciência sem Religião é manca,
mas a Religião sem Ciência é cega
-, esse Criacionismo é cego,
pois está sendo defendido por
adeptos de doutrina dogmática que
vêem Deus como um mago
concretizando... plim plim... e a
coisa aparecendo. Eles só
conseguem ver Deus no processo se
o processo for mágico, tal como o
Criacionismo propõe. Desta forma,
Deus teria criado tudo prontinho e
tudo estaria como Ele criou. Já a
Ciência se baseia no filão que
Darwin proporcionou, e ao qual
muitos seguidores de Darwin e
outros pesquisadores vêm
acrescentando comprovações. Nós
temos tantas evidências. Seria um
contra-senso jogarmos tudo isso
dentro de uma gaveta e
simplesmente, cegamente,
aceitarmos Deus como um mago
fazendo aquela mágica da criação.
Eu estava lendo outro dia numa
revista, uma Super Interessante
de 2002, como esses novos
criacionistas americanos estavam
tentando argumentar a favor da
Teoria Criacionista e, justamente,
todo empenho, toda necessidade e
todo o desespero são de forma a
defender a idéia de Deus.
O
Evolucionismo, por ser uma
proposta não religiosa – ele é
científico e baseado na
interpretação dos fatos – não
coloca e nem descarta, e é
importante que se diga isso, a
presença de Deus. O problema é a
eterna discussão, que é
contemporânea de Kardec, entre
Religião e Ciência, ou seja, a
Religião sem senso crítico e a
Ciência sem Deus. E é nesse ponto
que acho que Kardec deu um grande
salto, pois foi capaz, ainda
naquela época, de colocar muito
claramente a posição do
Espiritismo a favor da Teoria
Evolucionista, porque o
Espiritismo é a única Religião
capaz de enxergar Deus no processo
científico. É esse o grande
avanço: a aliança entre Ciência e
Religião que a Doutrina Espírita
faz, e faz mesmo.
Kardec mostrou
para nós que é possível se fazer
até numa área completamente
polêmica na época dele... Kardec
foi genial na época, quando foi
capaz de fazer essa leitura, essa
síntese, porque ele não tinha
elementos como nós temos hoje de
convicção. Ele se rendeu aos fatos
simplesmente pela lógica da
proposta de Darwin, ainda com
muito pouca comprovação
científica. Então, nesse sentido é
que eu acho que seria hoje um
retrocesso, depois de toda uma
luta que houve nos Estados Unidos
para que se colocasse a Teoria da
Evolução como sendo a matéria da
escola, porque essa teoria é um
consenso da Ciência. Sendo este o
tema, você pode ensinar qualquer
coisa na aula de Religião nas
escolas religiosas, mas, nas aulas
de Ciência e Biologia, você tem
que ensinar o Evolucionismo como
proposta para a criação dos seres.
O Criacionismo pode ser até citado
historicamente, mas não como uma
proposta aceitável.
– Sobre o
genoma humano, o que se apurou até
o momento fornece aos
materialistas argumentos capazes
de fortalecer sua descrença com
relação à existência de Deus?
Carmem – Eu
acho que para o materialista,
quando é ele sistemático, nenhuma
evidência é capaz de quebrar sua
certeza. Então, penso que não
existe um sólido embasamento na
convicção materialista. Se eu
fosse materialista quando me
tornei geneticista, eu já teria
tido vários momentos de conversão.
Eu tive várias oportunidades
durante a minha carreira, quando
na época do mestrado e do
doutorado, de êxtase diante da
perfeição que a natureza nos
demonstra nas leis que regem a
vida. Eu teria me convertido
naquele momento se já não fosse
uma devota fiel do nosso Pai. Por
isso, eu acredito realmente que a
convicção dos materialistas e a
utilização de qualquer
conhecimento sobre genética para
fundamentar uma convicção
materialista são furadas. É muito
fácil de ser derrubada, porque ela
está se baseando em coisas
frágeis. Se existe algo que fica
evidentíssimo, quando você conhece
a fundo a genética e vai estudar o
genoma humano, é a presença de um
Ser Superior.
Eu posso listar
pelo menos 10 pontos de conversão
para materialistas se tornarem
crentes em Deus. Por exemplo, nós
temos um genoma que, pela nossa
superioridade orgânica diante dos
seres mais inferiores, nós
esperaríamos ter em torno de 100
mil genes. Isto justificaria nossa
complexidade e nossa superioridade
na escala evolutiva. Se, por
exemplo, nós olharmos um fungo, um
bolor, ele tem 15 mil genes.
Estaria razoável nós termos em
torno de 10 vezes mais do que o
genoma deles, afinal, nós somos
mais do que um fungo, mas o
seqüenciamento humano nos mostra
que nós temos em torno de 30 mil.
Estamos mais próximos dos fungos
do que gostaríamos. Onde está
nossa grande diferença, se não
está no número de genes? Então, os
cientistas se debruçaram sobre a
expressão dos genes: de que
maneira esses genes se ligam e se
desligam, de que forma há uma
interação na regulação do
funcionamento desses genes. É isto
que estabelece uma grande
superioridade nos seres humanos.
Nós temos mecanismos de regulação
dos genes extremamente
sofisticados, o que nos torna tão
mais desenvolvidos em termos
orgânicos e em termos funcionais.
Nós somos capazes de coisas que o
fungo não pode fazer, a começar
pela mobilidade, pela capacidade
de pensar, etc. Então, eu não
consigo ver alguém que, olhando
para um genoma humano, não se
estarreça diante disso e não veja
Deus nesse processo, porque o que
o processo evolutivo foi capaz de
desenvolver em propriedades de
funcionamento é uma coisa quase
que miraculosa. Eu realmente acho
que não é através do genoma, ou de
qualquer outra teoria ou área de
atuação da Biologia, da Física ou
da Química, que faria um cidadão
estar convicto do seu
materialismo. Ele pode até se
apegar a algumas facetas e jogar
milhares de outras por debaixo do
tapete, facetas estas que
derrubariam sua certeza.
– Como você vê
o chamado aborto eugênico, como o
que vem sendo proposto nos casos
de anencefalia?
Carmem – O
aborto é, em tais casos, uma forma
de eutanásia e eu sou contra. Acho
que essa possibilidade que se tem
de fazer muito precocemente
exames, com marcadores moleculares
para se diagnosticar certas
doenças, é que leva algumas
pessoas a fazerem esse tipo de
aborto... O feto está com
problemas, então vamos descartar.
Eu acho absolutamente
inconcebível. Eu aceito toda a
Medicina, tudo que a Genética pode
dar de recurso para você fazer
diagnóstico para tratar, para
preparar a família, para qualquer
coisa nesta direção... Para matar,
não! Se ele não tem cérebro, ele
vai viver muito pouco, mas o pouco
que ele viver é o pouco de que ele
precisava. Nós sabemos... André
Luiz mostra para nós que existem
situações em que o Espírito
precisa de curtas encarnações para
reorganizar seu perispírito. Você
vai aleijar um coitado que já está
capenga deste jeito, impedindo que
ele viva uns míseros seis meses
que ele precisava de gestação? Já
que vai abortar, aborta antes,
como se esses seis meses de
gestação não significassem nada
para o Espírito? Se não
significassem, ele não encarnaria.
E o que esse Espírito recebeu de
amor, de fluidos, de vibrações
harmonizantes da sua mãe? Quanta
coisa você faz por esse Espírito
naquele pouquinho de tempo! André
Luiz nos mostra a questão daquela
gestação espiritual, aquela
gestação perispiritual onde a mãe
fez aquela troca toda energética
com o filho. Então, se durou um
mês, dois meses, três meses de
gestação, foi uma encarnação, e
aquele Espírito recebeu exatamente
o que precisava para estar pronto
para a próxima encarnação que ele
iria ter. Assim, eu não consigo
encontrar nenhum motivo para
justificar um aborto, até hoje.
– É admissível,
à luz do Espiritismo, a clonagem
humana, ainda que feita com fins
terapêuticos?
Carmem – Eu
acredito que sim. Nesse sentido,
se você colocar a coisa nesta
ordem, eu acho que sim. Quando se
pensou na possibilidade de fazer a
fecundação in vitro, a
discussão era exatamente a mesma.
Quando entrevistaram o Chico, o
Chico disse que Deus tem motivos
que a gente desconhece. Se isso
for possível de ser desenvolvido é
porque Deus tem uma
intencionalidade que nós ainda não
conhecemos, mas que conheceremos
futuramente. O bebê de proveta,
que é um sucesso no mundo inteiro,
vem fazendo a alegria de muitas
famílias e permitindo a
reencarnação de um número imenso
de Espíritos. Estes Espíritos
estão vindo com a permissão de
Deus, senão, não estaria sendo
feito o acoplamento do espírito
àquele corpinho que está se
formando. Se nós pensarmos na
clonagem como uma possibilidade de
resolver problemas, por exemplo,
de infertilidade, eu vejo isto
como uma possibilidade. Eu não
vejo como nós pensarmos, como
espíritas sinceros, considerando
Deus coordenando o processo, que
isto possa ser visto como uma
invasão nos domínios divinos, como
dizem as doutrinas dogmáticas.
O que a gente
discute, e que seria inadmissível
para a Doutrina Espírita, seria a
clonagem com fins terapêuticos do
seguinte tipo: você fazer um
corpinho para depois tirar todos
os órgãos para transplantes. Então
você estaria propiciando uma
encarnação para um futuro descarte
deste ser. Isto é inadmissível,
porque nós esbarramos na questão
de que aquele corpo tem uma alma,
aquele indivíduo é uma
individualidade e ele tem o
direito à vida. Assim como nós
somos contrários ao aborto, nós
somos contrários à eliminação, em
qualquer fase do desenvolvimento
embrionário, de um embrião para se
aproveitar células-tronco, ou
órgãos, ou qualquer coisa dele.
Seria uma espécie de eutanásia e
isto seria inadmissível. Agora, a
clonagem, para você imaginar, você
conseguir permitir o
desenvolvimento de um embrião
através desta metodologia, como
nós fazemos hoje com a metodologia
da fecundação in vitro, eu
acho que seria passível. Daria
certo, se Deus o permitisse. Se
fosse uma coisa contrária aos
desígnios de Deus, se nós
tivéssemos proporcionando uma
aberração, isto não aconteceria,
porque Deus não permitiria a
ligação do Espírito àquele corpo.
Mas não podemos pensar assim:
vamos tentar, se der certo é
porque Deus assinou em baixo. Não,
a gente tem que ter
responsabilidade pra imaginar se
isso seria condizente com o que a
gente preconiza da vida, de acordo
com o que o Espiritismo ensina
para nós. Eu acho que se nós
estivermos pensando em criar um
indivíduo, através da clonagem,
para que um casal sem filhos possa
tê-los, ou, de repente, ter a
condição de ter um gêmeo, como
temos alguns casos, para depois,
futuramente, doar um rim, ou doar
medula..., você não está
descartando aquele indivíduo, você
está permitindo que aquele
indivíduo salve a vida de um
irmão, se é que esse irmão vai ter
a permissão de ser salvo. Então,
qualquer dessas situações, eu acho
que é plausível e não iria contra
nenhum conhecimento doutrinário
que nós temos. O que seria
absolutamente inconcebível seria
mesmo você criar esse indivíduo
para depois descartá-lo, ou por
motivos de, como algumas pessoas
querem, ressuscitar um filho
morto... Coisas desse tipo não
teriam sentido. O Espiritismo
viria explicar e esclarecer que
você ter um clone daquele filho
que partiu não garante que o
Espírito dele reencarne nesse novo
corpo. O Espiritismo poderia até
acrescentar a esta hipótese uma
explicação muito clara. Nesse
ponto seríamos contrários, porque
não vai acontecer. É muito mais
provável você ter a reencarnação
desse filho novamente no mesmo lar
se houver a permissão, mas não
pelo motivo da semelhança do corpo
físico, pois, não é isso que o
determina.
– Você poderia
nos falar um pouco sobre a música
que se revela nos genes e sobre as
melodias daí decorrentes que
lembram músicos famosos?
Carmem
– Nós até já fizemos uma
palestra sobre este assunto.
Existe um matemático
geneticista americano, Susumo
Ohno (foto), um
estudioso do princípio da
vida, que publicou alguns
trabalhos interessantes. Os
primeiros organismos eram
muito simples, formados por um
material genético muito
pequeno. Eles eram feitos de
RNA e não por DNA, e a
hipótese mais aceita hoje para
a origem da vida, evolução da
vida, bem nesse primórdio, bem
nesse comecinho, é que
houvessem multiplicações,
duplicações desses pequenos
pedaços para que se tornassem
maiores e maiores e com isso
você obtivesse um número maior
de genes nesses indivíduos. |
|
Quanto
maior o número de genes, mais
complexo, e aí você vê o
processo evolutivo
acontecendo. Este pesquisador,
testando a hipótese da
multiplicação dos pequenos
pedaços desse ser primordial,
começou a observar que nos
genes existem sinais desse
processo inicial, que são
seqüências repetidas e que se
encontram como verdadeiros
refrões, como se nós
tivéssemos um refrão na maior
parte dos genes. Alguns desses
refrões são muito repetitivos
e o número de letras do DNA, o
número de bases do DNA, é
fixo. Então, ele começou a
pensar numa ordem matemática.
Começou a pensar como um
matemático e percebeu que
essas repetições, juntamente
com o número de bases do DNA,
faziam-no lembrar muito a
música, faziam-no lembrar
muito a cadência da música de
algumas melodias,
principalmente as melodias
medievais. Aí deu os "dez
minutos de doideira", pois o
cientista funciona também
nessa direção, e o intuitivo,
em alguns momentos, mostra
caminhos muito interessantes.
Ele pensou: será que não
poderia haver uma relação
musical entre as bases do DNA?
Desta forma, ele fez uma
escala arbitrária, colocando
cada nota musical em relação a
uma letra. São apenas quatro
letras: A, T, G, C - da base
do DNA, que ele correlacionou
com as notas musicais dó, ré,
mi, fá e depois sol, lá, si,
dó. |
Aí ele começou
a brincar de traduzir algumas
seqüências de genes para aquela
seqüência musical e ver o que
acontecia. Havia algumas regras na
escritura da musicalidade, na
escritura da música, que ele
colocava como regra a questão do
número de bases das repetições.
Repetições com 12, repetições com
nove, repetições com seis davam
uma cadência um pouco diferente
nas músicas. E ele se associou a
um músico para ajudá-lo a fazer,
de repente, algum tipo de arranjo,
qualquer reparo que fosse preciso
para que pudesse fazer essa
tradução. Ele tinha três
diferentes possibilidades de
relação entre as letras e as notas
musicais. Com tudo isso, ele fez
as análises e teve seqüências que
só um computador poderia
analisá-las, porque há muitas
possibilidades, os genes são muito
grandes. Então, começou por
algumas cantigas, encontrando,
assim, alguns resultados muito
interessantes. Por exemplo, existe
uma proteína do leite que a música
faz lembrar uma canção de ninar. E
não é por arranjo, é a seqüência
de notas. Se você tocar as notas,
sem nenhuma preocupação de
arranjo, você tem uma canção de
ninar. Uma música de um oncogene -
gene que causa a transformação de
uma célula normal em cancerosa -
dá uma música fúnebre. E há
algumas outras melodias
interessantes. Uma delas é um
pedaço de uma RNA polimerase, uma
enzima que faz uma parte da
síntese protéica, de camundongo.
Um pedacinho dela, pois ela é
muito grande, um pedacinho da
seqüência do gene tem uma
semelhança extraordinária com o
Noturno de Chopin. Quando você
escuta pela primeira vez a
seqüência, você diz assim: isto
aqui é o Noturno de Chopin tocado
por um principiante, ele cometeu
alguns erros. É muito lindo! Essas
coisas sinalizam pra gente que há
muita coisa por descobrir.
Eu assisti, há
muitos anos (1986), a uma palestra
desse pesquisador, na qual ele
trouxe a gravação de uma peça que
ele mesmo montou, pegando uma
proteína que é formada, como a
hemoglobina, de quatro cadeias de
proteínas. Na verdade você tem
dois genes envolvidos para fazer
uma hemoglobina, a cadeia alfa e a
cadeia beta, cada uma com duas
moléculas e as quatro moléculas,
então, se juntam para fazer a
hemoglobina funcional. Ele também
pegou uma proteína que é formada
por cinco cadeias, uma proteína
complexa com cinco diferentes
cadeias e, portanto, cinco genes.
Analisou a seqüência desses cinco
genes num pedaço da proteína.
Tomou o pedaço do primeiro gene
que dá um pedacinho que se encaixa
numa parte da proteína. Essas
proteínas têm uma configuração;
cada cadeia se enrola de forma
especial, então você tem, às
vezes, uma cadeia que é um pouco
maior que a outra naquele
pedacinho dela que você está
observando. Ele viu tudo isso e
outra coisa ele notou também. De
repente, percebeu uma alça que uma
cadeia faz, de forma que, naquele
pedaço, enquanto uma está usando
uma direção, uma outra está ao
contrário, de trás para frente.
Ele respeitou até esta ordem.
Notou que naquela seqüência ela
deveria ser tocada de trás para
frente. Pôs um violino para tocar
cada uma das melodias, cada uma
das cadeias, e pôs os cinco
violinos juntos. Qual a
probabilidade matemática disso ter
dado uma melodia? Muito pequena...
E esse foi um dos momentos em que
eu teria me convertido. Você lá,
naquela platéia, no Instituto
Butantã, com aquele monte de
geneticistas... Eu chorei de
emoção. Olhava em volta e via que
na verdade era um chororô só. Não
era só eu que estava emocionada,
não, porque eu nunca vira uma peça
tão linda. E você não tem como não
ver Deus nesse processo. Existem
regras na construção dos genomas
que nós não conhecemos ainda, isto
aí são pistas. Para mim, é um
indício que precisa ser
aprofundado e que tem que ser
analisado.
– Agradecendo a
gentileza de sua atenção,
colocamos à sua disposição um
espaço para sua saudação final aos
nossos leitores.
Carmem –
Assim no improviso pode não sair
algo muito bom, mas, já que nós
estamos conversando sobre
Genética, sobre Ciência, sobre as
discussões entre Ciência e
Espiritismo, então eu deixaria
como uma mensagem final um
conclame aos espíritas a estudarem
um pouco de Ciência, a
desenvolverem um pouco a
capacidade de conhecer, para
poderem fazer suas próprias
análises e julgamentos e não
fugirem desses raciocínios.
Desenvolver o senso crítico como
Kardec ensinava. Utilizar esses
recursos para desenvolver esse
senso crítico. A Doutrina nos dá o
embasamento para questionarmos.
Isto se encaixa aonde? Isto aqui é
certo se for assim, mas é errado
se for assado. Porque técnica é
técnica. Você pode usar a técnica
da energia atômica para fazer
milagres maravilhosos, a cura com
as bombas de cobalto, como também
você pode fazer a bomba atômica.
Então, o problema é a utilização,
o emprego que se faz. Assim, o que
é certo? O que estaria de acordo
com a lei de Deus? De que forma
nós estaríamos contribuindo para o
equilíbrio, para o crescimento
desse Espírito? Nesse sentido, eu
acho que nós só temos a ganhar
desenvolvendo essa busca do
compreender, do conhecer mais,
porque ninguém precisa se tornar
físico para conhecer um pouquinho
de Física, para entender a
dinâmica dos fluidos e a
importância dos pensamentos
gerando saúde.
Ninguém precisa
ser geneticista para entender um
mínimo do genoma humano, das
regras que estabelecem a doença e
a saúde e a herança das
características para poder pensar
em programação reencarnatória,
pensar em saúde, pensar em
longevidade. Programação da vida,
para nós, ainda é um grande
enigma, porque ainda não pensamos
suficientemente nisso. Então, eu
acho que a gente precisa pensar
mais, assistir a um pouco menos de
palestra com o intuito de ouvir o
que devemos pensar. Pensar um
pouco mais com a nossa própria
cabeça e ir aos livros para achar
o embasamento que nós precisamos,
e começar a ter idéias, começar a
tirar conclusões. E aí, sim, vamos
discutir se essa idéia, ou essa
conclusão, é acertada, se alguém
tem mais alguma colocação sobre
esse assunto, se h algum detalhe
que nós ainda não pensamos... E,
nesse exercício, nós vamos
crescendo e nos tornando mais
espíritas, como Kardec pediu.